Semana On

sábado, 25 de janeiro de 2020

Leituras desde 2009

2024

- Nada mais será como antes - Miguel Nicolelis
- Armadilha da identidade - Asad Haider
- A revolta dos bichos - Mykola Kostomárov
- Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski
- Náufragos, Traficantes e Degredados – Eduardo Bueno
- Gente Pobre - Fiódor Dostoiévski
- Mestre das Chamas - Joe Hill
- Áspero - Vini Willyan
- Mortos Vivos - Peter Straub
- Mais sombrio - Stephen King
- A Tribo - Joe Hill e Stephen King
- O fim da morte - Cixin Liu
- A Floresta Sombria - Cixin Liu
- Achtung Schweinehund - Harry Pearson
- O avesso da pele - Jeferson Tenório
- Sobrevidas - Abdulrazak Gurnah
- Almoço Nu - William Burroughs
- Algo sinistro vem por aí - Ray Bradbury
- Bobók - Fiódor Dostoiévski
- Coração das Trevas -  Joseph Conrad
- Campos da Morte - Simon Scarrow

2023

- Holly - Stephen King
- A última batalha - Cornelius Ryan
- Tarja Preta Segunda Edição - Coletânea
- Uirapuru - Febraro de Oliveira
- Corações na Atlântida - Stephen King
- A Invenção de Hugo Cabret - Brian Selznick
- Guerras Santas - Philip Jenkins
- Stalingrado: o Cerco Fatal -  Antony Beevor
- Deuses humanos - H.G.Wells
- Atlas de nuvens - David Mitchell
- Viva o povo brasileiro (Releitura) - João Ubaldo Ribeiro
- A longa viagem a um pequeno planeta hostil - Becky Chambers
- Piquenique na estrada - Arkadi e Boris Strugatsky
- Serotonina - Michel Houellebecq
- O Código das Profundezas - Roberto Lopes
- Por qué fui secretario de Durruti: Memorias del cura que ayudó al líder anarquista en la guerra civil (1936-1939) -  Jesús Arnal Pena
- Lasca - Vladímir Zazúbrin

2022

- O homem que amava os cachorros - Leonardo Padura
- Conto de Fadas - Stephen King
- A Roda de Deus:  O Evangelho do Exorcista Vol. 1 - Leonel Caldela
- Raspútin: Fé, poder e o declínio dos Románov - Douglas Smith
- Revolução Francesa Vol. 2 -  Às armas, cidadãos! (1793-1799) - Gallo, Max
- Revolução Francesa Vol.1 - O povo e o rei (1774-1793) - Max Gallo
- As entrevistas de Putin - Oliver Stone
- Vózes de Tchernóbil - Svetlana Aleksiévitch
- Fascismo: um alerta - Madeleine Albright
- Medo: Trump na Casa Branca - Bob Woodward
- Um país partido - Marco Antonio Villa
- Contos Góticos Russos - Tolstói, Gógol, Turgênev, Dostoiévski e Tchêkhov
- Contos estranhos -  Bram Stoker
- Ditadura à Brasileira - Marco Antonio Villa
- Meu pai, o guru do presidente - Heloisa de Carvalho e Henry Bugalho
- A democracia na armadilha - Miriam Leitão
- Complô contra a América - Philip Roth
- Como as democracias morrem - Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
- Getúlio - Juremir Machado da Silva
- Eis o homem - Michael Moorcock
- Assim falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche
- Eu sou dinamite! A vida de Friedrich Nietzsche - Sue Prideaux
- A ira de Nasi - Alexandre Petillo e Mauro Beting

2021

- Lula (Volume 1) - Fernando Moraes
- Billy Summers - Stephen King
- Lutando na Espanha: a luta antifascista na Guerra Civil Espanhola  - George Orwell
- Por quem os sinos dobram - Ernest Hemingway
- Charlenne Shelda - Fábio Gondim
- Batallas de la Guerra Civil Espanolla
- Deus: Como ele nasceu - Reinaldo José Lopes
- Nós - Iêvgueni Zamiátin
- Extraterrestre - Avi Loeb
- Fascismo à brasileira - Pedro Doria
- A máquina do ódio - Patrícia Camos Mello
- A Criatura - Andrew Pyper
- Padre Cícero: Poder, fé e guerra no sertão – Lira Neto
- Cangaceiros - José Lins do Rêgo
- Pedra Bonita - José Lins do Rêgo
- Bandidos -  Eric Hobsbawm
- Todos contra Nós - Leandro Karnal
- Eles em Nós: Retórica e antagonismo político no Brasil do século XXI - Idelber Avelar
- A Peste - Albert Camus
- Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
- Pais e Filhos - Ivan Turguêniev
- Grey Wolves: The U-Boat War, 1939-1945 – Philip Kaplan
- Depois - Stephen King
- A aldeia de Stepántchikovo e seus habitantes - Fiódor Dostoiévski
- 1808 - Laurentino Gomes
- 1499: O Brasil antes de Cabral -  Reinaldo José Lopes
- A vida não é útil - Ailton Krenak
- Uma história do samba: as origens - Lira Neto
- Meninos de Zinco - Aleksiévitch Svetlana
- Os testamentos - Margaret Atwood
- Road to Armagedon: Paraguay versus de Triple Alliance – Thomas L. Whigham
- Com Sangue – Stephen King2020

2020
- A viagem do descobrimento - Eduardo Bueno
- Sabendo que és minha - Fabrina Martinez
- Cinzas do Sul: 100 anos de guerra no continente americano – José Antônio Severo
- Rios de Sangue: 100 anos de guerra no continente americano – José Antônio Severo
- Reminiscências da Campanha do Paraguai - Dionísio Cerqueira
- Letters from the Battle-Fields of Paraguay - Richard Francis Burton
- A Batalha do Avai - Lilia Schwarcz
- Maldita Guerra - Francisco Doratioto
- Genocídio americano: a Guerra do Paraguai - J. J. Chiavenato
- A Retirada da Laguna - Alfredo d'Escragnolle Taunay
- A Guerra do Paraguai - Luiz Octavio De Lima
- O evangelho segundo Jesus Cristo - José Saramago
- Waterloo (Volumes 1, 2 e 3) - John  Franklin
- Ideias para adiar o fim do mundo - Ailton Krenak
- Dom Quixote Volume I – Miguel de Cervantes
- Blood of Heroes - Andrew Keith
- Main Event - Jim Long
- Ideal War - Christopher Kubasik
- Natural Selection - Michael A. Stackpole
- Wolf Pack - Robert N. Charrette
- Way of the Clans - Robert Thurston
- Bloodname - Robert Thurston
- Falcon Guard - Robert Thurston

- Stálin: Paradoxos do Poder (1878-1928) - Stephen Kotkin
- Leviathan Wakes - James S. A. Corey
- Os livros de Bachman - Stephen King
- Nexus - Henry Miller
- Ascensão - Stephen King
- O Instituto - Stephen King
- A pequena caixa de Gwendy - Stephen King
- Admirável mundo novo – Aldous Huxley

2019  
- Plexus – Henry Miller
- Lost Destiny - Michael A. Stackpole
- Blood Legacy - Michael A. Stackpole
- Lethal Heritage - Michael A. Stackpole
- Break-Away - Ilsa J. Bick
- Prometheus Unbound - Herbert A. Beas II
- Nothing Ventured - Christoffer Trossen
- Fall Down Seven Times - Randall N. Bills
- A Dish Served Cold - Chris Hartford and Jason Hardy
- The Spider Dances- Jason Schmetzer
- Heir to the Dragon - Robert Charrete
- Wolves on the Border - Robert Charrete
- Tempo Estranho – Joe Hill
- Warrior: Coupe - Michael A. Stackpole
- Warrior: Riposte - Michael A. Stackpole
- Warrior: En Guarde - Michael A. Stackpole
- The Price of Glory - William H. Keith Jr.
- Mercenary’s Star - William H. Keith Jr.
- Sword and the Dagger - Ardath Mayhar
- Decision at Thunder Rift - William H. Keth Jr.
- Retalhos - Vini Wyllyan
- Sexus - Henry Miller
- Trotski - Robert Service
- Barba ensopada de sangue – Daniel Galera
- O Alienista – Caleb Carr
- Cidade em Chamas - Garth Risk Hallberg
- Beren e Lúthien – JRR Tolkien
- 30 Estratégias para vencer qualquer debate – Arthur Schopenhauer
- Sangue e Fogo – George RR Martin
- Stonehenge – Bernard Cornwell
- Lolita – Vladimir Nabokov

 2018
- Casei com um comunista - Philip Roth
- Lima Barreto: Triste Visionário  - Lilia Moritz Schwarcz
- Como conversar com um fascista - Márcia Tiburi
- 1215 and All That: Magna Carta and King John – Ed West
- 1066 and Before All That: The Battle of Hastings, Anglo-Saxon and Norman England  – Ed West
- Saxons vs. Vikings: Alfred the Great and England in the Dark Ages – Ed West
- Marx em 90 Minutos - Paul Strathern
- Realidades adaptadas - Philip K. Dick
- Donnie Darko - Richard Kelly
- Na escuridão da mente - Paul Tremblay
- Outsider - Stephen King
- O Terror – Dan Simmons
- A queda de Gondolin – JRR Tolkien
- O Homem do Castelo Alto – Philip K. Dick
- Aceitação – Jeff Vandermeer
- Azincourt - Bernard  Cornwell
- Autoridade - Jeff Vandermeer
- Eis o Homem -  Michael Moorcock
- Elric de Melniboné Livro 1 - Michael Moorcock
- 1356 - Bernard  Cornwell
- O homem de giz -  C.J. Tudor
- Waterloo - Bernard  Cornwell
- Pastoral Americana - Philip Roth
- A restauração da horas -  Paul Harding
- As cinzas de Altivez - Juliana Feliz
- Belas Adormecidas - Stephen King e Owen King
- Trafalgar: The Biography of a Battle - Roy Adkins
- O país de Outubro - Ray Bradbury
- Convite à Filosofia- Marilena Chauí
- O problema dos três corpos - Cixin Liu
- O quarto dia - Sarah Lotz
- A sangue frio - Truman Capote

2017 
- Aniquilação - Jeff Vandermeer
- Origem - Dan Brown
- O homem do Colorado - Stephen King
- Só a terra permanece - George R. Stewart
- Trópico de Câncer - Henry Miller
- Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex
- A cidade dos Espelhos - Justin Cronin
- Evangelho de Sangue - Clive Barker
- Psicose - Robert Bloch
- O Pintasilgo - Donna Tartt
- Trilogia da Fundação - Isaac Asimov
- Ubik - Phillip K. Dick
- Belas Maldições - Terry Pratchett e Neil Gaiman
- O Bazar dos Sonhos Ruins - Stephen King
- Grandes Contos - H.P. Lovecraft
- A República das Abelhas - Rodrigo Lacerda
- Os Condenados - Andrew Piper

2016
- Último turno - Stephen King
- Cujo - Stephen King
- A guerra dos mundos - H.G. Wells
- A Guerra não tem rosto de mulher - Svetlana Aleksiévitch
- Achados e Perdidos - Stephen King - Legado - Hugh Howey
- Agincourt - Juliet Barker
- The Walking Dead - Invasão - Robert Kirkman e Jay Bonansinga
- Toda luz que não podemos ver - Anthnoy Doerr
- Um pequeno herói - Fiódor Dostoiévski
- Mr. Mercedes - Stephen King
- Ele está de volta - Timur Vermes
- The Pacific - Hugh Ambrose
- 1Q84 Livro 3 - Haruki Murakami
- 1Q84 Livro 2 - Haruki Murakami
- 1Q84 Livro 1 - Haruki Murakami

2015 
- Fantasmas do Século XX - Joe Hill
- Redes de Indignação e Esperança - Manuel Castells
- Survival - Stephen King
- The Apocalypse Fugitives (The Undead World IV) - Peter Meredith 
- The Apocalypse Outcasts (The Undead World III) - Peter Meredith 
- Doutor Sono - Stephen King

2014
- Survivors (The Undead World II) - Peter Meredith 
- The Apocalypse (The Undead World I) - Peter Meredith
- American Sniper - Chris Kyle
- Operation Red Wings: The Rescue Story Behind Lone Survivor - Peter Nealen
- Lone Survivor - Marcus Luttrell
- O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota - Olavo de Carvalho
- A hora das bruxas (Volume 2) - Anne Rice 
- A hora das bruxas (Volume 1) - Anne Rice
- A queda do governador (Volume 1) - Robert Kirkman e Jay Bonansinga

2013
- Ponto de impacto - Dan Brown
- Inferno -  Dan Brown
- Os últimos quartetos de Beethoven e  outros contos - Luis Fernando Veríssimo
- O vento pela fechadura - Stephen King
- A Ira dos Justos - Manel Loureiro
- Os dias escuros - Manel Loureiro
- A passagem - Justin Cronin
- Apocalipse Z - Manel Loureiro
- World War Z - Max Brooks
- O começo do tempo - Zecharia Sitchin
- O ciberespaço como fonte para jornalistas - Elias Machado
- A conversação em rede - Raquel Recuero
- O caminho para Woodbury - Robert Kirkman e Jay Bonansinga
- Duma Key - Stephen King
- Diálogos Impossíveis - Luis Fernando Veríssimo
- O segredo da pirâmide - Adelmo Genro Filho
- A identidade cultural na pós-modernidade - Stuart Hall
- Opinião Pública - Walter Lippmann
- A mesa voadora - Luis Fernando Veríssimo
- Livros de sangue V - Clive Barker
- O sol também se levanta - Ernest Hemingway
- Mortos entre vivos - John Ajvide Lindqvist
- Grandes Esperanças - Charles Dickens

2012
- Redes sociais na internet - Raquel Recuero
- Teorias do Jornalismo: porque as notícias são como são - Nelson Traquina
- Livros de sangue IV - Clive Barker
- O rei da montanha - Farah
- A zona morta - Stephen King
- Notícia de um sequestro - Gabriel García Márquez
- Guerra dos Tronos 5: A dança dos dragões - George R.R. Martin
- Os filhos dos dias - Eduardo Galeano
- Deuses Americanos - Neil Gaiman
- A morte da luz - George R.R. Martin
- A auto-estrada - Stephen King
- Nova Antologia do Conto Russo - Organizado por Bruno Barreto Gomide
- Ao cair da noite - Stephen King
- Jack Kerouac: king of the beats - Barry Miles
- Guia politicamente incorreto da história do Brasil - Leandro Narloch
- Band of Brothers - Stephen E. Ambrose
- Dia D - Antony Beevor
- Animal Tropical - Pedro Juan Gutiérrez
- O Rei de Havana - Pedro Juan Gutiérrez
- Trilogia suja de Havana - Pedro Juan Gutiérrez
- Lancaster & York: The War of the Roses - Alison Weir
- A ascenção do Governador - Robert Kirkman e Jay Bonansinga
- Love - Stephen King
- De Cuba, com Carinho - Yoani Sánchez
- Chatô: o Rei do Brasil - Fernando Morais
- No coração do mar - Nathaniel Philbrick
- O caminho  para o céu - Zecharia Sitchin
- Moby Dick - Herman Melville
- Devoradores de Mortos - Michael  Crichton
- Coisas Frágeis - Neil Gaiman
- O Lobo do Mar - Jack London
- Guerra dos Tronos 4: O Festim dos Corvos - George R.R. Martin
- Almas Mortas - Nikolai Gógol
- O 12º Planeta - Zecharia Sitchin
- O Duplo - Fiódor Dostoievski
- Battle Cry of Freedom: The Civil War Era - James M. McPershon

2011
- Guerra dos Tronos 3: A Tormenta de Espadas - George R.R. Martin
- Guerra dos Tronos 2: A Fúria dos Reis - George R.R. Martin
- Guerra dos Tronos 1: As Crônicas de Gelo e Fogo - George R.R. Martin
- The Last Full Measure - Jeff Shaara
- The Killer Angels - Michael Shaara
- O Messias de Duna - Frank Herbert

2010
- O concorrente - Stephen King
- Deuses, espaçonaves e terra: Provas de Dänichen - Erich Von Dänichen
- Dänichen em julgamento - Erich Von Dänichen
- De volta às estrelas - Erich Von Däniken
- Eram os deuses astronautas? - Erich Von Däniken
- Pobre Nação – Robert Fisk
- História da Palestina moderna – Ilan Pappe

2009

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

“Quem sabe quem poderia ser alvo do homem lido?”

Em 1933, quando os nazistas queimaram em praça pública livros de escritores e intelectuais como Marx, Kafka, Thomas Mann, Albert Einstein e Freud, o criador da psicanálise fez o seguinte comentário a seu amigo Ernest Jones: “Que progressos estamos fazendo. Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus livros”. Ele não poderia saber sobre o que viria, mas a sutil ironia cai como uma luva para a distopia criada pelo escritor norte-americano Ray Bradbury em 1953. 

Em Fahrenheit 451, Bradbury percebe o nascimento de uma forma mais sutil de Totalitarismo, para além do fascismo: a indústria cultural, a sociedade de consumo e seu corolário ético — a moral do senso comum. A ideia de que existe uma ditadura da maioria, que pune o diverso, o diferente.

Na obra, Bradbury recorreu a uma simbologia simples para retratar o método de censura ideológica em sua visão opressora do futuro. Todos os livros são proibidos numa sociedade na qual ter opinião própria é uma conduta antissocial e criminosa. Os homens finalmente encontraram uma maneira de viver em “paz”, mas sob um alto custo: acabar o pensamento crítico, subjugar a diferença, deter as ideias. Para isso, os livros são banidos por serem fonte de melancolia, revolta, tristeza, dúvida. 

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“— Me deixe em paz — disse Mildred. — Eu não fiz nada.
— Deixar você em paz! Tudo bem, mas como eu posso ficar em paz? Não precisamos que nos deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando.
Quanto tempo faz que você não é realmente incomodada? Por alguma coisa importante, por alguma coisa real?” 

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No mundo de Fahrenheit 451, as pessoas têm todo o tipo de conforto, com programas de TV interativos – na verdade um tipo de mistura de realidade virtual com reality shows proposta por Bradburry décadas antes do surgimento da internet e dos Big Brothers da vida. Este conforto, no entanto, serve como uma anestesia social, uma droga alienante que condena todos a uma pseudo felicidade vazia de conteúdos e questionamentos.

O personagem principal, Guy Montag, trabalha como bombeiro. Mas os bombeiros, nesta distopia, não atuam mais para conter incêndios, mas para incinerar livros escondidos nas casas daqueles que insistem no conhecimento. Tomado por uma sensação de vazio existencial e pela curiosidade em descobrir o que há de tão ruim nos livros, Montag é seduzido pelas riquezas de seus conteúdos. Logo, ele começa a agir de forma diferente do padrão aceito e uma implacável perseguição terá início. 

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“Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com “fatos” que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente “brilhantes” quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências. Aí reside a melancolia.” 

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Qualquer similaridade com a sedução das redes sociais e o bombardeio inclemente de informação da atualidade não é mera consciência...
Muitas obras de Bradbury foram adaptadas para cinema e TV –o escritor chegou a produzir roteiros diretamente para esses meios. "Fahrenheit 451" foi filmado em 1966 pelo diretor francês François Truffaut (1932-1984).

O Conto da Aia - Margaret Atwood


Nolite te bastardes carborundorum (Não permita que os bastardos reduzam você a cinzas)
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Uma “ficção social", é como a autora canadense Margaret Atwood se refere ao seu livro, “O Conto da Aia” (The Handmaid's Tale), um romance distópico publicado em 1985 cujo pano de fundo é o estabelecimento de uma teonomia totalitária fundamentalista cristã nos Estados Unidos, em um futuro próximo. Nesta sociedade marcada pelo patriarcado e pela misogenia, as mulheres são relegadas ao papel de esposas, empregadas ou procriadoras. Isso mesmo, àquelas, férteis, são colocadas à disposição de um a elite religiosa ávida por romper com um ciclo de queda nas taxas de natalidade e repovoar o país com uma prole pia e obediente.

A história de Atwood é narrada sob o ponto de vista de Offred, a Aia, cujo diário é estudado por pesquisadores muitas décadas após os fatos relatados no livro. O nome da protagonista, por si só, aponta o grau de subjulgação das mulheres nesta distopia: Offred significa literalmente “do Fred”. Ela é uma procriadora de “propriedade” do seu Comandante, cujo nome é Fred (no livro há outras aias - Ofglen, Ofwarren, etc, cada uma de propriedade de um homem influente).

Pode parecer mais uma distopia recheada de visões apocalípticas sobre o futuro da humanidade. Não é. O livro, tal qual “Submissão”, de Michel Houellebecq (leia a resenha aqui - https://tinyurl.com/ybcomveh) é aterrador justamente por trazer em seu bojo sinais de uma sociedade que muitos, hoje em dia, gostariam de ver implantadas mundo afora, por trazer em seu contexto os desenhos de um futuro que pode ser delineado hoje diante do avanço do obscurantismo religioso, seja de matriz islâmica ou cristã. Aliás, a regra que Atwood adotou ao escrever o livro foi que tudo precisava ter um antecedente real.

As mulheres da República de Gilead (o nome da cidade, país, território onde se passa a trama) usam roupas e cores prescritas pela sua posição na sociedade: vermelho para as aias, azul para as mulheres casadas, verde para as Marthas (empregadas dos líderes), marrom para as Tias (fundamentalistas religiosas responsáveis pela doutrinação das mulheres à nova realidade) . "Organizar pessoas de acordo com o que elas vestem é uma vocação humana muito, muito antiga", diz Atwood. Data do primeiro código legal conhecido, o Código de Hamurabi, que dispunha, por exemplo, que "apenas damas aristocráticas tinham o direito de usar véus". "Se uma escrava fosse apanhada usando um véu, a pena era a morte. Usar o véu significava fingir ser quem ela não era."

O traje da Aia (mulheres destinadas a procriação) tem várias fontes (véus e toucas da era vitoriana, capuzes de freiras). A visita de Atwood ao Afeganistão –durante a qual ela usou um chador–, em 1978, também foi uma influência.

Todos esses códigos de vestimenta –como o uso da estrela de Davi amarela pelos judeus e de um triângulo rosa pelos homossexuais no nazismo– eram formas de "identificar, controlar pessoas". "É fácil perceber de imediato quem aquela pessoa é."

No Canadá, o vermelho das Aias foi usado para os uniformes de prisioneiros de guerra, acrescenta Atwood, "porque é bem visível na neve". O vermelho também veio da iconografia cristã do final da era medieval e começo do Renascimento. "A Virgem Maria sempre usava azul, e Maria Madalena, vermelho".

Em Gilead os fins justificam os meios; vemos isso quando a Aia Janine tem um bebê e não consegue aceitar que não pode ficar com a criança.  "Há muitas utopias e distopias de base econômica, mas essa vai direto à raiz absoluta: quantas pessoas existirão em uma sociedade? Como essas pessoas serão concebidas?" Tiranos como Hitler e Ceausescu ditaram regras para a fertilidade em seus países e trataram como criminosos quem não as cumprissem. "Não foi por acidente que Napoleão proibiu o aborto. Ele desejava que as mulheres tivessem filhos para que não faltassem soldados."

As Aias são forçadas a ter filhos para outras mulheres. Quando uma junta militar assumiu o poder na Argentina, em 1976, até 500 crianças e recém-nascidos "desapareceram" – foram adotados por militares e policiais. Na Austrália e no Canadá, centenas de milhares de crianças indígenas foram separadas à força de suas famílias. "A situação provavelmente era apresentada como 'nossa, estamos dando uma oportunidade a essas crianças. Elas vão à escola!' Seria algo assim."
Ao considerar seus problemas de fertilidade, a República de Gilead não leva em conta a outra metade da equação: os homens. "A Tia Lydia diz que as mulheres é que são estéreis. Por séculos e séculos, era isso que as pessoas achavam." Henrique 8º não parava de trocar de mulher (e de religião de Estado), aponta Atwood.

No livro, o médico que ajuda Offred sabe que as coisas não são assim. Serena Joy – a esposa do Comandante Fred - também, e decide que Offred [encarregada de engravidar por ela] pode se servir de um amante. "É uma das coisas de que Ana Bolena foi acusada – fazer sexo com seu irmão para gerar uma criança", diz.

Atwood pesquisou movimentos de resistência na Segunda Guerra Mundial. Um amigo seu foi da Resistência francesa e ajudou a tirar da França britânicos que haviam escapado de aviões abatidos. "O trabalho dele era entrevistá-los para garantir que não fossem alemães se fazendo passar por britânicos. Ele lhes perguntava de onde vinham, resultados de futebol, coisas assim. Se considerasse que eram alemães, eram fuzilados. Sem mais".

Ela também conversou com resistentes da Holanda e da Polônia. "Muita gente não sobreviveu." Ela menciona as integrantes do grupo Rosa Branca, pegas distribuindo panfletos contra o nazismo e executadas, e as espiãs britânicas, que às vezes operavam também como assassinas. Ter mulheres como agentes, diz Atwood, é uma técnica usada por movimentos de resistência e extremistas islâmicos, e os trajes das Aias são convenientes: "Veja quantos lugares onde esconder coisas. Mangas largas! Meias! Ninguém vai olhar."

Mas como as mulheres de uma sociedade ocidental moderna se deixaram subjugar deste modo? A história está repleta de exemplos de como sociedades inteiras fizeram vistas grossas para o avanço do fascismo e se viram enredadas em suas teias com consequências aterradoras. O advento do fascismo europeu nos anos 30, a revolução cultural na China, a guinada ao islamismo no Irã nos anos 70 são alguns exemplos recentes.

“Houve passeatas, é claro, muitas mulheres e alguns homens. Mas foram menores do que se teria imaginado. Creio que as pessoas estavam com medo. E quando tornou-se de conhecimento público que a polícia ou o exército, ou fossem lá quem fossem, abririam fogo quase que tão logo quaisquer das passeatas começassem, as passeatas pararam. Algumas coisas foram explodidas, agências de correios, estações de metrô. Mas não se podia nem ter certeza de quem estava fazendo isso. Poderia ter sido o exército, para justificar as buscas via computador e as outras, de porta em porta.

Não fui a nenhuma das passeatas. Luke disse que seria inútil e que eu tinha que pensar a respeito deles, minha família, ele e ela. Pensei mesmo em minha família. Comecei a fazer mais tarefas domésticas, cozinhar mais. Tentava não chorar na hora das refeições. Àquela altura eu havia começado a chorar, sem mais nem menos, e a sentar ao lado da janela do quarto, olhando fixo para fora. Não conhecia muitos dos vizinhos, e quando nos encontrávamos, lá fora na rua, éramos cuidadosos de não trocar nada além dos cumprimentos habituais. Ninguém queria ser delatado, por deslealdade.”, diz Ofrred.

Este medo, este conformismo que faz o totalitarismo se erguer diante de nós como se não fossemos capazes de detê-lo não é ficção. Na Alemanha do pós-guerra, muitos alemães sustentaram que não sabiam da carnificina promovida contra judeus, esquerdistas, deficientes, ciganos, homossexuais, etc. Hoje, ainda, parte significativa da sociedade brasileira se nega a aceitar os terrores promovidos pela ditadura militar.

“Não quero dor. Não quero ser uma dançarina, com os pés no ar, minha cabeça um retângulo sem rosto de pano branco. Não quero ser uma boneca dependurada no Muro, não quero ser um anjo sem asas. Quero continuar vivendo, de qualquer forma que seja. Renuncio a meu corpo voluntariamente, para submetê-lo ao uso de outros. Eles podem fazer o que quiserem comigo. Sou abjeta. Sinto, pela primeira vez, o verdadeiro poder deles."

A obra, adaptada para a TV pela plataforma de streaming Hulu, está em sua segunda temporada.