Em 1933, quando os nazistas queimaram
em praça pública livros de escritores e intelectuais como Marx, Kafka, Thomas
Mann, Albert Einstein e Freud, o criador da psicanálise fez o seguinte
comentário a seu amigo Ernest Jones: “Que progressos estamos fazendo. Na Idade
Média, teriam queimado a mim; hoje em dia, eles se contentam em queimar meus
livros”. Ele não poderia saber sobre o que viria, mas a sutil ironia cai como
uma luva para a distopia criada pelo escritor norte-americano Ray Bradbury em
1953.
Em Fahrenheit 451, Bradbury percebe o
nascimento de uma forma mais sutil de Totalitarismo, para além do fascismo: a
indústria cultural, a sociedade de consumo e seu corolário ético — a moral do senso
comum. A ideia de que existe uma ditadura da maioria, que pune o diverso, o
diferente.
Na obra, Bradbury recorreu a uma
simbologia simples para retratar o método de censura ideológica em sua visão
opressora do futuro. Todos os livros são proibidos numa sociedade na qual ter
opinião própria é uma conduta antissocial e criminosa. Os homens finalmente
encontraram uma maneira de viver em “paz”, mas sob um alto custo: acabar o
pensamento crítico, subjugar a diferença, deter as ideias. Para isso, os livros
são banidos por serem fonte de melancolia, revolta, tristeza, dúvida.
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“— Me deixe
em paz — disse Mildred. — Eu não fiz nada.
— Deixar
você em paz! Tudo bem, mas como eu posso ficar em paz? Não precisamos que nos
deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando.
Quanto
tempo faz que você não é realmente incomodada? Por alguma coisa importante, por
alguma coisa real?” -
O personagem principal, Guy Montag, trabalha como bombeiro. Mas os bombeiros, nesta distopia, não atuam mais para conter incêndios, mas para incinerar livros escondidos nas casas daqueles que insistem no conhecimento. Tomado por uma sensação de vazio existencial e pela curiosidade em descobrir o que há de tão ruim nos livros, Montag é seduzido pelas riquezas de seus conteúdos. Logo, ele começa a agir de forma diferente do padrão aceito e uma implacável perseguição terá início.
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“Encha as pessoas com dados
incombustíveis, entupa-as tanto com “fatos” que elas se sintam empanzinadas,
mas absolutamente “brilhantes” quanto a informações. Assim, elas imaginarão que
estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão
felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno
movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências. Aí
reside a melancolia.”
-
Qualquer similaridade com a sedução
das redes sociais e o bombardeio inclemente de informação da atualidade não é
mera consciência...
Muitas obras de Bradbury foram
adaptadas para cinema e TV –o escritor chegou a produzir roteiros diretamente
para esses meios. "Fahrenheit 451" foi filmado em 1966 pelo diretor
francês François Truffaut (1932-1984).
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