“Deixa
ela entrar” (2004) é o primeiro livro do sueco John Ajvide Lindqvist. Trata-se
de uma das mais perturbadoras ficções de terror dos últimos tempos. Grande
parte de seu impacto se deve à originalidade com que Lindqvist aborda a seara
do vampirismo. Vários elementos dessa literatura estão presentes – a começar
pelo título, que faz referência à crendice de que vampiros só podem entrar em
lugares para os quais são convidados –, porém ambientados no mais cru realismo.
No
enredo, Oskar, um garoto de doze anos, vive com a mãe no subúrbio de Estocolmo,
na década de 1980. Solitário e alvo de bullying na escola, passa o tempo
lendo e colecionando notícias sobre serial killers e planejando se
vingar de seus perseguidores. No entanto sua rotina é alterada quando uma
garota de doze anos, Eli, se muda para o apartamento ao lado. Uma profunda
identificação aproxima o menino a Eli, ao mesmo tempo em que a vizinhança passa
a ser assolada por uma onda de mortes misteriosas.
Muito
mais que sustos, o livro de Lindqvist desperta os horrores de quem tem de
passar da infância para a maturidade em circunstâncias adversas e em um cenário
opressivo. Com habilidade, o autor recorre a um registro naturalista, temperado
de referências à cultura pop, para desenvolver uma história em que os medos são
despertados tanto por elementos sobrenaturais quanto pela realidade concreta.
Pedofilia, prostituição, empalamentos e que tais se perfilam na narrativa das 500 páginas da obra, em um inquietante panorama que escapa da banalidade do terror barato por meio de uma bem construída paisagem que retrata a solidão de um grupo de personagens esmagados pela falta de expectativas econômicas, sociais e amorosas. E por um vampiro-criança...
Lindqvist
nasceu em Blackeberg, subúrbio de Estocolmo, na Suécia, em 1968. Antes de se
tornar autor de romances e contos de terror, trabalhou como roteirista de
séries para a TV sueca, como mágico e comediante de stand-up. Seu
segundo livro, “Mortos entre vivos” aborda outro fértil campo do terror moderno,
os zumbis, mas de um ponto de vista totalmente original.
Quatro anos após seu lançamento nas livrarias, Deixe ela Entrar ganhou sua primeira adaptação cinematográfica. Dirigida pelo competente Tomas Alfredson (O espião que sabia demais), a produção sueca foi muito bem recebida pela crítica e ajudou Hollywood a dar sinal verde para sua versão para a história. Deixe-me Entrar, que contou com Chloë Grace Moretz (Kick-Ass) e Kodi Smit-McPhee (A Estrada) como protagonistas e com Matt Reeves (Cloverfield) responsável pela direção não se saiu muito bem nas bilheterias mas, assim como seu primo europeu, ganhou vários elogios dos especialistas.
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