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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Chamado de Cthulhu e outros contos - H.P. Lovecraft

Sou um sujeito assim – um cético materialista com gostos clássicos e tradicionais; afeito ao passado e a suas relíquias e tradições, convicto de que a única busca de sentido digna de um homem neste universo caótico é a busca dos prazeres requintados e inteligentes que se obtêm mediante uma vívida existência mental e imaginativa”. Este é Howard Philips Lovecraft, ou H.P. Lovecraft, autor cuja coletânea de contos “O Chamado de Cthulhu e outros contos” (Editora Hedra) acabo de degustar neste domingo, em sampa. Trata-se de um maravilhoso mergulho nas profundezas da mente de um dos autores fantásticos mais originais da literatura estadunidense.

Nascido em 20 de agosto de 1890, em Providence, Rhode Island, Lovecraft foi uma criança precoce. Aos dois anos já recitava poesia, aos três, aprendeu a ler, aos cinco, teve contato com as Fábulas dos Irmãos Grimm e com as Mil e uma Noites. Entre seis e sete anos de idade, aventurou-se em seu primeiro conto.

O valor literário da obra de H.P. Lovecraft não foi reconhecido durante sua vida. Após sua morte, em março de 1937, seus correspondentes (Lovecraft deixou uma vasta correspondência) August Derleth e Donald Wandrei, movidos pelo desejo de perpetuar a obra o amigo, ofereceram seus contos a vários editores. Acabaram fundando, eles mesmos, a editora Arkhan House, com o intuito de publicar as obras do autor. Mas, o reconhecimento definitivo só veio a partir da década de 60, com a publicação do primeiro volume de sua correspondência em Selected Letters 1 (Archan House, 1965). Em 2005, a coleção Library of America publicou Tales, um volume inteiramente dedicado a Lovecraft, alçando-o definitivamente ao panteão dos maiores representantes do fantástico e do terror.

O Chamado de Cthulhu e outros contos” oferece um passeio pela produção literária de Lovecraft tendo início em 1917, com o conto Dagon, passando pela década de 20 e 30 com histórias que nos arrebatam do sofá, fazendo com que nossa mente percorra o universo, as profundezas da terra e, em meio a isso, imaginemos o que há entre estas duas dimensões. Contos como “Ar frio” (1926), “A música de Erich Zann” (1922), “O modelo de Pickman” (1926), “O assombro nas trevas” (?) e “O chamado de Cthulhu” (1926) são exemplos do que se convencionou chamar – referindo-se a obra de Lovecraft - de horror ancestral ou horror cósmico.

O mundo e todos os seus habitantes parecem-me imensuravelmente insignificantes, de modo que sempre anseio por insinuar simetrias mais vastas e mais sutis do que aquelas relativas à humanidade”.

Os contos combinam a antiga tradição do horror com pinceladas de ficção científica e avanços da ciência, resultando em um tratamento literário e filosófico dos preceitos científicos de então. “A emoção mais antiga e mais forte do homem é o medo, e o medo mais antigo e mais forte é o medo do desconhecido”.

Inspirado por autores que construíram uma reputação sobre a literatura fantástica como Edgard Alan Poe, Villiers de L´Isle Adam, Willian Beckford, Ambrose Bierce, S.T. Coleridge, Nathaniel Hawthorne, Wasghington Irving, Henry James, Guy de Maupassant e R.L Stevenson, Lovecraft é um personagem tão interessante quanto os que ele criou para habitar suas histórias. “Meu gosto por coisas estranhas começou muito cedo, pois sempre tive uma imaginação absolutamente descontrolada”, afirma em carta a R. Michael (em 20 de julho de 1929), cujo encerramento nos dá pistas de sua mente fulgurante e imaginativa: “Mas o ocidente fulgura com o sol que parte, e acima das copas ancestrais a alongada foice prateada da jovem lua perturba. Preciso ir para casa...”.

6 comentários:

blog da domestica disse...

Salve garoto!
Muito bom! Voce tambem tem o dominio das letras. Foi a melhor que li até hoje sobre Lovecraft...

arlindo fernandez

Adriana Godoy disse...

Houve época em que lia demais esse autor. Me deu vontade de resgatá-lo. é o que vou fazer,depois de ler esse tão bem escrito artigo. Bj

Daniel Braga disse...

Barone, você sabe se algum destes contos são inéditos? Tem alguma diferença para a versão da Editora Iluminuras, tirando claro, a tradução?

Abraços!

Barone disse...

Grande Arlingo. Gosto muito de Lovecraft e do gênero.

Adriana: é ótima leitura para quem gosta do estilo, como eu.

Daniel: Olha, eu já havia lido outras duas coletâneas de contos em portiguês e estes dois livros não continham nenhum dos contos que li nesta edição. Não sei se é o mesmo conteúdo da Iluminuras.

Luiz Poleto disse...

Esse livrinho é muito bom. Lovecraft é sem dúvidas um mestre.

A propósito, o conto “O assombro nas trevas” (?), foi escrito em Novembro de 1935, com o nome original de "The Haunter of the Dark".

Azathoth disse...

Parabéns Barone! Lovecraft é um dos maiores e melhores escritores do século 20, e sua resenha faz jus ao trabalho dele. Não conhecia este livro da Hedra (comprei todos da Iluminuras e 4 edições da Arkham House), mas vou procurar nas livrarias.