Semana On

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O mundo sem nós - Alan Weisman

Qualquer um cuja mente seja açodada por um mínimo de imaginação já conjeturou um mundo sem seres humanos. O que aconteceria se nós, humanos - cuja passagem pelo planeta Terra ocupa um ínfimo espaço no calendário global - simplesmente desaparecêssemos? Que catástrofes adviriam desta ausência? E que benefícios? É este o pano de fundo do livro “O Mundo Sem Nós” (The World Without Us), do jornalista Alan Weisman (veja aqui o site do livro).

Weisman traça um cenário aterrador sobre a influência daninha que o homem exerce sobre o planeta. Em suas 382 páginas, o livro deixa claro que, longe de ser o provedor que se imagina, o homem tem colaborado para o envenenamento contínuo de sua casa e, extinto, apenas interromperia este processo, fazendo com que a natureza, pouco a pouco, voltasse a ocupar os espaços da qual foi expulsa pelo “progresso”.

Diante da nefasta ação humana sobre o meio ambiente, há quem defenda que os seres-humanos tomem a iniciativa de deixar em paz a natureza. É o caso do “Movimento de Extinção Humana Voluntária” (VEHMT), que pretende suprimir a raça humana ao, voluntariamente, deixar de procriar, permitindo à biosfera terrestre retornar à boa saúde. Pode parecer maluquice, mas o movimento é sério e, diante da destruição que proporcionamos, tem fundamento. “Fazer tornar a Terra ao seu esplendor natural e encerrar o sofrimento inútil da humanidade são pensamentos positivos”, afirma o VEHMT.

Boa parte do livro se dedica a explicar o que aconteceria com o mundo caso os seres humanos fossem extintos. A partir de entrevistas com zoólogos, biólogos, engenheiros e paleontólogos, Weisman mostra que pouca coisa resistiria à ação do tempo e das forças da natureza, e revela como nosso “lixo tecnológico” continuará envenenando o meio ambiente nos milhões de anos vindouros.

Com uma narrativa recheada por pesquisas de campo, Weissman explica como nossa imensa infra-estrutura irá entrar em colapso e, finalmente, desaparecer juntamente com qualquer vestígio de nossa presença no planeta; como nossos artefatos do dia a dia se transformarão em fósseis; como canos e fios de cobre serão transformados em veios minerais; porque algumas de nossas construções poderão ser os últimos vestígios de arquitetura e como o plástico, as esculturas de bronze, as ondas de rádio e algumas moléculas criadas pelo homem poderão ser os últimos sinais de nossa presença no universo.

Em “O mundo sem nós”, descobrimos como as selvas de asfalto serão substituídas por selvas verdes em meios às cidades em ruínas; como as fazendas tratadas de forma orgânica ou química irão se transformar em áreas selvagens; como bilhões de pássaros surgirão e baratas sucumbirão sem nossa presença. Em lugares esquecidos ou abandonados pelos humanos (como um pequeno fragmento das florestas primevas da Europa, uma zona desmilitarizada entre as Coréias e Chernobyl), Weisman revela a tremenda capacidade de recuperação de nosso planeta.

Sem a presença humana, em dois dias o metrô de Nova Iorque seria inundado devido à paralisação do bombeamento de água. Sete dias depois, a reserva de emergência dos geradores a diesel que mantém em funcionamento o resfriamento de usinas nucleares chegaria ao fim. Passado um ano, um bilhão de pássaros deixaria de ser abatidos quando as luzes de sinalização das torres de rádio e comunicação apagassem e parassem de interferir em seu sistema de orientação. Dez anos depois de o homem desaparecer, o teto de celeiro com um buraco de meio metro quadrado, que já estava vazando na década anterior, já teria desaparecido há tempos. Passados cem anos, populações de pequenos predadores, guaxinins, doninhas e raposas diminuiriam graças à competição com um legado humano: s imensamente bem-sucedidos e ferozes gatos domésticos. Em mais 200 anos, as grandes pontes teriam desabado e barragens em todo o mundo destruídas. Cidades localizadas na foz de rios teriam sido destroçadas. Depois de alguns milhares de anos, qualquer parede de pedra que ainda estivesse de pé no hemisfério norte finalmente cederia ao frio.

Seriam necessários 35 mil anos para que o chumbo depositado durante a “era das chaminés” finalmente fosse removido do solo (para o cadmium serão necessários 75 mil anos). Pelo menos 100 mil anos depois da Terra ter se livrado de nós, o gás carbônico (CO2) terá voltado a níveis pré-humanos. O plástico, que tão orgulhosamente ostentamos em embalagens e produtos de todos os gêneros, precisará de pelo menos 100 mil anos para ser devorado por micróbios. Milhões de anos terão se passado antes de nossa presença física ter sido totalmente apagada. Esculturas de bronze ainda serão reconhecíveis em 10,2 milhões de anos. Ainda assim a vida na terra continuará em formas que jamais sonhamos pelos próximos bilhões de anos, até que nosso pequeno planeta seja queimado por um sol agonizante que, ao se expandir, englobará os planetas que o circundam (o que deve ocorrer daqui há cerca de cinco bilhões de anos). Ainda assim, o legado humano permanecerá para sempre em nossos programas de rádio e TV, cujas ondas, fragmentadas, ainda estarão viajando pelo universo.

O mundo sem nós

1 dia Combustível fóssil continuará alimentando usinas (em sua maior parte, automatizadas) por algumas horas. Também em algumas horas, a energia elétrica começará a entrar em colapso. Praticamente todas as usinas dependentes de combustível fóssil irão desligar.
2 dias Após 48 horas, os reatores de usinas nucleares entrarão em modo de segurança automaticamente. Turbinas de todos os tipos começarão a falhas devido a falta de lubrificação. Apenas áreas dotadas de energia provida por hidrelétricas ou energia solar contarão com eletricidade.
3 dias Metrôs que precisam operar com sistemas de bombeamento de água estariam inundados em menos de 36 horas.
10 dias Comida começaria a apodrecer nas prateleiras de supermercados e nos refrigeradores. Enquanto houver água derretida proveniente de refrigeradores e comida deixada à vista, os animais de estimação permanecerão nas proximidades de suas casas. Logo, no entanto, eles terão de procurar alimento em outros lugares. Àqueles que conseguirem sair de casa irão competir pela sobrevivência. Cães e gatos criados por meio de manipulação genética não encontrarão um nicho neste competitivo ambiente e estarão entre os primeiros a perecer. Por exemplo, as pernas curtas e boca pequena de bulldogs e terriers serão problemas para estas raças. Animais aprisionados em zoológicos morrerão de fome e sede.
6 meses Pequenas formas de vida selvagem não vistas com freqüência em meio à civilização – coiotes, gatos selvagens, lobos, veados etc – começarão a habitar os subúrbios das cidades. Os ratos já terão consumido nossos suprimentos estocados e começarão a deixar as áreas urbanas rumo às áreas selvagens.
1 ano Plantas começarão a brotar em meio a rachaduras no asfalto de estradas, ruas, passeios e construções. As últimas áreas com eletricidade cederão espaço a escuridão.
Barragens começarão a transbordar e se romper. Incêndios causados por raios terão destruído grandes áreas urbanas e selvagens. Várias espécies de animais terão avançado sobre as cidades.
5 anos A flora terá coberto a maioria das áreas urbanas com grama e árvores. Estradas serão cobertas por vegetação e, devido a falta de manutenção, desaparecerão.
20 anos As ruínas de Prypiat, na Ucrânia, abandonadas em 1986 após o desastre de Chernobyl, têm sido usadas como exemplo para demonstrar a decadência de áreas urbanas abandonadas após 20 anos sem a presença humana. Apesar dos altos níveis de radiação, muitas populações de animais, além de uma vasta flora, têm florescido nestas áreas.
25 anos O mar terá avançado sobre algumas áreas urbanas como Londres e Amsterdã, que são mantidas secas graças à engenharia. Janelas em prédios altos terão sido destruídas devido ao ciclo de frio e calor e devido à falta de manutenção nos seladores. Devido à falta de ajustes, satélites começarão a cair de volta à Terra.
40 anos Muitas construções de madeira terão se incendiado, apodrecido, ou consumidas por cupins. Árvores e vinhas terão se infiltrado e crescido em meio ao que restasse das construções de alvenaria, já bastante enfraquecidas pela ação dos elementos.
50 anos Estruturas de metal começarão a mostrar sinais de negligência. A pintura, que normalmente protege estas estruturas, já não existirá, expondo o metal aos elementos e permitindo a corrosão.
75 anos Muitos dos 600 milhões de automóveis que se espalham pelo globo terão sido reduzidos a escombros irreconhecíveis. Alguns veículos localizados em áreas de clima mais ceco não terão sofrido o efeito da corrosão de forma tão flagrante e ainda serão reconhecíveis.
100 anos Grandes pontes terão desabado devido à corrosão dos cabos de suporte. Muitas estruturas construídas pelo homem terão desabado em um período de 100 a 10 mil anos.
150 anos Muitas estradas e metrôs começarão a desabar sobre túneis inundados. Edifícios terão sido totalmente tomados por plantas, criando uma paisagem selvagem em um ecossistema vertical. Descendentes dos cães domésticos terão cruzado com lobos.
200 anos Grandes estruturas como o Empire State Building e a Torre Eifel terão desabado devido à ação da corrosão, das plantas e da água que terá desestabilizado suas fundações. Todos os livros e vídeos terão desaparecido sob a força do mofo.
500 anos Itens feitos com concreto começarão a ruir devido à expansão das barras de ferro que os reforçam.
1000 anos A maioria das cidades modernas terão sido destruídas e/ou cobertas pelas florestas. Os amontoados de escombros se transformarão em montanhas e colinas. Rios voltarão as suas margens originais. Haverá poucas evidências de que uma civilização humana tenha existido a Terra. Certas estruturas feitas de tijolos de pedra ou concreto, como as Pirâmides do Egito ainda estarão de pé com danos mínimos.
10.000 anos As construções de concreto cederão devido à erosão e aos efeitos cumulativos da ação sísmica.
Neste período, qualquer evidência substancial da humanidade terá desaparecido. Apenas algumas coisas ainda permanecerão, como os pedestais de granito ou concreto sólidos da Estátua da Liberdade. As Pirâmides de Gizé ainda estarão de pé, embora bastante enterradas na areia do deserto. Porções do Grande Muro da China também permanecerão visíveis. As faces do Monte Rushmore ainda estarão reconhecíveis por centenas de milhares de anos. Nossos ossos, escombros, plástico e poliestireno (isopores) poderão ser os últimos sinais da humanidade.

Alan Weisman é autor de cinco livros, incluindo “O mundo sem nós”. Seu trabalho já apareceu na Harpers, New York Times Magazine, Los Angeles Times Magazine, Discover, Atlantic Monthly, Condé Nast Traveler, Orion e Mother Jones. Weisman tem um programa na National Public Radio e na Public Radio International e é produtor sênior da Homelands Productions, organização jornalística que produz séries independentes de documentários para a rádio pública. Ele leciona jornalismo internacional na University of Arizona.

6 comentários:

Unknown disse...

Olá Barone,excelente post!Você viu o documentário-"O mundo sem ninguém'?Muito interessante e inquietante.Um grande abraço.

Adriana Godoy disse...

Nossa! Estou até sem fôlego!! Embora trágico, apocalíptico, talvez seja esse mesmo o nosso destino. Vou ler de novo. Adorei essas possibilidades...

Barone disse...

Oi James, rapaz... não vi não. Vou procurar.

Adriana. Que coisa não?

Dan Jung disse...

Barone, eu gosto de suas resenhas... seus "escrivinhamentos". Eu estou, pouco a pouco, conhecendo o blog. Tem muita coisa boa pra ver!... voltando... ressaltar um mundo sem humanos é falar de um mundo silencioso, silencioso da palavra. A singularidade do homem está na sua dimensão simbólica e a sua humanidade se legitima através da linguagem. Nós somos cativos da linguagem. A palavra mediatiza nossos desejos de aquisição e, através deles, transforma o mundo. Em vez da extinção do humano, melhor seria a sua recuperação.

Unknown disse...

Gostaria de ler esse livro, se alguém puder me enviar em PDF ou epub eu agradeço muito. cbvitor.eb14@gmail.com

Unknown disse...

Estou a tentar baixar o livro mas sem êxito...
Agradecia se alguém me enviasse este livro em PDF, estou curioso em ler o livro...
Os emails: gomesluisgugas@gmail.com ou gomesluisgugas@yahoo.pt