O preconceito é uma doença silenciosa. Ele se instala nas mentes, nas consciências e lá se agarra com unhas e dentes contaminando convicções. Em poucas questões este vírus tem se mostrado mais resistente que na questão da homossexualidade. Assim como um vírus se manifesta em qualidades diversas, determinando os sintomas da doença, o preconceito de sexualidade também possui facetas diversas, todas elas malignas e fatais ao desenvolvimento de sociedades livres e fraternas.
Uma das formas pela qual esta doença da alma se manifesta é através da classificação da homossexualidade como algo “anormal”. Este é o caminho escolhido por uma miríade de pessoas que não consegue enxergar a diversidade como algo pertinente ao ser humano. Sua base argumentativa trafega pela religiosidade ou pelo que classificam como comportamento natural. Ambas as bases carecem de estrutura argumentativa coerente.
Na religiosidade, parte-se do pressuposto de que existe uma verdade moral absoluta ligada ao comportamento sexual, sem a qual os seres humanos estariam desviados “do caminho”. Estas verdades estão baseadas na fé e não em conceitos científicos. Fé é um caminho pessoal. A minha, serve para mim. A sua, para você. Não cabe ao homem impor sua crença aos demais, visto que ele não detém a verdade absoluta, mas a sua própria verdade, embasada por sua própria fé.
O desprezo desta linha de raciocínio levou a humanidade a todo tipo de desumanidade. A noção de que uma determinada fé – e os conceitos que se julgam pertinentes a ela – deva prevalecer sobre a vontade dos homens causou, entre muitos outros desatinos, as cruzadas, a inquisição e a jihad islâmica.
Há uma diferença fundamental entre - fiel a minha própria fé - fazer a opção pessoal de não aceitar a homossexualidade e o extremo de tentar impor este conceito aos demais.
Argumentar que homossexuais são seres humanos desviados, odiados por Deus, negar a eles direitos civis básicos como o casamento e a partilha de bens tendo como argumento a fé é reforçar o comportamento totalitarista que ciclicamente acompanha as manifestações religiosas. É endossar a ditadura da fé.
Manifestações deste medievalismo não são raras. Embalada por leituras equivocadas dos livros sagrados, ou guiada cegamente por eles, muita gente tem trabalhado para colocar os homossexuais no que consideram ser seu devido lugar, ou seja, o porão, bem escondidos dos olhos da sociedade.
E aqui vou citar observações de duas pessoas que tem feito a diferença nesta Babel que é a internet, quando o assunto é a defesa dos direitos civis diante do assalto da fé: Daniel Lopes (Amálgama) e Lelec (A Terceira Margem do Sena). O que aconteceria se baseássemos nossas leis na Bíblia?
Além apedrejar pessoas até a morte por exercer sua homossexualidade, heresia, adultério, por trabalhar no sábado, adorar imagens, praticar feitiçaria e mais uma ampla variedade de crimes imaginários (Sam Harris, “Carta a uma Nação Cristã”, Cia das Letras, pág. 25), deveríamos, também, bater em nossos filhos com uma vara (Provérbios 13,24; 20,30; e 23, 13 e 14) sempre que eles saíssem da linha, matá-los (Êxodo 21, 15, Levítico 20, 9, Deuteronômio 21, 18-21, Marcos 7, 9-13, Mateus 15, 4-7) quando tivessem a pouca vergonha de nos responder com insolência, reunir escravos (Levítico 25, 44-46), mas não agredi-los tão severamente a ponto de ferir seus olhos ou seus dentes (Êxodo 21, 26-27). Teríamos que aceitar o Pai que lança doenças mortais (II Samuel 24:15), o Iaveh que escolhe e sustenta tiranos (Romanos 13:1), dar loas ao incentivador de genocídios (Deuteronômio 7: 1-5) e até louvar quem consente que duas ursas matem 42 crianças por chamarem de careca um de Seus profetas (II Reis 2: 23-25).
NATURAL OU NÃO?
Assim como a fé é base para o preconceito na questão da sexualidade, a noção do que é ou não “biologicamente normal” ou “socialmente aceitável” também serve de munição para quem não aceita a miríade de opções sexuais que são inerentes ao ser humano, para quem teme a diversidade. Foi com base nesta noção, que Hitler condenou a morte milhões de judeus, doentes mentais, ciganos, comunistas e homossexuais.
Nos últimos dias, no Twitter, me vi em um debate sobre este tema com @joaocampos_ms. Ele defendia o direito de opção sexual, mas condenava a sua exposição pública por meio de eventos como passeatas gays. Disse ele “No caso dos homossexuais, a rejeição baseia-se em ser natural ou não. Aceitação, idem. É natural ou não.”. Reforçando o conceito, @GeraldoMTomas disse o seguinte: “E acho também que, se não banirmos tais pudores (do debate), um dia ensinarão nas escolas que homosexualismo é correto” e arrematou “Claro...não estamos tratando de coisa natural, tipo cor, raça, beleza, nem de matéria religiosa...portanto.”
A primeira vista estas manifestações podem passar despercebidas. No entanto, são construídas sobre o que há de pior no pensamento da intolerância sexual. Classificar a orientação sexual como algo “anormal” é afrontar a ciência.
Esse tipo de argumento – de que o sexo com indivíduos do mesmo gênero não é natural –, muito usado no século 19, é recorrente até os dias de hoje e permeia o debate do tema em vários países. As observações científicas, no entanto, demonstram que o argumento não tem base, já que são vários os exemplos de animais que mantêm relações sexuais e até mesmo de parceria com indivíduos do mesmo gênero.
Os biólogos Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, publicaram no mês passado um estudo que é uma revisão de várias outras pesquisas sobre o tema. O trabalho, publicado no periódico Trends in Ecology and Evolution (Tendências em Ecologias e Evolução), reforça que o sexo homossexual é muito comum no mundo animal e é motivado por diferentes razões, como a falta de um parceiro do outro sexo, a necessidade de formar alianças, praticar e reforçar a hierarquia, por engano e até para criar um filhote. Ou seja, natural entre os animais, nada impede que o mesmo comportamento se repita entre nós, seres-humanos.
Da mesma forma, classificar o comportamento homossexual como um desvio de conduta moral ou psicológico é, também, uma postura condenada pela ciência séria. Um caso recente, o da psicóloga Rozângela Alves Justino, que prometia “curar” homossexuais em sua clínica, é emblemático.
Ao comemorar – no dia 22 de março - os dez anos da resolução que orientou os psicólogos brasileiros a adotarem posturas que contribuam para acabar com as discriminações em relação à orientação sexual, o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Humberto Cota Verona, disse que “a resolução proíbe o psicólogo de tratar a escolha homoafetiva como um problema de saúde e muito menos oferecer tratamento e cura para isso”. Para Verona, o papel dos psicólogos não é o de reprimir esta opção, mas de fazer com que os homossexuais enfrentem o preconceito. “A psicologia tem ajudado essas pessoas a encarar esse sofrimento, a aprender a lidar com esse enfrentamento social da sua escolha.”.
O psicólogo Claudecy de Souza lembra que, sob o ponto de vista legal, a homossexualidade também não é classificada como doença no Brasil. “Sendo assim, os psicólogos não devem colaborar com eventos e serviços que se proponham ao tratamento e cura de homossexuais, nem tentar encaminhá-los para outros tratamentos. Quando procurados por homossexuais ou seus responsáveis para tratamento, os psicólogos não devem recusar o atendimento, mas sim aproveitar o momento para esclarecer que não se trata de doença, muito menos de desordem mental, motivo pelo qual não podem propor métodos de cura.”.
Souza reafirma o entendimento da Psicologia moderna, segundo o qual a homossexualidade é um estado psíquico. “O indivíduo homossexual não faz opção por ser homossexual. Ele apenas é e não pode, ainda que queira, mudar isso. Ele pode sim, fazer uma opção no sentido de negar esse impulso e tentar viver como heterossexual. Mas isso tem um impacto negativo para o pleno desenvolvimento emocional do indivíduo. Trata-se de uma situação muito mais comum do que se imagina. O impulso sexual que um heterossexual tem por sua parceira é o mesmo que um homossexual tem por seu parceiro do mesmo sexo. O que muda é o objeto.”, explica.
Em dezembro de 1973, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) aprovou a retirada da homossexualidade da lista de transtornos mentais, deixando de considerá-la uma doença. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM) retirou a homossexualidade da condição de desvio sexual. Nos anos 90, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), onde são identificados por códigos todos os distúrbios mentais - e que serve de orientador para classe médica, principalmente para os psiquiatras - também retirou a homossexualidade da condição de distúrbio mental. Em 1993, a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de utilizar o termo "homossexualismo" (que da idéia de doença), adotando o termo homossexualidade. Em 22 de março de 1999 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou nacionalmente uma resolução estabelecendo normas para que os psicólogos brasileiros contribuam, através de sua prática profissional, para acabar com as discriminações em relação à orientação sexual.
ESTRATÉGIA PRECONCEITUOSA
De fato, seja com base na fé ou no conceito de normalidade, o que se pretende ao questionar a homossexualidade é condená-la aos subterrâneos. Na melhor das hipóteses querem dizer que não importa se alguém opte pela condição homossexual, desde que isso não seja claro, desde que seja entre quatro paredes, às escondidas. É como se pregassem uma burca para os gays, de modo a que este comportamento, que lhes agride de forma tão impactante, não pudesse ser exercido de forma livre.
Recentemente publiquei no Amálgama o artigo “As três faces obscuras do regime de Mahmoud Ahmadinejad”, versando, entre outras coisas, sobre o preconceito exercido no Irã contra os gays. O texto recebeu mais de 100 comentários, alguns de fortíssimo caráter homofóbico. Há os fanáticos religiosos – como a turma da União de Blogueiros Evangélicos – que tem feito barulho contra o PLC 122/06, que torna crime a discriminação contra idosos, deficientes e homossexuais, e há também os que simplesmente não querem ter o desprazer de conviver com a igualdade de direitos na sexualidade. Ambos apelam para a falácia segundo a qual sua postura homofóbica não agride direitos básicos de milhares de pessoas. As vítimas são eles mesmos, os preconceituosos, obrigados a conviver com a homossexualidade.
Ora, este é um argumento rasteiro, beira a ignorância. Um casal gay que se beija em praça pública está exercendo um direito pessoal e irrevogável de exprimir sua sexualidade da mesma forma que a exprime um casal heterossexual. Se este beijo incomoda alguém, este alguém pode simplesmente ignorar o casal ou, se o choque for demasiado, afastar-se. O que não pode é exigir que o casal gay seja proibido de exercer sua liberdade da mesma forma que um casal hetero a exerceria. Não se pode legitimar a coerção física ou moral sobre a cidadania com base em conceitos de cunho religioso ou pessoal.
Uma das formas pela qual esta doença da alma se manifesta é através da classificação da homossexualidade como algo “anormal”. Este é o caminho escolhido por uma miríade de pessoas que não consegue enxergar a diversidade como algo pertinente ao ser humano. Sua base argumentativa trafega pela religiosidade ou pelo que classificam como comportamento natural. Ambas as bases carecem de estrutura argumentativa coerente.
Na religiosidade, parte-se do pressuposto de que existe uma verdade moral absoluta ligada ao comportamento sexual, sem a qual os seres humanos estariam desviados “do caminho”. Estas verdades estão baseadas na fé e não em conceitos científicos. Fé é um caminho pessoal. A minha, serve para mim. A sua, para você. Não cabe ao homem impor sua crença aos demais, visto que ele não detém a verdade absoluta, mas a sua própria verdade, embasada por sua própria fé.
O desprezo desta linha de raciocínio levou a humanidade a todo tipo de desumanidade. A noção de que uma determinada fé – e os conceitos que se julgam pertinentes a ela – deva prevalecer sobre a vontade dos homens causou, entre muitos outros desatinos, as cruzadas, a inquisição e a jihad islâmica.
Há uma diferença fundamental entre - fiel a minha própria fé - fazer a opção pessoal de não aceitar a homossexualidade e o extremo de tentar impor este conceito aos demais.
Argumentar que homossexuais são seres humanos desviados, odiados por Deus, negar a eles direitos civis básicos como o casamento e a partilha de bens tendo como argumento a fé é reforçar o comportamento totalitarista que ciclicamente acompanha as manifestações religiosas. É endossar a ditadura da fé.
Manifestações deste medievalismo não são raras. Embalada por leituras equivocadas dos livros sagrados, ou guiada cegamente por eles, muita gente tem trabalhado para colocar os homossexuais no que consideram ser seu devido lugar, ou seja, o porão, bem escondidos dos olhos da sociedade.
E aqui vou citar observações de duas pessoas que tem feito a diferença nesta Babel que é a internet, quando o assunto é a defesa dos direitos civis diante do assalto da fé: Daniel Lopes (Amálgama) e Lelec (A Terceira Margem do Sena). O que aconteceria se baseássemos nossas leis na Bíblia?
Além apedrejar pessoas até a morte por exercer sua homossexualidade, heresia, adultério, por trabalhar no sábado, adorar imagens, praticar feitiçaria e mais uma ampla variedade de crimes imaginários (Sam Harris, “Carta a uma Nação Cristã”, Cia das Letras, pág. 25), deveríamos, também, bater em nossos filhos com uma vara (Provérbios 13,24; 20,30; e 23, 13 e 14) sempre que eles saíssem da linha, matá-los (Êxodo 21, 15, Levítico 20, 9, Deuteronômio 21, 18-21, Marcos 7, 9-13, Mateus 15, 4-7) quando tivessem a pouca vergonha de nos responder com insolência, reunir escravos (Levítico 25, 44-46), mas não agredi-los tão severamente a ponto de ferir seus olhos ou seus dentes (Êxodo 21, 26-27). Teríamos que aceitar o Pai que lança doenças mortais (II Samuel 24:15), o Iaveh que escolhe e sustenta tiranos (Romanos 13:1), dar loas ao incentivador de genocídios (Deuteronômio 7: 1-5) e até louvar quem consente que duas ursas matem 42 crianças por chamarem de careca um de Seus profetas (II Reis 2: 23-25).
NATURAL OU NÃO?
Assim como a fé é base para o preconceito na questão da sexualidade, a noção do que é ou não “biologicamente normal” ou “socialmente aceitável” também serve de munição para quem não aceita a miríade de opções sexuais que são inerentes ao ser humano, para quem teme a diversidade. Foi com base nesta noção, que Hitler condenou a morte milhões de judeus, doentes mentais, ciganos, comunistas e homossexuais.
Nos últimos dias, no Twitter, me vi em um debate sobre este tema com @joaocampos_ms. Ele defendia o direito de opção sexual, mas condenava a sua exposição pública por meio de eventos como passeatas gays. Disse ele “No caso dos homossexuais, a rejeição baseia-se em ser natural ou não. Aceitação, idem. É natural ou não.”. Reforçando o conceito, @GeraldoMTomas disse o seguinte: “E acho também que, se não banirmos tais pudores (do debate), um dia ensinarão nas escolas que homosexualismo é correto” e arrematou “Claro...não estamos tratando de coisa natural, tipo cor, raça, beleza, nem de matéria religiosa...portanto.”
A primeira vista estas manifestações podem passar despercebidas. No entanto, são construídas sobre o que há de pior no pensamento da intolerância sexual. Classificar a orientação sexual como algo “anormal” é afrontar a ciência.
Esse tipo de argumento – de que o sexo com indivíduos do mesmo gênero não é natural –, muito usado no século 19, é recorrente até os dias de hoje e permeia o debate do tema em vários países. As observações científicas, no entanto, demonstram que o argumento não tem base, já que são vários os exemplos de animais que mantêm relações sexuais e até mesmo de parceria com indivíduos do mesmo gênero.
Os biólogos Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, publicaram no mês passado um estudo que é uma revisão de várias outras pesquisas sobre o tema. O trabalho, publicado no periódico Trends in Ecology and Evolution (Tendências em Ecologias e Evolução), reforça que o sexo homossexual é muito comum no mundo animal e é motivado por diferentes razões, como a falta de um parceiro do outro sexo, a necessidade de formar alianças, praticar e reforçar a hierarquia, por engano e até para criar um filhote. Ou seja, natural entre os animais, nada impede que o mesmo comportamento se repita entre nós, seres-humanos.
Da mesma forma, classificar o comportamento homossexual como um desvio de conduta moral ou psicológico é, também, uma postura condenada pela ciência séria. Um caso recente, o da psicóloga Rozângela Alves Justino, que prometia “curar” homossexuais em sua clínica, é emblemático.
Ao comemorar – no dia 22 de março - os dez anos da resolução que orientou os psicólogos brasileiros a adotarem posturas que contribuam para acabar com as discriminações em relação à orientação sexual, o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Humberto Cota Verona, disse que “a resolução proíbe o psicólogo de tratar a escolha homoafetiva como um problema de saúde e muito menos oferecer tratamento e cura para isso”. Para Verona, o papel dos psicólogos não é o de reprimir esta opção, mas de fazer com que os homossexuais enfrentem o preconceito. “A psicologia tem ajudado essas pessoas a encarar esse sofrimento, a aprender a lidar com esse enfrentamento social da sua escolha.”.
O psicólogo Claudecy de Souza lembra que, sob o ponto de vista legal, a homossexualidade também não é classificada como doença no Brasil. “Sendo assim, os psicólogos não devem colaborar com eventos e serviços que se proponham ao tratamento e cura de homossexuais, nem tentar encaminhá-los para outros tratamentos. Quando procurados por homossexuais ou seus responsáveis para tratamento, os psicólogos não devem recusar o atendimento, mas sim aproveitar o momento para esclarecer que não se trata de doença, muito menos de desordem mental, motivo pelo qual não podem propor métodos de cura.”.
Souza reafirma o entendimento da Psicologia moderna, segundo o qual a homossexualidade é um estado psíquico. “O indivíduo homossexual não faz opção por ser homossexual. Ele apenas é e não pode, ainda que queira, mudar isso. Ele pode sim, fazer uma opção no sentido de negar esse impulso e tentar viver como heterossexual. Mas isso tem um impacto negativo para o pleno desenvolvimento emocional do indivíduo. Trata-se de uma situação muito mais comum do que se imagina. O impulso sexual que um heterossexual tem por sua parceira é o mesmo que um homossexual tem por seu parceiro do mesmo sexo. O que muda é o objeto.”, explica.
Em dezembro de 1973, a Associação Psiquiátrica Americana (APA) aprovou a retirada da homossexualidade da lista de transtornos mentais, deixando de considerá-la uma doença. Em 1985, o Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM) retirou a homossexualidade da condição de desvio sexual. Nos anos 90, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), onde são identificados por códigos todos os distúrbios mentais - e que serve de orientador para classe médica, principalmente para os psiquiatras - também retirou a homossexualidade da condição de distúrbio mental. Em 1993, a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de utilizar o termo "homossexualismo" (que da idéia de doença), adotando o termo homossexualidade. Em 22 de março de 1999 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) divulgou nacionalmente uma resolução estabelecendo normas para que os psicólogos brasileiros contribuam, através de sua prática profissional, para acabar com as discriminações em relação à orientação sexual.
ESTRATÉGIA PRECONCEITUOSA
De fato, seja com base na fé ou no conceito de normalidade, o que se pretende ao questionar a homossexualidade é condená-la aos subterrâneos. Na melhor das hipóteses querem dizer que não importa se alguém opte pela condição homossexual, desde que isso não seja claro, desde que seja entre quatro paredes, às escondidas. É como se pregassem uma burca para os gays, de modo a que este comportamento, que lhes agride de forma tão impactante, não pudesse ser exercido de forma livre.
Recentemente publiquei no Amálgama o artigo “As três faces obscuras do regime de Mahmoud Ahmadinejad”, versando, entre outras coisas, sobre o preconceito exercido no Irã contra os gays. O texto recebeu mais de 100 comentários, alguns de fortíssimo caráter homofóbico. Há os fanáticos religiosos – como a turma da União de Blogueiros Evangélicos – que tem feito barulho contra o PLC 122/06, que torna crime a discriminação contra idosos, deficientes e homossexuais, e há também os que simplesmente não querem ter o desprazer de conviver com a igualdade de direitos na sexualidade. Ambos apelam para a falácia segundo a qual sua postura homofóbica não agride direitos básicos de milhares de pessoas. As vítimas são eles mesmos, os preconceituosos, obrigados a conviver com a homossexualidade.
Ora, este é um argumento rasteiro, beira a ignorância. Um casal gay que se beija em praça pública está exercendo um direito pessoal e irrevogável de exprimir sua sexualidade da mesma forma que a exprime um casal heterossexual. Se este beijo incomoda alguém, este alguém pode simplesmente ignorar o casal ou, se o choque for demasiado, afastar-se. O que não pode é exigir que o casal gay seja proibido de exercer sua liberdade da mesma forma que um casal hetero a exerceria. Não se pode legitimar a coerção física ou moral sobre a cidadania com base em conceitos de cunho religioso ou pessoal.
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12 comentários:
Concordo com quase tudo. Criticar a homossexualidade por motivos religiosos é absurdo, chamá-la de doença idem, achar que os homossexuais não são naturais ou devam se esconder idem, etc. Defendo todos os direitos aos homossexuais, não vejo nada de doente ou mesmo errado neles. São pessoas, com defeitos e qualidades, como qualquer outra. Ponto.
Agora, tecnicamente (do ponto de vista estatístico) pode-se dizer sim que ser homossexual não é normal (sem nenhum juízo de valor). Da mesma forma que uma pessoa que pesa 120 kg ou mede 2 metros, ou tem QI 180 não é normal. Não ser normal, nesse contexto, é estar fora da norma, ou seja, da posição estatística onde ocorre a maioria, e é indiscutível que ser homossexual é minoria (há quem estime em 10% da população). Veja que não ser normal não é necessariamente positivo ou negativo e não tem nada a ver com ser natural ou não.
"... que consente que duas ursas matem 42 crianças por chamarem de careca um de Seus profetas"
É. A vida pré-hair club era muito difícil naqueles tempos... :D
Agora, a sério: uma vez que esses trechos e outros - como o preço de vender a filha mais nova, ou algo assim - refletem, antes de mais nada, uma sociedade de 2k anos atrás, com um FOLCLORE de mais uns 2 a 3k anos; e são convenientemente esquecidos face a problemas legais de hoje em dia e outros fundos 'tradicionais' que vieram ao longo do caminho e substituíram os mais antigos.
Eu não vou dizer que todos os intolerantes religiosos o sejam por hipocrisia, baseados em trechos aqui e ali do Antigo Testamento - não, para isto basta lembrar o sempre mais popular Novo Testamento, com toda a parte de amar o próximo no matter what -; o problema é quando eles passam a ser por algum comportamento de grupo, para se encaixar melhor, ou pq um clérigo, homem tão falho quanto qquer um, tem a permissão do intolerante de pensar por ele.
Esse tipo de terceirização neuronal é que me parece alguma 'patia' social. Uma doença ainda a ser propriamente investigada, face as consequências nocivas (ou seja, nada saudáveis) geradas.
O preconceito é mesmo uma doença que corrói mais do que câncer. Tenho tantos amigos homossexuais que pra mim é normal a relação. Só me dou conta que não, quando as pessoas olham, comentam ou ironizam. Excelente artigo o seu, Barone, mais uma vez vc brilhou. Beijo.
Tudo bem que você deu uma de Obama para falar da bíblia, mas foi bem pior que ele. Você crítica a fé cristã e praticamente não cita o novo testamento? Certamente é esta a parte que mais interessa a fé que você crítica. Assim como falta coerência para o lá da fé que você crítica, falta também a sua crítica. Não condene também, as pessoas provavelmente não entenderam o que está escrito em certas partes, mas também não dá para se julgar melhor que elas, pois cada um tem seus dogmas e segue sua bíblia. Verifique qual é a sua e verifique que, talvez, você cometa tantas discriminações quanto aqueles que você praticamente jogou à fogueira.
Wagner, ocorre que o sentido de normalidade que este pessoal quer aplicar aos homossexuais tem, sim conotação de bom e ruim, de certo e errado.
Luiz Felupe: "o problema é quando eles passam a ser por algum comportamento de grupo, para se encaixar melhor, ou pq um clérigo, homem tão falho quanto qquer um, tem a permissão do intolerante de pensar por ele." Concordo.
Caro Anônimo (como é ruim ersponder ao anonimato),
"Dei uma de Obama"... ? Não entendu. Legendas? Mina crítica não é endereçada a fé católica, mas a todas as regras de fé impostas por fanáticos ao mundo. O que é bom para você pode não se para mim. Isso não quer dizer que farei piquete na porta de igrejas para condenar suas preces. No entanto muitos colegas seus fazem manifestação contra os direitos dos homossexuais. Pescou a diferença?
Wagner, entendo o que você quis dizer, mas esse tipo de argumentação é um pouco... ingênua (justamente pelo sentido de "normal", que o Barone já explicou).
E já que você usou estatística na sua argumentação, neste contexto (da estatística), "normal" é uma distribuição de frequência, que engloba todo o espectro (incluindo a homossexualidade, já que estamos no assunto).
Aliás, a distribuição da a sexualidade humana não é nessa curva. Logo, sexualidade não é normal, rs. =p
Claro que sei que o termo normal tem conotações pejorativas (tanto que nem usei no meu texto o termo anormal, que é mais pejorativo ainda). O que quis chamar atenção (sem entrar em firulas estatísticas, que nem sou especialista) é que o significado das palavras é importante nesses contextos, porque as vezes as pessoas estão interpretando determinada palavra de um jeito, ficando uma conversa de surdos.
E, usando o termo normal no sentido que apontei você elimina uma forma de preconceito, porque não há nada de errado em não ser normal, apenas se é diferente da maioria.
Ora, meu caro, não se incomode com anonimato. Ele é um lugar muito interessante, pois fará com que as pessoas se concentrem apenas nas idéias e não nas pessoas. Veja, pra mim, você é um anônimo. Não li nem seu perfil e nem sei se você escreve o que escreve para se defender ou defender uma causa ou ainda as duas coisas. Me interessei apenas por teu texto, espero que o meu possa interessar a ti também.
Não entendeu o 'Obama'? Puxa, eu não tenho link fácil aqui, mas não deve ser difícil achar no google o vídeo onde o mandátario dos EUA fala sobre um estado laico. Agora relendo o texto, parece que você apenas copiou os argumentos, talvez suas fontes tenham ido na onda do Obama. Mas de qualquer forma, não é por essas coisas que a bíblia não serviria como parâmetro de vida.
Eu não citei o catolicismo, mas senti que você tinha uma carga maior de crítica a fé cristã.
A fé não é imposta por fanáticos ao mundo. Na verdade, aqueles que não são os fanáticos, como eu e você, é que somos mole demais em nossas atitudes e abrimos brechas para cada vez o fanatismo se espalhe sobre a massa que é carente de algo para acreditar. Então, acabam acreditando naquilo que parece mais forte, mais palpável.
O que é bom para mim pode ser bom para todos, assim como o que é bom para você. E ainda há possibilidade de eu gostar de certas coisas que outros não gostem, assim como, coisas que você gosta que outros não gostarão. Agora, é preciso entender que nem tudo o que eu escolho livremente para mim é bom. A escolha livre é importante, mas não resulta em algo positivo necessariamente. Contudo alguns se preocupam com escolha dos outros, mas se for preocupação de verdade, não agirá para interferir na vida do outro. Apenas vai permanecer esperando a hora em que puder ser útil. E se essa hora não vier, paciência. E não estou dizendo isso sobre o homossexualismo, mas para outros casos mesmo.
O problema é que as pessoas não têm paciência e nem humildade de esperar o momento de ser útil. Se julgam úteis demais e começam a interferir além de sua conta em coisas que não são de sua alçada. Aí você tem toda essa questão do fanatismo que você diz em relação às igrejas. Mas pense o quanto as pessoas não são assim em outros campos e de outras formas.
Veja, em nenhum momento eu me identifico como católico e você já me enquadrou lá. E se você ler bem meus argumentos, você verá que é seu preconceito que levou a você dizer que eu sou católico. E lhe adianto, não sou. E lhe digo mais, minha intenção não foi proteger o cristianismo, foi mais mostrar que você estava perto de cometer os mesmo erros de qualquer fanático religioso.
Não fazer piquetes frente a igrejas? Nada mais justo. Mas isso não diminui o seu grau de insatisfação e quase se sentindo superior às pessoas que têm uma fé. Pois assim como elas se sentem melhores que você, você se sente um passo a frente intelectualmente falando em relação a elas. Levando ao extremo, se um dia as coisas se inverterem, se os homossexuais forem maioria e influenciarem mais a opinião, poderemos ter aqueles que digam que rezar é errado.
Eu não acho que alguém deva ser respeitado por ser gay. E nem por ser negro, por ser pobre, por ser amarelo, por ser rico, por ser feio, ser deficiente, por ser seja lá o que for. As pessoas não precisam achar que é legal ser gay ou participar de uma igreja. Na verdade, as pessoas não precisam achar nada. As pessoas não têm que se sentir superiores por ter como parâmetro qualquer outra coisa que não seja uma bíblia, pois elas acreditam que a bíblia doutrina as pessoas. Até porque as pessoas são doutrinas sempre e de qualquer outra forma.As pessoas precisam se respeitar simplesmente porque são pessoas e não por suas escolhas.
Caro anônimo,
anonimato é bom apenas para quem se mantém nele. Quanto às idéias, elas estão, necessariamente, ligadas as pessoas.
Não assisti ao vídeo do Obama, embora você - desde o primeiro comentário - considere que eu “copiei” algo dele. Sobre o tema em questão, já que você levanta a preocupação sobre se eu defendo uma causa própria (ou seja, se sou homossexual) ou uma idéia (o combate a homofobia), respondo: isso simplesmente não interessa. O que interessa é a idéia. Para quem se esconde atrás do anonimato e defende que “as pessoas precisam se respeitar simplesmente porque são pessoas e não por suas escolhas” você faz suposições demais.
Voltando ao que interessa, o debate.
Você diz:
“minha intenção não foi proteger o cristianismo, foi mais mostrar que você estava perto de cometer os mesmo erros de qualquer fanático religioso.”
Eu digo:
Papo pra boi dormir. Esta idéia é a que sustenta a tese de que os oprimidos são os fanáticos, que não podem exercer sua religiosidade preconceituosa. A partir do momento em que um grupo restringe os direitos civis de outro, abre espaço para a crítica e para o contraponto. E isso não é preconceito, é brigar contra o obscurantismo.
Você diz:
“Não fazer piquetes frente a igrejas? Nada mais justo. Mas isso não diminui o seu grau de insatisfação e quase se sentindo superior às pessoas que têm uma fé. Pois assim como elas se sentem melhores que você, você se sente um passo a frente intelectualmente falando em relação a elas.”
Eu digo:
Não tenha dúvidas de que me sinto moralmente superior a qualquer débil mental que queira cercear os direitos civis de outras pessoas, seja por motivo religioso, sexual, racial etc. E antes que isso seja usado de forma errada, alerto: defendo o direito de qualquer pessoa professar sua fé e brigarei aqui por isso com o mesmo ardor que defendo os direitos dos homossexuais, dos palestinos etc. Desde que, veja bem, não se queira estender esta fé como regra aos demais. É disto que falamos aqui.
Você diz:
“Levando ao extremo, se um dia as coisas se inverterem, se os homossexuais forem maioria e influenciarem mais a opinião, poderemos ter aqueles que digam que rezar é errado.”
Eu digo:
Neste dia eles terão um contraponto altura aqui.
Você diz:
Eu não acho que alguém deva ser respeitado por ser gay. E nem por ser negro, por ser pobre, por ser amarelo, por ser rico, por ser feio, ser deficiente, por ser seja lá o que for. As pessoas precisam se respeitar simplesmente porque são pessoas e não por suas escolhas.
Eu digo:
Concordo, ocorre que na realidade isso não acontece. As pessoas, em especial as que compõem grupos marginalizados, precisam lutar para ser respeitadas.
Oi Barone,
Receba meus enfáticos parabéns por este texto magnífico. Ficou excelente.
Gostaria de lhe agradecer também pela mui honrosa referência a mim no seu texto. Fico muito feliz, principalmente porque meus últimos textos têm causado desconforto, e tenho sido inclusive pressionado a apagar alguns.
Deixei um agradecimento a você no meu último texto, que trata também do preconceito travestido de liberdade religiosa.
Grande abraço e força sempre.
Leonardo
Barone, parabéns por deus argumentos tão sensatos. É por isso que continuo sendo sua leitora, além, obviamente, de admirar seu blog como um todo e sua pessoa, mesmo à distância. Beijos.
Lelec e Adriana, obrigado.
Lelec, vou ler o artigo.
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