O termo pogrom desenvolveu-se na Europa a partir de atos de extrema violência contra judeus e outras minorias étnicas e difundiu-se internacionalmente após a onda de ataques que varreu o sul da Rússia entre 1881 e 1884, levando à emigração maciça dos judeus. Durante o período do nazismo na Alemanha e no leste europeu, assim como havia acontecido na Rússia Czarista, os pogroms continuaram sustentados por ressentimentos econômicos, sociais e políticos. Estupros, assassinatos, vandalismo e expropriações foram marcas desta prática odiosa, exacerbada pelo preconceito racial e religioso, do qual os judeus foram os principais alvos.
Seria de se esperar que os que sentiram na pele a injustiça e a violência se levantassem contra qualquer forma de pogrom moderno, alçando seu sofrimento como testemunho de que a barbárie do homem contra o homem não pode ser justificada, em especial levando em conta a fé e a raça. Ledo engano.
O ataque promovido entre segunda e terça-feira por cerca de 30 colonos sionistas contra propriedades palestinas e motoristas palestinos em Nablus foi apenas uma macabra mostra do que vem acontecendo na região. Judeus fundamentalistas, que consideram que o Velho Testamento é algo como uma escritura de propriedade sobre toda a região a que chamam Eretz Israel, têm promovido violência gratuita contra árabes-israelenses dentro do território de Israel, contra palestinos no território ocupado da Cisjordânia e até mesmo contra judeus que se opõem a ocupação.
No episódio, os vândalos - alguns deles montados em cavalos - incendiaram campos de cultivo e cerca de 1500 oliveiras (atitude que está se tornando comum por parte do governo israelense) nas vilas de Burin e Asira al-Kabaliya, na área de Yitzhar, além de apedrejaram carros de palestinos. Eles protestavam contra a remoção de um posto ilegal de um assentamento judaico situado nos arredores. Pelo menos dois palestinos ficaram feridos e um jornalista que cobria as agressões foi espancado pelos fanáticos.
“Colonos linha-dura geralmente atacam propriedades palestinas como retaliação por seus assentamentos demolidos e evacuados, uma tática que eles chamam de ‘etiqueta de preço’ (price tag).”, informa a reportagem do Estadão. Vale lembrar que os “colonos linha-dura” são, na verdade, fundamentalistas que fazem diferenciação entre seres humanos. Para eles, os palestinos (e qualquer um que os contrarie) estão em uma categoria inferior. Vale lembrar também que os assentamentos demolidos ou evacuados são considerados ilegais até mesmo para o Governo de Israel.
Ponta do iceberg
Este não foi um incidente isolado. O radicalismo religioso e o sionismo têm promovido nos últimos anos posturas de extrema agressividade. Em setembro passado, Zeev Sternhell, professor da Universidade Judaica, sentiu na pele os resultados deste pogrom às avessas quando uma bomba caseira explodiu de fronte a sua casa, em Jerusalém, ferindo-o levemente.
Sternhell é conhecido por suas críticas veementes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia. As autoridades encontraram folhetos nas proximidades da casa nos quais eram oferecidos US$ 300 mil a quem matasse um integrante do Peace Now, grupo israelense que condena a ocupação dos territórios palestinos.
As ações dos sionistas parecem estar se adensando nos últimos meses. Em março, um grupo de colonos extremistas atacou dezenas de casas e lojas palestinas em Jerusalém Leste. Os colonos marcharam pela cidade gritando palavras de ordem contra árabes e palestinos, pedindo sua expulsão da Cidade Santa. No dia 2 de junho, a ação da polícia israelense contra um pequeno assentamento ilegal localizado próximo à cidade palestina de Nablus e do assentamento de Elon Moreh, um dos primeiros fundados na Cisjordânia, causou reação imediata. Veículos com placas da Palestina foram apedrejados, estradas de acesso a Jerusalém e Tel Aviv foram bloqueadas com pneus queimados e campos de cultivo palestinos foram incendiados. Ao menos seis pessoas ficaram feridas, uma delas gravemente.
Uma simples busca no google revela a banalização destes ataques que, na maioria das vezes, é acompanhada de longe pela polícia e pelo exército de Israel.
O fascismo religioso
Gabriel Paciornik, blogueiro e estudante de desenho industrial que vive em Israel há 12 anos, explica quem são os radicais de direita que patrocinam a violência contra os palestinos e os ativistas que lutam pela paz entre os dois povos.
“Existem vários tipos de radicais de direita. Na base da pirâmide estão os colonos radicais. São os que sustentam com ações toda a gama de pensamento teórico e teológico a respeito da relação com os palestinos, povos árabes e a terra. Eles se baseiam em duas importantes mentalidades. A primeira é a do ‘Halutz’, ou pioneirismo dos velhos tempos de Ben-Gurion. É uma forma de nostalgia num mundo já tão menos radical e romântico do que naquela época. A outra é de base teológica: esta terra pertence aos judeus. Por motivos religiosos, históricos e, por que não? Por usucapião (seguindo o chavão ‘quando aqui chegamos não havia nada, vocês não cuidaram dessa terra, nós viemos e fizemos milagres’). Consideram qualquer um que não pense desta maneira como traidores e anti-sionistas. Acreditam num estilo de vida preso à terra e são a grande maioria, se não todos, profundamente religiosos e místicos. Servem exército e são normalmente os mais disciplinados soldados.”
Para Paciornik, os mais perigosos representantes da direita israelense são as lideranças politico-religiosas dos colonos. “São, a maioria deles, adeptos da expulsão dos palestinos de tudo que foi um dia historicamente pertencente a Israel. Isso inclui parte da Jordânia, Egito, Síria e Líbano. Para eles não existe política internacional, acordos e o inimigo é qualquer um e qualquer coisa que se oponha a sua ideologia. E, recentemente, incluem aqui outros judeus também (a quem chamam não de inimigos, mas de traidores, o que, pela Torá, é tão ruim ou pior que um inimigo). Não escondem esses objetivos e recentemente não escondem tampouco seus métodos.”.
No artigo “O fascismo? Pode, sim, acontecer em Israel” (aqui em inglês), o jornalista israelense Uri Avnery aponta o destino a que os israelenses, subjugados pelos radicais sionistas, estarão sujeitos.
“No plano das idéias, há duas visões em confronto, em Israel, dois modos de ver, tão distantes um do outro quanto o Oriente é distante do Ocidente. Por um lado, há uma Israel culta, moderna, secular, liberal e democrática, que vive em paz e em parceria com a Palestina, vendo-a como parte integrante e integral da Região. Por outro lado, há uma Israel fanática, religiosa, fascista, que se auto-exclui, tanto quanto se auto-exclui da humanidade civilizada, gente que ‘duela sozinha e não será reconhecida entre as nações’ (Números, 23:9), onde a ‘espada devorará para sempre’ (2, Samuel 2:26)."
Diz Avnery: “Durante os últimos meses, aumentou muitíssimo o número de incidentes nos quais colonos atacam soldados, policiais e ‘esquerdistas’ palestinos. São atos cometidos abertamente, para aterrorizar e intimidar. Colonos vandalizam as vilas palestinas cujas terras cobiçam ou invadem; ou agem por vingança. São pogroms no sentido clássico da palavra: atos de vandalismo, executados por grupos armados, intoxicados de ódio contra população civil desarmada; e o exército e a polícia apenas observam. Os Pogromchiks destroem, ferem e matam.”.
Tudo isso ocorre sem que o Estado tome atitudes concretas. Sob o nazismo, os agentes da lei na República de Weimar passavam a mão na cabeça de criminosos nazistas a quem classificavam como “patriotas equivocados”. Em Israel o mesmo fenômeno ocorre hoje.
Seria de se esperar que os que sentiram na pele a injustiça e a violência se levantassem contra qualquer forma de pogrom moderno, alçando seu sofrimento como testemunho de que a barbárie do homem contra o homem não pode ser justificada, em especial levando em conta a fé e a raça. Ledo engano.
O ataque promovido entre segunda e terça-feira por cerca de 30 colonos sionistas contra propriedades palestinas e motoristas palestinos em Nablus foi apenas uma macabra mostra do que vem acontecendo na região. Judeus fundamentalistas, que consideram que o Velho Testamento é algo como uma escritura de propriedade sobre toda a região a que chamam Eretz Israel, têm promovido violência gratuita contra árabes-israelenses dentro do território de Israel, contra palestinos no território ocupado da Cisjordânia e até mesmo contra judeus que se opõem a ocupação.
No episódio, os vândalos - alguns deles montados em cavalos - incendiaram campos de cultivo e cerca de 1500 oliveiras (atitude que está se tornando comum por parte do governo israelense) nas vilas de Burin e Asira al-Kabaliya, na área de Yitzhar, além de apedrejaram carros de palestinos. Eles protestavam contra a remoção de um posto ilegal de um assentamento judaico situado nos arredores. Pelo menos dois palestinos ficaram feridos e um jornalista que cobria as agressões foi espancado pelos fanáticos.
“Colonos linha-dura geralmente atacam propriedades palestinas como retaliação por seus assentamentos demolidos e evacuados, uma tática que eles chamam de ‘etiqueta de preço’ (price tag).”, informa a reportagem do Estadão. Vale lembrar que os “colonos linha-dura” são, na verdade, fundamentalistas que fazem diferenciação entre seres humanos. Para eles, os palestinos (e qualquer um que os contrarie) estão em uma categoria inferior. Vale lembrar também que os assentamentos demolidos ou evacuados são considerados ilegais até mesmo para o Governo de Israel.
Ponta do iceberg
Este não foi um incidente isolado. O radicalismo religioso e o sionismo têm promovido nos últimos anos posturas de extrema agressividade. Em setembro passado, Zeev Sternhell, professor da Universidade Judaica, sentiu na pele os resultados deste pogrom às avessas quando uma bomba caseira explodiu de fronte a sua casa, em Jerusalém, ferindo-o levemente.
Sternhell é conhecido por suas críticas veementes aos assentamentos israelenses na Cisjordânia. As autoridades encontraram folhetos nas proximidades da casa nos quais eram oferecidos US$ 300 mil a quem matasse um integrante do Peace Now, grupo israelense que condena a ocupação dos territórios palestinos.
As ações dos sionistas parecem estar se adensando nos últimos meses. Em março, um grupo de colonos extremistas atacou dezenas de casas e lojas palestinas em Jerusalém Leste. Os colonos marcharam pela cidade gritando palavras de ordem contra árabes e palestinos, pedindo sua expulsão da Cidade Santa. No dia 2 de junho, a ação da polícia israelense contra um pequeno assentamento ilegal localizado próximo à cidade palestina de Nablus e do assentamento de Elon Moreh, um dos primeiros fundados na Cisjordânia, causou reação imediata. Veículos com placas da Palestina foram apedrejados, estradas de acesso a Jerusalém e Tel Aviv foram bloqueadas com pneus queimados e campos de cultivo palestinos foram incendiados. Ao menos seis pessoas ficaram feridas, uma delas gravemente.
Uma simples busca no google revela a banalização destes ataques que, na maioria das vezes, é acompanhada de longe pela polícia e pelo exército de Israel.
O fascismo religioso
Gabriel Paciornik, blogueiro e estudante de desenho industrial que vive em Israel há 12 anos, explica quem são os radicais de direita que patrocinam a violência contra os palestinos e os ativistas que lutam pela paz entre os dois povos.
“Existem vários tipos de radicais de direita. Na base da pirâmide estão os colonos radicais. São os que sustentam com ações toda a gama de pensamento teórico e teológico a respeito da relação com os palestinos, povos árabes e a terra. Eles se baseiam em duas importantes mentalidades. A primeira é a do ‘Halutz’, ou pioneirismo dos velhos tempos de Ben-Gurion. É uma forma de nostalgia num mundo já tão menos radical e romântico do que naquela época. A outra é de base teológica: esta terra pertence aos judeus. Por motivos religiosos, históricos e, por que não? Por usucapião (seguindo o chavão ‘quando aqui chegamos não havia nada, vocês não cuidaram dessa terra, nós viemos e fizemos milagres’). Consideram qualquer um que não pense desta maneira como traidores e anti-sionistas. Acreditam num estilo de vida preso à terra e são a grande maioria, se não todos, profundamente religiosos e místicos. Servem exército e são normalmente os mais disciplinados soldados.”
Para Paciornik, os mais perigosos representantes da direita israelense são as lideranças politico-religiosas dos colonos. “São, a maioria deles, adeptos da expulsão dos palestinos de tudo que foi um dia historicamente pertencente a Israel. Isso inclui parte da Jordânia, Egito, Síria e Líbano. Para eles não existe política internacional, acordos e o inimigo é qualquer um e qualquer coisa que se oponha a sua ideologia. E, recentemente, incluem aqui outros judeus também (a quem chamam não de inimigos, mas de traidores, o que, pela Torá, é tão ruim ou pior que um inimigo). Não escondem esses objetivos e recentemente não escondem tampouco seus métodos.”.
No artigo “O fascismo? Pode, sim, acontecer em Israel” (aqui em inglês), o jornalista israelense Uri Avnery aponta o destino a que os israelenses, subjugados pelos radicais sionistas, estarão sujeitos.
“No plano das idéias, há duas visões em confronto, em Israel, dois modos de ver, tão distantes um do outro quanto o Oriente é distante do Ocidente. Por um lado, há uma Israel culta, moderna, secular, liberal e democrática, que vive em paz e em parceria com a Palestina, vendo-a como parte integrante e integral da Região. Por outro lado, há uma Israel fanática, religiosa, fascista, que se auto-exclui, tanto quanto se auto-exclui da humanidade civilizada, gente que ‘duela sozinha e não será reconhecida entre as nações’ (Números, 23:9), onde a ‘espada devorará para sempre’ (2, Samuel 2:26)."
Diz Avnery: “Durante os últimos meses, aumentou muitíssimo o número de incidentes nos quais colonos atacam soldados, policiais e ‘esquerdistas’ palestinos. São atos cometidos abertamente, para aterrorizar e intimidar. Colonos vandalizam as vilas palestinas cujas terras cobiçam ou invadem; ou agem por vingança. São pogroms no sentido clássico da palavra: atos de vandalismo, executados por grupos armados, intoxicados de ódio contra população civil desarmada; e o exército e a polícia apenas observam. Os Pogromchiks destroem, ferem e matam.”.
Tudo isso ocorre sem que o Estado tome atitudes concretas. Sob o nazismo, os agentes da lei na República de Weimar passavam a mão na cabeça de criminosos nazistas a quem classificavam como “patriotas equivocados”. Em Israel o mesmo fenômeno ocorre hoje.
4 comentários:
"Patriotismo equivocado" - que termo!
Estou lendo e aprendendo.
Obrigado.
Mais uma vez digo: lamentável e ultrajante...até quando?
Pogrom só com 2 feridos????
Cade as mulheres estupradas??????/
Cade os mortos??????//
Cade os enforcados e jogados na fogueira??????
Cade os arrastados pelos cavalos???
Cade a política de estado por trás???
Fala sério, pra pogrom ainda falta MUITO, ou voce pensa que sabe o que é pogrom.
Além disso, voce é racista e sensacionalista, pois generalizar "sionistas" em geral, quando se trata de um grupo de malucos isolados...
A sua mente não está cheia de sonhos. Está cheia de meldas. E na melda voce ficará, por mais que escrevinha.
coitado
Caro anônimo,
desde a década de 40 o SIONISMO vem implantando o terror no Oriente Médio. No seu rastro, houve agressões, torturas, estupros, assassinatos, massacres, expropriações. Se você quer números desta covardia, relembre a história do Haganah, do Irgún, do grupo Stern, da política de limpeza étnica patrocinada pelos sionistas. Vais encontrar ali muitos atos de terrorismo no seu sentido estrito.
Agora, um detalhe... SIONISMO, meu caro anônimo, não pode ser confundido com judaísmo.
O sionismo é uma política que defende que Israel seja um Estado majoritariamente judeu, tendo na religião e na raça – e não no conceito de nação democrática – seus pilares. O judaísmo é uma religião, que como todas as demais deve ser respeitada. O anti-semitismo, assim como qualquer outro preconceito de credo, raça e opção sexual deve, em minha modesta opinião, ser combatido sem trégua.
Ocorre que a confusão entre judaísmo e sionismo está no cerne dos debates evolvendo Israel. Alguns querem mesclar ambos os conceitos, de modo que qualquer crítica ao sionismo seja imediatamente identificada como racismo (assim, como você tentou fazer aqui). Trata-se de uma estratégia baseada em uma falácia. Sionismo não é o mesmo que semitismo. Pode-se ser judeu sem ser sionista e isso é confirmado pelas diversas críticas feitas por judeus a este pensamento político que defende a segregação racial e o expansionismo.
Para sua informação, sugiro alguns artigos e textos:
- A “fúria virtuosa” de Israel e suas vítimas em Gaza
- As similaridades entre Sionismo e Nazismo
- Vitimização judaica
- Quem é Lieberman, Ministro das Relações Exteriores de Israel?
- É lícito aos israelenses apoiarem o racismo e a intolerância?
- A transformação autoritária de Israel
- Chomsky: Terrorismo de Estado ameaça a segurança de Israel
- O holocausto como propaganda
- Historiador de origem judaica faz crítica ao movimento sionista
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