Por duas horas o ator Jon Voight (pai da atriz Angelina Joli), Alan Dershowitz e outros militantes sionistas tentaram explicar para a audiência que compareceu a sua palestra, ontem, durante a “Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Outras Formas Relacionadas de Intolerância” - conhecida como Durban 2 - que acontece em Genebra (Suíça), como o Hamas e o Hezbollah se equiparam aos nazistas; como o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad é um clone de Hitler e, finalmente, suas argumentações de que os judeus passam hoje por um novo holocausto.
Presente à palestra, Cecilie Surasky, diretora de comunicação do grupo Jewish Voice for Peace (JVP), fez um paralelo entre este discurso e a “esquizofrenia moral” que domina o imaginário judaico em relação ao auto-estabelecimento de uma condição de “eternos perseguidos”, que os leva a uma incapacidade de enxergar o sofrimento em outros povos, como se isso diminuísse ou invalidasse o seu próprio sofrimento.
“A mera menção ao sofrimento dos palestinos lança estas pessoas em paroxismos, deixa-os na defensiva e até com raiva. Eles se agarram à negação do holocausto, mas este fenômeno é resultado de uma mesma patologia. É virtualmente impossível para eles manterem paralelamente a narrativa de seu próprio sofrimento à narrativa do sofrimento palestino. É como se, fazendo isso, eles se quebrariam em duas partes bem diante de nós”, afirmou a ativista.
No artigo “Jewish Humanists Remembered: I.F. STONE (1907-1989)”, publicado na revista eletrônica “Outlook, Humanistic Judaism and Jewish Currents”, o pensador Bennett Muraskin (do mesmo autor, veja também o artigo “Anti-Zionism and Non-Zionism in Jewish Life—Past and Present”), cita as origens desta “esquizofrenia moral”, levantada originalmente pelo jornalista estadunidente de origem judaica I.F. Stone.
Disse Stone em 1967, no artigo "Holy War": "Israel está criando um tipo de esquizofrenia moral no mundo judaico. No mundo lá fora, o bem estar dos judeus depende da manutenção de sociedades pluralistas, seculares e não-raciais. Em Israel, os judeus vêem a si mesmos defendendo uma sociedade cujo ideal é racial e excludente. Os judeus devem lutar em todos os lugares, para a sua segurança, contra os princípios e práticas que eles têm defendido em Israel”.
Trata-se de uma crítica contundente ao sionismo, ao que ele tem de mais horrendo: a defesa de um Estado baseado na questão racial, um Estado que exclui as demais raças e credos. É também, um vislumbre do que viria em seguida, a criação desta mentalidade que coloca o judeu no patamar mais alto do martírio.
Analisando o excelente artigo “Must Jews always see themselves as victims?”, de Antony Lerman, publicado no dia 7 de março no jornal “The Independet” (cuja leitura recomendo veementemente), Judith Norman e Alistair Welch - integrantes do grupo Jewish Peace News - disseram o seguinte:
“Antony Lerman, diretor do Institute for Jewish Policy Research, questionou os motivos pelos quais tantos judeus, em Israel e no mundo afora, demonstram uma cegueira para com o sofrimento dos palestinos. A resposta que ele deu - que muitos judeus vêem a si mesmos como vítimas permanentes – não é particularmente nova, mas seu artigo nos dá uma análise lúcida deste senso de vitimização e de seus efeitos sobre a legitimação de políticas que causam grande sofrimento aos palestinos.
Além de muitos judeus verem a si mesmos como vítimas, a natureza deste sofrimento judaico é pensada como algo único, profundo e intenso. O sofrimento judeu é encarado de uma forma quase (ou francamente) religiosa; transcendendo a experiência e de forma irrefutável. Cada incidente de viés anti-semita é observado de forma mais sinistra do que aparenta – um sintoma da epidemia global do ódio aos judeus. Dadas estas razões, é impossível para Israel relevar qualquer sinal de hostilidade por parte dos palestinos, visto que cada ataque palestino é um sintoma de ameaça global que os judeus têm encarado (supostamente) por milênios.
Não é necessário dizer que esta mentalidade tem causado enormes danos, não apenas para os judeus de Israel, que são incapazes (mesmo que queiram) de contextualizar os eventos atuais ou de expressar qualquer demonstração de simpatia para com o sofrimento palestino (Lerman cita evidências empíricas disso), e são, portanto, levados a apoiar uma agenda beligerante que bloqueia qualquer solução para o conflito.
O antídoto que Lerman oferece é um ato básico e corajoso de empatia: não há nada de exclusivo no sofrimento judeu e isso deve ser usado como a chave para entender o sofrimento palestino, e não como justificativa para piorá-lo.”.
Em seu artigo, Antony Lerman aponta para um sentimento de impunidade justificada que toma conta do imaginário judaico, especialmente, dos judeus israelenses. Uma sensação de que qualquer ação lhes é permissível, justificada pelas perseguições que sofreram no passado.
O artigo cita também uma pesquisa efetuada pelo professor Daniel Bar Tal, da Universidade de Tel Aviv – um dos mais conceituados psicólogos políticos da atualidade – que analisa como os judeus israelenses classificam o conflito árabe-israelense. Sua conclusão foi de que sua "consciência é caracterizada por um sentimento de vitimização, uma mentalidade de cerco, um patriotismo cego, beligerante, um sentimento de desumanização dos palestinos e de insensibilidade para com o seu sofrimento". Os pesquisadores descobriram, também, uma ligação estreita entre a memória coletiva e a memória "das antigas perseguições aos judeus" e do holocausto, “o sentimento de que o mundo inteiro está contra nós”.
Esta mentalidade, que hierarquiza o sofrimento, é a base para a justificativa de todas as ações beligerantes promovidas por Israel, de suas políticas de expansão territorial, de limpeza étnica, de manutenção do domínio e da ocupação ilegal que mantém sobre os territórios palestinos.
Leia Mais sobre este tema:
- Asneiras de Ahmadinejad absolvem Israel?
- Afinal, que horrores disse o presidente do Irã?
- Boa fonte sobre a Conferência Mundial contra o Racismo
- Os "mocinhos" abandonaram a Conferência
Presente à palestra, Cecilie Surasky, diretora de comunicação do grupo Jewish Voice for Peace (JVP), fez um paralelo entre este discurso e a “esquizofrenia moral” que domina o imaginário judaico em relação ao auto-estabelecimento de uma condição de “eternos perseguidos”, que os leva a uma incapacidade de enxergar o sofrimento em outros povos, como se isso diminuísse ou invalidasse o seu próprio sofrimento.
“A mera menção ao sofrimento dos palestinos lança estas pessoas em paroxismos, deixa-os na defensiva e até com raiva. Eles se agarram à negação do holocausto, mas este fenômeno é resultado de uma mesma patologia. É virtualmente impossível para eles manterem paralelamente a narrativa de seu próprio sofrimento à narrativa do sofrimento palestino. É como se, fazendo isso, eles se quebrariam em duas partes bem diante de nós”, afirmou a ativista.
No artigo “Jewish Humanists Remembered: I.F. STONE (1907-1989)”, publicado na revista eletrônica “Outlook, Humanistic Judaism and Jewish Currents”, o pensador Bennett Muraskin (do mesmo autor, veja também o artigo “Anti-Zionism and Non-Zionism in Jewish Life—Past and Present”), cita as origens desta “esquizofrenia moral”, levantada originalmente pelo jornalista estadunidente de origem judaica I.F. Stone.
Disse Stone em 1967, no artigo "Holy War": "Israel está criando um tipo de esquizofrenia moral no mundo judaico. No mundo lá fora, o bem estar dos judeus depende da manutenção de sociedades pluralistas, seculares e não-raciais. Em Israel, os judeus vêem a si mesmos defendendo uma sociedade cujo ideal é racial e excludente. Os judeus devem lutar em todos os lugares, para a sua segurança, contra os princípios e práticas que eles têm defendido em Israel”.
Trata-se de uma crítica contundente ao sionismo, ao que ele tem de mais horrendo: a defesa de um Estado baseado na questão racial, um Estado que exclui as demais raças e credos. É também, um vislumbre do que viria em seguida, a criação desta mentalidade que coloca o judeu no patamar mais alto do martírio.
Analisando o excelente artigo “Must Jews always see themselves as victims?”, de Antony Lerman, publicado no dia 7 de março no jornal “The Independet” (cuja leitura recomendo veementemente), Judith Norman e Alistair Welch - integrantes do grupo Jewish Peace News - disseram o seguinte:
“Antony Lerman, diretor do Institute for Jewish Policy Research, questionou os motivos pelos quais tantos judeus, em Israel e no mundo afora, demonstram uma cegueira para com o sofrimento dos palestinos. A resposta que ele deu - que muitos judeus vêem a si mesmos como vítimas permanentes – não é particularmente nova, mas seu artigo nos dá uma análise lúcida deste senso de vitimização e de seus efeitos sobre a legitimação de políticas que causam grande sofrimento aos palestinos.
Além de muitos judeus verem a si mesmos como vítimas, a natureza deste sofrimento judaico é pensada como algo único, profundo e intenso. O sofrimento judeu é encarado de uma forma quase (ou francamente) religiosa; transcendendo a experiência e de forma irrefutável. Cada incidente de viés anti-semita é observado de forma mais sinistra do que aparenta – um sintoma da epidemia global do ódio aos judeus. Dadas estas razões, é impossível para Israel relevar qualquer sinal de hostilidade por parte dos palestinos, visto que cada ataque palestino é um sintoma de ameaça global que os judeus têm encarado (supostamente) por milênios.
Não é necessário dizer que esta mentalidade tem causado enormes danos, não apenas para os judeus de Israel, que são incapazes (mesmo que queiram) de contextualizar os eventos atuais ou de expressar qualquer demonstração de simpatia para com o sofrimento palestino (Lerman cita evidências empíricas disso), e são, portanto, levados a apoiar uma agenda beligerante que bloqueia qualquer solução para o conflito.
O antídoto que Lerman oferece é um ato básico e corajoso de empatia: não há nada de exclusivo no sofrimento judeu e isso deve ser usado como a chave para entender o sofrimento palestino, e não como justificativa para piorá-lo.”.
Em seu artigo, Antony Lerman aponta para um sentimento de impunidade justificada que toma conta do imaginário judaico, especialmente, dos judeus israelenses. Uma sensação de que qualquer ação lhes é permissível, justificada pelas perseguições que sofreram no passado.
O artigo cita também uma pesquisa efetuada pelo professor Daniel Bar Tal, da Universidade de Tel Aviv – um dos mais conceituados psicólogos políticos da atualidade – que analisa como os judeus israelenses classificam o conflito árabe-israelense. Sua conclusão foi de que sua "consciência é caracterizada por um sentimento de vitimização, uma mentalidade de cerco, um patriotismo cego, beligerante, um sentimento de desumanização dos palestinos e de insensibilidade para com o seu sofrimento". Os pesquisadores descobriram, também, uma ligação estreita entre a memória coletiva e a memória "das antigas perseguições aos judeus" e do holocausto, “o sentimento de que o mundo inteiro está contra nós”.
Esta mentalidade, que hierarquiza o sofrimento, é a base para a justificativa de todas as ações beligerantes promovidas por Israel, de suas políticas de expansão territorial, de limpeza étnica, de manutenção do domínio e da ocupação ilegal que mantém sobre os territórios palestinos.
Leia Mais sobre este tema:
- Asneiras de Ahmadinejad absolvem Israel?
- Afinal, que horrores disse o presidente do Irã?
- Boa fonte sobre a Conferência Mundial contra o Racismo
- Os "mocinhos" abandonaram a Conferência
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