Interessante a reportagem “Jerusalem Hotel Divides US, Israel”, dos jornalistas Juliane von Mittelstaedt e Christoph Schult, publicada dia 28 de junho pelo jornal alemão Der Spiegel e traduzida ao português por George El Khouri Andolfato. A reportagem trata do milionário judeu-americano Irving Moskowitz e seus financiamentos de expansão de colônias em Jerusalém Leste, a parte árabe da cidade. Moskowitz comprou o Hotel Shepherd em 1985 e planeja derrubá-lo para construir ali um prédio com 20 apartamentos e um estacionamento com três andares subterrâneos para automóveis. Construído nos anos 30 como residência do grão mufti de Jerusalém, Mohammed Amin al Husseini, o hotel foi, posteriormente, usado como quartel-general da polícia de fronteira israelense.
Ocorre que o Shepherd está localizado na parte leste da cidade e a comunidade internacional considera como assentamentos a construção de bairros judeus na região, além de frisar que estes assentamentos representam um obstáculo ao processo de paz entre israelenses e palestinos ao complicarem ainda mais uma possível divisão da cidade. Israel não considera que os bairros judeus em Jerusalém sejam assentamentos, porque anexou a área após tê-la capturado na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Anexação que não foi reconhecida pela comunidade internacional.
Para o governo de Israel, a ocupação de setores da área árabe da cidade se dá devido ao “crescimento natural” da atual população. Atualmente, 300 mil israelenses vivem em assentamentos na Cisjordânia e outros 180 mil vivem nos bairros judeus de Jerusalém Leste.
“Moskowitz nasceu em Nova York de pais que imigraram da Polônia para os Estados Unidos. Os nazistas mataram muitos membros de sua família, o que ajuda a explicar por que é tão passional a respeito de Israel. Ele deixa claro que deseja desenvolver o país em um lugar seguro para os judeus de todo o mundo e é consistente no cumprimento de sua promessa. Moskowitz doa muito dinheiro -seus críticos estimam US$ 100 milhões até o momento- para colonos religiosos, frequentemente radicais, em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia.”, explica a reportagem da Der Spiegel.
Nos anos 90, Moskowitz causou polêmica ao oferecer apoio financeiro para colonos radicais que estavam comprando casas no setor árabe da Cidade Velha de Jerusalém. Depois disso, ajudou a adquirir terras no Monte das Oliveiras, perto do bairro palestino de Ras al Amud, causando ainda mais inquietação. Ele apoiou projetos subseqüentes em outros bairros árabes em Jerusalém Oriental, incluindo Silwan e Sheikh Jarrah, onde centenas de israelenses vivem atualmente, em constante tensão com seus vizinhos árabes.
O principal objetivo destes investimentos é impedir a partição da capital israelense. “Moskowitz não faz segredo de seus motivos. Ele comparou os Acordos de Oslo, que visavam encorajar a acomodação entre israelenses e palestinos, com as políticas de apaziguamento das potências ocidentais em relação a Hitler. Moskowitz se refere às negociações de paz como ‘suicídio israelense’”, lembram von Mittelstaedt e Schult.
A construção do prédio e do estacionamento no terreno do velho hotel beneficiaria o grupo de colonos Ateret Cohanim ("Coroa dos Sacerdotes do Templo"), um grupo radical sionista que está construindo casas nos setores árabes da Cidade Velha e as distribuindo para judeus.
Um fosso político
Tudo isso poderia passar despercebido, não fosse o atual fosso entre as políticas adotadas pelo governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com relação aos assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Leste. Este fosso pode fazer com que um prédio em ruínas como o Shepherd Hotel adquira repentinamente importância política.
Ainda não se pode dizer com segurança se Obama fala sério ou joga para a torcida quando diz que Israel deve deter os assentamentos como parte de um acordo amplo para garantir a paz no Oriente Médio. O jogo de palavras tem, de fato, incomodado os sionistas, mas, por outro lado, a ação estadunidense ainda não passou disso: um jogo de palavras. Recentemente, o escritor Ali Abunima, co-fundador do site The Electronic Intifada disse o seguinte sobre esta nova postura que os Estados Unidos têm adotado para com Israel: “A menos que estas posições sejam seguidas por ações decisivas – talvez limitando os subsídios estadunidenses a Israel – não há razão para acreditarmos que posturas que falharam no passado serão efetivas agora”.
Ocupação e colonização
Os assentamentos israelenses em territórios palestinos são, de longe, os maiores empecilhos para a paz na região. Em longo prazo, eles significam a implantação de uma cultura de subjugação de um povo por outro, a construção de uma mentalidade de revanchismo por parte dos subjugados e de domínio e desprezo por parte dos subjugadores.
Para Phyllis Bennis, integrante do Institute for Policy Studies e membro do U.S. Campaign to End Israeli Occupation “o conceito de ocupação é de difícil entendimento para os ocidentais”. Ela explica: “ocupação é quando um exército estrangeiro ocupa sua terra e controla todos os aspectos da sua vida”.
“Os palestinos estão sob ocupação e é por isso que há tanta violência. É o que ocorre com eles há décadas. Eles não são cidadãos, não têm direitos civis, nascem, crescem e morrem sob lei marcial”, afirma Allegra Pacheco, advogada e ativista israelense pelos direitos humanos.
No mesmo tom, Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel, destaca o caráter opressivo dos assentamentos israelenses frente aos palestinos: “Há cerca de 190 assentamentos israelenses espalhados na Cisjordânia. São colônias estratégicas construídas por Israel, conectadas por estradas, e que separam as comunidades palestinas uma das outras impedindo sua reintegração aos proprietários originais e confirmando a intenção expansionista israelense”.
O bispo católico da diocese Washington, Allen Bartlett, Jr, reforça: “Os assentamentos israelenses são áreas palestinas, as melhores terras e recursos hídricos, que são selecionadas, destruídas e substituídas por uma nova cidade para abrigar os colonos judeus.”.
Os assentamentos são construídos próximos as melhores terras e recursos hídricos. São cercados por arame farpado e seus moradores recebem equipamento militar, sendo defendidos externamente pelo próprio exército israelense. “O seu principal propósito é manter o controle israelense sobre o território ocupado”, afirma Pacheco. Para o antropólogo Jeff Halper, membro do Comitê israelense contra a demolição de casas, “a finalidade é fazer com que os palestinos saiam do país”, e vai além: “Sei que este é um termo duro, mas trata-se de limpeza étnica”.
“O governo e os militares israelenses não estão lidando com o povo palestino como iguais. Acho que este é o principal problema. Os israelenses não consideram os palestinos seus iguais”, opina Yael Stien, do grupo israelense de direitos humanos B'Tselem. “Penso que, moralmente e praticamente, a única forma de parar toda esta violência é tratar de sua causa primária, a ocupação”, sustenta Adam Keller, membro do Gush Shalom, grupo israelense que luta pela paz na região.
Para a Rabbi Rebecca Lillian, da organização Jewish Alliance for Justice and Peace, os israelenses não percebem a desigualdade entre os colonos e os palestinos nas regiões ocupadas: “No lado israelense, nos assentamentos, há comida, luz, água, gás, lazer, coleta de lixo, tudo o que seus vizinhos palestinos não têm por causa da ocupação militar”. Lingüista e professor do Massachusetts Institute of Technology, Noam Chomsky relata a sensação do gueto vivida pelos palestinos: “Em Hebron, por exemplo, uma cidade árabe onde há alguns judeus, os colonizadores andam com fuzis como se fossem donos da cidade. Vão às vilas palestinas, queimam suas plantações, destroem suas casas, agridem os palestinos”. Kathleen Kamphoefner, afirma que é comum mulheres palestinas serem açoitadas pelos colonos nas ruas sem motivo aparente para a agressão, se é que há motivo para se açoitar uma mulher.
O governo não tenta conter os colonos. De todos os casos em que estes mataram palestinos os acusados acabaram recebendo anistia ou penas curtas. Em muitos casos o exército simplesmente acoberta os abusos. “Muitos palestinos se sentem reféns dos colonos”, resume Yael Stein. “A finalidade é tornar as coisas tão difíceis para os palestinos que qualquer um que queira um futuro para seus filhos, que queira viver bem, que queira viver uma vida normal será obrigado a sair”, resume Jeff Halper.
Segundo Adam Keller, há dois tipos de colonos. Os ideológicos, que pensam que todo o território foi prometido por Deus aos judeus, e que cada lugar mencionado na Bíblia pertence a eles. Estes consideram que não têm apenas o direito, mas o dever de ocupar o território e acabar pela força com qualquer um que se oponha a isso. O outro tipo, que representa a maioria dos colonos, são israelenses comuns que vem para os assentamentos simplesmente por que o governo oferece moradia barata e vantagens financeiras, tais como a suspensão do pagamento dos empréstimos governamentais adquiridos para sua instalação nas terras aos que permanecerem na região por mais de dez anos.
Leis mais sobre este tema
- Maquiavel, Obama e os assentamentos que não encolhem
- Israel insiste no erro e se recusa a desmantelar assentamentos ilegais
- Sionistas promovem pogroms na Cisjordânia
- Obama fala sério ou endurecimento com Israel é para "palestino ver"?
Ocorre que o Shepherd está localizado na parte leste da cidade e a comunidade internacional considera como assentamentos a construção de bairros judeus na região, além de frisar que estes assentamentos representam um obstáculo ao processo de paz entre israelenses e palestinos ao complicarem ainda mais uma possível divisão da cidade. Israel não considera que os bairros judeus em Jerusalém sejam assentamentos, porque anexou a área após tê-la capturado na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Anexação que não foi reconhecida pela comunidade internacional.
Para o governo de Israel, a ocupação de setores da área árabe da cidade se dá devido ao “crescimento natural” da atual população. Atualmente, 300 mil israelenses vivem em assentamentos na Cisjordânia e outros 180 mil vivem nos bairros judeus de Jerusalém Leste.
“Moskowitz nasceu em Nova York de pais que imigraram da Polônia para os Estados Unidos. Os nazistas mataram muitos membros de sua família, o que ajuda a explicar por que é tão passional a respeito de Israel. Ele deixa claro que deseja desenvolver o país em um lugar seguro para os judeus de todo o mundo e é consistente no cumprimento de sua promessa. Moskowitz doa muito dinheiro -seus críticos estimam US$ 100 milhões até o momento- para colonos religiosos, frequentemente radicais, em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia.”, explica a reportagem da Der Spiegel.
Nos anos 90, Moskowitz causou polêmica ao oferecer apoio financeiro para colonos radicais que estavam comprando casas no setor árabe da Cidade Velha de Jerusalém. Depois disso, ajudou a adquirir terras no Monte das Oliveiras, perto do bairro palestino de Ras al Amud, causando ainda mais inquietação. Ele apoiou projetos subseqüentes em outros bairros árabes em Jerusalém Oriental, incluindo Silwan e Sheikh Jarrah, onde centenas de israelenses vivem atualmente, em constante tensão com seus vizinhos árabes.
O principal objetivo destes investimentos é impedir a partição da capital israelense. “Moskowitz não faz segredo de seus motivos. Ele comparou os Acordos de Oslo, que visavam encorajar a acomodação entre israelenses e palestinos, com as políticas de apaziguamento das potências ocidentais em relação a Hitler. Moskowitz se refere às negociações de paz como ‘suicídio israelense’”, lembram von Mittelstaedt e Schult.
A construção do prédio e do estacionamento no terreno do velho hotel beneficiaria o grupo de colonos Ateret Cohanim ("Coroa dos Sacerdotes do Templo"), um grupo radical sionista que está construindo casas nos setores árabes da Cidade Velha e as distribuindo para judeus.
Um fosso político
Tudo isso poderia passar despercebido, não fosse o atual fosso entre as políticas adotadas pelo governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, com relação aos assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Leste. Este fosso pode fazer com que um prédio em ruínas como o Shepherd Hotel adquira repentinamente importância política.
Ainda não se pode dizer com segurança se Obama fala sério ou joga para a torcida quando diz que Israel deve deter os assentamentos como parte de um acordo amplo para garantir a paz no Oriente Médio. O jogo de palavras tem, de fato, incomodado os sionistas, mas, por outro lado, a ação estadunidense ainda não passou disso: um jogo de palavras. Recentemente, o escritor Ali Abunima, co-fundador do site The Electronic Intifada disse o seguinte sobre esta nova postura que os Estados Unidos têm adotado para com Israel: “A menos que estas posições sejam seguidas por ações decisivas – talvez limitando os subsídios estadunidenses a Israel – não há razão para acreditarmos que posturas que falharam no passado serão efetivas agora”.
Ocupação e colonização
Os assentamentos israelenses em territórios palestinos são, de longe, os maiores empecilhos para a paz na região. Em longo prazo, eles significam a implantação de uma cultura de subjugação de um povo por outro, a construção de uma mentalidade de revanchismo por parte dos subjugados e de domínio e desprezo por parte dos subjugadores.
Para Phyllis Bennis, integrante do Institute for Policy Studies e membro do U.S. Campaign to End Israeli Occupation “o conceito de ocupação é de difícil entendimento para os ocidentais”. Ela explica: “ocupação é quando um exército estrangeiro ocupa sua terra e controla todos os aspectos da sua vida”.
“Os palestinos estão sob ocupação e é por isso que há tanta violência. É o que ocorre com eles há décadas. Eles não são cidadãos, não têm direitos civis, nascem, crescem e morrem sob lei marcial”, afirma Allegra Pacheco, advogada e ativista israelense pelos direitos humanos.
No mesmo tom, Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel, destaca o caráter opressivo dos assentamentos israelenses frente aos palestinos: “Há cerca de 190 assentamentos israelenses espalhados na Cisjordânia. São colônias estratégicas construídas por Israel, conectadas por estradas, e que separam as comunidades palestinas uma das outras impedindo sua reintegração aos proprietários originais e confirmando a intenção expansionista israelense”.
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Os assentamentos são construídos próximos as melhores terras e recursos hídricos. São cercados por arame farpado e seus moradores recebem equipamento militar, sendo defendidos externamente pelo próprio exército israelense. “O seu principal propósito é manter o controle israelense sobre o território ocupado”, afirma Pacheco. Para o antropólogo Jeff Halper, membro do Comitê israelense contra a demolição de casas, “a finalidade é fazer com que os palestinos saiam do país”, e vai além: “Sei que este é um termo duro, mas trata-se de limpeza étnica”.
“O governo e os militares israelenses não estão lidando com o povo palestino como iguais. Acho que este é o principal problema. Os israelenses não consideram os palestinos seus iguais”, opina Yael Stien, do grupo israelense de direitos humanos B'Tselem. “Penso que, moralmente e praticamente, a única forma de parar toda esta violência é tratar de sua causa primária, a ocupação”, sustenta Adam Keller, membro do Gush Shalom, grupo israelense que luta pela paz na região.
Para a Rabbi Rebecca Lillian, da organização Jewish Alliance for Justice and Peace, os israelenses não percebem a desigualdade entre os colonos e os palestinos nas regiões ocupadas: “No lado israelense, nos assentamentos, há comida, luz, água, gás, lazer, coleta de lixo, tudo o que seus vizinhos palestinos não têm por causa da ocupação militar”. Lingüista e professor do Massachusetts Institute of Technology, Noam Chomsky relata a sensação do gueto vivida pelos palestinos: “Em Hebron, por exemplo, uma cidade árabe onde há alguns judeus, os colonizadores andam com fuzis como se fossem donos da cidade. Vão às vilas palestinas, queimam suas plantações, destroem suas casas, agridem os palestinos”. Kathleen Kamphoefner, afirma que é comum mulheres palestinas serem açoitadas pelos colonos nas ruas sem motivo aparente para a agressão, se é que há motivo para se açoitar uma mulher.
O governo não tenta conter os colonos. De todos os casos em que estes mataram palestinos os acusados acabaram recebendo anistia ou penas curtas. Em muitos casos o exército simplesmente acoberta os abusos. “Muitos palestinos se sentem reféns dos colonos”, resume Yael Stein. “A finalidade é tornar as coisas tão difíceis para os palestinos que qualquer um que queira um futuro para seus filhos, que queira viver bem, que queira viver uma vida normal será obrigado a sair”, resume Jeff Halper.
Segundo Adam Keller, há dois tipos de colonos. Os ideológicos, que pensam que todo o território foi prometido por Deus aos judeus, e que cada lugar mencionado na Bíblia pertence a eles. Estes consideram que não têm apenas o direito, mas o dever de ocupar o território e acabar pela força com qualquer um que se oponha a isso. O outro tipo, que representa a maioria dos colonos, são israelenses comuns que vem para os assentamentos simplesmente por que o governo oferece moradia barata e vantagens financeiras, tais como a suspensão do pagamento dos empréstimos governamentais adquiridos para sua instalação nas terras aos que permanecerem na região por mais de dez anos.
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