Em O Príncipe, Maquiavel oferece aos governantes modernos as ferramentas para impor seu domínio. Logo no início do livro, no Capítulo III, quando aborda as estratégias para controlar populações conquistadas, ele parece fornecer especificamente aos dirigentes israelenses a base de sua política de domínio sobre os palestinos a partir da guerra de 1967.
Diz Maquiavel:
“Outro remédio eficaz é instalar colônias num ou dois pontos, que sejam como grilhões postos àquele Estado, eis que é necessário ou fazer tal ou aí manter muita tropa. Com as colônias não se despende muito e, sem grande custo, podem ser instaladas e mantidas, sendo que sua criação prejudica somente àqueles de quem se tomam os campos e as casas para cedê-los aos novos habitantes, os quais constituem uma parcela mínima do Estado conquistado. Ainda, os assim prejudicados, ficando dispersos e pobres, não podem causar dano algum, enquanto que os não lesados ficam à parte, amedrontados, devendo aquietar-se ao pensamento de que não poderão errar para que a eles não ocorra o mesmo que aconteceu àqueles que foram espoliados. Concluo dizendo que estas colônias não são onerosas, são mais fiéis, ofendem menos e os prejudicados não podem causar mal, tornados pobres e dispersos como já foi dito. Por onde se depreende que os homens devem ser acarinhados ou eliminados, pois se se vingam das pequenas ofensas, das graves não podem fazê-lo; daí decorre que a ofensa que se faz ao homem deve ser tal que não se possa temer vingança.”.
Ora... se o trecho não inspirou os dignitários israelenses a espalharem assentamentos pela Cisjordânia como estratégia de domínio sobre os palestinos, então, que coincidência dos diabos.
Hoje, cerca de 500 mil colonos judeus vivem em mais de 500 assentamentos (segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU – OCHA) espalhados pela Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Alguns são verdadeiras cidades, como Maaleh Adumim e Ariel. Outros são menores, com centenas de moradores. Ainda há os "postos avançados" - trailers estacionados em pontos isolados.
Israel exerce um controle total sobre mais de 40% da Cisjordânia, além de 87% do aqüífero local - deixando 2,5 milhões de palestinos sobrevivendo com o restante, o que representa uma ameaça para a saúde das duas nações.. Trata-se de uma ocupação mesclada e não linear. Isso significa que os assentamentos salpicam a Cisjordânia de modo que os territórios palestinos que se espremem entre eles são inviabilizados economicamente. Esta estratégia, construída nos últimos 40 anos, fez com que a possibilidade de devolução destes territórios aos seus verdadeiros donos seja vista como uma utopia que não deve ser mais considerada nas mesas de negociação, mesmo os assentamentos sendo considerados ilegais pela comunidade internacional.
Para os israelenses, há dois tipos de assentamentos: os ilegais e os autorizados pelo Estado. Nos últimos anos surgiram mais de duas dúzias de novos núcleos habitacionais não reconhecidos pelo Estado de Israel. Os assentamentos autorizados pelo governo israelense, por sua vez, também são ilegais perante o direito internacional, porque foram erigidos no território palestino com objetivo de perpetuar a presença israelense em terras que foram tomadas após o conflito de 1967.
Mesmo nos assentamentos “legais”, há abusos. Cerca de 75% das construções nos assentamentos judaicos na Cisjordânia foram erguidas sem licença ou em desacordo com as permissões emitidas pelas autoridades israelenses, segundo um relatório do Ministério da Defesa de Israel publicado pelo jornal Haaretz. De acordo com o estudo, em 30 colônias a construção de "prédios e infraestrutura, incluindo estradas, escolas e delegacias, foram realizadas em terras privadas de palestinos".
O pensador Noam Chomski, assim define a situação: “Os assentamentos ilegais na Margem Ocidental são construídos para a criação dos batustan (‘guetos’ para os palestinos, a exemplo do modelo da África do Sul, durante o período do apartheid), de acordo com o termo utilizado por Ariel Sharon, arquiteto da política colonialista. Isso significa que Israel toma o que quer, tornando o que sobrou da Palestina em regiões não viáveis.”.
O jornalista Gustavo Chacra fez o seguinte comentário sobre a atual situação dos assentamentos: “Os Estados Unidos exigem, abertamente, que Israel congele a expansão dos assentamentos já existentes. O governo israelense defende construções dentro das colônias erguidas como forma de permitir o crescimento natural da população. Os palestinos pedem o desmantelamento de todos os assentamentos.”.
Desde que proferiu seu discurso no Cairo (em 4 de junho), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elegeu uma trincheira confortável de onde pode observar o desenrolar do drama palestino. Ele pede a paralisação total da colonização, a que Israel se opõe, defendendo a "expansão natural" das implantações existentes, tendo em vista à demografia. Certo, mas ainda é possível acreditar que os israelenses pretendem interromper o “crescimento natural” dos assentamentos já existentes? Como, se os Estados Unidos não conseguem firmar terreno nem mesmo nesta questão? Obama está jogando para a torcida?
Enquanto o presidente dos Estados Unidos garante que seu país e Israel estão fazendo progressos em diminuir suas diferenças sobre a questão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada, os israelenses continuam autorizando a expansão dos assentamentos já existentes.
Na verdade, o que Obama deseja (mesmo que sinceramente), nem de perto se aproxima do que os palestinos reivindicam. Apesar disso, muitos analistas concordam que a postura estadunidense de exigir o “congelamento” dos assentamentos e não seu “desmantelamento” aponta para uma saída mais factível para o imbróglio. “Indiretamente, ele pede concessões dos dois lados”, diz Gustavo Chacra, e complementa: “Os palestinos abdicariam do pedido de desmantelamento de todos os assentamentos e Israel concordaria em não construir mais nenhuma nova colônia. Assim, os palestinos poderiam manter a maior parte da Cisjordânia e os israelenses ficariam com a maioria dos assentamentos. Em troca, os palestinos receberiam terras em outras áreas. E os israelenses teriam menos dificuldades para combater a oposição interna a um acordo, já que muitos colonos não precisariam ser removidos.”.
No sábado (11), o representante de Política Externa da União Européia, Javier Solana, defendeu o retorno às fronteiras de Israel de antes da guerra de 1967. Ele também pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) que reconheça o Estado palestino dentro de um prazo determinado mesmo que israelenses e palestinos não cheguem a um acordo. Não seria esta a saída mais razoável do ponto de visa da justiça? Alguém quer fazer justiça?
Diz Maquiavel:
“Outro remédio eficaz é instalar colônias num ou dois pontos, que sejam como grilhões postos àquele Estado, eis que é necessário ou fazer tal ou aí manter muita tropa. Com as colônias não se despende muito e, sem grande custo, podem ser instaladas e mantidas, sendo que sua criação prejudica somente àqueles de quem se tomam os campos e as casas para cedê-los aos novos habitantes, os quais constituem uma parcela mínima do Estado conquistado. Ainda, os assim prejudicados, ficando dispersos e pobres, não podem causar dano algum, enquanto que os não lesados ficam à parte, amedrontados, devendo aquietar-se ao pensamento de que não poderão errar para que a eles não ocorra o mesmo que aconteceu àqueles que foram espoliados. Concluo dizendo que estas colônias não são onerosas, são mais fiéis, ofendem menos e os prejudicados não podem causar mal, tornados pobres e dispersos como já foi dito. Por onde se depreende que os homens devem ser acarinhados ou eliminados, pois se se vingam das pequenas ofensas, das graves não podem fazê-lo; daí decorre que a ofensa que se faz ao homem deve ser tal que não se possa temer vingança.”.
Ora... se o trecho não inspirou os dignitários israelenses a espalharem assentamentos pela Cisjordânia como estratégia de domínio sobre os palestinos, então, que coincidência dos diabos.
Hoje, cerca de 500 mil colonos judeus vivem em mais de 500 assentamentos (segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU – OCHA) espalhados pela Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Alguns são verdadeiras cidades, como Maaleh Adumim e Ariel. Outros são menores, com centenas de moradores. Ainda há os "postos avançados" - trailers estacionados em pontos isolados.
Israel exerce um controle total sobre mais de 40% da Cisjordânia, além de 87% do aqüífero local - deixando 2,5 milhões de palestinos sobrevivendo com o restante, o que representa uma ameaça para a saúde das duas nações.. Trata-se de uma ocupação mesclada e não linear. Isso significa que os assentamentos salpicam a Cisjordânia de modo que os territórios palestinos que se espremem entre eles são inviabilizados economicamente. Esta estratégia, construída nos últimos 40 anos, fez com que a possibilidade de devolução destes territórios aos seus verdadeiros donos seja vista como uma utopia que não deve ser mais considerada nas mesas de negociação, mesmo os assentamentos sendo considerados ilegais pela comunidade internacional.
Para os israelenses, há dois tipos de assentamentos: os ilegais e os autorizados pelo Estado. Nos últimos anos surgiram mais de duas dúzias de novos núcleos habitacionais não reconhecidos pelo Estado de Israel. Os assentamentos autorizados pelo governo israelense, por sua vez, também são ilegais perante o direito internacional, porque foram erigidos no território palestino com objetivo de perpetuar a presença israelense em terras que foram tomadas após o conflito de 1967.
Mesmo nos assentamentos “legais”, há abusos. Cerca de 75% das construções nos assentamentos judaicos na Cisjordânia foram erguidas sem licença ou em desacordo com as permissões emitidas pelas autoridades israelenses, segundo um relatório do Ministério da Defesa de Israel publicado pelo jornal Haaretz. De acordo com o estudo, em 30 colônias a construção de "prédios e infraestrutura, incluindo estradas, escolas e delegacias, foram realizadas em terras privadas de palestinos".
O pensador Noam Chomski, assim define a situação: “Os assentamentos ilegais na Margem Ocidental são construídos para a criação dos batustan (‘guetos’ para os palestinos, a exemplo do modelo da África do Sul, durante o período do apartheid), de acordo com o termo utilizado por Ariel Sharon, arquiteto da política colonialista. Isso significa que Israel toma o que quer, tornando o que sobrou da Palestina em regiões não viáveis.”.
O jornalista Gustavo Chacra fez o seguinte comentário sobre a atual situação dos assentamentos: “Os Estados Unidos exigem, abertamente, que Israel congele a expansão dos assentamentos já existentes. O governo israelense defende construções dentro das colônias erguidas como forma de permitir o crescimento natural da população. Os palestinos pedem o desmantelamento de todos os assentamentos.”.
Desde que proferiu seu discurso no Cairo (em 4 de junho), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elegeu uma trincheira confortável de onde pode observar o desenrolar do drama palestino. Ele pede a paralisação total da colonização, a que Israel se opõe, defendendo a "expansão natural" das implantações existentes, tendo em vista à demografia. Certo, mas ainda é possível acreditar que os israelenses pretendem interromper o “crescimento natural” dos assentamentos já existentes? Como, se os Estados Unidos não conseguem firmar terreno nem mesmo nesta questão? Obama está jogando para a torcida?
Enquanto o presidente dos Estados Unidos garante que seu país e Israel estão fazendo progressos em diminuir suas diferenças sobre a questão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada, os israelenses continuam autorizando a expansão dos assentamentos já existentes.
Na verdade, o que Obama deseja (mesmo que sinceramente), nem de perto se aproxima do que os palestinos reivindicam. Apesar disso, muitos analistas concordam que a postura estadunidense de exigir o “congelamento” dos assentamentos e não seu “desmantelamento” aponta para uma saída mais factível para o imbróglio. “Indiretamente, ele pede concessões dos dois lados”, diz Gustavo Chacra, e complementa: “Os palestinos abdicariam do pedido de desmantelamento de todos os assentamentos e Israel concordaria em não construir mais nenhuma nova colônia. Assim, os palestinos poderiam manter a maior parte da Cisjordânia e os israelenses ficariam com a maioria dos assentamentos. Em troca, os palestinos receberiam terras em outras áreas. E os israelenses teriam menos dificuldades para combater a oposição interna a um acordo, já que muitos colonos não precisariam ser removidos.”.
No sábado (11), o representante de Política Externa da União Européia, Javier Solana, defendeu o retorno às fronteiras de Israel de antes da guerra de 1967. Ele também pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) que reconheça o Estado palestino dentro de um prazo determinado mesmo que israelenses e palestinos não cheguem a um acordo. Não seria esta a saída mais razoável do ponto de visa da justiça? Alguém quer fazer justiça?
1 comentário:
Algum deles sabe o quê é justiça?! Barone aguardo o quarto capítulo hehe as "Imagens" os personagens do livro me perseguem. abraços
Enviar um comentário