Semana On

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Israel insiste no erro e se recusa a desmantelar assentamentos ilegais

O Governo de Israel rejeitou o pedido do governo estadunidense para dar um basta aos assentamentos judaicos na Cisjordânia (território palestino ocupado desde 1967) e vai permitir a continuidade de obras de ampliação destes locais, segundo afirmou hoje o porta-voz do governo israelense, Mark Regev. Segundo ele, o futuro dos assentamentos judaicos na Cisjordânia deverá ser decidido somente quando forem feitas negociações de paz com os palestinos.

Cerca de 500 mil colonos judeus vivem em mais de 500 assentamentos (segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU – OCHA) espalhados pela Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. Alguns são verdadeiras cidades, como Maaleh Adumim e Ariel. Outros são menores, com centenas de moradores. Ainda há os "postos avançados" - trailers estacionados em pontos isolados.

Os assentamentos são considerados ilegais pela comunidade internacional, mas Israel rejeita essa determinação. De acordo com o plano de paz para a região apresentado pelos Estados Unidos em 2003, Israel é obrigado a interromper todas as atividades relacionadas aos assentamentos, incluindo o crescimento natural.

Hoje, Israel exerce um controle total sobre mais de 40% da Cisjordânia. O território é dividido em áreas A, B e C. Somente a área A está sob controle absoluto da Autoridade Nacional Palestina (ANP). A área B fica sob jurisdição israelense e - ainda que limitada - palestina. A área C, por sua vez, é totalmente controlada por Israel.

Os israelenses controlam também cerca de 87% do aqüífero da Cisjordânia, deixando 2,5 milhões de palestinos sobrevivendo com o restante, o que representa uma ameaça para a saúde das duas nações. “Os colonos judeus consomem até 200 litros diários de água por pessoa, enquanto os palestinos da Cisjordânia sobrevivem com 30 a 60 litros”, afirma Jamil Mtoor, subdiretor da Autoridade Ambiental Palestina.

Legais e Ilegais

Hoje Israel tem dois tipos de assentamentos os ilegais e os autorizados pelo Estado. Os ilegais são um dos grandes problemas do governo, porque nos últimos anos surgiram mais de duas dúzias de novos assentamentos não reconhecidos pelo Estado de Israel. Os assentamentos autorizados pelo governo israelense, por sua vez, também são ilegais, porque foram erigidos no território palestino.

No entanto, mesmo nos assentamentos “legais”, há abusos. Cerca de 75% das construções nos assentamentos judaicos na Cisjordânia foram erguidas sem licença ou em desacordo com as permissões emitidas pelas autoridades israelenses, segundo um relatório secreto do Ministério da Defesa de Israel publicado pelo jornal Haaretz. Segundo o estudo, em 30 colônias a construção de "prédios e infraestrutura, incluindo estradas, escolas e delegacias, foram realizadas em terras privadas de palestinos".

O pensador Noam Chomski, assim define a situação: “Os assentamentos ilegais na Margem Ocidental são construídos para a criação dos batustan (‘guetos’ para os palestinos, a exemplo do modelo da África do Sul, durante o período do apartheid), de acordo com o termo utilizado por Ariel Sharon, arquiteto da política colonialista. Isso significa que Israel toma o que quer, tornando o que sobrou da Palestina em regiões não viáveis.”.

Em janeiro passado, o jornalista Gustavo Chacra fez por duas vezes o trajeto entre as cidades de Nablus e Ramallah, e sentiu na pele as dificuldades que os palestinos têm para circular em suas próprias terras retalhadas por pontos de checagem e pelo Muro da Cisjordânia.

Em suas palavras:

Os palestinos que viajem de Nablus para Ramallah precisam passar todos os dias cerca de duas horas no checkpoint de Hawara. Após esperar na fila, abrir a mochila e passar por um detector de metal, os palestinos são obrigados a apresentar documentos para soldados israelenses. Alguns falam hebraico melhor do que os militares, muitas vezes recém chegados a Israel, enquanto estes jovens de Nablus são de famílias árabes que há séculos habitam o território. E, mesmo assim, correm o risco de ser mandados de volta, sem poder completar a viagem até Ramallah, que seria feita o tempo todo dentro da Cisjordânia, que é uma área palestina.

Se tiverem permissão para cruzar a barreira israelense, ainda passarão de carro ou ônibus por outros checkpoints de Israel no trajeto de carro até a cidade sede da Autoridade Palestina. Obviamente, um deles pode estar fechado por motivos nunca divulgados e os palestinos terão que buscar caminhos alternativos para chegar a Ramallah, aumentando em uma hora o tempo da viagem. Em algumas partes, os palestinos são impedidos de usar as mesmas estradas dos colonos judeus.

Ao longo do trecho Nablus-Ramallah, o palestino poderá observar ao menos dez assentamentos israelenses. De acordo com a ONU, todos são ilegais. Nenhuma construção de Israel na Cisjordânia está dentro das leis internacionais. E também são um desrespeito aos acordos firmados por governos israelenses desde Oslo, no início dos anos 1990. E as colônias não param de crescer.

O grupo pacifista israelense Paz Agora afirma em relatório divulgado ontem que 1.257 estruturas foram construídas na Cisjordânia em 2008, um crescimento de 57% em relação a 2007. Alguns dirão que Israel retirou 7.000 colonos da Faixa de Gaza. Mas este número equivale a 2% do total da Cisjordânia. O correto era ter retirado todos os assentamentos. Ocupação civil de forma alguma justifica questões de segurança. Na verdade, apenas prejudica.
”.

Sem comentários: