Vou te responder com uma pergunta que pensei outro dia: você apoiaria uma intervenção federal em todos os âmbitos possíveis, imaginários e criativos no MA ou ainda prefere que as coisas lá se resolvam pelo processo eleitoral?
O que se entende por "apoiar" e "pouco democrático", em primeiro lugar?
Não considero o governo Federal como pouco democrático e por isso o apoio ainda que discorde frontalmente de uma série de coisas, da mesma forma que apoiava o governo FH.
Agora, se o seu exemplo de "pouco democrático" é a Sarneylândia, então eu estou com o Luiz Felipe aí em cima: intervenção federal JÁ.
A pergunta é abstrata mesmo Daniel, não se refere ao Brasil de forma específica. Quando digo “apoiar”, digo aceitar passivamente, deixar o barco correr. Quando digo “pouco democrático” me refiro a um governo que agrida as instituições democráticas e o estado de direito.
Este debate é muito interessante. Veja. Muita gente apoiaria uma intervenção federal no Maranhão. Ocorre que o estado de direito e a democracia não estão sendo agredidas por lá. As eleições ocorreram legalmente e as pessoas votaram em quem quiseram votar (é claro que há currais eleitorais, compra de votos, troca de interesses, mas isso pode e deve ser investigado e punido dentro das regras democráticas).
O que me chama a atenção é que muita gente que apoiaria uma intervenção no Maranhão está bradando contra a deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya. Ora. Zelaya quer se transformar em um Chavez, em um Morales. Pode-se ser simpático a eles, mas não se pode negar que são populistas que manipulam a democracia para seus interesses.
Ainda assim, apesar de querer modificar a constituição para se perpetuar no poder, Zelaya foi eleito democraticamente. É inconcebível que se compactue com o golpe em Honduras. Mas e quanto a Sarney e seu oligopólio no Maranhão? O bigodudo é um anacronismo político, mas não foi, também, eleito democraticamente (assim como sua filha foi empossada dentro das regras que regem a democracia)?
Ou democracia vale para uns e não para outros?
Feito este comentário, volto à pergunta original. Seria concebível abrir mão de certos aspectos de democracia por melhoras econômicas?
Quando tentaram depor o Chavez naquele malfadado golpe eu fui contra, por mais que não gostasse do sujeito. Para o bem ou para o mal, não havia indícios que tenha fraudado eleições.
No Maranhão, entretanto, Sarney controla jornais, rádio e TV; além de dispor amplamente dos recursos públicos como se fosse uma coisa sua. Quando falo de intervenção federal é justamente isso: mandar auditores, o MP, o raio que o parta para lá - dentro da lei - para encerrar o festim diabólico que se instaurou.
Não posso falar sobre Honduras porque não me informei o bastante ainda. Só me parece que há bastante excessos cometidos por todos os lados da questão.
Uma intervenção no Maranhão, dentro da lei seria mais que bem vinda.
Voltando à enquête, o motivo dela foi uma pesquisa divulgada no final do ano passado, segundo a qual 57% dos brasileiros teriam dito que não se importariam em ter um governo não democrático desde que este resolvesse problemas econômicos.
Esta pesquisa, para mim, reflete o que está ocorrendo mundo afora. Na China, por exemplo, a pujança econômica, o fato de que milhões de pessoas foram fisgadas da linha de pobreza, mascara as bases deste crescimento econômico, encasteladas sobre o totalitarismo.
Sou um entusiasta dos plebiscitos (aqui e aqui), desde que os cidadãos tenham informações adequadas sobre o que estão votando e estejam livres das amarras populistas que os subjugam tanto quanto o chicote do capital.
Se a massa está feliz pq tem comida, emprego, saúde e segurança (ou ao menos o suficiente para se sentir confortável e não sair às ruas com tochas e forcados), e ai?
Quem serão os intelectuais a criar caso e polêmica o suficiente para tornar sua própria revolta em uma "popular"? Quem serão esses messias auto-apontados?
Não é o caso do MA, é claro.
Mas o caso do MA é interessante citar aqui exatamente por se encontrar em um meio-termo.
Versão civilizada de tratar com napalm vilas vietnamitas para salvá-las do comunismo, é ainda uma maneira de se chegar a uma população e dizer, "vocês não sabem o que fazem. Foram iludidos por tanto tempo. Agora estamos aqui para livrá-los das vendas. Caminhem para a luz. Podem voltar a sorrir. Não tenham medo." (Algum "oooooo" de Howard Shore ao fundo)
Ok, exagerei.
Mas eu dizia, é um meio-termo, pq é dentro das regras da lei - que, COINCIDENTEMENTE, no caso, aplicam-se em prol do democrático - para que se possa estabelecer uma sociedade mais justa, e, se possível for, mais democrática. Um imperator (dictator?) com prazo de expiração realmente estabelecido.
Mas eu ainda acho estranho. Estamos falando de adultos. Não quis a população iraquiana optar, quando em um plebiscito proposto pelos americanos após a queda de Hussein, por uma ditadura teocrática como forma de governo?
E se lá no MA o escravo já tiver se afeiçoado ao seu feitor, e uma intervenção em nada adiantar?
É Felipe... é um mato sem cachorro. Sempre tive – em especial devido a minha formação libertária - um pé atrás com este negócio de lideranças, de vanguarda etc, etc. Normalmente estes se transformam nos carrascos. Ocorre que há situações em que a ignorância, o embrutecimento, o obscurantismo chegam a tal ponto que os que estão sob este tacão não conseguem mais olhar além da chibata, do pão e do circo. O que fazer nestes casos? Não sei também. É como aqueles que defendem a circuncisão feminina por uma questão cultural ou o uso da burca por um viés religioso. Há certas condições de barbárie e subjugo que ultrapassam a razão e que, ao meu ver, devem ser combatidas independente d qualquer coisa. Complicado...
7 comentários:
Vou te responder com uma pergunta que pensei outro dia: você apoiaria uma intervenção federal em todos os âmbitos possíveis, imaginários e criativos no MA ou ainda prefere que as coisas lá se resolvam pelo processo eleitoral?
O que se entende por "apoiar" e "pouco democrático", em primeiro lugar?
Não considero o governo Federal como pouco democrático e por isso o apoio ainda que discorde frontalmente de uma série de coisas, da mesma forma que apoiava o governo FH.
Agora, se o seu exemplo de "pouco democrático" é a Sarneylândia, então eu estou com o Luiz Felipe aí em cima: intervenção federal JÁ.
-Daniel
A pergunta é abstrata mesmo Daniel, não se refere ao Brasil de forma específica. Quando digo “apoiar”, digo aceitar passivamente, deixar o barco correr. Quando digo “pouco democrático” me refiro a um governo que agrida as instituições democráticas e o estado de direito.
Este debate é muito interessante. Veja. Muita gente apoiaria uma intervenção federal no Maranhão. Ocorre que o estado de direito e a democracia não estão sendo agredidas por lá. As eleições ocorreram legalmente e as pessoas votaram em quem quiseram votar (é claro que há currais eleitorais, compra de votos, troca de interesses, mas isso pode e deve ser investigado e punido dentro das regras democráticas).
O que me chama a atenção é que muita gente que apoiaria uma intervenção no Maranhão está bradando contra a deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya. Ora. Zelaya quer se transformar em um Chavez, em um Morales. Pode-se ser simpático a eles, mas não se pode negar que são populistas que manipulam a democracia para seus interesses.
Ainda assim, apesar de querer modificar a constituição para se perpetuar no poder, Zelaya foi eleito democraticamente. É inconcebível que se compactue com o golpe em Honduras. Mas e quanto a Sarney e seu oligopólio no Maranhão? O bigodudo é um anacronismo político, mas não foi, também, eleito democraticamente (assim como sua filha foi empossada dentro das regras que regem a democracia)?
Ou democracia vale para uns e não para outros?
Feito este comentário, volto à pergunta original. Seria concebível abrir mão de certos aspectos de democracia por melhoras econômicas?
Quando tentaram depor o Chavez naquele malfadado golpe eu fui contra, por mais que não gostasse do sujeito. Para o bem ou para o mal, não havia indícios que tenha fraudado eleições.
No Maranhão, entretanto, Sarney controla jornais, rádio e TV; além de dispor amplamente dos recursos públicos como se fosse uma coisa sua. Quando falo de intervenção federal é justamente isso: mandar auditores, o MP, o raio que o parta para lá - dentro da lei - para encerrar o festim diabólico que se instaurou.
Não posso falar sobre Honduras porque não me informei o bastante ainda. Só me parece que há bastante excessos cometidos por todos os lados da questão.
-Daniel
Opa Daniel, na mosca.
Uma intervenção no Maranhão, dentro da lei seria mais que bem vinda.
Voltando à enquête, o motivo dela foi uma pesquisa divulgada no final do ano passado, segundo a qual 57% dos brasileiros teriam dito que não se importariam em ter um governo não democrático desde que este resolvesse problemas econômicos.
Esta pesquisa, para mim, reflete o que está ocorrendo mundo afora. Na China, por exemplo, a pujança econômica, o fato de que milhões de pessoas foram fisgadas da linha de pobreza, mascara as bases deste crescimento econômico, encasteladas sobre o totalitarismo.
Da mesma forma, Chavez (Venezuela), Morales (Bolívia) e Duarte (Equador) representam um conceito novo de revolução de esquerda que tem na América Latina seu campo de provas: uma revolução constitucional que, posteriormente, adota medidas que restringem as liberdades individuais por meio de plebiscitos.
Sou um entusiasta dos plebiscitos (aqui e aqui), desde que os cidadãos tenham informações adequadas sobre o que estão votando e estejam livres das amarras populistas que os subjugam tanto quanto o chicote do capital.
E ai, daquela bananosa que estávamos conversando.
Se a massa está feliz pq tem comida, emprego, saúde e segurança (ou ao menos o suficiente para se sentir confortável e não sair às ruas com tochas e forcados), e ai?
Quem serão os intelectuais a criar caso e polêmica o suficiente para tornar sua própria revolta em uma "popular"? Quem serão esses messias auto-apontados?
Não é o caso do MA, é claro.
Mas o caso do MA é interessante citar aqui exatamente por se encontrar em um meio-termo.
Versão civilizada de tratar com napalm vilas vietnamitas para salvá-las do comunismo, é ainda uma maneira de se chegar a uma população e dizer, "vocês não sabem o que fazem. Foram iludidos por tanto tempo. Agora estamos aqui para livrá-los das vendas. Caminhem para a luz. Podem voltar a sorrir. Não tenham medo." (Algum "oooooo" de Howard Shore ao fundo)
Ok, exagerei.
Mas eu dizia, é um meio-termo, pq é dentro das regras da lei - que, COINCIDENTEMENTE, no caso, aplicam-se em prol do democrático - para que se possa estabelecer uma sociedade mais justa, e, se possível for, mais democrática. Um imperator (dictator?) com prazo de expiração realmente estabelecido.
Mas eu ainda acho estranho. Estamos falando de adultos. Não quis a população iraquiana optar, quando em um plebiscito proposto pelos americanos após a queda de Hussein, por uma ditadura teocrática como forma de governo?
E se lá no MA o escravo já tiver se afeiçoado ao seu feitor, e uma intervenção em nada adiantar?
É Felipe... é um mato sem cachorro. Sempre tive – em especial devido a minha formação libertária - um pé atrás com este negócio de lideranças, de vanguarda etc, etc. Normalmente estes se transformam nos carrascos. Ocorre que há situações em que a ignorância, o embrutecimento, o obscurantismo chegam a tal ponto que os que estão sob este tacão não conseguem mais olhar além da chibata, do pão e do circo. O que fazer nestes casos? Não sei também. É como aqueles que defendem a circuncisão feminina por uma questão cultural ou o uso da burca por um viés religioso. Há certas condições de barbárie e subjugo que ultrapassam a razão e que, ao meu ver, devem ser combatidas independente d qualquer coisa. Complicado...
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