O jornalista Pedro Ayres levanta uma questão interessante em comentário ao post “Democracia caudilhesca”, do último dia 27, no qual falo de Antonio Ledezma, prefeito de Caracas (Venezuela), que está impedido de entrar no prédio da Prefeitura, invadido por partidários do presidente Hugo Chavez.
A questão de Ayres é a fonte. Em meu post digo que o motivo que leva os manifestantes a impedir que o prefeito governe a cidade a partir de seu gabinete na Prefeitura foi a demissão de oito mil funcionários fantasmas contratados por partidários de Chavez, então no comando do executivo municipal. Minhas fontes, como aponta Ayres, foram jornais venezuelanos e espanhóis (País, ABC e El Mundo).
Para Ayres, as informações são truncadas visto que as fontes são de oposição ao governo de Chavez. Diz ele:
“Reza a boa regra informativa que toda notícia tem quer ter uma fonte. No caso do Antonio Ledezma, da Acción Democrática, eleito por uma aliança dos partidos que governaram a Venezuela (Ação Democrática e a Democracia Cristã), mais alguns partidos surgidos de divisões desses dois poderosos grupos (Primero Justicia e Nuevo Tiempo), ex-prefeito de Caracas antes de Chávez, a fonte são os jornais de Caracas ou de Espanha (País, ABC, El Mundo) que não engoliram a derrota do Golpe de abril de 2002, ou seja, a história é sempre contra o atual governo.”.
Diz também que os supostos oito mil demitidos são “apenas” duas mil “pessoas com várias deficiências físicas e com contratos especiais”.
Finalmente, aconselha a checar as informações sobre a conjuntura venezuelana por meio de uma comparação entre todos os canais de TV e jornais daquele país. “Haverá uma grande surpresa, o grau de liberdade de expressão que por lá existe é muitíssimo mais alto que nos EUA, por exemplo. Ë bom comparar o noticiário das televisões (Telesur x CNN, VTV x Globovisión)”, garante.
Sobre o que foi dito acima, seguem algumas reflexões e comentários.
Sobre fontes e informação. É fato que vivemos, hoje, imersos em uma cacofonia midiática. Informações jorram aos borbotões sobre nós e pinçarmos fontes fidedignas – especialmente quando a fonte primária não nos é acessível – é um desafio constante.
Ayres tem razão sobre as fontes críticas à Chavez e também sobre as que lhe são simpáticas. De um lado, a oposição, de outro os que o apóiam (seja por convicção política ou pressão).
Tem razão, também, em colocar dúvidas sobre a fidedignidade das fontes detratoras do governo Chavista. Mas, pergunto: da mesma forma, não sofrem desta mesma falta de fidedignidade as fontes que o apóiam? Onde está a verdade além de equilibrada sobre as convicções de quem lê, absorve a informação e – diante de seu cabedal de conhecimento – procura chegar a um meio termo entre fato e propaganda?
É o que tento fazer.
Sobre os oito mil “fantasmas” (ou “pessoas com várias deficiências físicas e com contratos especiais”), Ayres diz serem duas mil e eu não tenho motivos para desacreditar. Que sejam mil. Não são nos números que repousam a crítica, mas no fato em si.
Será uma Prefeitura o melhor local para realizar assistência social? Que direito tem estas pessoas de impedir um prefeito eleito democraticamente de governar? Qual seria a reação dos que apóiam Chavez se os que não o apoiaram invadissem a sede do governo federal? Pesos e medidas. O jogo democrático vale para uns e não para outros?
Acho perigoso demais, também, passar a régua sobre todas as opiniões e conceitos políticos de forma maniqueísta jogando para a direita todos os que condenam Chávez e para a esquerda os que o apóiam – como tem sido visto na mídia política de forma geral.
Grosso modo (há exceções), os que apóiam o caudilhismo, o culto à personalidade e empunham a bandeira da esquerda vêm de uma tradição stalinista, que, em minha modesta concepção, nada tem de esquerda. Está muito mais próxima ao fascismo e seu endeusamento do Estado.
Assim como os Reinaldo Azevedos da vida expõem-se ao ridículo ao chamar de stalinistas todos os que defendem conceitos de esquerda, ou de terroristas e anti-semitas todos os que criticam as políticas israelenses e defendem um Estado Palestino, também os esquerdistas que enxergam reacionarismo em todas as críticas à esquerda (ou á pseudo-esquerda) são anacronismos ambulantes.
Levando o papo para um caminho mais íntimo, digo que minha formação política - desde a adolescência - levou-me pelas veredas do socialismo libertário. Esta esquerda em que creio não é a que empodera o Estado, que usa a máquina a ser combatida para alcançar vitórias “democráticas” ou a que elege semi-deuses, iluminados que devem ser adorados como timoneiros de uma nova sociedade.
Minha crítica ao chavismo, portanto, é pontual: se dirige ao culto à personalidade, ao empoderamento do Estado, ao uso da máquina como ferramenta para “guiar” as massas, para a criação de uma elite revolucionária que - a história mostra com folga - transforma-se em uma elite dominadora e privilegiada.
Minha esquerda está mais à esquerda?
A questão de Ayres é a fonte. Em meu post digo que o motivo que leva os manifestantes a impedir que o prefeito governe a cidade a partir de seu gabinete na Prefeitura foi a demissão de oito mil funcionários fantasmas contratados por partidários de Chavez, então no comando do executivo municipal. Minhas fontes, como aponta Ayres, foram jornais venezuelanos e espanhóis (País, ABC e El Mundo).
Para Ayres, as informações são truncadas visto que as fontes são de oposição ao governo de Chavez. Diz ele:
“Reza a boa regra informativa que toda notícia tem quer ter uma fonte. No caso do Antonio Ledezma, da Acción Democrática, eleito por uma aliança dos partidos que governaram a Venezuela (Ação Democrática e a Democracia Cristã), mais alguns partidos surgidos de divisões desses dois poderosos grupos (Primero Justicia e Nuevo Tiempo), ex-prefeito de Caracas antes de Chávez, a fonte são os jornais de Caracas ou de Espanha (País, ABC, El Mundo) que não engoliram a derrota do Golpe de abril de 2002, ou seja, a história é sempre contra o atual governo.”.
Diz também que os supostos oito mil demitidos são “apenas” duas mil “pessoas com várias deficiências físicas e com contratos especiais”.
Finalmente, aconselha a checar as informações sobre a conjuntura venezuelana por meio de uma comparação entre todos os canais de TV e jornais daquele país. “Haverá uma grande surpresa, o grau de liberdade de expressão que por lá existe é muitíssimo mais alto que nos EUA, por exemplo. Ë bom comparar o noticiário das televisões (Telesur x CNN, VTV x Globovisión)”, garante.
Sobre o que foi dito acima, seguem algumas reflexões e comentários.
Sobre fontes e informação. É fato que vivemos, hoje, imersos em uma cacofonia midiática. Informações jorram aos borbotões sobre nós e pinçarmos fontes fidedignas – especialmente quando a fonte primária não nos é acessível – é um desafio constante.
Ayres tem razão sobre as fontes críticas à Chavez e também sobre as que lhe são simpáticas. De um lado, a oposição, de outro os que o apóiam (seja por convicção política ou pressão).
Tem razão, também, em colocar dúvidas sobre a fidedignidade das fontes detratoras do governo Chavista. Mas, pergunto: da mesma forma, não sofrem desta mesma falta de fidedignidade as fontes que o apóiam? Onde está a verdade além de equilibrada sobre as convicções de quem lê, absorve a informação e – diante de seu cabedal de conhecimento – procura chegar a um meio termo entre fato e propaganda?
É o que tento fazer.
Sobre os oito mil “fantasmas” (ou “pessoas com várias deficiências físicas e com contratos especiais”), Ayres diz serem duas mil e eu não tenho motivos para desacreditar. Que sejam mil. Não são nos números que repousam a crítica, mas no fato em si.
Será uma Prefeitura o melhor local para realizar assistência social? Que direito tem estas pessoas de impedir um prefeito eleito democraticamente de governar? Qual seria a reação dos que apóiam Chavez se os que não o apoiaram invadissem a sede do governo federal? Pesos e medidas. O jogo democrático vale para uns e não para outros?
Acho perigoso demais, também, passar a régua sobre todas as opiniões e conceitos políticos de forma maniqueísta jogando para a direita todos os que condenam Chávez e para a esquerda os que o apóiam – como tem sido visto na mídia política de forma geral.
Grosso modo (há exceções), os que apóiam o caudilhismo, o culto à personalidade e empunham a bandeira da esquerda vêm de uma tradição stalinista, que, em minha modesta concepção, nada tem de esquerda. Está muito mais próxima ao fascismo e seu endeusamento do Estado.
Assim como os Reinaldo Azevedos da vida expõem-se ao ridículo ao chamar de stalinistas todos os que defendem conceitos de esquerda, ou de terroristas e anti-semitas todos os que criticam as políticas israelenses e defendem um Estado Palestino, também os esquerdistas que enxergam reacionarismo em todas as críticas à esquerda (ou á pseudo-esquerda) são anacronismos ambulantes.
Levando o papo para um caminho mais íntimo, digo que minha formação política - desde a adolescência - levou-me pelas veredas do socialismo libertário. Esta esquerda em que creio não é a que empodera o Estado, que usa a máquina a ser combatida para alcançar vitórias “democráticas” ou a que elege semi-deuses, iluminados que devem ser adorados como timoneiros de uma nova sociedade.
Minha crítica ao chavismo, portanto, é pontual: se dirige ao culto à personalidade, ao empoderamento do Estado, ao uso da máquina como ferramenta para “guiar” as massas, para a criação de uma elite revolucionária que - a história mostra com folga - transforma-se em uma elite dominadora e privilegiada.
Minha esquerda está mais à esquerda?
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