No ano passado fui convidado por amigos a participar de um projeto que pretendia editar um livro composto por contos de terror focados no Mato Grosso do Sul. Aficionado pelo gênero, aproveitei uma viagem ao litoral paulista para escrever o meu. Infelizmente o projeto não vingou e o conto ficou guardado. Resolvi publicá-lo hoje. Trata-se de uma história de fantasmas, recheada com certa dose de violência e suspense. Relendo o texto, percebo a quantidade de clichês da qual me apossei para desenvolver o tema. Mas, como trata-se de uma aventura amadora sobre a prosa, não me censuro.
Espero que você se divirta lendo, da mesma forma que me diverti escrevendo.
Um
dia no campo
Victor
Barone
A
estrada corria reta, a perder de vista, cortando as imensas
plantações de soja. O céu, azul de doer, reinava absoluto. Paulo
brincava com a mão para fora da janela, fazendo-a planar como um
avião contra o vento cortante que a velocidade do carro criava ao
percorrer as imensidões do Mato Grosso do Sul. Pela janela, o ar,
cristalino, agredia suas narinas acostumadas a fumaça dos canos de
descarga. O mar verde se espalhava no horizonte sem montanhas, sem
prédios, uma sensação de deslocamento que Paulo assimilava como
quem se perde em uma trilha desconhecida.
Janaina
guiava rumo a uma vida nova. Paulo não dirigia. A mudança para o
interior estava sendo um processo doloroso. Há tempos Paulo tentava
convencer a parceira a aderir a uma vida mais simples no campo. Uma
tentativa de salvar um casamento que começava a perder o sentido. A
oportunidade surgira com a morte do avô de Janaina, fazendeiro em
uma pequena cidade enterrada nos cafundós da fronteira do Brasil com
o Paraguai. Foram meses de muita discussão, desentendimentos que,
finalmente, resultaram em um acordo mal ajambrado. Janaina fecharia
seu escritório de advocacia, que não ia bem das pernas, e assumiria
a administração da fazenda. Paulo… bem, Paulo não tinha nada a
deixar para trás. Depois que sua agência de comunicação havia
quebrado, um ano antes, ele perambulou por empregos provisórios,
nenhum à sua altura, dizia. Na verdade, ele tinha dificuldade com
hierarquia. Aceitar ordens era um tormento. Sua parte no acordo seria
negociar com os abatedouros locais a pequena produção de gado de
corte que a fazenda provia. Para isso, havia iniciado há alguns
meses o contato com estas empresas. Sentia-se como um peixe fora
d´água. Mas estava se esforçando. O plano tinha que dar certo.
–
Tô de saco cheio desta estrada.
Puta que pariu, só mato, mato, mato. Não acredito que você me
convenceu a trocar São Paulo por isso aqui. E ainda por cima você
dorme e eu dirijo. Não aguento mais – desabafou Janaina, as mãos
crispadas no volante enquanto ultrapassava uma imensa carreta repleta
de bois. Os animais, olhares perplexos, observavam o veículo como se
uma nave espacial cruzasse o espaço.
Paulo
olhou de soslaio para a esposa e emitiu um som que poderia ser
interpretado de muitas formas. Há muito tempo ele aprendera que não
adiantava argumentar com ela enquanto estivesse irritada. Além do
mais, Janaina tinha razão quanto ao fato de que ele deixara para ela
as partes mais chatas da reviravolta de vida em que haviam se metido.
–
Estamos quase chegando –
amenizou. – Faltam apenas cem quilômetros. Temos que ficar de olho
em três velhos silos de grãos e então virar à esquerda uns
duzentos metros depois.
–
E então, mais cinco quilômetros
de estrada de chão. Puta que pariu! – Esbravejou Janaina enquanto
procurava no rádio alguma estação que tocasse algo que não fosse
música sertaneja ou evangélica. Não encontrou nada, a não ser um
noticiário local falando sobre mais um conflito sangrento entre
índios e fazendeiros.
–
Que buraco… – rosnou Janina,
entredentes. – Não bastasse este isolamento ainda estamos cercados
por tribos de canibais e caipiras burros.
–
Que moderno Jana... Que bonito...
Para uma advogada instruída você também sabe destilar uma boa cota
de preconceitos. – Provocou Paulo.
–
Deixa de ser hipócrita. -
retrucou Janaina. – A maioria destes índios quer é viver as
custas do governo, enchendo a cara de cachaça. Já perderam há
muito tempo sua cultura, seu jeito de viver. São iguais a estes
sem-terra que servem de massa de manobra pra revolucionários e
picaretas. E estes fazendeiros não são melhores. Gente ignorante,
caipiras sem noção.
Paulo
ficou quieto, aconchegou-se no banco e continuou avaliando a
paisagem.
Alguns
quilômetros depois, avistaram um posto de gasolina no meio do nada.
Janaina reduziu a velocidade e pegou a entrada com o intuito de tomar
uma Coca-Cola gelada e comprar cigarros. O posto parecia passar por
maus bocados. Um pequeno prédio com uma borracharia imunda e uma
minúscula conveniência que parecia dotada de pouquíssimas opções.
Estacionaram o carro em frente à conveniência e saltaram. Um velho,
sentado na porta, fumava um cigarro de palha. Paulo e Janaina lhe
desejaram um bom dia e receberam de troco um sorriso que revelava uma
boca sem dentes, repleta de marcas de nicotina. Na conveniência, uma
jovem obesa de traços mestiços assistia a um programa de auditório
onde um homem engravatado, acompanhado por uma mulher vestida de
girafa, fazia sorteios para os telespectadores com um sorriso
estampado no rosto.
“Deputado,
o senhor é um paaaaaaiiiiiiiiiiiii!!!”, berrava a mulher-girafa
enquanto o apresentador atendia telefonemas e distribuía jogos de
potes de plástico para donas de casa entediadas.
Paulo
abriu um refrigerador manchado de gordura e procurou por uma Coca
Zero. Não havia. Optou por uma Coca normal e uma água com gás
enquanto Janaina pedia um Marlboro. A jovem levantou-se para
atendê-la e, ao encarar os dois, revelou uma profunda cicatriz que
lhe dividia a face em duas. O talho antigo começava no couro
cabeludo, descia pela testa e cruzava o olho direito, que não
passava de uma órbita vazia. Janaina deu um passo atrás, chocada.
Respirou profundamente tentando disfarçar o choque, pagou o cigarro
e as bebidas e saiu da conveniência. Paulo revezava o olhar entre a
jovem deformada e a pequena TV. Percebeu que moscas zumbiam sobre a
cabeça da mestiça enquanto o apresentador da TV urrava uma
gargalhada histérica.
Entraram
no carro e ambos abriram suas bebidas.
Paulo
deu um longo gole na Coca e observou, ao lado de fora, o caipira
chupando seu cigarro de palha. O velho lhe retribuiu o olhar, mas
desta vez não havia sorriso algum, apenas uma expressão vazia.
–
Vamos nessa? – Sugeriu, um
tanto desconfortável.
Janaina
parecia absorta. Deu um gole em sua água com gás, depositou a
garrafa no aparador central do carro e pegou a estrada novamente. No
horizonte, uma formação pesada assegurava que o céu azul estava
com as horas contadas. O sol já iniciava a sua viagem ao poente
enquanto a estrada continuava cortando as extensas plantações.
Paulo
abriu o porta-luvas e pegou uma caixinha de metal. Abriu-a com
habilidade e sacou um punhado de erva. Do bolso da camisa pegou um
pacote de seda e começou a enrolar um baseado. No rádio, o
noticiário dera lugar a uma dupla que gritava com vozes esganiçadas
sobre uma paixão mal resolvida. Paulo acendeu o bagulho, deu uma
tragada profunda e desligou o som.
–
Quer um tapa, Jana? – Perguntou
oferecendo o cigarrinho à mulher.
–
Tô dirigindo. Fica ligado aí,
ok? Só o que me falta é ser parada pela Polícia Rodoviária e você
mandar um bafo de maconha na cara dos policiais…
–
Na última hora passamos apenas
por caminhões. Fica tranquila. – Disse Paulo, enquanto olhava o
retrovisor, por via das dúvidas.
-
Os
três silos surgiram ao longe. Três monstros de metal contra o
entardecer. Paulo imaginou-os como imensos cata-ventos quixotescos e
viu-se em um cavalo robusto, protegido por uma armadura de metal,
cavalgando com uma lança em punho contra os dragões. Os olhos,
semicerrados, construíam em sua mente a imagem heroica de sua
aproximação. A lança, erguida, baixava-se lentamente para rasgar o
ventre de uma das criaturas que, ameaçada, preparava seu sopro de
fogo.
–
Você está rindo de que, idiota?
– Janaina o olhava de lado, enquanto dirigia.
–
O que? – Balbuciou Paulo,
saindo do transe. Aquele bagulho era bom. Havia pego umas 10 gramas
em Sampa e escondera a maior parte bem fundo de uma das muitas malas
que abarrotavam o carro.
–
Você está com um risinho
estúpido na cara. Melhor parar de fumar esta porcaria. - Aconselhou
com aquele tom de sarcasmo que Paulo odiava.
“Ah
vá te foder”, pensou, enquanto abria a garrafa de água e bebia um
gole.
Os
silos se aproximavam rapidamente. Erguiam-se ao lado de uma estrada
secundária que deixava a autopista e se embrenhava na soja
perdendo-se de vista. Um punhado de árvores formava uma compacta
massa verde do outro lado da pista, a cerca de 100 metros da estrada.
Estava abafado e as nuvens avançavam prometendo uma tempestade das
boas.
–
Para aí, quero mijar. – Pediu
Paulo.
Janaina
deu um suspiro e aproximou o carro dos silos, sendo engolida pelas
três sombras que se alongavam. Os silos pareciam estar abandonados
há tempos. Marcas de ferrugem subiam pelas estruturas como
trepadeiras doentes, deixando um rastro vermelho-ocre. Um odor de
corrosão e água estagnada pairava no ar. Paulo abriu a porta e
saltou. Caminhou até o silo mais próximo e contornou-o em busca de
privacidade. Apesar dos dez anos de casado, não conseguia urinar na
frente da esposa. Este negócio de “cagar de porta aberta” não
era para ele. Janaina era mais descolada e fazia pouco da timidez do
marido. Era mais um motivo de galhofa para ela.
Os
silos tinham pelo menos 15 metros de altura e sua circunferência era
maior do que aparentava. Paulo olhou para trás e encarou Janaina, ao
volante. Ela fez um sinal de pressa. Ele deu mais alguns passos
saindo de vista e deparou-se com uma escada que levava até um
patamar a meia altura, onde uma porta de metal semiaberta rangia com
o vento. O local era bom como qualquer outro para esvaziar a bexiga.
Paulo começou a urinar enquanto observava a porta, que abria
lentamente e fechava, lançando ao ar um som de coisas velhas.
Enquanto urinava, Paulo observava o vão da porta. Uma tontura o fez
balançar de um lado para o outro, a urina manchando sua calça e o
tênis.
–
Porra, caceta. – murmurou.
Baixou a cabeça e retomou o equilíbrio. Fechou a braguilha.
Preparava-se para voltar quando foi atraído novamente para a porta
que rangia no alto. Olhou para a escada e então julgou ouvir um
barulho, uma voz que vinha do silo, da porta? Caminhou em direção a
escada, pôs a mão no corrimão mas, então, desistiu. – Porra de
maconha forte. – pensou, enquanto dava as costas ao silo. Mas
então, nitidamente, uma voz de criança pairou no ar. Um lamento
baixo.
Paulo
olhou para cima e se aproximou da escada. Pensou em voltar ao carro,
mas a curiosidade, como sempre, está pronta para matar o gato. Subiu
a escada lentamente. Os degraus rangendo sob seus pés. Nuvens de
ferrugem caiam como uma nuvem tóxica. Conforme subia os degraus que
contornavam aquele trecho do silo, Paulo aguçava os ouvidos, seus
olhos fixos no vão da porta que, como uma boca escancarada, abria e
fechava revelando escuridão. Ao chegar no patamar percebeu que a
porta possuía uma pequena escotilha. Encostou o rosto no vidro
embaçado e sentiu-se como num submarino submerso. Não viu
absolutamente nada. Mas, ouviu o ronco de alguns motores potentes.
Olhou ao redor, de cima da escada, e percebeu duas camionetes
cortando a pequena trilha entre a soja. Dirigiam-se velozmente em
direção aos silos.
Paulo
aprumou-se para descer e, ao virar novamente para a escotilha,
deparou-se com um rosto que o encarava a menos de 5 centímetros de
distância. Ele soltou um grito, deu um passo atrás e rompeu a guia
de proteção da escada. Quando seu corpo lançou-se no vazio, teve a
certeza de que morreria. Pode construir em menos de um segundo a
história do fim de sua vida. Pensou no apresentador do programa de
auditório anunciando entre sorrisos, abraçado a mulher girafa:
“Jornalista de São Paulo morre ao cair de um silo. Que merda ele
foi fazer lá em cima?”. Um reflexo primevo fez com que ele
tentasse se agarrar a qualquer coisa. Esticou o braço tentando um
apoio e sua camisa se engalfinhou em um pedaço da guia diminuindo o
ímpeto da queda e dando-lhe a chance de se agarrar a um degrau.
Ficou ali pendurado por alguns segundos, sem fôlego para gritar.
Estava a cerca de 7 metros de altura. Perdia as forças, iria cair.
A
porta, então, abriu-se lentamente e uma jovem índia, não mais do
que 14 anos, surgiu da escuridão. Estava suja. Sangue seco se
espalhava pelo seu rosto. Esticou o braço e agarrou Paulo de modo
que ele pudesse se erguer um pouco e escalar um degrau. Sentado no
alto da escada, ele recobrou o fôlego enquanto a jovem tentava se
esconder novamente no silo. Ele a segurou pela mão.
–
Obrigado, muito obrigado.
Caramba, você me salvou mesmo.
Ela
o olhava sem compreender e puxou o braço com força tentando entrar
no silo. No mesmo instante as camionetes surgiram logo abaixo. Dois
homens saltaram da caçamba de uma delas. Um deles, gordo, o cabelo
suado grudado na testa. O outro, magro, com uma barba cerrada,
empunhava uma espingarda sob a axila direita.
Da
outra camionete, um casal havia acabado de desembarcar. A mulher
usava uma blusa creme para dentro da calça, adornada por um cinto
largo. Calçava botas de cano alto e segurava um chicote. O homem,
mais velho, vestia camisa branca de botão, calça jeans, cinto
largo, botas e um chapéu que lhe dava um ar de pistoleiro de
faroeste italiano. Na cintura, uma pistola descansava em um coldre.
–
Que porra é essa – pensou
Paulo. – Isso aqui é o velho oeste?
A
mulher deu um passo à frente.
–
Desce já daí sua biscatinha.
Desce agora ou eu a gente vai meter bala em você.
A
jovem escondeu-se atrás de Paulo. Seu corpo tremia violentamente e
ela emitia um gemido baixo, constante.
–
Peraí pessoal, o que que tá
acontecendo? O que foi que ela fez? Vamos resolver isso com calma? –
ponderou Paulo, embora seus instintos lhe dissessem claramente que a
situação não seria resolvida apenas com bom senso.
A
mulher se adiantou ao grupo, estava possessa.
–
Desce agora sua vaca! Vamos te
levar pra polícia. Ladrazinha filha da puta!
–
É – reforçou o capanga com a
espingarda, um tom de sarcasmo na voz – vamos te levar para a
polícia…
Paulo
olhou para a menina, seu rosto era a expressão de um pavor profundo,
mas, ao mesmo tempo, seus olhos transmitiam uma compreensão
assustadora, uma aceitação sobre o devir que deixou Paulo atônito.
Ele tentou falar algo, mas a menina simplesmente apertou sua mão e
começou a descer a escada. Ele fico ali, aturdido, e só voltou a si
quando Janaina surgiu detrás do silo. As mãos na cintura, olhando
estupefata para a cena que se descortinava.
–
Ai caralho! Que merda é esta
agora?
O
homem de camisa branca virou-se para ela e retrucou como quem dá um
bom conselho a um amigo.
–
Moça, é melhor a senhora entrar
no seu carro com seu namoradinho. As coisas podem ficar feias aqui.
Não gostamos nada de gente que se mete em nossas coisas. Peguem seu
carro e sigam a estrada.
A
menina já chegava ao meio da escada quando Paulo começou a descida.
No mesmo momento Janaina olhou para o velho e, com uma expressão de
incredulidade, respondeu.
–
Com quem o senhor pensa que está
falando? Vá dar ordens para as suas negas, seu caipira.
O
tapa pegou-a de surpresa. O velho, apesar da idade, era rápido. A
mão pesada acertou-a com força na face esquerda fazendo sua cabeça
girar. Ela caiu de joelhos, as mãos no rosto, emitindo um grunhido
de dor. Não teve tempo de se levantar. A mulher correu em sua
direção, aplicando chicotadas em suas costas enquanto gritava.
–
Sua piranha metida, some daqui,
não se mete com a gente não!
Janaina
tentava se proteger das chibatadas e se arrastava de quatro rumo ao
carro.
Paulo
correu pela escada e alcançou o chão no momento em que o gordo
pegava a menina pelo braço e a levava truculentamente para uma das
camionetes. Ele correu em direção a Janaina, mas o barbudo se
adiantara aplicando-lhe um violento golpe com a coronha da
espingarda.
-
Manchas
negras surgiram como nuvens em um céu pesado. Luzes multicoloridas
espocavam em suas pálpebras fechadas. Ele tentou abrir os olhos, mas
uma explosão de dor fez com que ficasse quieto. Sentia a chuva forte
empapando seu corpo. A face direita em contato com a terra úmida.
Lentamente tentou abrir os olhos e, apesar da dor, conseguiu que seu
olho esquerdo funcionasse. Primeiro viu a lama encostada na sua boca.
Os pingos explodindo no chão como um bombardeio contínuo. A boca
seca sugou uma mistura de lama e água de chuva. Ele tentou erguer o
tronco, mas desabou novamente. Tentou gritar, mas sentiu apenas uma
dor excruciante no maxilar. Sentiu o mundo rodar à sua volta.
Quando
voltou a si novamente, uma chuva fina caía de um céu de chumbo. Ele
se sentou e olhou à volta. Estava sob o velho silo. Ficou de quatro
e levantou-se lentamente. Seu rosto explodia em agonia, sentia como
se mil agulhas espetassem sua pele. Pôs a mão direita no rosto e
sentiu no mesmo momento que seu maxilar estava quebrado. A língua
percorreu o espaço conhecido e descobriu que faltavam alguns dentes.
Ele caminhou lentamente dando a volta no silo, em direção ao carro.
A
noite caíra e ele tentava acostumar os olhos inchados à escuridão
e ao véu chuvoso que desabava. O carro estava estacionado no mesmo
lugar. Ele se aproximou da porta do carona percebendo que não havia
ninguém. Janaina não estava ali. Sua mente começou a reconstruir
as últimas horas. O silo, a porta suspensa, a menina, os caipiras
armados. Um medo antigo se apoderou dele. Começou a andar à volta
do carro em busca da esposa. Tentava gritar seu nome, mas a boca
destruída impedia qualquer som. Tropeçou em uma pedra e caiu.
Levantou-se, encharcado, coberto de lama e sangue. Gemia um grito
surdo, que subia de sua garganta.
Ele
caminhou em direção aos silos, embrenhando-se entre os três
gigantes de metal. Deparou-se com uma blusa no chão. A blusa de
Janaina. Avançou aos tropeços pela terra encharcada. Protegeu os
olhos com as mãos trêmulas e olhou em volta em busca de uma pista.
Percebeu logo a frente uma depressão na plantação de soja.
Apressou o passo deixando os silos para trás e esmagando as plantas
com seu tênis da moda.
A
50 metros dos silos encontrou o corpo de Janaina. Estava despida, as
pernas escancaradas em uma posição obscena. Entre as coxas brancas,
sangue e lama. O rosto estava desfigurado por um disparo a queima
roupa. Os braços abertos terminavam em garras retorcidas, como se
ela tentasse agarrar o ar com as unhas.
Paulo
ficou ali parado por alguns segundos. A boca aberta tentava sugar um
pouco de ar e, também, expulsar o grito que surgia em seu peito. Ele
veio como um gemido baixo, subiu pelo estômago e se instalou em sua
garganta. Finalmente, ganhou vida. Um lamento inumano que reverberou
pela soja.
Ele
caminhou rumo ao carro em estado de transe. Sentou-se ao volante e
apagou. Quando acordou novamente a chuva ainda caía. Ele se lembrou
do celular em seu bolso. Sacou-o da calça molhada e olhou a tela
opaca. A chuva o havia destruído.
Ligou
o rádio. Um sertanejo universitário lamentava.
Não
mudei de cidade, nem de telefone
Só escolhi ser feliz
Mesmo endereço, o mesmo apartamento
Em frente à igreja matriz
Por isso todo mundo passa
E quem nunca passou, vai passar
Já tô dizendo aos meus amigos
Calma que eu não vou pirar
Já pirei!
Só escolhi ser feliz
Mesmo endereço, o mesmo apartamento
Em frente à igreja matriz
Por isso todo mundo passa
E quem nunca passou, vai passar
Já tô dizendo aos meus amigos
Calma que eu não vou pirar
Já pirei!
Ficou
ali escutando a chuva e a música. Olhou para a ignição. A chave
estava ali. Ligou o carro com a certeza de que ele não pegaria.
Pegou. Ele fez uma volta olhando para os silos, pegou a estrada e
seguiu em frente.
A
chuva começava a apertar, tornando a visibilidade difícil. Ele
acelerou o carro na esperança de topar com um caminhão encostado.
Queria seguir em frente, mas também queria morrer. Acelerou naquela
reta interminável, os para-brisas girando enlouquecidos. Aumentou o
som e Luan Santana apertou seus miolos. Duzentos metros depois
percebeu à esquerda a entrada que levava para a sua nova vida, uma
estradinha de terra esburacada protegida por uma porteira velha. Ao
longe, uma cocheira assomava sobre um pasto largo onde algumas vacas
mirradas andavam ao léu sob a tempestade. Passou voado deixando para
trás as esperanças de futuro.
Alguns
quilômetros depois avistou um acampamento na beira da estrada.
Barracas de plástico preto se estendiam, esmagadas entre uma cerca e
o asfalto vagabundo. Ele diminuiu a velocidade. Um cachorro
espreitava da entrada de uma das habitações improvisadas. Ele parou
o carro, deixando o motor ligado. Baixou a janela do carona e olhou
para a fresta que servia de entrada ao barraco. Uma velha surgiu. Sua
pele frouxa formava pequenas cascatas no rosto enrugado. Na cabeça,
uma touca de pano. Um vestido barato lhe cobria até os joelhos
magros. Com um toque do pé ela pôs o cão para dentro. Olhou a
máscara de morte que a encarava de dentro do veículo.
Silenciosamente a velha apontou o braço para frente, como se
indicasse o caminho. Ficou assim, apontando aquele dedo esquálido,
mesmo enquanto Paulo se afastava acelerando pela estrada escura.
A
noite caíra sobre o Mato Grosso do Sul. Uma mistura de negrume e
grafite. Os quilômetros se passaram lentamente enquanto Paulo olhava
a estrada que se descortinava a sua frente. Passou por uma entrada de
terra batida, onde uma porteira ostentava como troféu uma placa onde
se lia: Fazenda Bom Coração. Paulo freou bruscamente. O carro
aquaplanou e rodou na pista enquanto ele se agarrava ao volante. O
veículo havia morrido, atravessado na estrada. Ele olhou de um lado
a outro, esperando que o destino cumprisse seu papel. Mas a pista
continuava vazia. Ligou o carro novamente e dirigiu-se para a
porteira. Saltou e percebeu que bastava levantar uma trava para
abri-la. Fez isso, entrou no carro e pegou a estrada de terra que
cruzava extensas porções do Brasil.
Percorreu
alguns quilômetros. Por entre a nuvem de chuva percebeu algumas
edificações espalhadas a direita e a esquerda da estrada. Parou o
carro. Saltou novamente e continuou caminhando. Finalmente, avistou
uma segunda porteira e, há cerca de 200 metros, uma casa larga, de
dois andares, ladeada por construções menores e frondosas
mangueiras.
Ele
pulou a porteira e prosseguiu. Reconheceu a camionete estacionada na
frente da casa principal. Era aquela de onde desembarcam o velho e a
mulher. Olhou pelo vidro do motorista, tentou abrir a porta. Estava
trancada.
Escondida
atrás de algumas árvores, uma edificação assomava na escuridão.
Paulo se aproximou. Havia um grande trator estacionado ao lado do que
parecia ser um galpão de trabalho. Ele caminhou sob a garoa intensa,
contornou o trator e olhou através da janela do que se revelou um
alojamento. No interior, viu o gordo estirado em uma cama de
campanha. Estava de cuecas e vestia uma camisa branca. Ao seu lado,
outra cama aguardava alguém. Restos de jornal se espalhavam pelo
chão e uma cômoda alquebrada oferecia três gavetas semiabertas e
repletas de trapos. Sobre uma mesa de madeira, restos de um lanche
serviam de repasto a duas baratas negras. Paulo avançou mais alguns
metros pela lateral do alojamento e repousou a mão sobre a maçaneta
da porta. Sua sombra engolfou o ambiente quando ele entrou.
Prosseguiu em direção ao homem que dormia, tranquilo. Ao passar por
uma prateleira de ferro, Paulo encontrou alguns espetos de churrasco.
Pegou um deles e o empunhou como uma espada. Então, acercou-se da
cama lentamente, observando o rosto do empregado que ressonava. Viu a
boca mole que tremia a cada respiração, a barba por fazer, restos
de pão no queixo suíno. Levantou o espeto com as duas mãos como um
padre com o cálice da comunhão. Uma fração antes do golpe o gordo
despertou, alertado por um destes instintos que nos confirma na
condição de animais selvagens. O espeto desceu como um raio
transpassando o peito flácido.
Paulo
sentou-se à mesa. Um safanão lançou ao chão as baratas e as
migalhas de pão. Olhou o pote de margarina e a faca pontiaguda ao
seu lado. Encontrou um maço de cigarros e um isqueiro. Fumou
tranquilamente. Na cama, o corpo do gordo descansava, o braço
esquerdo pendurado como um pernil. No pulso, um relógio digital
barato. Paulo se levantou, retirou o relógio do corpo, afivelou-o em
seu próprio pulso e acomodou na cama o braço do homem morto. Puxou
o espeto do tórax e cobriu o corpo com um cobertor velho. Sentou-se
novamente e esperou.
Uma
coruja insistia em piar nas imediações. Paulo imaginou-a escondida
da chuva em algum buraco no telhado do alojamento. Estava sentado em
uma cadeira de madeira e olhava a casa principal pela janela. O
reflexo de seu rosto, deformado pela fratura, hipnotizava-o. Havia
permanecido ali por cerca de uma hora quando um facho de luz surgiu
na escuridão da estrada de terra. Uma camionete se aproximava. Ele
aguardou que o barbudo estacionasse nas proximidades do galpão.
O
homem entrou no alojamento. Limpou a lama dos pés no capacho e
pendurou a jaqueta em um gancho na parede. Sentou-se na cadeira de
madeira e serviu a si mesmo um copo de água de uma moringa. Bebeu.
Serviu-se de novo e afogou a ressaca. Soltou um arroto grave. Olhou
para o gordo, que parecia dormir tranquilamente. Levantou-se,
preguiçoso, pôs as mãos nas costas e alongou a espinha. Olhou a
guimba de cigarro sobre a mesa. Olhou novamente o gordo. Então
caminhou para o pequeno banheiro. Abriu a porta encontrando um
negrume profundo. Tateou em busca do interruptor. Sentiu a faca
penetrando sua jugular. Um esguicho de sangue espesso imediatamente
saltou do ferimento. Cambaleou de volta ao quarto colocando as duas
mãos sobre a ferida profunda, tropeçou em uma cadeira e caiu no
chão no momento em que uma sombra surgia da escuridão do banheiro.
Paulo acompanhou o sangramento e as tentativas infrutíferas do homem
de estancá-lo. Quando o barbudo perdeu os sentidos sob a poça de
sangue, saiu pela porta, para a chuva morna.
Paulo
percebeu a sua esquerda, entre o alojamento e a casa grande, um
pequeno canteiro de obras. Estavam pavimentando uma área,
provavelmente para servir de estacionamento. Foi até lá. No chão,
uma pá é uma picareta. Escolheu a pá.
Caminhou
até a ampla varanda aberta da casa. De uma das janelas, o tremeluzir
azulado de uma televisão se projetava maculando a escuridão.
Aproximou-se
lentamente. Olhou para dentro da casa. Viu uma sala decorada com mau
gosto. Havia estantes com bugigangas variadas. Um sofá ocupava parte
do ambiente, de costas para a janela e de frente para uma grande
televisão. Nele, percebeu a silhueta de um homem. Na tela da TV,
homens em um galpão apontavam armas uns contra os outros. Paulo deu
a volta na varanda e dirigiu-se para os fundos da casa. Olhou por uma
janela e identificou uma cozinha. Em seguida encontrou uma porta
fechada. Tentou a maçaneta. A porta se abriu.
Caminhou
pela cozinha lentamente, a pá em sua mão direita quase se arrastava
pelo chão. Foi avançando e deixando para trás um rastro de lama.
Passou por um fogão moderno. Abriu a porta da geladeira. Havia
restos de frango assado. Uma tigela de salada. Pegou uma garrafa de
água e tentou beber no gargalo. Não conseguiu. Sua boca não
existia mais. Deixou cair o líquido direto na garganta. Se engasgou,
tossiu levemente. Pôs a garrafa de volta na geladeira e saiu da
cozinha.
Encontrou
um corredor comprido ladeado por várias portas. No meio da passagem,
à esquerda, uma escada levava ao segundo andar. Na frente da escada,
uma porta entreaberta trazia novamente a luz da TV. Enquanto
caminhava, ouviu os gritos e disparos provenientes do programa que o
homem assistia. Ao chegar na interseção entre a escada e a sala da
TV Paulo percebeu um espelho pendurado à esquerda. Olhou. Não
reconheceu a imagem refletida. Um monstro tirado de filmes B se
apresentava a ele. Um zumbi de seriados. A boca pendurada, o queixo
disforme. Seus cabelos molhados escorriam pela face inchada. Ele
sorriu.
Paulo
abriu a porta de supetão. O homem, em um primeiro momento, não
compreendeu o que via. Então, levantou-se rapidamente e correu para
uma escrivaninha que ladeava uma porta de aparência robusta. Paulo
adiantou-se, a pá levantada na altura da cabeça desceu
violentamente acertando o homem no topo do crânio. Um estalo seco.
Um dos olhos do velho saltou da órbita enquanto ele desabava
pesadamente ao chão. Estava de pijama. Um dos chinelos que calçava
voara de seu pé com a força do impacto e repousava tranquilamente
ao seu lado. Paulo caminhou e olhou o homem no chão. Sua boca tremia
convulsivamente. Tentava dizer algo. A pá desceu novamente com
força.
Paulo
saiu da sala rumo ao corredor. A escada escura assomava a sua frente.
Deu um passo, e depois outro. A pá batia nos degraus conforme ele se
dirigia a um patamar que se dobrava revelando mais uma sequência da
escada que terminava em um outro corredor escuro.
Péin,
péin, péin, fazia a pá chocando-se contra os degraus.
Ao
chegar ao corredor do segundo andar Paulo parou na escuridão. Havia
portas de ambos os lados. Ele escolheu o lado esquerdo e caminhou até
uma porta de madeira laqueada. Colou o ouvido ali. Silêncio.
Ele
bateu lentamente na porta. Três toques secos. Uma visita amigável
que chega na madrugada. Ouviu um ruído. Silêncio. Bateu novamente
como quem diz “Olá, cheguei…”.
Uma
respiração pesada sussurrava do outro lado. Ele encostou o rosto
ali, fechou os olhos por alguns momentos. Colocou a mão da maçaneta
e girou. Alguém imediatamente fez força do outro lado da porta. Ele
ouviu um gemido de medo. Os dois lutaram por alguns instantes. Então,
ele se afastou e projetou a sola do pé direito no meio da porta com
toda a força que encontrou. A porta se escancarou com violência,
acertando a testa da mulher do outro lado. Ela foi lançada ao chão,
aos pés de uma grande cama de casal. Paulo entrou mancando. Algo
estalara em seu joelho. A mulher se levantou rapidamente gritando de
pavor. Ele tentou alcançá-la mas ela subiu na cama rolando para o
lado. Caiu sobre uma mesinha de cabeceira derrubando um pequeno
abajur e um copo de água. Paulo mancou em sua direção enquanto ela
abria a gaveta da escrivaninha.
A
mulher havia sacado uma pistola da cabeceira e tentava
desesperadamente encaixar na coronha um pente de balas. Paulo se
aproximou e enquanto ela levantava a arma em sua direção atingiu-a
com a parte afiada da pá bem no meio da boca. A ferramenta quase
dividiu sua cabeça ao meio. Seus olhos se arregalaram com surpresa e
congelaram. O corpo foi ao chão. Paulo levantou a pá e continuou
golpeando até que tudo que restou foi uma massa disforme.
Então,
deitou-se na cama e dormiu.
-
Uma voz irritada parecia soar no
vazio. Era um eco distante que ressoava no vácuo e entrava por seus
ouvidos de forma irritante. Ele abriu os olhos lentamente e viu as
nuvens pesadas correrem em time-lapse. Um pássaro cruzou o céu.
Então o volume da voz aumentou exponencialmente, as cores surgiram
mais nítidas e o foco de sua visão se ajustou revelando a face de
Janaina. Ela estava debruçada sobre ele.
–
Seu idiota, acorda, porra! Ai meu
Deus, você tá vivo. Porra, que susto. Paulo, você tá me ouvindo?
Ele
tentou se levantar, mas ela o manteve no chão.
Então,
sentiu uma dor terrível despertar-lhe os sentidos. Levou a mão ao
rosto.
–
Você quebrou o maxilar quando
caiu da escada. Não mexe aí não. Tá feito demais, mas vai ficar
tudo bem. Seu burro, seu imbecil! Como foi que você caiu desta
escada? O que você foi fazer lá em cima, seu maconheiro
imprestável?
Paulo
tentou rir, mas a dor manteve sua face em um esgar estranho. Ele
tossiu e num impulso puxou Janaina contra o peito. Ela o abraçou com
cuidado.
–
Não se mexe muito. A gente não
sabe se tem algum ferimento interno. Já chamei a polícia, estão
mandando uma ambulância. Você quebrou o joelho também, eu acho.
A
dor fazia sua mente rodar. Ele tentou falar algo, mas os sons que
surgiam eram inteligíveis.
–
A mengigiaa... a mengigia
idiaaaa...
–
Que?
–
A mengigiaa idia… Os
fagendegoss.
–
O que? Cala boca, Paulo. Fica
quieto. Você subiu nesta escada e de alguma forma despencou lá de
cima. Olha lá, tá vendo um pedaço da sua camisa agarrado na ponta
daquele ferro? O que você foi fazer lá em cima?
Ele
olhou para a escada e para a proteção rompida no patamar superior.
Uma manga de sua camisa havia ficado pendurada em uma ponta afiada.
Balançava ao vento como um pássaro louco. Ele não compreendeu de
início. Olhou para Janaina, tentou falar, mas a dor era
insuportável.
Virou
a cabeça de lado e uma lágrima fina correu por sua face. Janaina
olhou contrariada, pronta a aplicar-lhe mais uma descompostura. Mas
então percebeu algo. A dor de Paulo não era apenas física. Havia
algo ali, naqueles olhos mareados. Uma desesperança profunda que ela
não havia se permitido observar antes. Um desconforto com a vida,
com o mundo do jeito que ele estava. Um vazio que não deveria
preencher ninguém. Em um momento fugaz ela percebeu o quanto amava
aquele cara estendido no chão, cheio de defeitos, repleto de
inseguranças. Tão sozinho, tão fechado em suas próprias fantasias
infantis, mas tão amado.
Ela
sentou-se ao seu lado e apoiou a cabeça de Paulo em seu colo,
acariciando seus cabelos. Não disseram mais nada.
Pouco
depois ouviram as sirenes na estrada. Um carro da polícia surgiu
primeiro e, logo depois, uma ambulância do SAMU. Os paramédicos
afastaram Janaina e começaram a aplicar os primeiros socorros em
Paulo.
–
O que houve, senhora? –
Perguntou um policial enfastiado.
Janaina
explicou o que havia ocorrido. Paulo foi dar uma mijada, subiu na
escada do silo para ter um panorama da vista a sua volta, e
despencara lá de cima.
–
Teve sorte de não ter morrido.
Saiu no lucro com duas fraturas. – Disse o policial.
Janaina
assentiu.
Os
paramédicos colocaram Paulo em uma maca. Levantaram-na no ar e
começaram a caminhar em direção a ambulância. Cada sacolejar
fazia Paulo gemer de dor. Ele olhou para o céu que se fechava em um
prenúncio de chuva. As primeiras gotas finas começavam a cair
acariciando seu rosto.
Olhou
para os silos que se afastavam lentamente, três dragões colossais
eretos na floresta de soja que se estendia mundo afora.
Olhou
a escada que serpenteava em volta do primeiro silo e para o patamar
de ferro com a guarda rompida, de onde, de alguma forma, ele havia
saltado para um voo não programado.
Então
olhou para a porta semiaberta que balançava lentamente ao vento em
um vai e vem irreal. Apertou os olhos e tentou falar algo, tentou
apontar o dedo para a porta.
Um grito mudo eclodiu em sua boca
enquanto ele olhava o rosto da jovem que o observava da escotilha
embaçada.
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