Alas Babylon,
de Pat Frank – cuja leitura conclui recentemente – faz parte de um gênero
literário que muito me atrai: o pós-apocalítico. O livro, um dos primeiros a
abordar a possibilidade de uma catástrofe nuclear, foi escrito em 1959, nos
anos duros da Guerra Fria, quando a possibilidade de um conflito nuclear entre
Estados Unidos e União Soviética era uma realidade. Alas Babylon é considerado
um clássico da literatura pós-apocalíptica, retratando – de forma romântica no
que se refere as consequências reais de um ataque nuclear – o dia a dia de um
grupo de sobreviventes em uma pequena cidade dos Estados Unidos.
A literatura
pós-apocalíptica fica em algum lugar entre a ficção científica e a literatura
de horror. A incógnita do “fim” é um motivo artístico frequente. Ao longo dos
séculos, foram muitas as sociedades que procuraram antecipar o final dos tempos,
aproveitando para apontar certos rumos e inovações como perigos letais para a
humanidade. O romance pós-apocalíptico apresenta, contudo, uma pequena variação
à fórmula, na medida em que o fim (ainda) não é realmente o fim. As narrativas
acompanham geralmente um indivíduo ou grupo de sobreviventes a uma qualquer
catástrofe global, pelo que, na maior parte dos casos, ainda existe esperança,
por mínima que seja, de que o planeta recupere e conheça um novo início. Mary
Shelley, autora do eterno Frankenstein, é
apontada como a responsável por abrir o gênero com a publicação de The Last Man, em 1826, apresentando uma sociedade
condenada pela peste. O livro foi fortemente censurado e apelidado de “cruel” e
“doentio” pela crítica da época.
Depois de
Shelley, e principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o conflito
ideológico entre Estados Unidos e União Soviética e a constante ameaça de
ataques nucleares – e eventuais doenças e mutações que daí pudessem resultar –
estavam na ordem do dia, muitos escritores refugiaram-se na escrita de textos
pós-apocalípticos. Em The Day of the Triffids,
uma das principais obras do género, John Wyndham descreve o colapso da
civilização como aparente resultado do deficiente manuseamento de uma única
arma. Richard Matheson, por sua vez, inspira gerações com o influente Eu Sou a Lenda, protagonizado pelo único sobrevivente
de uma epidemia global provocada pela guerra. Walter M. Miller imagina, em Um
Cântico a Leibowitz, a tentativa de reconstrução do mundo
após uma devastadora guerra nuclear. Stephen King solta, em A Dança da Morte,
um vírus que aniquila 99,4% da população mundial. E até José Saramago se lança
no género, cegando a maior parte do mundo no seu célebre Ensaio sobre a Cegueira
O interesse por
cenários pós-apocalípticos não esmoreceu com a entrada no século XX. Até pelo
contrário. No entanto, as catástrofes passaram a ter outras razões. Em Órix e Crex – O Último Homem e O Ano do Dilúvio, de Margaret Atwood, são as
experiências genéticas que levam ao desastre. O apocalipse zombie é
outro dos motivos mais frequentes de desastre, quer os mortos se ergam das
campas (como em The Walking Dead, de Robert
Kirkman) ou os vivos se deixem contaminar por estranhas pragas (como em Guerra Mundial Z, de Max Brooks). E, por vezes, os
sobreviventes nem sequer percebem o que lhes aconteceu. Em O Mundo Depois do Fim, de Tom Perrotta, os vários
membros de uma família procuram retomar a vida após o súbito e inexplicado
desaparecimento de milhões de pessoas. Também A Estrada, de Cormac McCarthy, não esclarece o
desastre que levou o mundo a tornar-se um deserto devastado, repleto de cinza,
onde um pai e um filho ainda tentam sobreviver. Porque, neste género, mais
importante do que a causa é a reação de pessoas aparentemente normais a
situações aparentemente insuportáveis.
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Se quer saber o
que venho lendo desde 2009, confira o link a seguir. Lá você confere
minha lista de leituras e algumas resenhas mais aprofundadas. - http://tinyurl.com/ny6cjfw
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