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quinta-feira, 1 de junho de 2006

Marisa Serrano 25/02/07

Publicada no dia 25/02/07 no jornal A Crítica

Marisa: “É hora do PSDB unir forças”

Victor Barone

Primeira senadora eleita pelo Mato Grosso do Sul, a tucana Marisa Serrano assumiu a responsabilidade - ao lado do deputado José Aníbal (PSDB-SP) - de organizar o Congresso do partido, que acontece em setembro e que servirá como uma ante-sala para a Convenção Nacional tucana, em novembro. A responsabilidade de trabalhar nos eventos que devem moldar o futuro do partido coloca Marisa em patamar de destaque no cenário nacional. Foi sobre esse e outros assuntos que a senadora Marisa Serrano tratou com a reportagem de A Crítica em entrevista exclusiva concedida em seu escritório em Campo Grande.

Senadora, para onde caminha o PSDB?
Essa pergunta só vou poder responder com todas as letras em setembro, quando o partido realizará um congresso para se rediscutir desde a sua fundação. Vamos discutir as bandeiras do partido e as linhas programáticas para os próximos anos. A parte teórica ficou a cargo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já está trabalhando. Eu e o deputado José Aníbal (PSDB-SP) fomos destacados para ouvir e condensar as opiniões internas sobre o futuro do partido e organizar eventos de debates com a participação de sociais-democratas de outros países. Estabeleceremos um documento base para ser discutido com todo o partido. Acredito que este é o momento de o PSDB unir todas as forças, toda a militância, para debater, aprimorar.

A senhora compõe quatro importantes comissões no Senado (Meio Ambiente, Educação, Desenvolvimento Regional e Agricultura e Desenvolvimento Agrário). Dá tempo para tratar de tantos assuntos relevantes?
No Senado as comissões são separadas e divididas pelos senadores, não há como você não participar. É uma responsabilidade muito grande, muito importante para o nosso estado e para o País. Teremos que nos desdobrarmos para resolver esses problemas que estão no Congresso. Além disso, temos os problemas do nosso estado, do Centro-Oeste e as questões partidárias também.

O sonho de uma bancada do Centro-Oeste parece estar se concretizando. A senhora confirma?
É uma coisa inédita. Já realizamos uma reunião com os 12 senadores do Centro-Oeste e isso nunca foi feito antes. Os governadores estão acompanhando nosso trabalho e dando apoio. Nós fizemos um pacto, o de fecharmos questão e votarmos a favor do Centro-Oeste, isso nos dá uma força imensa. Portanto, esses senadores estarão atentos a tudo que diz respeito à nossa região.

Que questões específicas de Mato Grosso do Sul serão priorizadas por este bloco?
Em Mato Grosso do Sul o governador André Puccinelli conversou conosco e nos pediu atenção especial para as seguintes questões, que são vitais para o estado: asfaltamento da MS 40, que é muito importante para o escoamento da produção; asfaltamento da BR que liga Coxim a Alcinópolis, outra estrada vital que vai nos ajudar muito, pois a região é extremamente importante e produtiva e está carente de asfalto; o oleoduto, que é uma luta do governador, pois pode ser uma redenção para o nosso estado à medida que tem o diesel e a gasolina, importantes para a nossa indústria. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está no Congresso e somos nós que vamos votá-lo. Vamos emendar de acordo com os interesses do Centro-Oeste.

Diz-se que fomos o estado menos aquinhoado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo fato de que não havia projetos do Governo do Estado para serem analisados em Brasília. É verdade?
Não é verdade afirmar que todos os projetos do PAC foram feitos através de projetos estaduais. O Governo Federal alocou recursos naquilo que achou que deveria alocar. Não sei se tinha projeto ou não, mas se o Governo Federal quisesse teria alocado recursos para o nosso Estado, coisa que não fez. Um exemplo simples, as estradas: nenhuma verba para Mato Grosso do Sul. Tem para Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. Aeroportos: teve verba para Brasília, Cuiabá e Goiânia e nada para Campo Grande. Fomos a única capital que não teve nada na área aeroportuária e assim sucessivamente. Para nós houve uma grande discriminação.

A que a senhora atribui essa discriminação?
Por isso surgiu a história de que nós não tínhamos projetos. Não sei se é verdade. Uma discriminação do Governo Federal para com o André seria estranha, pois desde a campanha o PMDB vinha tendo atenção do PT nacional. Montaram um projeto nacional, um projeto que a ministra Dilma coloca como importante para todas as regiões, mas que não contempla o nosso estado. Por que motivo o ex-governador Zeca do PT não mandaria projetos para o Governo Federal, um governo do seu partido? Se não mandou seria uma vergonha, teríamos que apurar, porque seria uma afronta. Um ex-governador querer fazer revanche. Mas, um governador que teve dois mandatos fazer uma mesquinharia destas, abrindo mão de encaminhar projetos estruturantes para o seu estado porque o outro governo iria assumir é um absurdo, uma mesquinharia total, se for esta a verdade.

Senadora, a senhora integra em Mato Grosso do Sul uma coligação com o PMDB. Em contrapartida, no âmbito federal, o PMDB é parceiro do Governo Lula, a quem o PSDB faz ferrenha oposição. Isso cria algum tipo de problema na hora de costurar momentos positivos para o estado em Brasília?
Não. O governador sabe que na questão partidária o PSDB vai se colocar contra o Governo Lula. Mas em nenhum momento se ouviu algum dirigente do PSDB dizer que vamos votar contra o estado ou contra o país, o lema nacional do PSDB é “PSDB a favor do Brasil”. Vamos continuar apoiando tudo àquilo que for importante para o nosso estado e para o País. Agora, aquilo que estiver errado, que não estiver de acordo com o nosso pensamento, no que acreditamos ser o melhor para o Mato Grosso do Sul e para o Brasil nós vamos bater duro, votar contra e, se necessário, discutir, seja com o governador ou com o presidente da república. O governador André sabe que tem o nosso apoio em todas as questões de interesse de Mato Grosso do Sul. Mas há questões que são de interesse do Governo do Estado, mas que não são do interesse do partido ou não convergem ideologicamente comigo.

Por exemplo?
Por exemplo, nós vamos votar no Senado a divisão do bolo que compõe as verbas para a educação básica. Há uma divisão entre as três áreas da educação básica: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Os governadores haviam feito um pacto no ano passado que daria uma parcela maior das verbas para a educação infantil, um pouco mais para a fundamental e menos para o ensino médio. O que eles querem agora, capitaneados também pelo nosso governador André Puccinelli, é inverter o processo colocando uma fatia maior para o ensino médio (que é dos estados), diminuindo a fatia do ensino fundamental (que é privativa dos estados e municípios, mas que pesa mais sobre os municípios) e diminuir consideravelmente a fatia da educação infantil (que é só dos municípios), que é uma educação mais cara. Disse ao governador que sinto muito, mas neste assunto voto com os municípios. Os municípios já estão muito penalizados, não tem como imaginar que possamos penalizá-los mais só porque os governadores querem recursos. Em questões pontuais como esta talvez eu não possa votar a pedido do meu governador. Mas são questões pontuais.A educação sempre fez parte de sua agenda política.

O que pode ser feito de fato para otimizar a educação no Brasil?
É preciso vontade política em primeiro lugar. Todos os países que cresceram e se desenvolveram o fizeram através da educação. A escola de período integral é uma saída. A qualidade da educação só melhora se dermos mais tempo de formação aos nossos jovens. Três horas são insuficientes para qualquer País que queira integrar o primeiro mundo. Se a escola de tempo integral for muito cara neste primeiro momento, o contra-turno seria uma opção. O aluno fica um turno na escola e outro turno em alguma instituição que ofereça cultura, balé, teatro, música, esporte, reforço escolar, inglês, espanhol, internet, algo que possa somar em sua educação e conhecimento. Aí sim teremos a juventude aprendendo mais. Investir na melhoria salarial dos professores é outra necessidade. O professor, hoje, continua em muitos lugares ganhando R$ 400. É impossível exigir que eles tenham conhecimento para tratar das questões da educação. Até para ajudar o aluno a aprender o professor tem que ter conhecimento. O prefeito Nelsinho Trad já deu um passo largo em Campo Grande. Conseguimos, com a luta incessante da secretária de Educação, Maria Emiília, que a Prefeitura cumprisse uma determinação legal que raramente é cumprida neste país: o pagamento de curso de especialização para os professores. No final do ano, o prefeito autorizou a mesma medida para os que querem fazer mestrado. A Prefeitura de Campo Grande está investindo na qualificação, o que reverte na qualidade da educação. Mesmo assim, há necessidade de uma intervenção maior e eu continuarei trabalhando para isso, por mais qualificação, melhor salário e mais tempo na sala de aula.

Em relação ao meio ambiente, é possível que desenvolvimento e preservação caminhem lado a lado?
As pessoas têm que ter conhecimento de causa quando tratam deste tema. É preciso, antes de tudo, equilíbrio para que saibamos o que pode ser feito sem prejudicar o meio ambiente e sem fazer com que o país fique parado. É preciso ter muito claro as zonas de preservação ambiental. Isso tem que ser estudado e compartilhado, não dá para alguém dentro de um gabinete definir que a reserva tal terá tantos mil quilômetros independente das necessidades de crescimento da região. Precisamos de bom senso, ninguém ganha com uma queda de braço neste setor.

O que o Congresso pode fazer para amenizar a vida do produtor rural?
Acredito que o ministério da Agricultura está cada vez mais próximo às questões do produtor, abrindo canais de diálogo. Acho que melhorou muito com o Roberto Rodrigues, que foi um ministro que promoveu uma aproximação com o setor. Acredito que o caminho é a negociação e que o governo federal terá que fazer uma política de incentivos. Os produtores também não entraram no PAC e não acredito que uma política de aceleração de crescimento neste país possa deixar de fora o agro-negócio. Mas vamos achar a saída. A Comissão (de Agricultura e Desenvolvimento Agrário) está ligada nos gargalos da agricultura, vamos levantar as questões para tentar uma política nacional que tenha seqüência.

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