Semana On

sábado, 10 de agosto de 2013

"Dirceu: a Biografia" - Otávio Cabral


Finalizei ontem a leitura de “Dirceu: a biografia”, de autoria do jornalista Otávio Cabral. O que me atraiu à leitura foi o tiroteio travado por petistas e tucanos após o lançamento do livro, em junho. Os primeiros capricharam na ridicularização da obra, apontada como um apanhado de imprecisões históricas, fruto de um “recorta e cola” de publicações jornalísticas e dossiês policialescos. Os últimos classificaram o livro como um relato desapaixonado e bem construído sobre a vida de um dos mais importantes personagens políticos do país que, por ambição política e pouco respeito às práticas republicanas acabou por cair em desgraça, levando consigo a aura de moralidade de seu partido. Eu prefiro ficar no meio, procurando um ponto de equilíbrio entre as opiniões de detratores e aliados do ex homem forte do Governo Lula – a quem tive a oportunidade de entrevistar há alguns anos (leia aqui - http://tinyurl.com/lz8vmhj).

É fato que o livro de Cabral carece de fontes (identificáveis, ao menos). O autor fala em 63 pessoas que teriam sido entrevistadas na fase de pesquisas, mas poucas são citadas nas notas de rodapé. Notas que chancelam determinadas informações apontam para “um assessor”, “um jornalista” ou “uma testemunha”. A jornalista Mônica Bergamo, por exemplo, desmentiu no Facebook um relato no qual se viu citada. “Otávio Cabral, da Veja, diz que entrevistou 63 pessoas. Não me entrevistou. E deu uma informação completamente errada citando meu nome”, afirmou.

Por si só estes fatos desabonam o livro de Cabral? Penso que não, mas é preciso discernimento para separar o que é fato histórico e o que é análise baseada em contextos que mereciam ao menos um embate de versões.

Durante a divulgação do livro, Cabral revelou que não conseguiu conversar pessoalmente com o ex-ministro, mas explicou que Dirceu também não impediu que a obra fosse realizada ou que pessoas próximas a ele dessem entrevistas com informações referentes à sua vida. "Ele não fez nada para impedir que alguém da proximidade dele falasse comigo. Ele não colocou nenhuma objeção", revelou o jornalista. O autor disse ainda que tentou ser o mais imparcial possível durante a realização da obra. "Tentei ser mais um narrador do que um comentarista".

O livro traz passagens prosaicas da vida de José Dirceu, desde o seu nascimento, em Passa Quatro (MG), até a condenação pelo STF no processo do Mensalão, passando por sua projeção durante o movimento estudantil na década de 60, a luta armada, a prisão, o exílio em Cuba, os anos de clandestinidade no Brasil até a abertura, a criação do PT e a conquista do poder. Tudo isso entremeado pelas incontáveis aventuras amorosas do Don Juan petista.

Dirceu foi personagem central nesta bola de neve política das últimas três décadas. Ajudou a fundar o PT, liderou o partido na oposição a Collor, Sarney e FHC, foi mentor da transformação de um agrupamento de tendências de esquerda em um partido pragmático para chegar ao poder, coordenou a vitória de Lula, comandou o expurgo da esquerda petista e as alianças com partidos conservadores e fisiológicos. Alianças que levaram ao Mensalão, que provocou sua queda do comando da Casa Civil e o processo que levou à sua condenação. 

Destaco como pontos relevantes do livro a relação conflituosa entre Dirceu e Lula e a sua disputa por poder no partido e no governo com outras cabeças coroadas do PT. A certeza de que foi abandonado à própria sorte pelo partido – especialmente por Lula - após a condenação pelo Supremo e o pragmatismo que o levou a ser um dos mais bem pagos lobistas do país também são pontos chave na trama traçada por Cabral para nos apresentar um José Dirceu que, ao contrário do que o autor insinua nas últimas linhas da obra, foi um dos responsáveis direitos pelo Brasil que conhecemos hoje, com todas as suas contradições e avanços.

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