Semana On

sábado, 8 de dezembro de 2012

Ridículos tiranos

Ridículos tiranos
Não se enganem, não há bons moços na política partidária. Ela se transformou em um lodaçal

Não há outro tema nesta semana que mereça mais figurar neste espaço do que a sordidez com que os 21 vereadores da Câmara Municipal de Campo Grande aprovaram, no apagar das luzes, na surdina, o aumento de seus próprios salários em 61,9%.

O presidente da Casa, vereador Paulo Siufi (PMDB) havia garantido aos cidadãos que foram à Câmara protestar contra este reajuste imoral que a votação seria divulgada previamente. Mentiu.

Incrível perceber que apesar de milhares de manifestações indignadas que pulularam pelo Facebook (apenas uma postagem da Semana Online – veja aqui – foi compartilhada quase 1700 vezes), nenhum vereador se dignou a dar uma resposta à população.

Estes, que usam as mídias sociais para fazer proselitismo de suas parcas ações parlamentares e de suas vastas papagaiadas assistencialistas, não se dignaram a escrever uma linha sequer como resposta aos eleitores. São estes os que têm a certeza absoluta de que o eleitor esquecerá este acinte em poucos dias.

Infelizmente eles têm razão. A imensa maioria das pessoas terá esquecido nas próximas semanas tudo o que ocorreu. Restará apenas uma vaga sensação de impotência, um tênue desgosto que se revelará sempre que a palavra política for proferida.

É deste esquecimento, desta inércia, que sobrevivem os políticos profissionais que se apossaram de nossas instâncias políticas. É dela, desta pasmaceira, desta quase tristeza cívica, que eles tiram o sustento para solapar a cada dia a nossa cidadania.

Não se enganem, não há bons moços na política partidária. No Brasil, ela se transformou em um lamaçal no qual chafurdam os imorais de caráter, no qual os bem intencionados desmoronam num piscar de olhos. Esqueçam os bons moços, esqueçam as promessas de oportunidade.

Enquanto a reforma política mofa nas gavetas e se transfigura em arremedos que vão sendo acordados entre os poderosos de modo a que tudo continue como é, vai surgindo um novo campo para a práxis política. Esta nova ágora é digital, anárquica, uma babel.

As redes sociais vão propiciar uma transformação no modo como o cidadão se relacionará com seus representantes. Não, esta revolução ainda não está acontecendo de fato. Estamos arranhando a superfície.

Mas chegará o dia em que a sociedade civil organizada irá aplicar, por meio da rede, ao menos em parte, a democracia direta que alguns trazem na ponta da língua mas que temem aplicar, temerosos por perder suas benesses. É inevitável.

Neste dia, iremos olhar para trás e ficaremos estupefatos com o passado, quando permitiamos que um grupo de cidadãos apontados por nós mesmos para representar-nos nas instâncias políticas se transformassem em ridículos tiranos.

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