Nosso voto
A democracia não se resume ao
voto, ela exige muito mais para gerar bons resultados
Começou. Desde a última sexta-feira,
6, candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador estão livres para
colocar suas campanhas nas ruas. Haverá muitos sorrisos, muitas
palavras simpáticas, muito tapinha nas costas. Todos faceiros e
saltitantes em busca do tão disputado voto.
Na internet, onde pululam assessores
passando por candidatos, esta tempestade de bom mocismo será
violenta. Todos querem deixar transparesser seu compromisso com a
população, com o diálogo, com ideias. No campo virtual, a campanha
será especialmente interessante. Por detrás de retratos sorridentes
e imagens bem trabalhadas, escondido sob frases de efeito, promessas
solenes e posicionamentos incisivos em prol do bem comum, acoitados
pela pele de ovelha da àgora digital se esconderão alguns lobos.
Famintos.
Não é a primeira vez que a internet
se transformará em palanque eleitoral no Brasil. Nas últimas
eleições isso já havia ocorrido. Neste ano, no entanto, o éter
virtual será muito mais importante. O fenômeno das mídias sociais
está mais fincado no dia a dia das pessoas que se acostumaram a
interagir (ou tentar) com seus representantes e “lideranças”. O
fato é que seja nas ruas ou na frente do computador, cada voto será
disputado a tapa.
Por mais imperfeita que seja, a
democracia tem se mostrado, de longe, o melhor sistema político que
fomos capazes de criar. Por meio do voto, cada cidadão tem o direito
de elevar sua voz e seu posicionamento aos mais altos níveis da
coisa pública. Apesar disso, temos o costume de maltratá-la. Em
grotões interioranos - como o Mato Grosso do Sul - ainda se troca
voto por dinheiro, cesta básica e até por uns segundos de simpatia.
Um aperto de mão, um sorriso automático, duas ou três palavrinhas
são o suficiente para convencer os mais humildes (financeira ou
intelectualmente) de que aquele candidato é "gente como a
gente".
Tenhamos cuidado. É preciso mais que
isso para que alguém mereça nosso voto. Muito mais.
A democracia tem valor por si só, mas
os avanços que ela possibilita não ocorrem com o simples apertar de
um botão no dia das eleições. É preciso mais, muito mais. Hoje,
nossa voz está ampliada graças ao meio digital. Podemos fazer
nossas reivindicações ecoarem de forma mais rápida e mais ampla.
Mas até as mais justas e coerentes reivindicações se tornam
obsoletas se imaginarmos que o bem maior da democracia é o voto. Não
é.
Façamos assim. Durante esta campanha
tenhamos sempre em mente que o bem maior da democracia é a
possibilidade de gerir os nossos destinos. Para isso, é preciso que
compreendamos que política não se faz apenas nos enclaves e porões
partidários, mas diariamente, em cada pequeno momento da nossa vida.
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