Semana On

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Travessuras da menina má" - Mario Vargas Llosa

Doçura e sordidez. Talvez estas duas palavras definam bem o livro “Travessuras da Menina Má”, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2010. Trata-se do mais recente romance publicado pelo autor (2006), uma obra de ficção com traços autobiográficos focada em uma rocambolesca história de amor, paixão, mentiras e traições que tem como pano de fundo algumas das grandes transformações sociais e políticas ocorridas na Europa e na América Latina entre os anos 50 e 80.

A história gira em torno da paixão muito pouco convencional que nutre Ricardo Somocurcio - um peruano cuja grande ambição é viver em Paris – pela Menina Má, que ele conheceu na infância, no Peru, e que reencontrou em diversas oportunidades mundo afora, como na Paris revolucionária dos anos 60, na Londres lisérgica e hippie dos anos 70, na Tóquio dos prazeres permitidos dos anos 80 e na Madri em transição política dos anos 90.

Menina Má é uma personagem maravilhosa. Camaleoa, mulher de mil faces, misteriosa, filha da pobreza latino-americana, herdeira da ambição desmedida e do pragmatismo mais sincero que se possa imaginar, ela surge primeiro como Lily, uma adolescente de Miraflores, bairro aristocrático de Lima, no início dos anos 50. Depois Arlete, a guerrilheira do Sendero Luminoso, no início dos anos 60, em passagem por Paris, rumo a Cuba. Anos depois torna a assombrar a vida de Ricardo como Mma Arnoux, mulher de um diplomata francês, em plena cidade luz. O tempo passa e a “peruanita” ressurge como Lady Richardson, esposa amorosa de um bilionário inglês, na Londres dos anos 70 para, então, incorporar Kurico, escrava sexual de um mafioso-voyuer em Tókio. Por último sua verdadeira identidade, Otila, o cerne de sua procura infindável pela felicidade/segurança/riqueza.

“Travessuras da menina má”, além de uma história de amor incondicional é também uma aquarela delicada sobre as transformações sociais e convulsões político-econômicas da Europa e da América Latina nas últimas décadas. Não é político em seu cerne, como muitas obras de Llosa, mas pincela o pano de fundo com a questão, seja sob o prisma apolítico e impessoal de Ricardo, pelo fervor revolucionário do amigo Rául ou pelas análises ácidas da política peruana emitidas pelo tio, em Lima.

De fato, Ricardo e Otila, os protagonistas, não são os proprietários únicos da narrativa. O autor constrói um panorama riquíssimo a volta das personagens coadjuvantes que acompanham com ritmo próprio a sinfonia de amor e ódio que se eleva dos encontros e desencontros do improvável casal. Llosa dá vida própria a estas personagens de uma forma muito convincente, talvez por conterem muito da sua vivência particular.

O próprio autor confirmou o peso autobiográfico do romance em entrevista à Folha de São Paulo. “Sim, é um livro sobre as cidades e as épocas em que nelas vivi. Uso a memória, mas também o sentimento de nostalgia que carrego com relação a isso. Já a história de amor entre Somocurcio e a Menina Má é totalmente inventada. Ainda que, para escrever sobre uma relação, sempre usemos algo de nossa experiência.

Nobel

Vargas Llosa foi o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2010. Ele é autor de best-sellers como "Pantaleão e as Visitadoras", "A Festa do Bode" e "A Casa Verde", e foi o vencedor do Prêmio Cervantes, o mais importante da literatura em língua espanhola, em 1994. É o primeiro escritor latino-americano a ganhar o Nobel de Literatura desde o mexicano Octavio Paz, em 1990. Sua obra já foi traduzida em mais de 20 línguas.

Llosa recebeu o prêmio "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual".

"Não pensava que sequer estava entre os candidatos. Pensava que era uma brincadeira. Tenho vontade de ir caminhar porque estou meio perplexo. Acredito que é um reconhecimento à literatura latino-americana e à literatura em língua espanhola, e isto sim deve alegrar a todos", disse após receber a notícia.

6 comentários:

Cria disse...

Parabéns pela postagem !! Ele é merecedor de muitas homenagens !! Meu carinho.

Everton Maciel disse...

Bom pra caralho!

Adriana Godoy disse...

Mais um artigo que vale a pena! Parabéns!

Álvaro M Chaves disse...

Grande Victor, é isso mesmo,fizestes uma análise perfeita do livro. Abraço

Álvaro M Chaves disse...

Grande Victor, maravilha de comentário, valeu, parabéns

Barone disse...

É, realmente o cara é bom.