meus sudários
caro tolo, esta tarde para tanta coisa
coisas como pedir desculpas aos mártires
nao sei de que lado da cerca fico
na colônia dos leprosos
o único morador diz temer o contágio
aqui de fora
palmilho os caminhos
estradas menos viajadas
agacho-me na beira dos rios
já que todo rio é Jordão
toda escada sobe aos céus
todo alimento é maná
toda pedra é monte Ararat
e todo vinho foi água um dia
a carpideira sobre seu cavalo
mostra-me as cartas do seu tarô
escolho uma carta
você tem sido um bom guarda dos teus irmãos?
não soube responder
analfabeto da minha face
concentro-me na leitura de sudários
até poder ler meu próprio rosto
e contar a minha estória
Audemir Leuzinger, esta semana, no Poema Dia
3 comentários:
À porta da igreja/dois leprosos/cobrando ingressos. Mas foram seus sudários que me atraíram: quase fósseis, quase espelhos, o decalque do avesso. É assim que vc conta a sua estória. Abraços!
Bom texto. É um espaço riquíssimo para a poesia o POEMA DIA!!!
lindo! adoro pele de sudário!
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