Semana On

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ideólogos da farsa

No último dia 21 publiquei aqui uma reflexão sobre o julgamento ideológico que se faz hoje sobre quem “ousa” criticar o Governo Lula e o PT. Muita gente não consegue digerir posicionamento críticos sobre a atuação destas duas “entidades” do imaginário político do país. Esta patrulha ideológica se apropriou ilegitimamente dos conceitos de esquerda, atribuindo aos seus adversários a pecha de direitistas ou reacionários.

Na verdade, entre os que colocam o dedo na ferida do populismo, há muitos que conservam vivas noções muito aprofundadas do pensamento libertário de esquerda e, por isso mesmo, não pactuam com a pérfida idéia de que os fins justificam os meios, de que tudo é válido em busca um objetivo final, de que a arma do adversário pode ser usada sem conseqüências funestas.

Ética, igualdade, cooperativismo, democracia direta, mecanismos que permitam um despertar de consciência que levem o cidadão a tomar as rédeas de seu futuro, não são ferramentas a serem colocadas ao serviço de projetos de poder. Os que se apoderam destes conceitos, aplicando-os sobre o imaginário de gente sofrida, com o objetivo de perpetuar-se no poder não são piores do que os que “se lixam para a opinião pública”, ou àqueles que enriquecem às custas da população. São todos feitores de almas.

Trazendo esta reflexão para a nossa realidade política, destaco um trecho do artigo de J.R. Guzzo, publicado nesta semana na Veja.

“O que poderia haver de mais avançado em matéria de falsificação, por exemplo, do que sustentar, como fazem os mestres de doutrina do PT, que são de direita todos os que discordam do governo Lula e de esquerda todos os que são a favor? O resultado prático dessa maneira de separar os lados na política brasileira é a criação de um tumulto mental em modo extremo, no qual não se entende rigorosamente nada. Cada caso, aí, é mais esquisito que o outro. O governador José Serra, que foi presidente da UNE, teve de fugir da polícia no golpe militar de 1964 e ficou anos exilado, é o principal nome da oposição para disputar as eleições presidenciais de 2010 contra a candidatura do governo; é apontado pelo PT, por isso, como o grande líder da "direita" brasileira. O presidente do Senado, José Sarney, foi um dos principais servidores do regime militar, esse mesmo que queria colocar Serra no xadrez; hoje está a favor do governo Lula e é defendido até a morte pelo PT, como um herói daquilo que o partido descreve como sendo o campo progressista, popular e de "esquerda". Qual o nexo de uma coisa dessas? Pela mesma visão, o deputado Fernando Gabeira, que quando jovem fez tudo o que a esquerda mais radical podia fazer, e hoje é um opositor aberto da ladroagem no governo Lula, é excomungado como homem de "direita". Já o senador Romeu Tuma, que fez carreira durante a ditadura como delegado do Dops e andava atrás, justamente, de subversivos como Gabeira, hoje é um dos destaques da "base aliada" e se vê premiado pelo PT como participante ativo do "projeto de esquerda" neste país. A senadora Marina Silva, que até outro dia estava para ser canonizada pelo governo, tornou-se suspeita de ajudar a "aliança conservadora" no dia seguinte ao seu rompimento com o PT; é uma questão de tempo até ser enfiada sem maior cerimônia no balaio geral da "direita". O deputado Paulo Maluf, que o PT sempre tratou como uma espécie de King Kong do direitismo nacional, foi promovido, pelos serviços que fornece ao governo, a associado emérito das forças de "esquerda". Fica assim, então: Serra, Gabeira e Marina, entre dezenas de nomes semelhantes, estão na direita; Sarney, Tuma e Maluf, entre outros tantos, estão na esquerda. É nisso que veio dar, no Brasil atual, a distinção entre ideologias.”

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