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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Coluna do Capssa - "Eugénie Grandet e Thérèse Raquin"

Duas Senhoras” tem como pano de fundo a França de hoje, onde uma jovem enfermeira árabe, cansada dos comentários racistas, resolve trabalhar como enfermeira de uma judia idosa.

Apesar de interessante o tema, não falarei sobre o filme, embora tenha sentido na pele este tipo de preconceito. Em 1988, como médico, participei de um congresso em Palma de Mallorca. Éramos cinco brasileiros. Fui o único barrado no aeroporto de Orly. Na ocasião, tinha o cabelo e bigodes negros e essa inconfundível expressão árabe. Depois de muita conversação e apresentação de documentos fui liberado com um certo olhar de desconfiança, é claro.

A introdução se fez necessária, uma vez que fiquei traumatizado com os franceses. Trauma que resolvi combater neste mês de agosto, quando, entre exames médicos de rotina, preocupações com a saúde e, ainda, de férias, resolvi ler duas interessantes obras de autores franceses: uma de Honoré de Balzac, outra de Émile Zola (cujo “Germinal”, lido na juventude, me marcou profundamente como uma das mais instigantes obras com que tive contato).

Eugénie de Grandet” e “Thérèse de Raquin” são, na verdade, duas jovens que persistiram, teimosamente, em viver, embora antagônicas em sua maneira de pensar e agir. Em “Eugénie de Grandet”, Balzac faz um amplo estudo ficcional sobre a futilidade pequeno-burguesa, ressaltando o poder que o dinheiro exerce sobre a vida e o caráter das pessoas, a frustração amorosa e a índole humana, personificada pela figura do seu pai, o velho Grandet, avarento da mais perfeita repugnância.

Em “Thérèse Raquin”, Zola, por sua vez, nos mostra uma jovem - de maneira extremamente realista - que vai do adultério ao crime, sofrendo todas as conseqüências morais de seus atos. Embora Zola seja um naturalista - “cada capítulo constitui o estudo de um caso curioso de fisiologia” - parece-me que vai mais longe do que o simples retrato do fisiologismo (atuando o meio como fator preponderante sobre as ações do ser humano) na justificativa de seus atos.

Concluindo, penso que Balzac era, definitivamente, um crítico voraz da sociedade francesa. Zola subestimou-se. Assim como o grande Dostoievski, dissecou a alma humana. Nenhum outro autor teve a capacidade de explorar o ser humano na plenitude de suas mentes inquietas como eles.
Luiz Carlos Capssa Lima
25/08/09

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