
Os protestos, que chegam hoje ao quarto dia, são os mais violentos distúrbios da capital desde a revolução de 79. A rádio e a TV estatal do país noticiam que ao menos sete pessoas foram mortas durante as manifestações de ontem (no twitter fala-se em mais mortes hoje), quando milhares de manifestantes (algumas fontes falam em um milhão) favoráveis ao candidato opositor reformista Mir Hossein Mousavi foram às ruas de Teerã para denunciar uma possível fraude. Hoje, Mousavi pediu que a população não volte às ruas, temendo um banho de sangue. No entanto, o movimento popular parece ter transbordado e mihares de iranianos voltaram a protestar pelas ruas e praças de Teerã após Mousavi ter recusado a proposta de recontagem de votos feita pelo regime.

Com ou sem fraude, o apoio fiel do líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, a Ahmadinejad é o maior perigo para os reformistas. Khamenei vê qualquer tipo de abertura - seja na política externa ou nos costumes - como ameaça à própria teocracia que lidera desde 1989, quando substituiu o fundador da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989).
A advogada Nasrin Sotodeh, que participou da campanha de Mousavi e é especialista em direitos humanos (e integrante da entidade Iran Humans Rights Voice), aponta – em entrevista à Folha, para o perigo de um endurecimento do regime: "Parece que estamos vivendo um golpe militar, com mais repressão e tiros que nos últimos anos, nunca tivemos uma situação parecida. Se a batalha sobre o resultado da eleição for perdida, acho que mais e mais jovens ficarão céticos sobre o desejo do regime de se abrir e seguirão o caminho de outros 5 milhões de iranianos, deixar o país.".

Outro sinal é a prisão do ex-vice-presidente reformista Mohammad Ali Abtahi, que foi braço direito do ex-presidente Mohammad Khatami. Ele foi detido nesta terça-feira, em sua própria casa, em Teerã, por um grupo de homens que o levou a um lugar desconhecido. Um funcionário do político confirmou a notícia à agência de notícias Efe. Abtahi escrevia em um blog usado para fazer campanha a favor do candidato reformista Mehdi Karroubi.
O protesto na rede
Manifestantes estão usando o Twitter para disseminar informações sobre os protestos, apesar dos esforços das autoridades iranianas em bloquear notícias e dados sobre o assunto. Houve, por exemplo, bloqueio das mensagens de texto dos sites que apóiam Mousavie e do site de relacionamentos Facebook. Quando finalizei este artigo, o tag "#iranelection" dava conta de que as ligações por celular haviam sido bloqueadas em Teerã.

Para onde vai o Irã?
Pedro Doria nos oferece um panorama interessante. Gustavo Chacra, por sua vez, pensa que Ahmedinejad e Khamanei devem estar se perguntando sobre a longevidade do regime islâmico e cita o veteraníssimo Robert Fisk, correspondente do The Independent no Oriente Médio, “que comparou, na rede de TV Al Jazeera, as manifestações de ontem com as ocorridas durante a Revolução Islâmica, em 1979, que ele cobriu. Mas o repórter afirma que os atos são apenas contra Ahmadinejad e o resultado eleitoral, considerado uma fraude. Os manifestantes não buscam, segundo Fisk, derrubar o regime.”.
Fisk está em Teerã. Seu artigo publicado hoje no The Independent é um testemunho da febre renovadora que tomou conta dos iranianos e que pode, sim, dar um novo caminho ao país caso consiga escapar do punho forte do regime. Em meio ao milhão de pessoas que – degundo o jornalista - foram para as ruas da capital iraniana, Fisk pergunta: “Poderá (os protestos) mudar a arrogância do poder demonstrado por Mahmoud Ahmadinejad?”.
3 comentários:
Certa vez, vendo um dos bons canais da TV paga, como o History Channel, um programa mostrava como a tecnologia da fita cassete foi importante para a revolução islâmica do Aiatolá Khomeini. Agora, o povo iraniano, principalmente os jovens, estão encontrando na Internet o mesmo suporte que a fita cassete deu a Khomeini. E o mundo continua girando!
Barone, veja o Guia para a CyberGuerra publicado no Boing-Boing:
http://www.boingboing.net/2009/06/16/cyberwar-guide-for-i.html
-Daniel
o bicho está pegando...
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