Semana On

sábado, 13 de junho de 2009

Legítima ou não, vitória de Ahmadinejad fortalece os que apostam no caos

O primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fará neste domingo, 14, um pronunciamento à nação. A mensagem de “Bibi” seria feita logo após o discurso do presidente estadunidense Barack Obama ao mundo árabe, mas foi postergada para após a eleição iraniana, que, ontem, confirmou a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

O que o primeiro-ministro israelense dirá ao mundo ainda é uma incógnita, mas há uma grande chance de o pronunciamento se transforme em uma exortação ao maniqueísmo que impera no discurso político da região e um sinal de que um ataque israelense ao Irã será efetuado em breve.

A reeleição de Ahmadinejad – fruto ou não de manipulações – traz em seu rastro um aspecto perigoso: o fortalecimento da facção que aposta na teoria do “quanto pior, melhor”. Reeleito na sexta-feira com 62,63% dos votos (24.527.516 votos), contra pouco mais de 13 milhões (33,75%) do reformista Mir Hussein Moussavi , que ficou em segundo lugar, Ahmadinejad pode ser a desculpa que faltava para que Israel parta para o ataque sob a desculpa de uma ameaça nuclear.

Existe uma teoria de que quanto mais radical estiver o lado inimigo, melhor para conquistar apoio internacional”, apontava o jornalista Gustavo Chacra em recente artigo. Ele tem razão. Sua leitura de que a permanencia de Ahmadinejad no poder daria argumentos para a direita israelense foi precisa.

Direitistas em Israel, nos Estados Unidos e – acreditem – mesmo ditaduras travestidas de monarquias e repúblicas no mundo árabe torcem pela vitória de Mahmoud Ahmedinejad. Os israelenses porque manteriam o argumento de que o Irã é perigoso, usando os discursos anti-semitas e as ameaças contra Israel do atual presidente iraniano. Os republicanos para atacar a política de aproximação de Obama com o mundo islâmico. E os regimes árabes para que os Estados Unidos não normalizem os laços com o Irã (persa), reduzindo a ajuda militar para estes Estados.”, afirmou Chacra na quinta-feira passada (11).

Neste sábado, a confirmação deste raciocínio – e uma prévia do que pode ocorrer amanhã - veio em declarações veladas de integrantes do Governo de Israel. O ministro das Relações Exteriores, Danny Ayalon, e o vice-primeiro ministro do país, Silvan Shalom, pediram alerta máximo para a “crescente ameaça nuclear do Irã”. Shalom aproveitou a deixa do resultado eleitoral iraniano dizendo ao Jerusalem Post que: “O resultado da eleição iraniana é uma bofetada na cara daqueles que acreditaram que o Irã estava pronto para um diálogo real com o mundo livre e interromperia o seu programa nuclear”.

Segundo o ministro, Ahmadinejad “vai conduzir o seu país a uma confrontação com o mundo ocidental”, e finaliza dizendo que “Se havia esperança de uma mudança no Irã, a reeleição de Ahmadinejad mostra que a ameaça iraniana é ainda mais grave. A comunidade internacional deve travar um Irã nuclear e o terror iraniano imediatamente.”.

Deu para sentir o clima?

Mahmoud Ahmadinejad não é santo – assim como não o é “Bibi” – mas a reação israelense teria sido muito diferente caso Moussavi tivesse sido eleito? Duvido.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas Victor,
não é o conselho que manda no Irã e não o presidente?
Bjs

Barone disse...

Oi Fátima, sim, no final das contas quem manda é o Conselho. Ainda assim, a presidência tem um peso político dentro e fora do país e, mais que isso, esboça o que pensa o eleitor. A posição da opinião pública é importante neste contexto.