Semana On

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sarney, Stalin e Saddan: três bigodes e egos inflados

Conheça o Maranhão: para nascer, Maternidade Marly Sarney; para morar, escolha uma das vilas: Sarney, Sarney Filho, Kiola Sarney ou, Roseana Sarney; para estudar, há as seguintes opções de escolas: Sarney Neto, Roseana Sarney, Fernando Sarney, Marly Sarney e José Sarney; para pesquisar, apanhe um táxi no Posto de Saúde Marly Sarney e vá até a Biblioteca José Sarney, que fica na maior universidade particular do Estado do Maranhão, que o povo jura que pertence a um tal de José Sarney; para inteirar-se das notícias, leia o jornal O Estado do Maranhão, ou ligue a TV na TV Mirante, ou, se preferir ouvir rádio, sintonize as Rádios Mirante AM e FM, todas do tal José Sarney. Se estiver no interior do Estado ligue para uma das 35 emissoras de rádio ou 13 repetidoras da TV Mirante, todas do mesmo proprietário, do tal José Sarney; para saber sobre as contas públicas, vá ao Tribunal de Contas Roseana Murad Sarney (recém batizado com esse nome, coisa proibida pela Constituição, lei que no Estado do Maranhão não tem nenhum valor); para entrar ou sair da cidade, atravesse a Ponte José Sarney, pegue a Avenida José Sarney, vá até a Rodoviária Kiola Sarney. Lá, se quiser, pegue um ônibus caindo aos pedaços, ande algumas horas pelas “maravilhosas” rodovias maranhenses e aporte no município José Sarney. Não gostou disso e quer reclamar? Vá, então, ao Fórum José Sarney, procure a Sala de Imprensa Marly Sarney, informe-se e dirija-se à Sala de Defensoria Pública Kiola Sarney.

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O texto acima circula na internet há algum tempo, uma sátira sobre o culto à personalidade que o coronel José Sarney patrocina por todo o Maranhão. Além de todos estes logradouros públicos ostentando o sobrenome de família - que caracteriza sua persona política - Sarney também possui seu próprio mausoléu, preparado para receber seu corpo um dia (provavelmente fardado com a indumentária acadêmica), tal qual um faraó moderno. O Mausoléu do Sarney surgiu em 1990, quando o então governador Epitácio Cafeteira doou à família do imortal o Convento das Mercês, um prédio do século XVII tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. O local passou então a se chamar Convento das Mercês Memorial José Sarney e pode, conforme já apregoou o próprio Sarney, se transformar em um "ponto de peregrinação".

Este culto à personalidade, além do farto bigode, é um interessante elo entre as figura de Sarney, do ditador soviético Joseph Stalin – o Deus do PC do B – cuja trajetória política foi marcada pela tirania e por espalhar por todo o “reino” sua imagem messiânica, e a do ex-ditador iraquiano Saddan Hussein, que obrigou a população a se defrontar diariamente com seu sorriso sinistro em cartazes espalhados por ruas e avenidas.

Os três estão separados pelo tempo, pela geografia e pelos credos políticos, mas se equiparam na estratégia autoritária de inflar o próprio ego na tentativa de impor aos outros suas vontades e seus objetivos. Se equiparam também, dentro da boa tradição personalista, na eliminação das vozes discordantes. Se Stalin e Saddan esmagaram seus opositores na base da bala e do desterro, Sarney os eliminou por meio das ferramentas que lhe foram oferecidas pela democracia de grotão que impera no Brasil. Uma democracia na qual o poder se perpetua – ou troca de senhor em um revezamento promíscuo – nas mãos de patriarcas, grupos políticos ou econômicos.

Assim como Stalin e Saddan se colocavam acima da razão, a oligarquia Sarney encara o Maranhão como propriedade particular e utiliza o poder para se autopromover ao arrepio da Lei, que proíbe a colocação de nomes de personalidades vivas em logradouros públicos.

2 comentários:

Anónimo disse...

É de causar engulhos. Eu quase cheguei a sentir uma náusea.

- Felipe

Barone disse...

É... eu também.