Semana On

sábado, 14 de março de 2009

Meio século de ocupação do Tibete

Candida Borges Lemos, jornalista e doutoranda em História e Estudos Políticos Internacionais, é autora do texto a seguir (pinçado do blog de Paulo Moreira Leite).

Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, era um adolescente quando as vitoriosas tropas da revolução socialista chegaram ao seu país em 1950. Até o exílio na Índia, em 1959, Dalai Lama e seu povo viram as estátuas de Buda serem destruídas e substituídas por outras de Mao Tsé-Tung.

Em Dharamsala, Índia, onde funciona o governo do Tibet no exílio, o líder do budismo mundial perdeu a calma ontem (N. do R.: dia 10): “A China transformou o Tibet em um inferno da Terra”. No ano passado, na mesma época, 14 de março, a capital tibetana Lhasa foi palco de manifestações anti-China, lideradas por monges, que tiveram um saldo de cerca de 200 mortos.

Com receio de uma repetição dos protestos em 2009, há semanas o governo chinês intensificou a presença militar no Tibet e nas províncias vizinhas, onde vivem milhares de tibetanos e budistas. O turismo na região foi paralisado, a imprensa internacional não consegue ter acesso à região do Himalaia e as estradas estão sob controle. Na reunião do Parlamento Chinês, dia 9, o presidente do país pediu aos parlamentares do PCC que lutem contra o separatismo tibetano e conclamou a todos a erguer uma “grande muralha” para defender o território.

Dalai Lama denunciou que há mais de meio século o povo tibetano está sob ameaça de ver extinta sua religião, sua cultura, sua língua e identidade nacional. Após o período inicial de repressão intensa que se inaugurou a partir de 1950, a perseguição se agravou entre 1987 e 1989. Dez anos depois, o terceiro na hierarquia do budismo, Kamapa Lama, foi obrigado a deixar o Tibet.

Dalai Lama, em suas conferências mundo afora, sempre comenta que o Budismo deve muito ao governo chinês, pois foi pelo fato de ele estar exilado que foi possível que a religião tenha sido mais difundida no Ocidente e a doutrina ganhasse novos adeptos, para além do Sudeste Asiático, Ásia Central e tremo Oriente. Hoje são cerca de 400 milhões de budistas no mundo.

Depois que Dalai Lama ganhou o Premio Nobel da Paz, em 1989, a questão da independência do Tibet ganhou um número sempre maior de simpatizantes. Celebridades e atores de Holywood, como Sharon Stone e Richard Gere, engrossam as fileiras dos ativistas. Dalai Lama conseguiu que a causa tibetana extrapolasse a mera luta da independência de um país aos pés do Himalaia. Hoje, está inserida na luta pelos direitos humanos, que reúne gente de todos os continentes, independente de credo e raça.

O líder budista defende hoje uma via intermediária de independência, uma proposta pacífica que prevê maior autonomia do território, principalmente a liberdade religiosa, que poderia permanecer como parte da República Popular da China. Porém, a ala mais radical, liderada pela juventude tibetana, que se articula em vários países, acredita que não há como descartar a violência e quer a independência completa.

3 comentários:

BAR DO BARDO disse...

O Tibete é um caldeirão estranho...

Espiritualmente, de ouro.

Politicamente, de estanho.

Cris Animal disse...

Inacreditável, o que devria unir os homens desde sempre, separa-os com todos os tipos de guerras e enfrentamentos: a fé.
Não acerdito que a cultura tibetana e o budismo um dia desapareçam. O que criou raízes já está em pé definitivamente. Ainda que seja em uma única alma( isso me lembra Henfil).
Dalai Lama é um espírito solitário a busca de um mundo singular.
Triste demais para um líder espiritual. Ou, certo demais para um líder espiritual; talvez, esteja com eles a força maior para tornar realmente este mundo plural em singular.

Chegando por aqui e adorando.Linkando !

beijo
............Cris Animal

Barone disse...

Muito Bom Henrique.

Olá Cris, seja bem vinda ao Escrevinhamentos. Volte mais vezes.