"Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado."
Benito Mussolini
A suposta agressão promovida por três jovens skinheads neonazistas à advogada brasileira Paula Oliveira, 26, funcionária em Zurique, na Suiça, do maior conglomerado econômico da Dinamarca - A P Moeller/Maersk, líder mundial em transporte marítimo de contêineres – é mais um tentáculo do monstro do fascismo, que emerge novamente das profundezas da história. O renascimento desta ideologia repugnante, que coloca os interesses do Estado sobre os interesses do indivíduo fomentando o racismo e a xenofobia, está ocorrendo sem que se tome qualquer iniciativa para esmagá-la no berço.
No artigo “O fantasma do fascismo”, publicado no último dia três, no Observatório da Imprensa, o jornalista Luciano Martins Costa expressa o temor de que o monstro que assolou o mundo por décadas no século passado, inspirou ditadores de esquerda e de direita e levou a morte de milhões de seres humanos esteja novamente abrindo suas mandíbulas.
O suposto ataque à Paula Oliveira expôs uma faceta macabra da Suíça. O País, que é conhecido por sua neutralidade, parece estar sob as lentes do filósofo Max Weber, para quem “neutro é aquele que já optou pelo lado do mais forte”.
Tenha sido o ataque verídico ou não, o fato é que a Suiça está desenvolvendo fama de país perigoso para estrangeiros. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, uma pesquisa divulgada em junho de 2006 mostra que um terço dos suíços é declaradamente xenófobo. “Doudou Diène, relator especial da ONU para o racismo, afirmou recentemente que o racismo é uma grave questão na Suíça, principalmente porque as autoridades locais não acreditam que o problema seja sério”, afirma a reportagem.
Também em entrevista ao Estadão, a diretora da Comissão Federal Suíça contra o Racismo, Doris Ansgt, comentou o comportamento da polícia suiça em seu trato com casos de racismo: "A polícia suíça é parcialmente cega quando se trata de casos de extremistas e de neonazistas”. Segundo ela, há de fato um mal-estar no país em relação à xenofobia: “O comportamento de jovens extremistas contra os estrangeiros é um reflexo dos sentimentos que vive a sociedade suíça".
Irene Zwentsch, brasileira que trabalha para o Conselho Brasil-Suíça - entidade com sede na Suiça e que ajuda a integração dos brasileiros vai além: "O público em geral não se importa com as vítimas dos extremistas. Qualquer um que se pareça estrangeiro ou que tenha pele escura tem razão de ter medo da violência. Racismo, antissemitismo, islamofobia são inerentes às ideologias de extrema direita".
Além dos Alpes
Levantamento feito por duas juntas de Direitos Humanos da Comissão Europeia, em Viena e Estrasburgo, baseando-se em dados recentes, apontou que o número de denúncias de violência racial aumentou drasticamente em oito dos 11 países-membros da União Europeia desde os atentados de 11 de Setembro e o início da chamada "Guerra ao Terror".
Os relatórios mostram que o número de crimes antissemitas cresceu no Reino Unido e na França, enquanto outras manifestações de violência de extrema direita são cada vez mais frequentes na Alemanha. A Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia, com sede em Viena, na Áustria, apontou – por meio de dados atualizados até 2006 – que as denúncias, investigações e crimes raciais e xenofóbicos aumentaram na Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Áustria, Irlanda, Reino Unido, França e Eslováquia.
Segundo os levantamentos, o País com maior númerio de crimes raciais e ligados a xenofobia é a Alemanha, com 18,1 mil crimes cometidos em 2006, alta de 5,3% na década. É a Dinamarca, país que acolhe grande contingentes de novos imigrantes, apresenta, no entanto, os maiores índices porcentuais. Lá, incidentes do gênero tornaram-se 59,1% mais comuns entre 2000 e 2006. Entre as nações mais populosas do bloco, a França, com aumento de 27,7%, e o Reino Unido, de 27,3%, também foram destaques negativos.
Para Luciano Costa, porém, “o caso mais grave acontece na Itália, onde o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi quer estimular os médicos a denunciar pacientes que sejam imigrantes em situação irregular.”. Em seu artigo, o jornalista destaca estratégias do governo italiano que muito se assemelham ao que as milícias fascistas que perseguiam opositores, judeus, homossexuais e outros desafetos do regime de Mussolini faziam nos anos 30 e 40: “... o governo italiano autoriza a criação de ‘patrulhas de cidadãos para supostamente controlar a segurança nas ruas.”.
A medida foi aprovado pelo Senado italiano com um placar de 156 votos a favor, 132 contra e uma abstenção. Ela faz parte da Lei de Segurança também aprovada pelo governo e reduz os médicos a condição de delatores. A Lei também estabelece pena de quatro anos de prisão para imigrantes com ordem de expulsão, mas que mesmo assim permanecem na Itália; eleva a taxa para permissão de residência no país de 80 para 200 euros por ano e taxa oficialmente de “vagabundos” todos os imigrantes “sem teto”.
Palco de intensos protestos nas últimas semanas, o Reino Unido também demonstrou tendências xenófobas nos últimos dias quando centenas de trabalhadores britânicos protestaram carregando placas cujos dizeres pediam “empregos do Reino Unido para trabalhadores britânicos”. Uma greve envolvendo trabalhadores em uma refinaria, cujos postos eram ocupados por italianos e portugueses, foi o estopim da crise. Sindicatos protestaram contra o governo, dizendo que trabalhadores nativos estavam sendo minados por estrangeiros com salários mais baixos. O primeiro ministro inglês, Gordon Brown, ao invés de apaziguar os ânimos, repetiu o grito de guerra dos grevistas, acirrando ainda mais o clima de confronto.
Vale lembrar notícia que pipocou nesta semana pela internet, segundo a qual o Príncipe Harry vai frequentar um curso anti-xenofobia promovido pelo exército inglês. Segundo o jornal Daily Mail a decisão surgiu depois dalgumas gaffes racistas do filho mais novo do Príncipe Charles terem sido reveladas ao público.
Na Espanha, onde o desemprego chega a quase 16%, os estrangeiros também têm sofrido. Segundo Ivan Briscoe, do Centro de Pesquisa para a Paz, Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Externo, na Espanha, por trabalharem com menos garantias, os estrangeiros ficam no front do desemprego.
Parelelos
Em reportagem publicada no JB Online, Antônio Inácio Andrioli, professor do Instituto de Sociologia da Universidade Johannes Kepler, de Linz, na Áustria, considerou que há paralelos entre o que ocorre hoje na Europa e a crise de 1929, que possibilitou a ascensão do nazismo.
“O aumento da desigualdade social e do desemprego, as principais conseqüências visíveis do desmonte das políticas de privatização das últimas décadas, contribuiu para produzir um antigo fenômeno social: a xenofobia. Em períodos marcados pela recessão e pela ausência de movimentos e utopias revolucionários, abre-se o espaço para a interpretação simplista e populista da realidade, que culpa os estrangeiros pelos problemas sociais. A ausência de alternativas políticas e o conseqüente sentimento de impotência e desesperança social são um terreno fértil para o aumento da xenofobia”, afirmou.
O primeiro ministro espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero, pediu nesta semana que a Europa esteja “unida e forte para combater sintomas inquietantes de nacionalismo, xenofobia e tentações protecionistas”. No entanto, de forma geral, esta não parece ser uma preocupação dos dirigentes europeus que, em junho de 2008, por meio do Parlamento Europeu, aprovaram uma diretiva de retorno de imigrantes ilegais, que entrará em vigor em 2010 e que pode gerar a expulsão de cerca de oito milhões de imigrantes irregulares da Europa, grande parte deles latino-americanos.
Tempestade em copo d´água?
Este tipo de política pode parecer sem importância. Há quem possa argumentar que é legítima e que os governantes devem defender os interesses de seus cidadãos. Ocorre que estamos falando de algo mais completo, que tem origem na intolerância gerada pela crise e que não é coisa nova. A história já viu situações similares no passado e os resultados são sempre funestos: para dar vazão à insatisfação causada por crises econômicas, populações nativas atacam gente de cor, convicção ou credo diverso dos seus como se isso fosse solucionar o problema.
A xenofobia e o racismo são primos indissociáveis e as reações que suscitam atingem o seio das sociedades onde proliferam. É o caso dos Estados Unidos, por exemplo, onde o anúncio feito pela Microsoft no último dia 22, de que demitiria mais de cinco mil funcionários por causa da crise, fez com que o senador republicano Chuck Grassley, de Iowa, escrevesse uma carta à empresa pedindo que seu executivo-chefe dispensasse primeiro trabalhadores estrangeiros com visto H-1B (de trabalho qualificado temporário): "A Microsoft tem uma obrigação moral de proteger os trabalhadores americanos ao priorizar seus empregos durante esses tempos difíceis", disse.
Organizações civis como a Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) - que reúne grupos anti-imigração – seguem na mesma linha. A CFAW iniciou neste ano uma campanha de TV associando o desemprego aos trabalhadores estrangeiros, como os com o visto H-1B.
Do outro lado do mundo, em Israel, o fortalecimento do partido neo-fascista Yisrael Beitenum, liderado por Avigdor Lieberman, com seus seguidores que entoam gritos de "morte aos árabes", é outro exemplo de como a intolerância pode proliferar diante de nossos olhos. Contraposta aos radicais islâmicos que, da mesma forma entoam cânticos pela destruição de Israel, a guinada política israelense à direita é temerosa.
Até nas redes sociais o fenômeno é identificável. As denúncias de xenofobia no site de relacionamentos Orkut, por exemplo, cresceram mais de 150% no segundo semestre de 2008 na comparação com os seis primeiros meses do ano, segundo a ONG SaferNet Brasil, que defende os direitos humanos na web.
No primeiro semestre do ano passado, a ONG recebeu 706 denúncias de crimes relacionados à xenofobia, contra 1.876 recebidas no segundo semestre, o que corresponde a um crescimento de 165,7%. O segundo maior aumento foi nos casos de homofobia, com 47,3% - passou de 567 denúncias (primeiro semestre de 2008) para 835 (segundo semestre). Na mesma comparação, as denúncias de neonazismo cresceram 28,2% e as de apologia e incitação a crimes contra a vida, 18,5%.
São as sementes do fascismo germinando, devagar, mas ininterruptamente.
Finalmente, vale dizer que a história caminha sem que estejamos dando a real importância aos fatos. Olhando o passado, nos chocamos hoje com o que este tipo de atitude permitiu: os holocaustos armênio e judeu, as grandes guerras (e as pequenas), os campos da fome de Stalin e as genocidas ditaduras comunistas do Oriente, as barbáries no continente africano etc. Olhando para trás nos perguntamos como foi possível às massas terem seguido Mussolini, Hitler, Stalin. Como permitiram?
Assim como aquelas pessoas deixaram a irracionalidade guiar seus desatinos, nada impede que, hoje, outros povos façam o mesmo. É fácil esquecermos os precedentes abertos, imaginando que estamos livres de tais barbaridades no futuro, mas o fato é que os crimes do passado tiveram início com os mesmos argumentos que hoje vemos proferidos por líderes mundiais: intolerância, ódio, xenofobia.
Quando um primeiro ministro inglês – país que lutou contra o nazismo e que sofreu as conseqüências desta opção – levanta a voz contra trabalhadores estrangeiros, devemos parar para pensar.
Todas as barbaridades começam com uma idéia que a muitos parece aceitável.
Benito Mussolini
A suposta agressão promovida por três jovens skinheads neonazistas à advogada brasileira Paula Oliveira, 26, funcionária em Zurique, na Suiça, do maior conglomerado econômico da Dinamarca - A P Moeller/Maersk, líder mundial em transporte marítimo de contêineres – é mais um tentáculo do monstro do fascismo, que emerge novamente das profundezas da história. O renascimento desta ideologia repugnante, que coloca os interesses do Estado sobre os interesses do indivíduo fomentando o racismo e a xenofobia, está ocorrendo sem que se tome qualquer iniciativa para esmagá-la no berço.
No artigo “O fantasma do fascismo”, publicado no último dia três, no Observatório da Imprensa, o jornalista Luciano Martins Costa expressa o temor de que o monstro que assolou o mundo por décadas no século passado, inspirou ditadores de esquerda e de direita e levou a morte de milhões de seres humanos esteja novamente abrindo suas mandíbulas.
O suposto ataque à Paula Oliveira expôs uma faceta macabra da Suíça. O País, que é conhecido por sua neutralidade, parece estar sob as lentes do filósofo Max Weber, para quem “neutro é aquele que já optou pelo lado do mais forte”.
Tenha sido o ataque verídico ou não, o fato é que a Suiça está desenvolvendo fama de país perigoso para estrangeiros. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, uma pesquisa divulgada em junho de 2006 mostra que um terço dos suíços é declaradamente xenófobo. “Doudou Diène, relator especial da ONU para o racismo, afirmou recentemente que o racismo é uma grave questão na Suíça, principalmente porque as autoridades locais não acreditam que o problema seja sério”, afirma a reportagem.
Também em entrevista ao Estadão, a diretora da Comissão Federal Suíça contra o Racismo, Doris Ansgt, comentou o comportamento da polícia suiça em seu trato com casos de racismo: "A polícia suíça é parcialmente cega quando se trata de casos de extremistas e de neonazistas”. Segundo ela, há de fato um mal-estar no país em relação à xenofobia: “O comportamento de jovens extremistas contra os estrangeiros é um reflexo dos sentimentos que vive a sociedade suíça".
Irene Zwentsch, brasileira que trabalha para o Conselho Brasil-Suíça - entidade com sede na Suiça e que ajuda a integração dos brasileiros vai além: "O público em geral não se importa com as vítimas dos extremistas. Qualquer um que se pareça estrangeiro ou que tenha pele escura tem razão de ter medo da violência. Racismo, antissemitismo, islamofobia são inerentes às ideologias de extrema direita".
Além dos Alpes
Levantamento feito por duas juntas de Direitos Humanos da Comissão Europeia, em Viena e Estrasburgo, baseando-se em dados recentes, apontou que o número de denúncias de violência racial aumentou drasticamente em oito dos 11 países-membros da União Europeia desde os atentados de 11 de Setembro e o início da chamada "Guerra ao Terror".
Os relatórios mostram que o número de crimes antissemitas cresceu no Reino Unido e na França, enquanto outras manifestações de violência de extrema direita são cada vez mais frequentes na Alemanha. A Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia, com sede em Viena, na Áustria, apontou – por meio de dados atualizados até 2006 – que as denúncias, investigações e crimes raciais e xenofóbicos aumentaram na Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Áustria, Irlanda, Reino Unido, França e Eslováquia.
Segundo os levantamentos, o País com maior númerio de crimes raciais e ligados a xenofobia é a Alemanha, com 18,1 mil crimes cometidos em 2006, alta de 5,3% na década. É a Dinamarca, país que acolhe grande contingentes de novos imigrantes, apresenta, no entanto, os maiores índices porcentuais. Lá, incidentes do gênero tornaram-se 59,1% mais comuns entre 2000 e 2006. Entre as nações mais populosas do bloco, a França, com aumento de 27,7%, e o Reino Unido, de 27,3%, também foram destaques negativos.
Para Luciano Costa, porém, “o caso mais grave acontece na Itália, onde o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi quer estimular os médicos a denunciar pacientes que sejam imigrantes em situação irregular.”. Em seu artigo, o jornalista destaca estratégias do governo italiano que muito se assemelham ao que as milícias fascistas que perseguiam opositores, judeus, homossexuais e outros desafetos do regime de Mussolini faziam nos anos 30 e 40: “... o governo italiano autoriza a criação de ‘patrulhas de cidadãos para supostamente controlar a segurança nas ruas.”.
A medida foi aprovado pelo Senado italiano com um placar de 156 votos a favor, 132 contra e uma abstenção. Ela faz parte da Lei de Segurança também aprovada pelo governo e reduz os médicos a condição de delatores. A Lei também estabelece pena de quatro anos de prisão para imigrantes com ordem de expulsão, mas que mesmo assim permanecem na Itália; eleva a taxa para permissão de residência no país de 80 para 200 euros por ano e taxa oficialmente de “vagabundos” todos os imigrantes “sem teto”.
Palco de intensos protestos nas últimas semanas, o Reino Unido também demonstrou tendências xenófobas nos últimos dias quando centenas de trabalhadores britânicos protestaram carregando placas cujos dizeres pediam “empregos do Reino Unido para trabalhadores britânicos”. Uma greve envolvendo trabalhadores em uma refinaria, cujos postos eram ocupados por italianos e portugueses, foi o estopim da crise. Sindicatos protestaram contra o governo, dizendo que trabalhadores nativos estavam sendo minados por estrangeiros com salários mais baixos. O primeiro ministro inglês, Gordon Brown, ao invés de apaziguar os ânimos, repetiu o grito de guerra dos grevistas, acirrando ainda mais o clima de confronto.
Vale lembrar notícia que pipocou nesta semana pela internet, segundo a qual o Príncipe Harry vai frequentar um curso anti-xenofobia promovido pelo exército inglês. Segundo o jornal Daily Mail a decisão surgiu depois dalgumas gaffes racistas do filho mais novo do Príncipe Charles terem sido reveladas ao público.
Na Espanha, onde o desemprego chega a quase 16%, os estrangeiros também têm sofrido. Segundo Ivan Briscoe, do Centro de Pesquisa para a Paz, Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Externo, na Espanha, por trabalharem com menos garantias, os estrangeiros ficam no front do desemprego.
Parelelos
Em reportagem publicada no JB Online, Antônio Inácio Andrioli, professor do Instituto de Sociologia da Universidade Johannes Kepler, de Linz, na Áustria, considerou que há paralelos entre o que ocorre hoje na Europa e a crise de 1929, que possibilitou a ascensão do nazismo.
“O aumento da desigualdade social e do desemprego, as principais conseqüências visíveis do desmonte das políticas de privatização das últimas décadas, contribuiu para produzir um antigo fenômeno social: a xenofobia. Em períodos marcados pela recessão e pela ausência de movimentos e utopias revolucionários, abre-se o espaço para a interpretação simplista e populista da realidade, que culpa os estrangeiros pelos problemas sociais. A ausência de alternativas políticas e o conseqüente sentimento de impotência e desesperança social são um terreno fértil para o aumento da xenofobia”, afirmou.
O primeiro ministro espanhol, José Luís Rodríguez Zapatero, pediu nesta semana que a Europa esteja “unida e forte para combater sintomas inquietantes de nacionalismo, xenofobia e tentações protecionistas”. No entanto, de forma geral, esta não parece ser uma preocupação dos dirigentes europeus que, em junho de 2008, por meio do Parlamento Europeu, aprovaram uma diretiva de retorno de imigrantes ilegais, que entrará em vigor em 2010 e que pode gerar a expulsão de cerca de oito milhões de imigrantes irregulares da Europa, grande parte deles latino-americanos.
Tempestade em copo d´água?
Este tipo de política pode parecer sem importância. Há quem possa argumentar que é legítima e que os governantes devem defender os interesses de seus cidadãos. Ocorre que estamos falando de algo mais completo, que tem origem na intolerância gerada pela crise e que não é coisa nova. A história já viu situações similares no passado e os resultados são sempre funestos: para dar vazão à insatisfação causada por crises econômicas, populações nativas atacam gente de cor, convicção ou credo diverso dos seus como se isso fosse solucionar o problema.
A xenofobia e o racismo são primos indissociáveis e as reações que suscitam atingem o seio das sociedades onde proliferam. É o caso dos Estados Unidos, por exemplo, onde o anúncio feito pela Microsoft no último dia 22, de que demitiria mais de cinco mil funcionários por causa da crise, fez com que o senador republicano Chuck Grassley, de Iowa, escrevesse uma carta à empresa pedindo que seu executivo-chefe dispensasse primeiro trabalhadores estrangeiros com visto H-1B (de trabalho qualificado temporário): "A Microsoft tem uma obrigação moral de proteger os trabalhadores americanos ao priorizar seus empregos durante esses tempos difíceis", disse.
Organizações civis como a Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) - que reúne grupos anti-imigração – seguem na mesma linha. A CFAW iniciou neste ano uma campanha de TV associando o desemprego aos trabalhadores estrangeiros, como os com o visto H-1B.
Do outro lado do mundo, em Israel, o fortalecimento do partido neo-fascista Yisrael Beitenum, liderado por Avigdor Lieberman, com seus seguidores que entoam gritos de "morte aos árabes", é outro exemplo de como a intolerância pode proliferar diante de nossos olhos. Contraposta aos radicais islâmicos que, da mesma forma entoam cânticos pela destruição de Israel, a guinada política israelense à direita é temerosa.
Até nas redes sociais o fenômeno é identificável. As denúncias de xenofobia no site de relacionamentos Orkut, por exemplo, cresceram mais de 150% no segundo semestre de 2008 na comparação com os seis primeiros meses do ano, segundo a ONG SaferNet Brasil, que defende os direitos humanos na web.
No primeiro semestre do ano passado, a ONG recebeu 706 denúncias de crimes relacionados à xenofobia, contra 1.876 recebidas no segundo semestre, o que corresponde a um crescimento de 165,7%. O segundo maior aumento foi nos casos de homofobia, com 47,3% - passou de 567 denúncias (primeiro semestre de 2008) para 835 (segundo semestre). Na mesma comparação, as denúncias de neonazismo cresceram 28,2% e as de apologia e incitação a crimes contra a vida, 18,5%.
São as sementes do fascismo germinando, devagar, mas ininterruptamente.
Finalmente, vale dizer que a história caminha sem que estejamos dando a real importância aos fatos. Olhando o passado, nos chocamos hoje com o que este tipo de atitude permitiu: os holocaustos armênio e judeu, as grandes guerras (e as pequenas), os campos da fome de Stalin e as genocidas ditaduras comunistas do Oriente, as barbáries no continente africano etc. Olhando para trás nos perguntamos como foi possível às massas terem seguido Mussolini, Hitler, Stalin. Como permitiram?
Assim como aquelas pessoas deixaram a irracionalidade guiar seus desatinos, nada impede que, hoje, outros povos façam o mesmo. É fácil esquecermos os precedentes abertos, imaginando que estamos livres de tais barbaridades no futuro, mas o fato é que os crimes do passado tiveram início com os mesmos argumentos que hoje vemos proferidos por líderes mundiais: intolerância, ódio, xenofobia.
Quando um primeiro ministro inglês – país que lutou contra o nazismo e que sofreu as conseqüências desta opção – levanta a voz contra trabalhadores estrangeiros, devemos parar para pensar.
Todas as barbaridades começam com uma idéia que a muitos parece aceitável.
1 comentário:
Paula Oliveira já foi desmascarada como vagabunda mentirosa a serviço do Racismo Judaico! Como seguiram Stalin, Hitler? Simples, e como os brasileiros seguem o Analfabeto de nove dedos e os comunistas do PT que exploram os otários com o Mensalão, Petrolão, Lava Jato, Pixuleco, Pedaladas e ect.!
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