Semana On

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Quem são os traídos?

Jornalista, professor-doutor da Escola de Comunicações e Artes da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade, Eugênio Bucci fez, no artigo “Considerações éticas sobre a repercussão da entrevista”, a análise mais lúcida e ácida que li até o momento sobre o “desabafo” do senador Jarbas Vasconcelos a respeito do PMDB.

Diz que “embora Jarbas Vasconcelos não tenha ‘entregado’ o nome de ninguém, será chamado de traidor pelos caciques”, e questiona: “...se olharmos essa confusão por outro ângulo, quem é o traidor? É o que denuncia, mesmo que tardiamente, ou o que mercadeja votos, o que acoberta os apaniguados, o que comete crimes em nome de uma tortuosa alegação de justiça social, ou em nome do partido? Quem é o traidor?...”.

Ele mesmo responde poucos parágrafos depois: “Nesse mundo, o antigo deglute a aspiração de emancipação e a devolve como farsa carnívora. Para sobreviver dentro dele, o sujeito precisa reproduzi-lo para além do seu próprio corpo. A isso nós assistimos impassíveis. Sim, somos nós os traídos. Nós, atônitos, atordoados, sem ter para onde correr, sem ter como desativar a besta.”.

E não nos sentimos exatamente desta forma em nosso cotidiano? Condenados a reproduzir as mesmas práticas que criticamos, imersos em um redemoinho no qual tudo que nos resta é vagar de acordo com a corrente? O artigo de Bucci é desafiador na medida em que cobra de todos nós posturas éticas que podem colocar-nos em dificuldades práticas como, por exemplo, manter um emprego.

Como reunir coragem suficiente para ser um traidor?

3 comentários:

Daniel Braga disse...

Reflexão importantíssima para o momento político que vivemos!

Deixei chamada no Mausoléu para este link meu amigo!

Bom trabalho informativo!

Barone disse...

Opa Daniel, obrigado pela visita e pelo reforço!

Anónimo disse...

Sendo, antes de mais nada, nossos próprios traidores. E, para tal, não precisa coragem. É só deixar rolar. Afinal, temos todos já que nos empenhar em ganhar nossas vidas, nosso pão, deixe que alguém mais cuide disso, não é verdade?

Ou somos todos revolucionários, ou somos todos traidores.

Não vejo espaço para um meio-termo. Aquele lance de por pensamentos e palavras, atos e *omissões*.

Enfim...

- Felipe