Semana On

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O mito do ódio milenar

Os advogados da “tese do ódio milenar” (entre árabes e judeus) deveriam primeiramente explicar como foi possível, em plena época de dominação muçulmana na Península Ibérica, haver algo como a “idade de ouro do pensamento judeu” (a respeito da qual Maimônides é o representante mais conhecido). Diga-se de passagem, foi apenas com a cristianização da península no final de séc. XV que os judeus foram expulsos de lá.

Por isto, tais advogados deveriam também tentar nos explicar porque, ao serem expulsos da península ibérica, os judeus procuraram refúgio no Império Otomano, onde, durante a história do império, puderam aceder a cargos importantes na administração pública e no parlamento (séc. XIX): fatos simplesmente impensáveis na grande maioria dos países europeus.

Todos os estudos históricos sérios são unânimes em afirmar que as condições de vida dos judeus no Império Otomano eram, em grande parte, muito melhores do que em qualquer outro país europeu. Diga-se, de passagem, se há um procedimento ideologicamente suspeito chamado “anti-historicismo” e fundado na recusa em levar em conta os condicionantes históricos na determinação de fatos presentes, há também o não menos suspeito “hiper-historicismo” que consiste em remeter a causa de todo conflito presente ao paleolítico e, com isto, esvaziar toda possibilidade de resolução.

Vladimir Safatle

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