"O teu filho não é teu filho, é filho do seu tempo" – Confúcio
O desenhista Mauricio de Souza levantou uma questão interessante neste final de semana, em entrevista publicada nas páginas amarelas da revista Veja. Ele explica os motivos que o levaram a lançar uma versão “adolescente” de sua mais conhecida personagem, Mônica, cujas vendas atingiram o dobro do gibi da “Mônica criança”. Segundo Maurício, nos últimos cinqüenta anos houve uma “mudança extraordinária” no público da revista.
“Se antes adolescentes de 14 anos ainda liam e gostavam dos meus gibis, hoje eles começam a deixar de lê-los aos sete. Aos poucos, passam a considerar a Turma da Mônica coisa de criança e a comprar mangas japoneses. Quando estão com 10 anos, já se assumem como jovens. São os pré-adolescentes, meninos e meninas com preocupações e vontades diferentes daquelas que havia quando a Mônica foi publicada pela primeira vez. A infância, portanto, encolheu.”, afirmou.
A infância encolheu. É um conceito interessante e assustador, ao mesmo tempo. Maurício de Souza não vê nenhum problema nesta “mutação” que transforma crianças em adolescentes e adolescentes em adultos. “Essa melancolia que vejo em muitos adultos não faz sentido. Nada está sendo perdido. A questão é que tudo ficou mais intenso, condensado. A infância diminuiu em quantidade, mas ganhou em qualidade. As crianças aproveitam mais e melhor o tempo e se tornam cidadãs e se formam como ser humano antes do tempo”, opinou.
Apesar de Maurício de Souza se referir ao tema sob o contexto do gibi publicado por sua empresa, é possível estender o debate para outras mídias que, da mesma forma, podem dirigidas a um público infanto-juvenil, em especial a tevê.
Psicóloga Infantil e Psicopedagoga, Arina Isabel das Chagas sustenta que a o amadurecimento das crianças depende do contexto social em que vivem. “Os jovens europeus e americanos são muito mais estimulados à leitura em comparação com os brasileiros”, aponta.
Os estímulos constantes, a cultura da competição e as novas formatações familiares são fatores apontados como motores deste desenvolvimento acelerado. “As mães que se descobrem na sua profissão estimulam a independência dos seus filhos que vão amadurecer mais rápido. Atingem mais cedo a puberdade. Inicialmente ocorrem as transformações físicas, forçando esses jovens a uma maturidade emocional”, afirma Chagas no artigo “Por que os jovens amadurecem mais cedo nos dias de hoje?”.
Para a doutora em Psicologia e coordenadora do Núcleo de Análise de Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber, é possível traçar um paralelo entre o que acontece com as crianças hoje em dia e o que ocorreria com elas durante a Idade Média, quando eram tratadas como “mini-adultos imperfeitos”.
Chagas também reconhece nesta “nova infância” resquícios de outros tempos: “Nos séculos passados, jovens de 10 a 12 anos já trabalhavam, com 15 anos iam para a guerra. Etapas eram puladas até porque a expectativa de vida era menor na época. Tanto tempo se passou e a estória se repete nos casos do trabalho infantil; crianças que trabalham nas minas de carvão ou nas lavouras de cana de açúcar. Infelizmente são exemplos de um amadurecimento mais precoce”, afirma.
A Mídia
Mas até que ponto a mídia deve ser responsabilizada por esta mudança de comportamento por parte das crianças?
Na reportagem “Crianças assumem responsabilidades mais cedo”, publicada pelo jornal Paraná Online em julho de 2008, Weber sustenta que a mídia tem um papel importante no amadurecimento precoce de crianças e aponta os programas infantis e danças como modelos sexualizados que influenciam muito a criança, inclusive na sexualidade. “A pressão da mídia está fazendo com que a adolescência seja antecipada. Até a menarca (primeira menstruação) está sendo antecipada. A mídia influencia até na maneira da criança se vestir, com traços adultos, como minissaias e sapatos com salto”, avalia.
Na entrevista concedida à revista Veja, Maurício de Souza discorda. Diz que “os pequenos não entendem que uma roupa curta ou um decote têm algo a ver com sexualidade”. Para o desenhista, “Eles interpretam isso como algo fashion, colorido, quase uma mensagem gráfica”. Para reforçar seu ponto de vista, sustenta que a linha argumentativa do gibi segue o que ocorre na sociedade: “Nas casas de hoje se pode conversar sobre tudo: sexo, drogas, violência. Se o pai não puxa esses assuntos, o filho de cinco anos faz isso por ele”.
Em 1998 o jornal Folha de S. Paulo promoveu um debate sobre a violência na TV e educação. Na oportunidade, a educadora Heloísa D. Penteado (então professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP), disse que "a tevê está, em qualquer sociedade, a serviço daquele modelo de sociedade” e que “como toda instituição reflete contradições dessa sociedade". No contraponto, Ciro de Figueiredo, então presidente do Grupo-Associação de Escolas Particulares, defendeu o ponto de vista segundo o qual: "Ela (a tevê) não transmite o mundo, fabrica mundos, passa a ser a própria realidade e por isso o processo crítico da tevê deve estar presente em todos os setores da sociedade, principalmente na escola e na família".
Segundo dois estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as novelas brasileiras ajudaram a moldar as idéias das mulheres sobre divórcio e filhos de maneira crítica. Se os folhetins eletrônicos têm o poder de influenciar o comportamento de adultos, outras mídias não teriam a mesma ação sobre crianças e adolescentes?
Diante deste conflito de leituras relativas ao poder da mídia sobre a formação da criança, a grande dúvida é que limites devem ser impostos pelos pais no intuito de permitir que seus filhos vivenciem a infância de forma saudável? Há limites?
O desenhista Mauricio de Souza levantou uma questão interessante neste final de semana, em entrevista publicada nas páginas amarelas da revista Veja. Ele explica os motivos que o levaram a lançar uma versão “adolescente” de sua mais conhecida personagem, Mônica, cujas vendas atingiram o dobro do gibi da “Mônica criança”. Segundo Maurício, nos últimos cinqüenta anos houve uma “mudança extraordinária” no público da revista.
“Se antes adolescentes de 14 anos ainda liam e gostavam dos meus gibis, hoje eles começam a deixar de lê-los aos sete. Aos poucos, passam a considerar a Turma da Mônica coisa de criança e a comprar mangas japoneses. Quando estão com 10 anos, já se assumem como jovens. São os pré-adolescentes, meninos e meninas com preocupações e vontades diferentes daquelas que havia quando a Mônica foi publicada pela primeira vez. A infância, portanto, encolheu.”, afirmou.
A infância encolheu. É um conceito interessante e assustador, ao mesmo tempo. Maurício de Souza não vê nenhum problema nesta “mutação” que transforma crianças em adolescentes e adolescentes em adultos. “Essa melancolia que vejo em muitos adultos não faz sentido. Nada está sendo perdido. A questão é que tudo ficou mais intenso, condensado. A infância diminuiu em quantidade, mas ganhou em qualidade. As crianças aproveitam mais e melhor o tempo e se tornam cidadãs e se formam como ser humano antes do tempo”, opinou.
Apesar de Maurício de Souza se referir ao tema sob o contexto do gibi publicado por sua empresa, é possível estender o debate para outras mídias que, da mesma forma, podem dirigidas a um público infanto-juvenil, em especial a tevê.
Psicóloga Infantil e Psicopedagoga, Arina Isabel das Chagas sustenta que a o amadurecimento das crianças depende do contexto social em que vivem. “Os jovens europeus e americanos são muito mais estimulados à leitura em comparação com os brasileiros”, aponta.
Os estímulos constantes, a cultura da competição e as novas formatações familiares são fatores apontados como motores deste desenvolvimento acelerado. “As mães que se descobrem na sua profissão estimulam a independência dos seus filhos que vão amadurecer mais rápido. Atingem mais cedo a puberdade. Inicialmente ocorrem as transformações físicas, forçando esses jovens a uma maturidade emocional”, afirma Chagas no artigo “Por que os jovens amadurecem mais cedo nos dias de hoje?”.
Para a doutora em Psicologia e coordenadora do Núcleo de Análise de Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber, é possível traçar um paralelo entre o que acontece com as crianças hoje em dia e o que ocorreria com elas durante a Idade Média, quando eram tratadas como “mini-adultos imperfeitos”.
Chagas também reconhece nesta “nova infância” resquícios de outros tempos: “Nos séculos passados, jovens de 10 a 12 anos já trabalhavam, com 15 anos iam para a guerra. Etapas eram puladas até porque a expectativa de vida era menor na época. Tanto tempo se passou e a estória se repete nos casos do trabalho infantil; crianças que trabalham nas minas de carvão ou nas lavouras de cana de açúcar. Infelizmente são exemplos de um amadurecimento mais precoce”, afirma.
A Mídia
Mas até que ponto a mídia deve ser responsabilizada por esta mudança de comportamento por parte das crianças?
Na reportagem “Crianças assumem responsabilidades mais cedo”, publicada pelo jornal Paraná Online em julho de 2008, Weber sustenta que a mídia tem um papel importante no amadurecimento precoce de crianças e aponta os programas infantis e danças como modelos sexualizados que influenciam muito a criança, inclusive na sexualidade. “A pressão da mídia está fazendo com que a adolescência seja antecipada. Até a menarca (primeira menstruação) está sendo antecipada. A mídia influencia até na maneira da criança se vestir, com traços adultos, como minissaias e sapatos com salto”, avalia.
Na entrevista concedida à revista Veja, Maurício de Souza discorda. Diz que “os pequenos não entendem que uma roupa curta ou um decote têm algo a ver com sexualidade”. Para o desenhista, “Eles interpretam isso como algo fashion, colorido, quase uma mensagem gráfica”. Para reforçar seu ponto de vista, sustenta que a linha argumentativa do gibi segue o que ocorre na sociedade: “Nas casas de hoje se pode conversar sobre tudo: sexo, drogas, violência. Se o pai não puxa esses assuntos, o filho de cinco anos faz isso por ele”.
Em 1998 o jornal Folha de S. Paulo promoveu um debate sobre a violência na TV e educação. Na oportunidade, a educadora Heloísa D. Penteado (então professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da USP), disse que "a tevê está, em qualquer sociedade, a serviço daquele modelo de sociedade” e que “como toda instituição reflete contradições dessa sociedade". No contraponto, Ciro de Figueiredo, então presidente do Grupo-Associação de Escolas Particulares, defendeu o ponto de vista segundo o qual: "Ela (a tevê) não transmite o mundo, fabrica mundos, passa a ser a própria realidade e por isso o processo crítico da tevê deve estar presente em todos os setores da sociedade, principalmente na escola e na família".
Segundo dois estudos recentes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), as novelas brasileiras ajudaram a moldar as idéias das mulheres sobre divórcio e filhos de maneira crítica. Se os folhetins eletrônicos têm o poder de influenciar o comportamento de adultos, outras mídias não teriam a mesma ação sobre crianças e adolescentes?
Diante deste conflito de leituras relativas ao poder da mídia sobre a formação da criança, a grande dúvida é que limites devem ser impostos pelos pais no intuito de permitir que seus filhos vivenciem a infância de forma saudável? Há limites?
2 comentários:
Eu tenho a MAIOR admiração pelo Maurício de Sousa. Ele é, antes de mais nada, um excelente administrador de marca.
Em um país que sempre depõe contra, de condições de mercado cretinas, leis de merda, impostos de lascar e um povo que se ressente de quem faz sucesso; ele consegue levar e se estabelecer um produto de HQs em países com tradição no assunto como o Japão.
Vira e mexe encontro algum contemporâneo babão e sou direto: suas doces memórias da infância não compram as revistas de hoje em dia. Sinto, mas Maurício de Sousa não quer mais falar com você. :)
A natureza é sábia. Se estivermos certos, as coisas correrão , em seu curso natural, caso contrário, de alguma maneira, ela cobra, impiedosamente.
Enviar um comentário