O texto abaixo é uma tradução livre da belíssima reflexão feita por Yoani Sánchez em seu blog Generarión Y, intitulado Vítima não, responsável. Sua coragem frente ao autoritarismo em Cuba tem se refletido em todo o mundo. Recomendo o blog.
“Poderia passar o dia assustada, escondendo-me destes homens lá em baixo. Encheria páginas com o custo pessoal que me trouxe este blog e com os testemunhos dos que foram “avisados” de que sou uma pessoa perigosa.
Bastaria decidir e cada um dos meus textos seria uma denúncia ou um longo dedo acusador para aqueles que buscam culpados. Mas acontece que eu não sou uma vítima, sou responsável.
Estou ciente de que me calei, que permiti a alguns o direito de governar minha ilha como se fosse uma fazenda. Fingi e aceitei que outros tomassem por mim as decisões que nos cabiam a todos, me escondia por detrás do fato de ser muito jovem, muito frágil. Sou responsável por ter colocado a máscara, por ter usado meu filho e minha família como argumento para não me atrever. Aplaudi – como quase todos – e deixei meu país quando estava farta, dizendo a mim mesma que era mais fácil esquecer que tentar mudar algo.
Também carrego o peso de ter me deixado levar – algumas vezes – pelo rancor ou pela suspeita. Tolerei que me incutissem a paranóia e em minha adolescência uma balsa no meio do mar foi um desejo frequentemente acariciado.
No entanto, como não me sinto vítima, ergo um pouco a saia e mostro minhas pernas aos dois homens que me seguem por toda a parte. Não há nada mais paralisante que uma panturrilha de mulher quando o sol bate em meio à calçada. Como também não tenho vocação para mártir, tento não desmanchar o sorriso, visto que a gargalhada é uma pedra dura para os dentes dos autoritários. Assim prossigo em minha vida, sem deixar que me convertam em puro gemido, em apenas um lamento. Afinal de contas, tudo isso que vivo hoje tem sido produto do meu silêncio, fruto direto da minha passividade anterior.”
“Poderia passar o dia assustada, escondendo-me destes homens lá em baixo. Encheria páginas com o custo pessoal que me trouxe este blog e com os testemunhos dos que foram “avisados” de que sou uma pessoa perigosa.
Bastaria decidir e cada um dos meus textos seria uma denúncia ou um longo dedo acusador para aqueles que buscam culpados. Mas acontece que eu não sou uma vítima, sou responsável.
Estou ciente de que me calei, que permiti a alguns o direito de governar minha ilha como se fosse uma fazenda. Fingi e aceitei que outros tomassem por mim as decisões que nos cabiam a todos, me escondia por detrás do fato de ser muito jovem, muito frágil. Sou responsável por ter colocado a máscara, por ter usado meu filho e minha família como argumento para não me atrever. Aplaudi – como quase todos – e deixei meu país quando estava farta, dizendo a mim mesma que era mais fácil esquecer que tentar mudar algo.
Também carrego o peso de ter me deixado levar – algumas vezes – pelo rancor ou pela suspeita. Tolerei que me incutissem a paranóia e em minha adolescência uma balsa no meio do mar foi um desejo frequentemente acariciado.
No entanto, como não me sinto vítima, ergo um pouco a saia e mostro minhas pernas aos dois homens que me seguem por toda a parte. Não há nada mais paralisante que uma panturrilha de mulher quando o sol bate em meio à calçada. Como também não tenho vocação para mártir, tento não desmanchar o sorriso, visto que a gargalhada é uma pedra dura para os dentes dos autoritários. Assim prossigo em minha vida, sem deixar que me convertam em puro gemido, em apenas um lamento. Afinal de contas, tudo isso que vivo hoje tem sido produto do meu silêncio, fruto direto da minha passividade anterior.”
1 comentário:
Esse cara e seu trabalho são de ouro. E como escreve!
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