Foram divulgados no último dia 23 os vencedores do prêmio Philip Meyer de Jornalismo que, segundo a descrição oficial, “reconhece os melhores usos de métodos da ciência social no jornalismo". São reportagens que combinam levantamento de informações públicas, por meio do Freedom of Information Act, análise de estatísticas e, como bem disse Marcelo Soares (de onde pincei a dica e os comentários sobre os premiados), “a sempre eficaz arte de sujar os sapatos”.
Vencedores de 2009
1º LUGAR: "Salvando bebês: expondo mortes repentinas de crianças", Scripps Howard News Service
"Os repórteres Thomas Hargrove, Lee Bowman e Lisa Hoffman fizeram um trabalho magistral ao expor lapsos burocráticos que impedem a busca pelas causas de mortes repentinas de bebês. Fazendo bom uso de fortes ferramentas estatísticas, a equipe analisou as agudas diferenças nos diagnósticos de causas de morte entre os estados e produziu a primeira prova rigorosa do valor das câmaras de revisão locais e estaduais sobre mortes de crianças, presentes em algumas jurisdições. Alguns meses após a publicação do projeto, o então senador Barack Obama apresentou um projeto de lei federal que exige dos examinadores médicos que façam investigações do local da morte em todos os casos de morte inesperada de bebês."
2º LUGAR: "Falhas Fatais", Kansas City Star
"Os repórteres Mike Casey e Rick Montgomery analisaram 1,9 milhão de registros da Administração Nacional de Segurança no Tráfego em Auto-Estradas para descobrir a falha da entidade em considerar a falta de airbags como um problema significativo de segurança. O trabalho de Casey e Montgomery sugere que quase 300 pessoas são mortas anualmente em acidentes pelo fato de seus airbags não terem inflado quando deviam. Inicialmente, a NHTSA contestou fortemente as conclusões, mas acabou fazendo sua própria análise dos dados e chegou às mesmas conclusões. Este projeto combinou o melhor das técnicas que Philip Meyer defende com o estado mental investigativo que se recusa a aceitar um não como resposta quando o que está em jogo (neste caso, vida e morte) é muito alto."
3º LUGAR: "Pegando pesado? - Táticas de policiamento suburbano", Philadelphia Inquirer
"Mark Fazlollah, Dylan Purcell, Melissa Dribben e Keith Herbert, da equipe do Inquirer, estudaram dados de prisão e Justiça de departamentos de polícia nos subúrbios que cercam a Filadélfia e encontraram cidades onde negros eram presos em números extraordinários por ofensas menores, como vadiagem e atravessar a rua sem observar as regras. Reportagem subseqüentes expuseram prisões onde milhares de revistas vexatórias ilegais eram conduzidas, cães policiais sendo usados para controlar crianças negras que iam a pé da escola para casa e ocorrências por tráfico sendo preenchidas com antecedência às prisões."
2008
1º LUGAR: "Falsificando as notas", Dallas Morning Herald
A pauta é parecida com a do jornal da Filadélfia que ganhou o terceiro lugar em 2007, mas a execução foi mais ambiciosa. A série de três dias mostrou sérias evidências de fraude nos testes-padrão, por mais de 50 mil estudantes de escolas públicas e particulares do estado do Texas. O jornal foi o primeiro a fazer uma reportagem sobre isso, em 2004, quando ainda sequer havia o prêmio Philip Meyer. Desta vez, os repórteres Joshua Benton e Holly Hacker analisaram um gigantesco banco de dados de notas e respostas de testes de centenas de milhares de estudantes individuais que fizeram os testes ao longo de dois anos. O rigor empregado pela série fez com que o estado anunciasse controles mais fortes sobre as condições em que os testes são feitos nas escolas do Texas, para se adaptarem aos métodos estatísticos de detecção de fraudes usados pelo jornal.
2º LUGAR: "Questão de vida ou morte", Atlanta Journal-Constitution
A pena de morte ainda é lei em vários pontos dos Estados Unidos. Em alguns estados, porém, ela é mais cruel. Em 1972, uma decisão da Suprema Corte americana classificou a aplicação da pena no estado da Geórgia – o mesmo onde se passa o filme “E o Vento Levou” – como “arbitrário e capcioso”. Nessa série de quatro duas, os repórteres Bill Rankin, Heather Vogell, Sonji Jacobs e a analista de bancos de dados Megan Clarke mergulharam em dados de 2.300 condenações por assassinato registradas desde 1995. Paralelamente, a pesquisadora Alice Wertheim fez um banco de dados com as condenações a pena de morte desde 1982. Os jornalistas fizeram diversas análises nos dados e conseguiram demonstrar que as condenações à pena de morte variavam de acordo com características demográficas dos réus e com o lugar onde viviam. Com isso, o Legislativo estadual decidiu considerar mudanças nas leis de pena de morte e o Judiciário local tomou iniciativas para melhorar o processo de revisão dos casos.
3º LUGAR: "Empresas de Seguro - Serviço ou Safadeza", Kansas City Star
Três repórteres passaram quase um ano analisando um banco de dados com mais de 35 milhões de registros de reclamações contra mais de 2.400 companhias de seguros dos Estados Unidos. A idéia era verificar quais são as reclamações dos clientes dessas empresas e como elas respondem a isso. A preocupação com o consumidor, segundo descobriram os repórteres Mike Casey, Mark Morris e David Klepper, varia muito conforme a empresa, o lugar do país e o tipo de cobertura. Logo na primeira reportagem, era mostrado o caso de uma mulher cujo plano de saúde não cobria internação hospitalar – e ela só descobriu isso ao receber uma conta de US$ 16 mil. Na última reportagem, o jornal demonstrava que as empresas de seguros passam por virtualmente nenhuma supervisão pública e que os encarregados pela pouca supervisão que há vêm das próprias empresas em que devem ficar de olho. A partir da análise do jornal, o Legislativo Americano passou a propor mudanças na regulamentação dos planos de seguros.
2007
1º LUGAR: "O dia perfeito para receber", Wall Street Journal
Foi uma série de reportagens publicadas ao longo de 2006 que expôs a prática de mudar a data de recibos de compra de ações para beneficiar quem tem informações privilegiadas com um pagamento maior. Os autores, Charles Forelle e James Bandler, usaram um modelo estatístico para calcular as chances selvagemente improváveis de que as datas de pagamento de ações simplesmente fossem muito favoravelmente lucrativas para dezenas de executivos de algumas das empresas mais conhecidas dos EUA. As reportagens sobre o escândalo levaram à abertura de uma investigação do órgão federal que fiscaliza a Bolsa para avaliar sabotagem em títulos de mais de 100 empresas até agora.
2º LUGAR: "Relatório Especial: Avaliando o Tratamento Cardíaco em Hospitais", Gannett News Service
É um pacote de matérias publicado em vários jornais dos EUA, que avaliou como mais de 3 mil hospitais seguiam as recomendações médicas de melhores práticas para tratar pacientes que sofreram ataques cardíacos. As matérias escritas pelo editor de banco de dados Robert Benincasa e pela repórter Jennifer Brooks mostravam que pacientes de áreas pobres e regiões rurais tinham menos chance de receber os cuidados recomendados. Sua análise usou um banco de dados nacional detalhando o tratamento dado a cada paciente e usou uma metodologia de escores compostos para avaliar cada hospital.
3º LUGAR: "Investigação das notas em Camden", Philadelphia Inquirer
Foi uma série de reportagens que expôs um escândalo de fraudes no teste-padrão usado pelo distrito escolar de Camden, em Nova Jersey. O trabalho dos repórteres Melanie Burney, Frank Kummer e Dwight Ott revelou que os resultados de testes aplicados em diversas escolas de Camden eram dramaticamente mais altos do que o que poderia ser esperado com base em performances passadas, e acabou levando à demissão do superintendente do distrito escolar, a uma investigação e ao monitoramento rigoroso do distrito pelo departamento estadual de educação. (O livro Freakonomics cita casos semelhantes para propor um modelo de análise desse tipo de coisa.)
2006
1º LUGAR: "Epidemia desnecessária", The Oregonian
O repórter Steve Suo demonstrou como o Legislativo americano e a DEA (departamento governamental responsável pelo combate às drogas) poderiam ter impedido uma epidemia de uso de metanfetaminas – presentes em drogas como o Ecstasy e em medicamentos controlados, como a Efedrina – se tivessem regulamentado melhor a importação dos produtos químicos necessários para sua produção. Em 1997, cerca de 5 milhões de americanos haviam provado metanfetaminas. Hoje, estima-se que cerca de 13 milhões usem de alguma forma – fumando, inalando, injetando ou ingerido. Apenas nove laboratórios no mundo inteiro produzem esses 12 elementos, e desde os anos 80 os laboratórios que os usam para fabricar medicamentos precisam manter registros de importação atualizados. Brechas legais, estimuladas pela ação de lobbies que usam como argumento a dependência de pacientes desses medicamentos, permitem que fabricantes de tóxicos tenham acesso aos produtos. Suo fez análises de dados sobre internações médicas, prisões, preço e pureza de metanfetaminas e importação de produtos químicos. A reportagem demonstra que, em dois períodos em que as autoridades federais impediram o acesso de cartéis aos produtos químicos, os crimes e internações pelo uso de metanfetaminas caiu na mesma proporção em que o preço da droga no mercado negro aumentou.
2º LUGAR: "Dispensados e desonrados", Knight-Ridder
Chris Adams e Alison Young, da sucursal de Washington da rede de jornais, mostram como a burocracia emperra as solicitações de veteranos que voltaram de guerras com deficiências físicas. Mais de 13.700 deles morreram antes de serem atendidos, e até 572 mil ex-combatentes podem não estar até hoje recebendo pensão por invalidez causada por guerras. Hoje, cerca de um terço do orçamento do VA (órgão do governo dos EUA que atende os ex-combatentes) é destinado a pagar pensões por invalidez a ex-combatentes. Os registros analisados pelos repórteres mostram as diferenças regionais no atendimento às demandas dos veteranos. Também revelam os tipos de doenças mais comuns enfrentadas pelos ex-combatentes: esquizofrenia e demência associada a trauma cerebral. A lentidão da burocracia não discrimina idade. Os repórteres encontraram um veterano da 2ª Guerra Mundial que teve o estômago rasgado por uma bala aos 19 anos, em 1945, e apenas em 1981 descobriu que sua pensão não cobria todos os danos que sofreu. A partir daí, passou 21 anos em uma batalha legal por seus direitos.
3º LUGAR: "O sumiço dos pântanos", St.Petersburg Times
Os repórteres Matthew Waite e Craig Pittmann demonstraram como 84 mil acres (quase 340 km²) de área pantanosa foram devastados por construções na Flórida após o governo George Bush (pai) anunciar uma política nacional para evitar perdas de áreas pantanosas, em 1990. Os repórteres usaram imagens de satélite de vários anos e sistemas de informações geográficas para calcular o tamanho exato da perda de área. Também analisaram os registros de permissão para exploração imobiliária de áreas pantanosas. Segundo a investigação, entre 1999 e 2003, foram aprovadas mais de 12 mil permissões de exploração – e apenas uma foi negada. A série de reportagens também contabilizou alguns prejuízos sofridos pelos governos com as construções nessas áreas. O condado de Collier, por exemplo, gastou US$ 30 milhões para indenizar moradores de bairros inundados que um dia foram áreas pantanosas.
Vencedores de 2009
1º LUGAR: "Salvando bebês: expondo mortes repentinas de crianças", Scripps Howard News Service
"Os repórteres Thomas Hargrove, Lee Bowman e Lisa Hoffman fizeram um trabalho magistral ao expor lapsos burocráticos que impedem a busca pelas causas de mortes repentinas de bebês. Fazendo bom uso de fortes ferramentas estatísticas, a equipe analisou as agudas diferenças nos diagnósticos de causas de morte entre os estados e produziu a primeira prova rigorosa do valor das câmaras de revisão locais e estaduais sobre mortes de crianças, presentes em algumas jurisdições. Alguns meses após a publicação do projeto, o então senador Barack Obama apresentou um projeto de lei federal que exige dos examinadores médicos que façam investigações do local da morte em todos os casos de morte inesperada de bebês."
2º LUGAR: "Falhas Fatais", Kansas City Star
"Os repórteres Mike Casey e Rick Montgomery analisaram 1,9 milhão de registros da Administração Nacional de Segurança no Tráfego em Auto-Estradas para descobrir a falha da entidade em considerar a falta de airbags como um problema significativo de segurança. O trabalho de Casey e Montgomery sugere que quase 300 pessoas são mortas anualmente em acidentes pelo fato de seus airbags não terem inflado quando deviam. Inicialmente, a NHTSA contestou fortemente as conclusões, mas acabou fazendo sua própria análise dos dados e chegou às mesmas conclusões. Este projeto combinou o melhor das técnicas que Philip Meyer defende com o estado mental investigativo que se recusa a aceitar um não como resposta quando o que está em jogo (neste caso, vida e morte) é muito alto."
3º LUGAR: "Pegando pesado? - Táticas de policiamento suburbano", Philadelphia Inquirer
"Mark Fazlollah, Dylan Purcell, Melissa Dribben e Keith Herbert, da equipe do Inquirer, estudaram dados de prisão e Justiça de departamentos de polícia nos subúrbios que cercam a Filadélfia e encontraram cidades onde negros eram presos em números extraordinários por ofensas menores, como vadiagem e atravessar a rua sem observar as regras. Reportagem subseqüentes expuseram prisões onde milhares de revistas vexatórias ilegais eram conduzidas, cães policiais sendo usados para controlar crianças negras que iam a pé da escola para casa e ocorrências por tráfico sendo preenchidas com antecedência às prisões."
2008
1º LUGAR: "Falsificando as notas", Dallas Morning Herald
A pauta é parecida com a do jornal da Filadélfia que ganhou o terceiro lugar em 2007, mas a execução foi mais ambiciosa. A série de três dias mostrou sérias evidências de fraude nos testes-padrão, por mais de 50 mil estudantes de escolas públicas e particulares do estado do Texas. O jornal foi o primeiro a fazer uma reportagem sobre isso, em 2004, quando ainda sequer havia o prêmio Philip Meyer. Desta vez, os repórteres Joshua Benton e Holly Hacker analisaram um gigantesco banco de dados de notas e respostas de testes de centenas de milhares de estudantes individuais que fizeram os testes ao longo de dois anos. O rigor empregado pela série fez com que o estado anunciasse controles mais fortes sobre as condições em que os testes são feitos nas escolas do Texas, para se adaptarem aos métodos estatísticos de detecção de fraudes usados pelo jornal.
2º LUGAR: "Questão de vida ou morte", Atlanta Journal-Constitution
A pena de morte ainda é lei em vários pontos dos Estados Unidos. Em alguns estados, porém, ela é mais cruel. Em 1972, uma decisão da Suprema Corte americana classificou a aplicação da pena no estado da Geórgia – o mesmo onde se passa o filme “E o Vento Levou” – como “arbitrário e capcioso”. Nessa série de quatro duas, os repórteres Bill Rankin, Heather Vogell, Sonji Jacobs e a analista de bancos de dados Megan Clarke mergulharam em dados de 2.300 condenações por assassinato registradas desde 1995. Paralelamente, a pesquisadora Alice Wertheim fez um banco de dados com as condenações a pena de morte desde 1982. Os jornalistas fizeram diversas análises nos dados e conseguiram demonstrar que as condenações à pena de morte variavam de acordo com características demográficas dos réus e com o lugar onde viviam. Com isso, o Legislativo estadual decidiu considerar mudanças nas leis de pena de morte e o Judiciário local tomou iniciativas para melhorar o processo de revisão dos casos.
3º LUGAR: "Empresas de Seguro - Serviço ou Safadeza", Kansas City Star
Três repórteres passaram quase um ano analisando um banco de dados com mais de 35 milhões de registros de reclamações contra mais de 2.400 companhias de seguros dos Estados Unidos. A idéia era verificar quais são as reclamações dos clientes dessas empresas e como elas respondem a isso. A preocupação com o consumidor, segundo descobriram os repórteres Mike Casey, Mark Morris e David Klepper, varia muito conforme a empresa, o lugar do país e o tipo de cobertura. Logo na primeira reportagem, era mostrado o caso de uma mulher cujo plano de saúde não cobria internação hospitalar – e ela só descobriu isso ao receber uma conta de US$ 16 mil. Na última reportagem, o jornal demonstrava que as empresas de seguros passam por virtualmente nenhuma supervisão pública e que os encarregados pela pouca supervisão que há vêm das próprias empresas em que devem ficar de olho. A partir da análise do jornal, o Legislativo Americano passou a propor mudanças na regulamentação dos planos de seguros.
2007
1º LUGAR: "O dia perfeito para receber", Wall Street Journal
Foi uma série de reportagens publicadas ao longo de 2006 que expôs a prática de mudar a data de recibos de compra de ações para beneficiar quem tem informações privilegiadas com um pagamento maior. Os autores, Charles Forelle e James Bandler, usaram um modelo estatístico para calcular as chances selvagemente improváveis de que as datas de pagamento de ações simplesmente fossem muito favoravelmente lucrativas para dezenas de executivos de algumas das empresas mais conhecidas dos EUA. As reportagens sobre o escândalo levaram à abertura de uma investigação do órgão federal que fiscaliza a Bolsa para avaliar sabotagem em títulos de mais de 100 empresas até agora.
2º LUGAR: "Relatório Especial: Avaliando o Tratamento Cardíaco em Hospitais", Gannett News Service
É um pacote de matérias publicado em vários jornais dos EUA, que avaliou como mais de 3 mil hospitais seguiam as recomendações médicas de melhores práticas para tratar pacientes que sofreram ataques cardíacos. As matérias escritas pelo editor de banco de dados Robert Benincasa e pela repórter Jennifer Brooks mostravam que pacientes de áreas pobres e regiões rurais tinham menos chance de receber os cuidados recomendados. Sua análise usou um banco de dados nacional detalhando o tratamento dado a cada paciente e usou uma metodologia de escores compostos para avaliar cada hospital.
3º LUGAR: "Investigação das notas em Camden", Philadelphia Inquirer
Foi uma série de reportagens que expôs um escândalo de fraudes no teste-padrão usado pelo distrito escolar de Camden, em Nova Jersey. O trabalho dos repórteres Melanie Burney, Frank Kummer e Dwight Ott revelou que os resultados de testes aplicados em diversas escolas de Camden eram dramaticamente mais altos do que o que poderia ser esperado com base em performances passadas, e acabou levando à demissão do superintendente do distrito escolar, a uma investigação e ao monitoramento rigoroso do distrito pelo departamento estadual de educação. (O livro Freakonomics cita casos semelhantes para propor um modelo de análise desse tipo de coisa.)
2006
1º LUGAR: "Epidemia desnecessária", The Oregonian
O repórter Steve Suo demonstrou como o Legislativo americano e a DEA (departamento governamental responsável pelo combate às drogas) poderiam ter impedido uma epidemia de uso de metanfetaminas – presentes em drogas como o Ecstasy e em medicamentos controlados, como a Efedrina – se tivessem regulamentado melhor a importação dos produtos químicos necessários para sua produção. Em 1997, cerca de 5 milhões de americanos haviam provado metanfetaminas. Hoje, estima-se que cerca de 13 milhões usem de alguma forma – fumando, inalando, injetando ou ingerido. Apenas nove laboratórios no mundo inteiro produzem esses 12 elementos, e desde os anos 80 os laboratórios que os usam para fabricar medicamentos precisam manter registros de importação atualizados. Brechas legais, estimuladas pela ação de lobbies que usam como argumento a dependência de pacientes desses medicamentos, permitem que fabricantes de tóxicos tenham acesso aos produtos. Suo fez análises de dados sobre internações médicas, prisões, preço e pureza de metanfetaminas e importação de produtos químicos. A reportagem demonstra que, em dois períodos em que as autoridades federais impediram o acesso de cartéis aos produtos químicos, os crimes e internações pelo uso de metanfetaminas caiu na mesma proporção em que o preço da droga no mercado negro aumentou.
2º LUGAR: "Dispensados e desonrados", Knight-Ridder
Chris Adams e Alison Young, da sucursal de Washington da rede de jornais, mostram como a burocracia emperra as solicitações de veteranos que voltaram de guerras com deficiências físicas. Mais de 13.700 deles morreram antes de serem atendidos, e até 572 mil ex-combatentes podem não estar até hoje recebendo pensão por invalidez causada por guerras. Hoje, cerca de um terço do orçamento do VA (órgão do governo dos EUA que atende os ex-combatentes) é destinado a pagar pensões por invalidez a ex-combatentes. Os registros analisados pelos repórteres mostram as diferenças regionais no atendimento às demandas dos veteranos. Também revelam os tipos de doenças mais comuns enfrentadas pelos ex-combatentes: esquizofrenia e demência associada a trauma cerebral. A lentidão da burocracia não discrimina idade. Os repórteres encontraram um veterano da 2ª Guerra Mundial que teve o estômago rasgado por uma bala aos 19 anos, em 1945, e apenas em 1981 descobriu que sua pensão não cobria todos os danos que sofreu. A partir daí, passou 21 anos em uma batalha legal por seus direitos.
3º LUGAR: "O sumiço dos pântanos", St.Petersburg Times
Os repórteres Matthew Waite e Craig Pittmann demonstraram como 84 mil acres (quase 340 km²) de área pantanosa foram devastados por construções na Flórida após o governo George Bush (pai) anunciar uma política nacional para evitar perdas de áreas pantanosas, em 1990. Os repórteres usaram imagens de satélite de vários anos e sistemas de informações geográficas para calcular o tamanho exato da perda de área. Também analisaram os registros de permissão para exploração imobiliária de áreas pantanosas. Segundo a investigação, entre 1999 e 2003, foram aprovadas mais de 12 mil permissões de exploração – e apenas uma foi negada. A série de reportagens também contabilizou alguns prejuízos sofridos pelos governos com as construções nessas áreas. O condado de Collier, por exemplo, gastou US$ 30 milhões para indenizar moradores de bairros inundados que um dia foram áreas pantanosas.
Sem comentários:
Enviar um comentário