Semana On

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Diário do Pantanal

Fui chamado há dois meses atrás para organizar a Redação do jornal Diário do Pantanal. Aceitei, apesar daquele voz lá no fundo sussurrar no meu ouvido interno: “Pula fora desta seu burro!”. Não dei atenção e fui.

Deparei-me com o caos. Uma redação composta por uma equipe de quatro pessoas, das quais só podia contar com uma. Duas focas com muito caminho a percorrer na busca pelo texto final e um veterano repleto de mágoas e preguiça completavam o time. O motorista, improvisado como fotógrafo, dividia o carro entre as necessidades das pautas diárias e a campanha a deputado estadual do dono do jornal, o evangélico Adair Martins.

“Bom”, pensei, “sou muito novo ainda para assinar uma chefia de redação de um jornal de mentirinha”. Fui aos diretores e pedi apenas uma coisa, o óbvio: liberdade para mexer na Redação e no layout do jornal. Me deram, com reservas.

Os primeiros 15 dias foram de adaptação, de análise da mão de obra que tinha disponível. Me desesperei. A necessidade de trocar três dos quatro colegas era premente. Troquei um, o veterano magoado, trouxe um editor para a Polícia e a coisa começou a fluir. Posso dizer que, dentro das condições que tínhamos, me orgulho das últimas 35 edições nas quais suamos a camisa.

Infelizmente, não pude dar continuidade ao projeto. Na última sexta-feira fui informado de que o colega que dispensei voltaria ao trabalho, pois a empresa sequer tinha dinheiro para pagar-lhe os direitos trabalhistas. Além disso, as demais modificações que seriam necessárias para dar andamento no processo de transformação do Diário do Pantanal em um jornal de verdade estavam suspensas pelo mesmo motivo. Para finalizar, o candidato evangélico, mais uma vez, confundiu jornalismo com “panfletarismo”, utilizando as páginas de política para suas sandices.

Pedi demissão no sábado, com uma dorzinha lá no fundo do coração, daquelas que só sente quem ama uma Redação de jornal diário...

2 comentários:

Anónimo disse...

Então, meu velho? vamos tocando em frente.

Luiz Felipe Vasques disse...

Crônicas de uma vida. É assim que se vai. Lamento pela perda, sorrio pelo seu ganho. Novas lutas virão. A derrota desta é a munição para a próxima. "Irmão/é preciso coragem."