Publicada no dia 31/07/2005 no jornal A Crítica.
Dr.Enéas: “Em 20 anos o Brasil pode se tornar um Haiti descomunal"
“A nação brasileira está sendo dessangrada. Escolas caindo aos pedaços. Hospitais apodrecendo. Nosso povo morrendo de fome. Um grande esforço deve ser feito, neste momento, em prol da unidade e da salvação nacional. É hora de unir, não de desunir. Vamos nos unir, todos nós, cidadãos comuns da nossa terra, que estivemos até agora observando a história. Vamos, nós mesmos, fazer a história. Vamos unir, portanto, rua com rua, bairro com bairro, cidade com cidade, estado com estado, todos falando a mesma língua, a língua de uma grande nação, próspera e rica, que será a maior nação do mundo no século XXI. É preciso mudar toda a concepção política atual, a fim de que se possa revigorar, fortalecer, engrandecer e salvar nossa pátria”.
É desta forma que o cardiologista Enéas Ferreira Carneiro, fundador do Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), analisa a situação do país e os caminhos a serem seguidos pela política nacional. Desde 1989, quando se lançou na política, o deputado federal Enéas vem alimentando o rótulo, ou o epíteto, como prefere, de um político outsider. Confira a entrevista exclusiva concedida ao jornal A Crítica.
Victor Barone
Diante da crise institucional e política, qual o futuro que o sr. projeta para o Brasil?
Não queremos, ninguém quer, mas o Brasil pode se tornar um Haiti descomunal. O que o senhor vê e lê nos meios de comunicação é apenas reflexo de um processo de deterioração termodinâmica do poder. Na verdade, eu repito sempre isso em todas as entrevistas, o que existe é uma submissão nossa, do País, aos ditames do poder chamado Poder Mundial. Quando se fala que a questão hoje está circunscrita ao legislativo, é preciso analisar melhor. Se realmente houve a compra de consciências, existem dois pólos na questão. O problema não esta só no legislativo, pois se houve compra, houve alguém comprando e, obviamente, se alguém comprou está no executivo. Se isso ocorreu, e há uma série de evidências que deve ter ocorrido, nós temos que analisar sob o ponto de vista abrangente: porque o executivo fez isso? Ele fez pra atender a ditames, a interesses que naturalmente estão contra os interesses da nação. Esse é que é o ponto de vista visceral.
Suas críticas são fundadas no sistema político, nas relações com o poder econômico. Quais os principais problemas?
Veja, por exemplo, a dívida publica. Nós temos - segundo declarações do secretário do Tesouro, publicada em Diário Oficial - R$ 176 bilhões previsto para pagamento de juros da dívida pública. Ora, R$ 176 bilhões é mais de um terço de tudo que é gasto no Brasil com educação e saúde. É claro que há interesses gigantescos em jogo, interesses muito maiores do que o valor que é pago, se é que isso é pago. Então, toda esta crise é apenas um pedaço da questão, não é causa, a causa é um modelo de dependência, a causa é um modelo colonial em que nós vivemos há muito tempo. Agora, lamentavelmente, com a expectativa que o povo tinha com a eleição de um socialista para a presidência, de que o cenário iria mudar, criou-se uma desesperança nacional.
Esta desesperança pode levar a uma mudança de foco da política nacional?
A população sempre procura alternativas, isso é um sentimento natural do cidadão comum.
Qual a avaliação que o senhor faz do presidente Lula?
Lula é inculto, não tem condições teóricas para dirigir o país. Já fiz essa declaração pessoalmente ao presidente durante a campanha eleitoral. Esta opinião não tem a ver com preconceito, mas com conceito. O Lula não tem condições intracromossomiais mínimas. Não tem condições de aprender, nunca estudou.
O senhor acredita em um processo de impeachmeant?
Esta medida colocaria o Brasil em risco constitucional. Trata-se de um assunto inviável, seria difícil conseguir cumprir os prazos jurídicos, o que inviabilizaria o procedimento, já que falta pouco mais de um ano para o fim do mandato de Lula. Na época do primeiro escândalo que afetou este Governo, do Caso Waldomiro, eu pedi dentro da Câmara que o presidente renunciasse. A notícia saiu em jornal nenhum, mas esta lá no jornal da Câmara. Eu disse: “presidente, vossa excelência não tem condições para dirigir um País”. Não estou falando de moral, nada disso, eu estou falando de condições pontuais mínimas pra perceber o cenário.
O senhor tinha conhecimento do “mensalão” na Câmara Federal?
Nunca havia ouvido falar de “mensalão” antes das denúncias. Mas, tinha minhas desconfianças de que havia algo errado para que o Governo, de repente, conseguisse apoio da bancada. Um exemplo foi o projeto da reforma da previdência que foi votado à 1h da madrugada. Mas não vou falar de “mensalão”, porque “mensalão” é pagamento de trombadinhas, uma conseqüência de todas as ações erradas que o Governo Federal tem cometido.
A população pode esperar resultados concretos das CPI´s?
Há muito a ser feito. Então, haverá um saldo positivo. É quase impossível que não haja um saldo positivo. Porque, queira ou não, todas as vezes que a verdade vem à tona, ela é positiva.
Mas os interesses são muitos para que ela não venha à tona.
Nem que seja uma parte dela, vem, nada é 100%. Quando o homem comum percebe que um deputado é pago pra votar contra ele, sempre há uma reação. Depois da borrasca sempre vem a calmaria. Quero eu crer, que a verdade sempre é mais forte. Contra ela não há argumento. Penso então que o balanço será positivo, não tenho dúvida. Estamos passando por um processo de depuração. O senhor costuma condicionar os problemas do Brasil ao que classifica de subserviência ao poder econômico internacional.
Como enfrentar esta situação sem sofrer as conseqüências das retaliações que viriam como resultado de um posicionamento mais radical do Brasil?
Deixa eu te dizer. Na palestra que fiz ontem na OAB, disse que o Brasil detém tudo o que um País necessita pra se por de pé, tudo. Temos as maiores jazidas mundiais de minérios de alta categoria. Por exemplo, eu cito sempre o Miobio. Sem miobio não se fabricam aviões supersônicos. Nós temos a maior riqueza do mundo neste mineral. Cerca de 95% das jazidas estão aqui em Araxá, Minas Gerais. Nós vendendo à preço de banana para o exterior. Mas sem o miobio o avião supersônico não levante, ele é vital, visceral. Agora, estou dando apenas um exemplo. Nós temos o manadio, o titânio, metal fundamental para isolamento de caldeiras e para a dessalinização da água do mar, que é um dos maiores problemas do século 21, temos quartzo da melhor qualidade, sem quartzo não se constrói microcomputadores. Tudo isso nós vendemos a menos de meio dólar o kilograma. Ou seja, se nós temos a base, que são as riquezas minerais, se nos temos luz solar na qual em um dia no Brasil nós temos energia comparável a 120 mil usinas de Itapuã a todo vapor. Nós não precisamos nem de petróleo, podemos trabalhar com combustíveis provenientes de óleos vegetais, e isso é projeto meu que esta lá em Brasília. O nosso Petróleo vamos exportá-lo. Nós temos condições de exportar energia, temos tudo.
Mas é possível implementar este tipo de visão dentro do cenário político mundial que vivemos hoje?
No momento em que se tenha um Presidente da República que queira ter uma postura independente, que não esteja atrelado a esse modelo, claro que é possível. A história do mundo se fez assim. O império romano caiu, os impérios carolíngio e otomano caíram. Nós também estamos diante de um império, somos colônia. Então, é possível sim darmos este grito de independência. É claro, haverá momentos de dificuldades, sim. Mas, e agora? Que perspectivas nós temos sendo caudatários das decisões lá de fora? Pagando uma dívida que tem uma lógica extraordinária, quanto mais se paga mais se deve. Então é nesse sentido que eu digo que toda esta crise é ridícula, é coisa de trombadinha. Há coisas infinitamente maiores. Então, ao meu ver, a questão primacial é nós sabermos por que isso aconteceu, o que esteve por traz disso, porque se precisa pagar por um pacote contra o Brasil. Essa é a questão maior.
Em diversas ocasiões o senhor defendeu a necessidade de o Brasil desenvolver a bomba atômica. Por quê?
A bomba atômica é fundamental. Não para jogar em ninguém, mas para sermos respeitados. É o que em geopolítica se chama dissuasão estratégica. Isto quer dizer, deixem-nos em paz. Quando se tem a bomba atômica senta-se para conversar em condições de igualdade. O mesmo acontece com as Forças Armadas. No Brasil elas deveriam ser triplicadas. Elas são o braço armado do povo.
O senhor é freqüentemente comparado a líderes de extrema direita, isso lhe incomoda?
Já me chamaram até de Mussolini. Não me incomodo, apenas me divirto. Não gosto destas atitudes de agressão ao ser humano e sou contra a pena de morte. Não gosto dos neonazistas, isto é barbarismo. Eu gosto de ordem, de disciplina, de respeito aos valores tradicionais, de respeito à família, à propriedade, ao Estado e à Igreja. Sou contrário à discriminação das drogas. Estas comparações me fazem rir. Elas são feitas por ignorância profunda ou por má-fé explícita. Não quero que me amem ou me odeiem. Quero que saibam exatamente o que eu penso.
Quais são as perspectivas do Prona para 2006?
Nós estamos elegendo núcleos em todo o Brasil para elegermos deputados federais e, conseqüentemente, termos mais força política. Nas últimas eleições nós elegemos seis deputados federais, perdemos quatro, ficamos dois. Mantivemos um terço, isso é importante e significativo, é assim que se constrói e, se tempo houver, o seu amigo aqui é candidato a Presidência da República. Tempo de expressão de idéias. É preciso ao menos 2 ou 3 minutos. Com 30 segundos é muito difícil.
Por que o senhor é candidato?
Porque acredito que exista uma saída: romper completamente com o sistema financeiro internacional que movimenta diariamente cerca de US$ 3 trilhões. Diante deste cassino mundial, a globalização é apenas uma palavra bonita que encobre um processo de pirataria, de rapinagem explícita. Ao defender este projeto nacional, o presidente Fernando Henrique Cardoso foi igual ao ex-presidente Fernando Collor de Mello. FHC e Collor são iguais, a única diferença entre eles é que o primeiro é infinitamente mais preparado. Eles venderam todas as nossas riquezas com o argumento de que precisamos pagar nossos compromissos. Isto tudo é uma mentira. A dívida mobiliária, a parte mais importante da dívida interna brasileira, por exemplo, estava em torno de US$ 50 bilhões antes de FHC assumir e, hoje, ultrapassa os US$ 200 bilhões.
Que remédio o senhor daria para estancar esta sangria?
Anular todas as privatizações. Elas foram inconstitucionais e é possível provar. A privatização da Vale do Rio Doce, por exemplo, foi uma imundície. Todas as empresas que foram vendidas vão voltar para seus antigos donos - os brasileiros. Gastamos cerca de US$ 5 bilhões por mês para pagar juros da dívida externa e não temos dinheiro para resolver o problema da seca no Nordeste. Tudo isso é de um cinismo despudorado.
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