Semana On

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O voto inútil

"Não vou desperdiçar meu voto...”. Confesso que toda vez que ouço esta frase infeliz sinto um arrepio percorrer minha espinha dorsal. Não há nada mais estúpido, mais ideologicamente incorreto, mais politicamente idiota do que condicionar seu voto a algum fim que não seja a simples representação da sua convicção política.

“Vou votar em fulano porque ele já está na frente das pesquisas e vai ganhar mesmo...”, ou “não vou votar em sicrano porque ele não tem chances de ganhar mesmo...”. Ora, eleição não é corrida de cavalos. O eleitor não vota com o objetivo de, no final, se vangloriar com os amigos como se o seu time de futebil tivesse ganho a final do campeonato: “Meu candidato ganhou, o seu não, lá, lá, lá, la, lá...”.

O voto é uma das muitas expressões da cidadania e, sendo ou não vencedor, àquele candidato que incorpora as convicções do eleitor terá construído sua representatividade de acordo com o número de votos que recebeu. É assim que funciona a democracia representativa.

Infelizmente, o analfabetismo político que impera no Brasil permite que a lógica capenga do chamado "voto útil" seja decisiva nas eleições. Este fenômeno pernicioso é parcialmente resultante do uso abusivo das pesquisas eleitorais.

O argumento para a sua utilização é justificado pela necessidade de nortear as campanhas políticas, dar um direcionamento as estratégias. Na prática, porém, a função é outra. As campanhas são utilizadas não apenas internamente pelos comitês eleitorais, mas também na mídia, como forma de persuadir o eleitorado. O cientista político chileno Xosé Rúas diz que o abuso dos institutos de pesquisa faz delas uma perigosa arma de informação, que exerce pressão sobre o eleitorado e desestabiliza os adversários. No Brasil não é diferente.

De forma geral, as pesquisas favorecem o candidato que aparece em primeiro lugar nas intenções de voto do eleitorado. Eventualmente, o segundo e até o terceiro colocados podem delas se beneficiar, quando a diferença para o primeiro for pequena ou quando demonstrarem ascensão. Saem inevitavelmente prejudicados os demais candidatos, àqueles que “não vão ganhar as eleições mesmo”.

A Constituição Federal garante que todo o poder emana do povo. Para o exercício desse poder, elegem-se os representantes, cuja escolha deve ser embasada não pela influência coletiva, mas pelos valores e princípios defendidos pelo candidato, por suas propostas e seu histórico.

Nada substitui a vontade do eleitor diante da urna, mas é inegável a influência que as pesquisas exercem na decisão de voto e nos espaços que os candidatos têm na mídia.

Para combater este mal, é preciso ter em mente que cada voto faz diferença no processo eleitoral.

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