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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Matadouro 5 - Kurt Vonnegut

Kurt Vonnegut nasceu em Indianapolis, em 11 de novembro de 1922. Estudou bioquímica e em 1943 se alistou no exército para lutar na Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1944, sua mãe, Edith, se suicidou, e em dezembro foi feito prisioneiro na Batalha do Bulge. No dia 13 fevereiro de 1945 sobreviveu ao bombardeio aliado à cidade alemã de Dresden, onde 135 mil homens, mulheres e crianças morreram carbonizados pelas bombas incendiárias lançadas pelas nações que se colocavam como o escudo protetor contra a barbárie nazista.

Morreu em 11 de abril de 2007, semanas após uma queda em sua casa em Manhattan que resultou em graves complicações cerebrais.

Coisas da vida...

Em “Matadouro 5 ou A Cruzada das Crianças”, Vonnegut atribui aos acasos da vida muitas das passagens mais tenebrosas da obra. É como se o ser humano olhasse seus desvios morais, seus momentos de incivilização como um mero espectador e não como protagonista. “Matadouro 5” mescla ficção científica e loucura com uma insanidade muito superior à fantasia: a insanidade real que a guerra nos impõe.

Vonnegut repete So it goes (muito bem traduzido por Cássia Zanon para “coisas da vida”) 103 vezes nas 221 páginas do livro. A expressão é usada para enfatizar a fatalidade da vida, mas também para determinar sua continuidade, seu caminho natural pela narrativa.

O personagem principal, Billy Pilgrim, é um jovem soldado de infantaria que cria um mundo particular para escapar ao trauma da guerra. Neste mundo, somos meros espectadores da história. Pilgrim é um americano bem de vida e interiorano que viaja no tempo, para outros planetas, e revisita diversos momentos da sua própria vida. O resultado desta inusitada história é uma narrativa inigualável, fantasiosa, sarcástica, engraçada, satírica, irônica, triste e cheia de sentido.

“Tudo isso aconteceu, mais ou menos”, diz Vonnegut na primeira frase do livro, misturando realidade e ficção, brincando com a estrutura narrativa e com o tempo. “Escute: Billy soltou-se no tempo”, começa a novela, propriamente dita, levando o leitor por uma estrutura não-linear, atemporal, na qual o autor guia o leitor por uma viagem que pode começar na Europa da Segunda Guerra, passar pelos Estados Unidos da década de 60, e alcançar o planeta Tralfamador, onde Billy é exibido em um zoológico interplanetário.

Lançado em 1969, em pleno caos social promovido pela Guerra do Vietnam, o livro lida com muitas questões que foram vitais para o final dos anos sessenta: guerra, ecologia, superpopulação e consumismo.

A obra foi classificada pelo conselho editorial da Modern Library como um dos 20 melhores romances em língua inglesa do século XX, foi indicado ao Nebula Award e ao Hugo Award (prêmios exclusivos de ficção científica) de melhor romance em 1970, mas foi superado em ambos pelo A Mão Esquerda da Escuridão, de Ursula Le Guin.

Embora seja conhecido como um dos principais romances norte-americanos anti-guerra, nele Vonnegut oferece muito mais do que um libelo pacifista. Trata-se de uma rica e criativa crítica social, inclassificável e atual, da expressão de uma visão de mundo ingênua e desencantada ao mesmo tempo.

O livro foi adaptado ao cinema em 1972, com direção de George Roy Hill.

2 comentários:

Everton Maciel disse...

que livro!! De ler ajoelhado!!

danilo disse...

barone,
texto impecável- o livro( e o filme, do Hill) dispensam comentários.
grande abraço
danilo.