Semana On

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Um álbum às quartas

NEW YORK
LOU REED
Baixe o álbum AQUI.

1. Romeo Had Juliette
2. Halloween Parade
3. Dirty Blvd.
4. Endless Cycle
5.There Is No Time
6. Last Great American Whale
7. Beginning of a Great Adventure
8. Busload of Faith
9. Sick of You
10. Hold On
11. Good Evening Mr. Waldheim
12. Xmas in February
13. Strawman
14. Dime Store Mystery

Esperamos 3 anos para que Reed, em 1989, nos entregasse sua quarta obra-prima, ‘New York’: outro disco conceitual - que usa a premissa de Tolstói, que diz que ‘basta você falar de sua aldeia para falar do mundo’. Reed fala de sua aldeia, a globalizada Nova Iorque, para falar do mundo todo. Um disco que só não é perfeito para mim porque tem ‘Last American Whale’, música que eu acho um grande porre.”, diz o grande Biajoni em seu blog ao analisar a discografia do compositor e cantor Lou Reed. Concordo com a análise quando ela eleva “New York” ao status de obra-prima, embora discorde de sua análise sobre “Last Great American Whale”, para mim uma das melhores canções do álbum.

Ouvi “New York” pela primeira vez em 1990, entre goles de cerveja e bom papo no Tricopa, o “Mosca”, boteco na Rua Vinícius de Morais, em Ipanema, ponto de encontro dos alunos da antiga Faculdade da Cidade. Fui apresentado ao álbum pelo parceiro de cerveja Adolfinho Stoffel que costumava cantarolar as canções da bolacha no auge da madrugada.

Atarracado, cabelos loiros escorridos, Marlboro aceso em uma mão e uma ampola gelada em outra, ele exercia sua fluência no inglês interpretando os versos que Reed imortalizou.

Pedro lives out of the Wilshire Hotel
He looks out a window without glass
The walls are made of cardboard
Newspapers on his feet
His father beats him
'Cause he's too
tired to beg

Nós, atônitos em plenos 90’s, ouvíamos o alemão sussurrar em meio a névoa entorpecida: “And fly fly away, from this dirty boulevard, I want to fly, from dirty boulevard”

As aventuras de beira de bar regadas à boa música foram importantes para a minha educação musical. Bons tempos. “New York”, até hoje, freqüenta minha vitrolinha e é sempre uma sensação nova quando ouço suas 14 canções. Lançado em 1989, o álbum marcou um retorno de Reed a um estilo mais próximo do “The Velvet Underground”, grupo fundado por ele nos anos 60 e que deixou um poderoso legado.

“New York” alia uma poderosa estrutura melódica a letras ácidas, cuidadosamente trabalhadas, repletas de uma crítica social inteligente, consistente. Os 57 minutos do álbum são como um filme, uma peça teatral cujos capítulos, linkados, transformam o trabalho de Reed em um dos discos mais conceituais dos anos 80. Não foi à toa que a revista Rolling Stone o ranqueou como o 19º melhor álbum daquela década e que a Q magazine o apontasse como o 26º na sua lista dos "40 Best Albums of the '80s".

Abrindo o álbum está “Romeo Had Juliette”, uma “história de amor” shaekspeareana, transportada para a realidade latina. Nesta leitura de Reed, Romeo Rodriguez e Juliette Bell se desencontram nas esquinas violentas da Big Apple.

Romeo Rodriguez
Squares his shoulders and curses Jesus
runs a comb through his black pony-tail
He's thinking of his lonely room
the sink that by his bed gives off a stink
Then smells her perfume in his eyes
And her voice was like a bell

Na faixa seguinte, “Halloween Parade”, quase podemos ver Reed parado em uma esquina do submundo novaiorquino observando os muitos tipos, paródias humanas, drug dealers, vagabundos, prostitutas e travestis desfilando pelas ruas da cidade enquanto ele canta sua saudade. A melodia, uma de minhas prediletas, tem um toque quase melancólico.

There's a girl from Soho
With a teeshirt saying "I Blow"
She's with the "jive five 2 plus 3"
And the girls for pay dates
Are giving cut rates
Or else doing it for free
The past keeps knock
knock knocking on my door
And I don't want to hear it anymore

Uma das melhores faixas do álbum, “Dirty Blvd.” é uma verdadeira porrada nos sentidos. Por quatro semanas encabeçando a lista Billboard Modern Rock Tracks, a canção conta a história de Pedro, um jovem pobre que vive com sua família em um cortiço, enquanto sonha com uma vida melhor em meio a cultura do consumo norte-americana. Com referências jocosas sobre a Estátua da Liberdade e ao conceito de sociedade livre que permeia o inconsciente coletivo da nação, “Dirty Blvd.” é como uma bofetada estalada na cara da hipocrisia.

Pedro lives out of the Wilshire Hotel
He looks out a window without glass
The walls are made of cardboard
Newspapers on his feet
His father beats him
'Cause he's too
tired to beg

Sétima faixa do álbum, “Beginning of a Great Adventure” tem uma batida fantástica que, aliada a voz rascante de Lou Reed e a letra inteligente e crítica, a transforma em uma das melhores canções do álbum. A música fala da paternidade de um jeito muito próprio, uma análise seca e sem nenhum romantismo barato da grande aventura que é colocar neste mundo doido mais um ser humano. Mais uma vez, Reed dispara a sua metralhadora giratória para todos os lados, atingindo múltiplos alvos em meio a caretice norte-americana.

Why stop at one,
I might have ten, a regular TV brood
I'd breed a little liberal army in the wood
Just like these redneck lunatics
I see at the local bar
With their tribe of mutant inbred piglets
With cloven hoovers

Finalmente, outra canção que elenco entre minhas prediletas em “New York” é “Last Great American Whale”. Para mim, uma das mais instigantes letras de Lou Reed, aliada a uma melodia hipnótica. Ouvir “Last...”, assim como diversas outras canções deste álbum, transmite a sensação de conteúdo, como um bom filme, um bom livro. A verve poética de Reed está afiada. Seu gume, cortante. “Last Great American Whale” é uma crítica feroz à pasmaceira do estadunidense comum, tendo como pano de fundo questões ecológicas. Os últimos versos da canção são, para mim, antológicos.

Americans don't care too much for beauty
They'll shit in a river, dump battery acid in a stream
They'll watch dead rats wash up on the beach
and complain if they can't swim

They say things are done for the majority
Don't believe half of what you see,
And none of what you hear
It's a lot like what my painter friend Donald said to me
"Stick a fork in their ass and turn them over,
They're done"

1 comentário:

Henrique Pimenta disse...

Agradeço pelas dicas. Não sou grande conhecedor, mas aprendo...

Abraço!