O Tigre
E o tigre de mil bocas rolou, estilhaçando o solo.
E a cotovia cantou em algum lugar do Norte.
E a fumaça subiu enquanto assavam búfalos
E os galos fugiram do amanhecer, mudos de espanto
E Pedro negou dez, Judas beijou quarenta,
E todos os jornais negaram infinitas vezes.
E o ouro escorreu pelas mãos ávidas dos poderosos
Enquanto o tigre de mil bocas, faminto
Levantou seu dorso esquálido
E com uma só patada,
destruiu, engoliu, arrasou
E comeu
Ricos e pobres, brancos e negros, judeus e palestinos
americanos e árabes, europeus e latinos,
oriente e ocidente
oceanos e nuvens
O tigre de mil bocas digeriu o mundo
Depois dormiu cem anos esperando o Messias.
Maria Helena Bandeira, esta semana, no Poema Dia.
3 comentários:
Já havia lido esse belo e profético poema. Relê-lo o torna cada vez melhor. Abraços, Barone.
ps: hoje postei no Poema Dia um poema que fiz a respeito do "Caso Abaetetuba", quando uma garota de 15 anos foi presa em uma cela comum, masculina, repleta. Poema escrito no calor dos acontecimentos.
Realmente, um grande poema.Bj
Caramba! Que poema!
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