Semana On

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Coluna do Capssa - "Darfur: um genocídio silencioso"

Conhecido na antiguidade como Núbia, o Sudão foi incorporado ao mundo árabe na expansão islâmica do século VII. Entre 1820 e 1822 foi conquistado e unificado pelo Egito entrando, posteriormente, na esfera de influência do Afeganistão. Em 1881 eclode uma revolta nacionalista chefiada por Muhammad Ahmed Bin’ Abd Allah, líder religioso conhecido como Mahdi, que expulsou os ingleses em 1885, morrendo logo em seguida.

Os britânicos retomam o Sudão em 1898 e, no ano seguinte, a nação é submetida ao domínio egípcio-britânico. Obtém autonomia em 1953 e independência em 1956. Mas a independência real do Sudão não se fez assim tão facilmente. Nos vários conflitos internos que se seguiram, estabeleceu-se uma república autoritária que desde 1989 oprime a população. Todo o poder sudanês continua nas mãos do tirano Omar Hasan Ahmed al-Bashir.

O Sudão está dividido em 25 estados, entre os quais Darfur do norte, do sul, oriental e ocidental. 49% da população do país é composta de árabes sudaneses e o restante de africanos não árabes.

Bashir decretou, déspota que é, que toda população se convertesse ao islamismo, como se ele tivesse o poder de determinar a fé de cada indivíduo, de impor a religião adotada pela população não árabe do Sudão. Diante disto, 75% da população se tornou islâmica. Além disso, obrigou parte da população a trabalhar na indústria do petróleo, forçando milhares de sudaneses que trabalhavam no pastoreio a deixar sua tradicional atividade.

A partir de 2003, o déspota iniciou em seu país o maior genocídio, desde o que se abateu sobre os judeus na 2ª Grande Guerra. Matou e torturou mais de 400.000 pessoas entre homens, mulheres e crianças, forçando mais de 2 milhões de seres humanos a se transformarem em refugiados.

Li recentemente o livro “O Tradutor”, de Daoud Hari, um homem que teve a coragem de mostrar aos jornalistas de todo mundo - mesmo arriscando a própria pele - o que se passa em Darfur. Daoud Hari descreve em seu livro uma série de barbaridades cometidas pelo regime contra a população civil, presenciadas pelo autor. Dois destes relatos são particularmente perturbadores

Daoud nos descreve uma cena em que de longe via uma família descansando sob a sombra de uma árvore. Ao se aproximar, descobriu que duas crianças estavam mortas. A mãe, com o lenço envolto em um galho da árvore, enforcada, também morta. O bebê que trazia no colo morreria nos braços de Daoud.

Noutra situação, o autor nos conta a loucura de um pai, que torturado, suspenso de pernas para o ar, vê sua filha ser transfixada por uma baioneta e dançar dependurada, como uma bailarina em dor.

Como alguém pode fazer uma coisa dessas em pleno século XXI? Pergunta Daoud Hari.

Hoje, o genocídio no oeste do Sudão está quase terminado. Há um problema, porém: o genocídio está chegando ao fim porque não restam negros para matar ou submeter à limpeza étnica.

OBS: O subtítulo Genocídio Silencioso tem 02 razões:
1º O mundo faz questão de manter-se surdo sobre o tema.
2º Daoud Hari faz questão de fazer silêncio sobre sua participação no conflito, no entanto nos diz: “Em meio à poeira e ao silêncio, as mulheres, as meninas, os jumentos, os camelos, olham fixos para o oeste”.

Luiz Carlos Capssa Lima
14/09/09

5 comentários:

Daniel Braga disse...

Impressionate. Por favor nos deixe a par do que conseguir!

Anónimo disse...

Engraçado, aliás, nada engraçado, Barone. Vejo você buscando informação sobre genocídios diversos ao longo do mundo: Palestina, Darfur, no Sudão. E o que acontece ao seu lado? Não vale? Por que o jornalismo de Mato Grosso do Sul insiste em ignorar, até em espaços aparentemente livres como este, o geno(etno)cídio dos indígenas Guarani, Kaiowá e Ñandeva? Você descreve uma cena de enforcamento. Veja, Barone, eles acontecem às dezenas, por desespero, por incompreensão, por humilhação de ser índio e odiado, só por isto, aqui mesmo, aqui perto, agora. Limpeza étnica? Ora, veja só, é só viajar 300 quilômetros mais ao Sul, e você a encontrará: acontecendo bem debaixo dos nosso narizes. Abr, Adriana

Barone disse...

Olá Adriana, concordo com você. Não precisamos procurar pela injustiça e pela covardia em outros países, ambas acontecem muito perto de nós, diariamente.

Contudo, o fato da injustiça e da covardia estarem bem aqui, pertinho, não nos exime da responsabilidade de denunciarmos o que acontece em outras partes do mundo. No meu caso, tenho um interesse muito focado na questão Palestina.

Sobre o Jornalismo. Há algum tempo não exerço profissionalmente o Jornalismo, propriamente dito, visto que tenho atuado em assessoria de imprensa (que para mim está muito mais para Relações Públicas que para Jornalismo).

Penso que a questão indígena é pauta bastante importante para quem está nos veículos de comunicação (jornais, rádios e tevês).

No meu caso, pratico um pouco de Jornalismo aqui, no meu espaço particular, onde procuro abordar os temas que mais me comovem e instigam. Confesso que não sou um conhecedor profundo da questão indígena e, por isso, me arrisco pouco pelo tema.

Mas, como você insinuou, este é um espaço livre. Se quiser iniciar um debate aqui sobre a questão indígena, fique à vontade. Se quiser enviar um artigo sobre o tema para publicação - como faz regularmente o meu amigo Luiz Capssa - o espaço está aberto.

Um abraço e volte mais.

Adriana Godoy disse...

Oi, Barone...interessante essa discussão. Tomara que renda mais. Concordo com a Adriana e seus argumentos também são extremamente pertinentes. é isso. Bj

Anónimo disse...

Opa! Vou enviar, sim. Grata, Abr, Adriana