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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Coluna do Capssa - Tyniánov e Turguêniev: dois grandes entre os russos

A literatura russa do final do século XVIII e durante o século XIX é uma das mais belas do mundo, delicada, sensual, nos enebria com sua prosa delirante, numa mistura agridoce em que o amargo e o dócil fundem-se, e, em que, confusos, acreditamos estar levemente embriagados de vodka em uma dacha, completamente enamorados.

Não pretendo fazer desta coluna um ponto referencial de literatura, e sim de “dicas” de leitura para aqueles que apreciam a leitura, não simplesmente como fonte de informações, mas como algo que nos faz deixar levar por sonhos que, embora com vontade, nunca tivemos a coragem de viver.

Entre os inúmeros escritores russos podemos citar Puchkin, Tchekhov, Tolstoi, Dostoiévski, Gogol, Turguêniev e outros tantos que marcaram a literatura mundial.

Neste texto analisaremos, duas obras “menores” na dimensão física, mas imensas na sua abrangência e importância: “O Tenente Quetange”, de Iúri Nikoláievitch Tyniánov (95 páginas – Ed. Cosac & Naify) e “Assia” de Ivan Serguêievitch Turguêniev (119 páginas – Ed. Cosac & Naify).

Em O Tenente Quetange, temos uma narrativa curta em que, com maestria, o autor (1894 –1943) tece uma sátira à Rússia do final do século XVIII, em uma história sobre o reinado de Paulo I (1796 –1801). Tyniánov, num texto deliciosamente cômico, retrata a distração de um escrivão sonolento que acaba por “inventar” a existência de um tenente designado para o corpo da Guarda Imperial. Para que o Tenente Quetange existisse, era necessário que alguém “morresse”. O exército, então, “matou” o tenente Siniukháiev, um oficial sem importância, para dar lugar ao fruto de uma distração. O Tenente Quetange faleceu como General no mesmo ano em que foi sepultado o Imperador Paulo I. Com humor sarcástico, o autor debocha da burocracia e da autocracia de todas as Rússias.

Em Assia, surge a genialidade de Turguêniev (1818 – 1883) - considerado o terceiro russo, precedido por Tolstoi e Dostoiévski – contemporâneo e desafeto cordial dos dois maiores nomes da literatura russa do século XIX. Enquanto os dois primeiros soam como sinfonias majestosas, Turguêniev é, como um quarteto de cordas, lacônico e delicado. No texto, com sua narrativa distante, desapaixonado e levemente irônica, o autor traça um paralelo entre a fraqueza e a letargia do personagem – em franco contrataste com a energia, ação e decisão de Ássia (diminutivo de Ana) – com a força e a fraqueza dos tipos sociais capazes de encarnar o futuro revolucionário russo. Trata-se de uma história que, aparentemente, trata de um amor frustrado pelo preconceito e o medo dos sentimentos espontâneos. A beleza da prosa de Turguêniev levou, anos mais tarde, Anton Tchekhov a exclamar: “Que assombro de linguagem !”.

Luiz Carlos Capssa Lima

4 comentários:

Adriana Godoy disse...

Gosto dessas sugestões de leitura, mesmo que não venha a ler esses livros. É sempre bom ter referências boas. Beijo, Barone. E bom fim de semana.

BAR DO BARDO disse...

Aprendi muito com Deus,

Deustoiévski...

Hugo Albuquerque disse...

Gosto muito de Turgueniev, paticularamente de Pais e Filhos, obra que nos apresenta o formidável Bazarov, uma das personagens mais marcantes da literatura mundial - dentro de uma prosa precisa, fluente e empolgante.

Barone disse...

Os russos (os escritores) são intensos e, ao mesmo tempo, ternos.