Semana On

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Coluna do Capssa - O sentimento de superioridade judaica

O filme israelense “O Pequeno Traidor”, de Lynn Roth, baseado no romance “Pantera no Porão” de Amos Oz, que trata da amizade de Proffy, um menino judeu, em 1948, com um oficial inglês, nos mostra nas cenas iniciais, um diálogo do menino com seus pais na mesa de jantar:

Proffy: Por que todo mundo odeia os judeus?
Mãe: Porque sabemos muito.

Charles Silberman, em “A Certain People: American Jews and Their Lives Today”, afirma: “Os judeus seriam inferiores entre os humanos se tivessem aberto mão de qualquer noção conjunta de superioridade e, é extremamente difícil para os judeus americanos se desfazerem do sentimento coletivo de superioridade”.

Philip Roth, ótimo escritor, disse - em um sentido crítico, penso:: “O que uma criança judia americana herda, não é um corpo de leis, um corpo de ensinamentos, uma língua e, finalmente, um Deus (...) mas uma espécie de psicologia que pode ser traduzida em quatro palavras: ‘os judeus são melhores’.”.

Elie Wiesel não é menos incisivo sobre o caráter único dos judeus: “Tudo que nos diz respeito é diferente”.

Efraim Karsh, sionista de extrema direita, ex-major do exército israelense, hoje historiador e chefe do departamento de estudos mediterrâneos no King’s College, da Universidade de Londres, em uma resenha sobre o livro “The Iron Cage”, de Rashid Khalidi, faz questão de mencionar T.E. Lawrence (o Lawrence da Arábia), dizendo assim: “O campeão ocidental mais influente do pan-arabismo, descreveu os seus protegidos árabes como: ‘eles são um povo limitado e de mente fechada, cujo intelecto inerte cai em não curiosa resignação...eles apenas conhecem verdade e mentira, crença e descrença, sem nossa hesitante visão mais refinida’.”.

Pois é... e por aí vai. Pergunto: qualquer similaridade com a “pureza e superioridade da raça ariana” preconizada pela detestável figura do Hitler seria uma mera coincidência? Concluo citando um poema de Aimé Césaire, de que Edward Said gostava muito.

mas o trabalho do homem está apenas começando
E resta ao homem conquistar toda
a violência entrincheirada nos recantos de sua paixão.
E nenhuma raça possui o monopólio da beleza,
da inteligência, da força,
e há lugar para todos
no encontro da vitória.


Fontes:
A Indústria do HolocaustoNorman G. Finkelstein
Cultura e ResistênciaEdward W. Said
O Pequeno Traidor – filme disponível na internet
Efraim Karsh – autor com obras disponíveis na internet (não tem livros publicados no Brasil)

Luiz Carlos Capssa Lima
15/07/2009

4 comentários:

Adriana Godoy disse...

O arremate perfeito para um texto como esse. "e há lugar para todos
no encontro da vitória." É isso, Barone. Parabéns por seu trabalho de alta qualidade que permite que avancemos em nossas convicções. Beijo.

Barone disse...

Cacho, meu velho, belíssimo texto. Foi direto num ponto delicado, que extamente por isso, não deve ser escondido por detrás das portas. Boas também as dicas de leitura, dos pensadores aos poetas. Grato pela sua presença aqui no Escrevinhamentos.

Valdir DM disse...

Barone:
1. O que parece superioridade acho que é mero reflexo de um competente minoripacto (aqui no Brasil muito utilizado por estrangeiros recém - e não tão recém - chegados): você vende para todos (de mercadorias a idéias), mas só compra dentro do grupo. E capricha na dissimulação fazendo "os outros" acreditarem que progridem apenas por causa das culturas de "amor ao trabalho" e "amor à educação", etc. Bom, esses amores, que eu admiro, explicam pelo menos 30 por cento do sucesso desses grupos minoritários...
2. O mito da superioridade ariana pode (mas tudo são teorias) ter sido induzido por dissidências judias (que depois foram excluidas do baile).
3. O duro da "superioridade" grupal é você provar. Não basta acreditar nisto; o conceito só é válido se for conferido por pessoas fora do grupo. Elogio em boca própria é vitupério, diz o ditado.
4. Essa propaganda de superioridade, que estamos cansados de ver em mensagens subliminares de (acho que todos) filmes americanos, é muito suspeita. Quem é superior não sente necessidade de ficar provando isto a todo instante. E não é bonito disseminar o conceito através de lavagem cerebral.
5. Qualquer um pode fazer um modelo matemático de disseminação de gens, e estou certo de que ficará provado que a miscigenação efetiva ocorrida nos últimos 2000 anos inviabiliza o conceito de "raça" ou "grupo com afinidades genéticas especiais". Esses conceitos são baseados em conhecimentos insuficientes (o mesmo que assevera que João Filho "é igual ao pai", quando sabemos que o garoto só tem 50% dos genes paternos; uma pessoa pode ser geneticamente igual à outra só se forem gêmeos idênticos, e não pai-filho).
6. Está tudo misturado. Será que entre 190 milhões de brasileiros é possível achar 1 (apenas 1) que não tem nenhum gene que percorreu corpos judeus, nesta ou nas 5 ou 6 gerações passadas? Duvido que esse tal seja encontrado. E duvido que exista um judeu no mundo que não tenha, nas mesmas condições acima, gene que perpassou corpos arianos... Então, porque mesmo estamos brigando?!

Barone disse...

"a miscigenação efetiva ocorrida nos últimos 2000 anos inviabiliza o conceito de 'raça' ou 'grupo com afinidades genéticas especiais'."

Concordo Valdir.