Semana On

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Coluna do Capssa - "Edward W. Said: o verdadeiro arabista"

Edward W. Said não foi o único intelectual palestino de renome mundial, como afirmou certa vez a revista Veja (edição nº 1808 de 25/06/2003). No entanto, foi o mais coerente, o mais inteligente e o que é mais importante, o mais engajado politicamente na luta pelo estabelecimento legal e irrestrito do Estado Palestino.

Um homem que gozou de prestígio internacional, professor de literatura inglesa comparada na Universidade de Colúmbia, crítico musical do jornal The Nation (EUA), autor de inúmeros livros, muitos publicados no Brasil, Said teve a coragem de levantar a voz contra o sionismo em uma época em que os Estados Unidos oferecia total apoio às políticas israelenses. Sobre Ariel Sharon disse o seguinte: “É um terrorista que mata mais gente que qualquer garoto de 18 anos que se explode com uma bomba”.

Ao contrário, do que se possa pensar, Edward W. Said não preconizava a violência, mas sim a paz negociada, com bom senso, defendia o fortalecimento das instituições democráticas palestinas e israelenses, destacando as novas lideranças com talento suficiente para mudar a história do Oriente Médio.

Tinha na oratória sua maior arma, uma verdadeira “intifada” de palavras. Embora ácido, amargo, dissecou a questão palestina com elegância, clareza, discernimento e erudição, expondo seus pontos nevrálgicos.

O que mais se admira em Edward Said é o despojamento, o seu quase desprezo pela condição intelectual. Despido de vaidade, desconcertava seus interlocutores com respostas incontestáveis, logicamente consubstanciadas.

Said foi o verdadeiro arabista, ao contrário do “decano arabista” Bernard Lewis. Nu, translúcido, se contrapôs a este, argumentando de uma maneira didática contra a noção de “choque de civilizações“ (civilizações fechadas, lacradas, alheias a qualquer tipo de troca), defendendo a idéia de que as civilizações se forjam na inter-relação e na fertilização mútua, ou seja, as civilizações se fundem numa infinita troca. Oriente e Ocidente se entrelaçam.

Edward Said, não quis a cor de cerejas, nem de amoras grudadas de carne nas paredes de casas palestinas e israelenses. Quis o cheiro da romã.

Em setembro, dia 24, completam-se seis anos de seu falecimento. Edward W. Said se foi aos 68 anos de idade, vítima da leucemia, doença com a qual lutou por dez anos. Uma perda irreparável para o povo palestino, para todos os povos árabes e, também, porque não, para o mundo todo.

Luiz Carlos Capssa Lima

Sem comentários: