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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Honduras: entre a cruz e a espada

A organização Repórteres sem Fronteiras denunciou hoje a tentativa de intimidação e censura a imprensa hondurenha, em seqüência ao golpe de estado que derrubou o presidente Manuel Zelaya no domingo.

No blog O biscoito fino e a massa, Idelber Avelar dá a senha para os cuidados necessários com a informação que circula na grande mídia hondurenha sobre o tema: “O ponto de vista dos golpistas está articulado em praticamente todos os grandes meios de comunicação de massas de Honduras. O mais explícito talvez seja El Heraldo, que chegou a inventar a incrível mentira de que Zelaya planejava dissolver o Congresso. O La Prensa se refere ao povo que protesta nas ruas como turba. Na televisão, ontem à noite, exibiam-se desenhos animados.”.

Outras fontes hondurenhas são os sites HablaHonduras - que está denunciando repressão contra manifestantes e a imprensa - e Hondudiario, que publicou uma reportagem interessante dando voz ao novo chanceler do país, Enrique Ortez Colindres: "Aqui não houve golpe de Estado porque os hondurenhos seguem regidos pela Constituição, a que o antigo governo quis reformar sem nenhum fundamento e de maneira ilegal… Com a influência do dinheiro e a propaganda esquerdista foi criada no exterior uma imagem falsa de Honduras, que estamos dispostos a contestar", afirma.

Na mesma reportagem, Colindres adverte: “Honduras estava a ponto de entrar em colapso devido a uma loucura política, vivia sob a lei da selva, e por isso algumas nações tentaram formar um bloqueio ideológico contra nós, o que tentaremos desarticular". Trata-se de uma alusão ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que ameaçou uma intervenção militar em Honduras.

A reportagem finaliza fazendo um paralelo entre o que pretendia Zelaya e o que ocorreu nos populismos autoritários que permeiam as américas atualmente.

Eles queriam impor esta ‘consulta popular’ que o ex-presidente realizaria no dia 28 de junho para convocar uma Constituinte que reformaria a Constituição hondurenha de 1982 e facilitaria sua reeleição, apesar de a Corte Suprema de Justiça (CSJ) e todos os órgãos estatais terem declarado a intenção ilegal.

A iniciativa era rechaçada também pelos empresários e diferentes setores sociais. Contava somente com o apoio de alguns líderes esquerdistas de organizações operárias, de professores, camponeses, indígenas e estudantis.

A Constituição não permite aos legisladores, nem a CSJ, modificar sete dos 379 artigos chamados ‘pétreos’ para manter incólume a alternância do poder e proibir a reeleição do mandatário, que só deve cumprir um mandato de quatro anos.
”.

Esta leitura é esclarecedora em certos aspectos. Que houve golpe em Honduras não há dúvida, que ele é condenável, também. No entanto, o que pretendia Manuel Zelaya? Suas intenções eram republicanas? Provavelmente não.

Recomenda-se, portanto, que, ao ler os veículos de comunicação que apóiam o golpe hondurenho, obtenha-se também o contraponto em outros veículos que apresentem o contraditório como a venezuelana Telesur e a nicaragüense Notícia100. Mas cuidado, não se pode dizer que estes sejam 100% isentos, já que fazem parte do cartel oficial de comunicação dos populistas Hugo Chávez (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua) e Evo Moralles (Colômbia). Dá para confiar neles mais que nos veículos hondurenhos que apóiam o golpe?

Para se aproximar do que de fato ocorre em Honduras, o melhor é fazer uma leitura de todos estes veículos, aparar as arestas ideológicas, e tirar nossas próprias conclusões. Eu, particularmente, iria às ruas contra um golpe que atingisse as instituições democráticas, que calasse a imprensa, mas não aplaudiria (e também iria às ruas contra) um populismo estúpido e retrógrado como o que pregam totalitários travestidos de esquerdistas.

Para entender o contexto do golpe leia (dicas de links pinçadas do Idelber):
- ENTREVISTA: Ruido de sables en Honduras MANUEL ZELAYA ROSALES Presidente de Honduras
- Las claves para entender qué pasa en Honduras
- Consuma-se o golpe anunciado nas Honduras
- El oligarca que cambió de bando

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