No dia 20 de abril publiquei uma pequena reflexão intitulada “Afinal, que horrores disse o presidente do Irã?”, onde argüia meus dois ou três leitores sobre a celeuma provocada pelo discurso do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad durante a Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Outras Formas Relacionadas de Intolerância (Durban 2), realizada mês passado em Genebra, Suíça.
Na oportunidade, afirmei: “Pode-se discordar de suas afirmações, mas não há nelas nenhuma agressão odiosa a Israel ou ao judaísmo, como querem fazer crer o governo de Barack Obama e seus prepostos no Oriente Médio”.
Na segunda-feira, 6, o professor e blogueiro Idelber Avelar fez em seu blog um belo resumo desta ópera bufa. No artigo “A histeria da direita com a visita de Ahmadinejad”, ele aponta estes pesos e medidas diferenciadas que sustentaram o discurso de quem se mostrou “horrorizado” com o anúncio da visita de Ahmadinejad ao Brasil (cancelada pouco depois). Avelar mostra também que é preciso ter muito cuidado com o que se lê na imprensa ocidental quando o assunto é delicado para os donos do poder.
“Quando você vir alguém dessa turminha dizendo que Ahmadinejad propõe a exterminação dos judeus, faça algo muito simples: peça o link. Pergunte qual é a fonte. Pergunte quem traduziu o texto do persa. Porque o líder iraniano jamais disse isso. O que ele disse foi: ‘o regime que ocupa Jerusalém (een rezhim-e ishghalgar-e qods) deve ser apagado da página do tempo (bayad az safheh-ye ruzgar mahv shavad).’ A tradução é de um dos maiores especialistas em Oriente Médio da contemporaneidade, Juan Cole, confirmada por dois outros tradutores do persa. Leia a entrevista de Ahmadinejad e confira você mesmo. Sobrando um tempinho, assista ao vídeo da palestra de Ahmadinejad em Columbia University, cujo presidente o recebeu com uma grosseria que até hoje envergonha a nós, acadêmicos americanos.”
A guerrilha de palavras que se seguiu ao pronunciamento na Suíça se espalhou pela mídia, propagando a estratégia israelense de desconstruir o discurso e a imagem dos seus adversários políticos. Esta estratégia não é novidade e se baseia em uma mácula no inconsciente coletivo ocidental que faz com que toda e qualquer crítica às políticas israelenses seja classificada como anti-semitismo.
Esta mácula se espalhou de forma tão consistente que afeta até mesmo àqueles que defendem uma postura de questionamento – e até mesmo de reprovação – sobre a conduta de Israel para com os palestinos. O jornalista Gustavo Chacra – cujo blog é referência nas questões do Oriente Médio – publicou no dia 21 o post “Ataque racista de Ahmedinejad a Israel prejudica de Obama a palestinos”, no qual se pode perceber claramente o resultado da influência desta política de controle sobre o pensamento e sobre as opiniões.
Em seu post, Chacra reproduz a tradução do discurso de Ahmedinejad, em espanhol, feita pela Agência de Notícias Irna, oficial do governo do Irã, onde fica claro que o presidente iraniano em nenhum momento fez declarações racistas sobre Israel ou os judeus. O que há em seu discurso é uam crítica ferrenha ao sionismo. Ocorre que Chacra – assim como imensa parte da mídia ocidental – não consegue fugir da armadilha que equipara sionismo e semitismo. Este é o ponto fundamental da encruzilhada ideológica que domina o tema, arma os sionistas e desarma os que querem ver judeus e árabes vivendo em paz: a falsa idéia de que não existe judaísmo sem sionismo (veja o artigo “As similaridades entre Sionismo e Nazismo”, postado aqui, ontem).
A descostrução de Ahmadinejad é parte desta estratégia. O presidente do Irã não é flor que se cheire. Em seu país há constantes violações aos direitos humanos. Isso, no entanto, não pode ser usado como argumento para invalidar – ou falsear - qualquer opinião emitida por ele. Esta visão maniqueista é base para todo o tipo de arbitrariedade intelectual e política – como a saída dos delegados europeus de Durban 2 durante o discurso do chefe do executivo iraniano.
Resta saber como se comportariam os mesmos críticos que condenaram o discurso e a presença do presidente iraniano no Brasil no caso de uma visita do ministro de relações exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, que em seu currículo ostenta a segregação racial em Israel como bandeira, entre outras ignomínias.
Na oportunidade, afirmei: “Pode-se discordar de suas afirmações, mas não há nelas nenhuma agressão odiosa a Israel ou ao judaísmo, como querem fazer crer o governo de Barack Obama e seus prepostos no Oriente Médio”.
Na segunda-feira, 6, o professor e blogueiro Idelber Avelar fez em seu blog um belo resumo desta ópera bufa. No artigo “A histeria da direita com a visita de Ahmadinejad”, ele aponta estes pesos e medidas diferenciadas que sustentaram o discurso de quem se mostrou “horrorizado” com o anúncio da visita de Ahmadinejad ao Brasil (cancelada pouco depois). Avelar mostra também que é preciso ter muito cuidado com o que se lê na imprensa ocidental quando o assunto é delicado para os donos do poder.
“Quando você vir alguém dessa turminha dizendo que Ahmadinejad propõe a exterminação dos judeus, faça algo muito simples: peça o link. Pergunte qual é a fonte. Pergunte quem traduziu o texto do persa. Porque o líder iraniano jamais disse isso. O que ele disse foi: ‘o regime que ocupa Jerusalém (een rezhim-e ishghalgar-e qods) deve ser apagado da página do tempo (bayad az safheh-ye ruzgar mahv shavad).’ A tradução é de um dos maiores especialistas em Oriente Médio da contemporaneidade, Juan Cole, confirmada por dois outros tradutores do persa. Leia a entrevista de Ahmadinejad e confira você mesmo. Sobrando um tempinho, assista ao vídeo da palestra de Ahmadinejad em Columbia University, cujo presidente o recebeu com uma grosseria que até hoje envergonha a nós, acadêmicos americanos.”
A guerrilha de palavras que se seguiu ao pronunciamento na Suíça se espalhou pela mídia, propagando a estratégia israelense de desconstruir o discurso e a imagem dos seus adversários políticos. Esta estratégia não é novidade e se baseia em uma mácula no inconsciente coletivo ocidental que faz com que toda e qualquer crítica às políticas israelenses seja classificada como anti-semitismo.
Esta mácula se espalhou de forma tão consistente que afeta até mesmo àqueles que defendem uma postura de questionamento – e até mesmo de reprovação – sobre a conduta de Israel para com os palestinos. O jornalista Gustavo Chacra – cujo blog é referência nas questões do Oriente Médio – publicou no dia 21 o post “Ataque racista de Ahmedinejad a Israel prejudica de Obama a palestinos”, no qual se pode perceber claramente o resultado da influência desta política de controle sobre o pensamento e sobre as opiniões.
Em seu post, Chacra reproduz a tradução do discurso de Ahmedinejad, em espanhol, feita pela Agência de Notícias Irna, oficial do governo do Irã, onde fica claro que o presidente iraniano em nenhum momento fez declarações racistas sobre Israel ou os judeus. O que há em seu discurso é uam crítica ferrenha ao sionismo. Ocorre que Chacra – assim como imensa parte da mídia ocidental – não consegue fugir da armadilha que equipara sionismo e semitismo. Este é o ponto fundamental da encruzilhada ideológica que domina o tema, arma os sionistas e desarma os que querem ver judeus e árabes vivendo em paz: a falsa idéia de que não existe judaísmo sem sionismo (veja o artigo “As similaridades entre Sionismo e Nazismo”, postado aqui, ontem).
A descostrução de Ahmadinejad é parte desta estratégia. O presidente do Irã não é flor que se cheire. Em seu país há constantes violações aos direitos humanos. Isso, no entanto, não pode ser usado como argumento para invalidar – ou falsear - qualquer opinião emitida por ele. Esta visão maniqueista é base para todo o tipo de arbitrariedade intelectual e política – como a saída dos delegados europeus de Durban 2 durante o discurso do chefe do executivo iraniano.
Resta saber como se comportariam os mesmos críticos que condenaram o discurso e a presença do presidente iraniano no Brasil no caso de uma visita do ministro de relações exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, que em seu currículo ostenta a segregação racial em Israel como bandeira, entre outras ignomínias.
4 comentários:
Vida inteligente na blogosfera. Parabéns.
Obrigado Rúbida.
Li o discurso no blog Diario do Oriente - parte de um post infeliz - e não encontrei racismo no texto. Se há racismo ali preciso me confessar racista pois algumas partes do discurso são semelhantes ás minhas própria, e modestas, conclusões.
Barone, fico muito feliz em poder acompanhar seu blog pois trata de causas que me são caras mesmo não tendo qualquer relação com judeus ou palestinos.
abraço
Obrigado Vanessa. Volte mais vezes.
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