Semana On

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Imagens de tortura do set do filme Standard Operation Procedure recontam a história de Abu Ghraib

Publicado originalmente no The Huffington Post no dia 5
Fotografias:
Nubar Alexanian
Texto: Katharine Thomas
Tradução: Victor Barone


Uma das primeiras decisões do presidente Barack Obama foi a proibição do uso de técnicas de tortura em prisioneiros suspeitos de terrorismo, até então permitidas pelo Departamento de Justiça sob a administração Bush.

Memorandos (do governo estadunidense) publicados em 16 de abril de 2009 descrevem em detalhes “técnicas avançadas de interrogatório” usadas nestas pessoas. Apesar de alguns americanos terem tido contato com a controvérsia que cercava os abusos cometidos contra as pessoas detidas na prisão de Abu Ghraib, poucos tinham noção, de fato, do tipo de técnicas que eram usadas pelas autoridades.

Estas fotos foram criadas no set de Standard Operating Procedure, um filme de Errol Morris que conta o que aconteceu em Abu Ghraib.

As imagens são remontagens acuradas dos acontecimentos que ocorreram naquela prisão. O objetivo é o de tornar clara a idéia do que é a tortura e provocar o observador para que se coloque no lugar das pessoas que foram torturadas.

Em um memorando, John Rizzo, assistente do advogado geral Jay S. Bybee, escreveu: "...A prancha d’água não causa dor ou danos reais, não causa, em nossa opinião, ‘dor forte ou sofrimento’... A prancha d’água é uma intervenção controlada e não se pode dizer que, mesmo em um longo período de tempo, gere sofrimento”.
Algumas pessoas que não acreditavam que a prancha d’água fosse uma forma de tortura, mudaram suas opiniões após experimentarem elas mesmas o procedimento. Escritor e analista político, Christopher Hitchens foi desafiado a passar pela experiência, depois do que disse o seguinte: “Se a prancha d’água não se constitui em uma tortura, então não existe nada que possa ser descrito como tortura”.

A prancha d’água é um procedimento no qual um pano é colocado sobre o nariz e a boca de um indivíduo enquanto água é derramada sobre sua face por um período inferior a um minuto. A maca em que o indivíduo é amarrado é colocada em uma posição inclinada, mantendo a cabeça do detento em nível inferior de modo a impedir que a água vá para os pulmões e cause um afogamento de fato.

Juntamente a técnicas coercitivas como a prancha d’água, o Gabinete de Conselho Jurídico (do Governo estadunidense) prescreveu o uso de outras técnicas destinadas a mostrar aos detentos que eles não tinham "qualquer controle sobre suas necessidades humanas básicas”. Entre estas técnicas, estavam a nudez forçada, manipulação da dieta e privação de sono. Cães foram usados para intimidar os prisioneiros. Em um caso, um detido sofreu múltiplas mordidas.

Tratadores destes cães relataram uma competição para ver quem poderia fazer os prisioneiros urinarem devido ao medo.

Uma das imagens mais infames documentadas por soldados em Abu Ghraib mostra um homem encapuzado, de pé sobre uma caixa. As mãos do detido foram presas a fios e lhe disseram que se ele as baixasse ou descesse da caixa, seria eletrocutado.

Sacos de cimento foram usados muitas vezes como capuz para cobrir o rosto dos detentos, uma de muitas técnicas utilizadas para fazê-los se sentirem sem controle sobre os acontecimentos.

Os detentos eram constantemente deixados por horas em posições desconfortáveis. Posições estressantes e privação de sono eram usadas para amaciá-los antes dos interrogatórios.

A imagem que mostra militares se beijando em uma sala de interrogatório junto a um detento amarrado, explicita o abuso sexual e o comportamento desregrado dos militares, documentados em fotografias tiradas pelos próprios soldados.

Esta fotografia foi tirada de um monitor ligado a uma mini-câmera posicionada no fundo de um tambor de 50 litros com fundo de vidro. Ela mostra o rosto de um indivíduo cuja cabeça foi afundada na água para simular afogamento.

Na descrição das técnicas de tortura com água, usadas na guerra filipino-americana, o tenente Grover Flint disse, "seu sofrimento deve ser o de um homem que está se afogando, mas sem que ele se afogue”.

3 comentários:

Sem Papel e Tinta disse...

excelente material! fotos bizarras

Adriana Godoy disse...

Barone, isso me dá uma tristeza, uma revolta, uma descrença na humanidade...meu coração chora.

Barone disse...

É... incrível como somos capazes de tudo, até mesmo de legitimar a tortura. Tudo é permissível, desde que seja "com os outros".