A lista de jornalistas supostamente corrompidos pelo banqueiro Daniel Dantas, pinçada das transcrições de grampos efetuados pelo delegado Protógenes Queiroz e publicada segunda-feira no site Consultor Jurídico pelo jornalista Cláudio Julio Tognolli, em reportagem intitulada “Quem são os jornalistas perseguidos por Protógenes”, é um exemplo de como a leitura política pode ser variada, dependendo dos humores ideológicos de cada um. Se não é assim, me perdoe quem está com a verdade nas mãos. Confesso que não consigo decifrar onde ela (a tal verdade) se esconde.
O fato é que Protógenes Queiroz cita em seu relatório (relatório ou anotações?) o nome de 25 jornalistas. Em que contexto estes nomes são citados?
Há quem diga tratar-se de uma acusação. “Pelo menos 25 jornalistas de renome, que atuam em grandes veículos de comunicação, foram acusados pelo delegado federal Protógenes Queiroz de fazer parte de um esquema conspiratório a favor do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, investigado pela Polícia Federal por supostos crimes financeiros, na chamada Operação Satiagraha.”, atesta Tognolli logo no início de sua reportagem.
Há quem acredite tratar-se apenas de rascunhos, anotações que dariam base a um futuro relatório, portanto, sem fundo acusatório. “... se você ler os rascunhos, verá que não há acusações contra ‘25 jornalistas’. Há suspeitas contra alguns, mera menção de outros, utilização de reportagens feitas por outros na sustentação dos fatos etc. O Consultor Jurídico, em manobra retórica de extrema pobreza, tenta confundir tudo sugerindo que há ‘acusações’ contra 25 jornalistas. Não há. É só ler o texto.”, afirma Idelber Avelar, no post “Consultor Jurídico e suas mentiras”.
No blog Imprensa Marrom, Gravataí Merengue garante - em post intitulado “Jornalistas grampeados: Tognolli divulga e analisa o relatório de Protógenes sobre os jornalistas vigiados pela PF” - que “O relato de Tognolli é lúcido e reflete exatamente a bobagem de Protógenes. O que ele fez foi pura e simples perseguição.”.
Avelar rebate dizendo que “Não há obsessão em perseguir nenhum jornalista em particular, só tentativas de compilar e analisar informações que sustentem uma hipótese que vai se mostrando, aliás, bem verossímil na medida em que se avança na leitura: a de que Dantas usou setores da imprensa como cúmplices.”.
Apelando para a ausência de legitimidade das informações contidas nos documentos e acusando o caráter especulativo do relatório/rascunho de Protógenes, Pedro Dória diz o seguinte:
“Polícia não tem por função ficar bisbilhotando conversas de cidadãos livres que não foram acusados de nenhum crime e muito menos deve teorizar a respeito do que pode ser e o que pode não ser. Polícia investiga para levantar provas. Se levanta, leva à Justiça. Se não levanta, se cala. O delegado não levantou qualquer prova, inventou suspeitas de sua própria cabeça e delas extrapolou conclusões.”
A afirmação de Dória está contida no post “A lista de jornalistas de Protógenes Queiroz”, assim classificado por Avelar: “E assim caminha a farsa armada pelos representantes de Gilmar Mendes na internet jurídica, ao ritmo de uma mentira por frase. Tomados de pânico corporativo, os jornalistas da grande mídia repercutem a manobra acriticamente, linkando a mentirada do ConJur e não oferecendo sequer o link direto às páginas confiscadas do computador de Protógenes, onde, diga-se, não existe ‘lista’nenhuma.”.
Não sei... não sei mesmo. Lendo o relatório/rascunho de Protógenes Queiroz me deparo com a sua “contextualização”, que, apesar de ressaltar que "tais acusações ainda estão sendo investigadas", deixa claro seus objetivos. Diz o delegado (grifo meu):
“O Departamento de Polícia Federal (DPF) vem investigando as atividades de Daniel Dantas, proprietário do Banco Opportunity, com o objetivo de desvendar suspeitas da prática de ações criminosas nas esferas civil e penal. Uma das vertentes da investigação é a influência do banqueiro na mídia, notadamente a impressa e a eletrônica.
Há indícios de que Dantas tenha certa ascendência sobre alguns jornalistas e editores. Isso pode ocorrer mediante o pagamento de subornos, embora não se descarte a possibilidade de recurso à chantagem ou coação, com base em informações pessoais de seus alvos de interesse, as quais ele obteria por meio de atos de espionagem clandestina. Ressalta-se que tais acusações ainda estão sendo investigadas.”.
Ou seja, a investigação dos jornalistas citados no documento era, sim, um dos objetivos da investigação. Tudo ok, até então. O problema está nas conclusões que Protógenes tira dos grampos, conclusões que finalizam o documento, e que, entre outras coisas dizem que:
“As análises das interceptações telefônicas mostraram claramente a forma como profissionais de mídia são cooptados, orientados e remunerados para levar ao conhecimento do público as versões que interessam ao grupo de Dantas sobre os mais variados assuntos. Neste processo, Naji Nahas parece ser o intermediário entre jornalistas de Dantas.”
Concluindo, Protógenes dá-se por satisfeito com os resultados da investigação/anotação: “Finalmente, convém dizer que a proposta inicial da análise – identificar a manipulação da mídia por grupos econômicos – foi alcançada.”
Bom, daí conclui-se que há contra os jornalistas citados elementos suficientes para ligá-los às ilações entre imprensa e poder econômico feitas pelo delegado, certo? Errado.
Lendo o documento que resume as transcrições, o máximo que se pode sugerir é algum pecadilho ético de um ou outro coleguinha, mas nada que indique relação escusa entre estes e Daniel Dantas. O Consultor Jurídico, no entanto, diz claramente que “Pelo menos 25 jornalistas de renome, que atuam em grandes veículos de comunicação, foram acusados pelo delegado federal Protógenes Queiroz...”. Um destes 25 já se manifestou oficialmente, trata-se de Luiz Antonio Cintra (Carta Capital), segundo quem o site “terá de responder na Justiça”.
É óbvio que muita coisa fedorenta se esconde nos cantinhos das redações brasileiras, mas para expor esta sujeira é preciso responsabilidade. Pedro Doria disse e eu assino embaixo: “Não se pode ameaçar a imprensa para desenvolver ‘teorias’ – e, em seu relatório, era só isso que Protógenes Queiroz diz querer: teorizar a respeito da corrupção da imprensa. Não faz uma única acusação. Não diz que um único jornalista ganhou um centavo para publicar algo. Não mostra um único favor. Insinua, denigre, bisbilhota ameaçador, quebra a privacidade de cidadãos livres arrogantemente. Não levantou um único fato. Mas o delegado não precisa de fatos. Basta insinuar.”.
Dito isso, me recuso a escolher um lado. Simplesmente estamos (nós os leitores) atolados em um mar de alegações, insinuações, provas e contraprovas que são usadas como base argumentativa para apontar as maldades ou heroísmos de Protógenes. A tal da verdade, aquela que citei lá no primeiro parágrafo, esta se encontra enterrada bem fundo, sob os escombros de nossa política e de nossa mídia.
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Tire suas próprias conclusões. Veja aqui as considerações sobre os jornalistas grampeados por Protógenes e aqui os comentários sobre os grampos da jornalista Andréa Michael.
O fato é que Protógenes Queiroz cita em seu relatório (relatório ou anotações?) o nome de 25 jornalistas. Em que contexto estes nomes são citados?
Há quem diga tratar-se de uma acusação. “Pelo menos 25 jornalistas de renome, que atuam em grandes veículos de comunicação, foram acusados pelo delegado federal Protógenes Queiroz de fazer parte de um esquema conspiratório a favor do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, investigado pela Polícia Federal por supostos crimes financeiros, na chamada Operação Satiagraha.”, atesta Tognolli logo no início de sua reportagem.
Há quem acredite tratar-se apenas de rascunhos, anotações que dariam base a um futuro relatório, portanto, sem fundo acusatório. “... se você ler os rascunhos, verá que não há acusações contra ‘25 jornalistas’. Há suspeitas contra alguns, mera menção de outros, utilização de reportagens feitas por outros na sustentação dos fatos etc. O Consultor Jurídico, em manobra retórica de extrema pobreza, tenta confundir tudo sugerindo que há ‘acusações’ contra 25 jornalistas. Não há. É só ler o texto.”, afirma Idelber Avelar, no post “Consultor Jurídico e suas mentiras”.
No blog Imprensa Marrom, Gravataí Merengue garante - em post intitulado “Jornalistas grampeados: Tognolli divulga e analisa o relatório de Protógenes sobre os jornalistas vigiados pela PF” - que “O relato de Tognolli é lúcido e reflete exatamente a bobagem de Protógenes. O que ele fez foi pura e simples perseguição.”.
Avelar rebate dizendo que “Não há obsessão em perseguir nenhum jornalista em particular, só tentativas de compilar e analisar informações que sustentem uma hipótese que vai se mostrando, aliás, bem verossímil na medida em que se avança na leitura: a de que Dantas usou setores da imprensa como cúmplices.”.
Apelando para a ausência de legitimidade das informações contidas nos documentos e acusando o caráter especulativo do relatório/rascunho de Protógenes, Pedro Dória diz o seguinte:
“Polícia não tem por função ficar bisbilhotando conversas de cidadãos livres que não foram acusados de nenhum crime e muito menos deve teorizar a respeito do que pode ser e o que pode não ser. Polícia investiga para levantar provas. Se levanta, leva à Justiça. Se não levanta, se cala. O delegado não levantou qualquer prova, inventou suspeitas de sua própria cabeça e delas extrapolou conclusões.”
A afirmação de Dória está contida no post “A lista de jornalistas de Protógenes Queiroz”, assim classificado por Avelar: “E assim caminha a farsa armada pelos representantes de Gilmar Mendes na internet jurídica, ao ritmo de uma mentira por frase. Tomados de pânico corporativo, os jornalistas da grande mídia repercutem a manobra acriticamente, linkando a mentirada do ConJur e não oferecendo sequer o link direto às páginas confiscadas do computador de Protógenes, onde, diga-se, não existe ‘lista’nenhuma.”.
Não sei... não sei mesmo. Lendo o relatório/rascunho de Protógenes Queiroz me deparo com a sua “contextualização”, que, apesar de ressaltar que "tais acusações ainda estão sendo investigadas", deixa claro seus objetivos. Diz o delegado (grifo meu):
“O Departamento de Polícia Federal (DPF) vem investigando as atividades de Daniel Dantas, proprietário do Banco Opportunity, com o objetivo de desvendar suspeitas da prática de ações criminosas nas esferas civil e penal. Uma das vertentes da investigação é a influência do banqueiro na mídia, notadamente a impressa e a eletrônica.
Há indícios de que Dantas tenha certa ascendência sobre alguns jornalistas e editores. Isso pode ocorrer mediante o pagamento de subornos, embora não se descarte a possibilidade de recurso à chantagem ou coação, com base em informações pessoais de seus alvos de interesse, as quais ele obteria por meio de atos de espionagem clandestina. Ressalta-se que tais acusações ainda estão sendo investigadas.”.
Ou seja, a investigação dos jornalistas citados no documento era, sim, um dos objetivos da investigação. Tudo ok, até então. O problema está nas conclusões que Protógenes tira dos grampos, conclusões que finalizam o documento, e que, entre outras coisas dizem que:
“As análises das interceptações telefônicas mostraram claramente a forma como profissionais de mídia são cooptados, orientados e remunerados para levar ao conhecimento do público as versões que interessam ao grupo de Dantas sobre os mais variados assuntos. Neste processo, Naji Nahas parece ser o intermediário entre jornalistas de Dantas.”
Concluindo, Protógenes dá-se por satisfeito com os resultados da investigação/anotação: “Finalmente, convém dizer que a proposta inicial da análise – identificar a manipulação da mídia por grupos econômicos – foi alcançada.”
Bom, daí conclui-se que há contra os jornalistas citados elementos suficientes para ligá-los às ilações entre imprensa e poder econômico feitas pelo delegado, certo? Errado.
Lendo o documento que resume as transcrições, o máximo que se pode sugerir é algum pecadilho ético de um ou outro coleguinha, mas nada que indique relação escusa entre estes e Daniel Dantas. O Consultor Jurídico, no entanto, diz claramente que “Pelo menos 25 jornalistas de renome, que atuam em grandes veículos de comunicação, foram acusados pelo delegado federal Protógenes Queiroz...”. Um destes 25 já se manifestou oficialmente, trata-se de Luiz Antonio Cintra (Carta Capital), segundo quem o site “terá de responder na Justiça”.
É óbvio que muita coisa fedorenta se esconde nos cantinhos das redações brasileiras, mas para expor esta sujeira é preciso responsabilidade. Pedro Doria disse e eu assino embaixo: “Não se pode ameaçar a imprensa para desenvolver ‘teorias’ – e, em seu relatório, era só isso que Protógenes Queiroz diz querer: teorizar a respeito da corrupção da imprensa. Não faz uma única acusação. Não diz que um único jornalista ganhou um centavo para publicar algo. Não mostra um único favor. Insinua, denigre, bisbilhota ameaçador, quebra a privacidade de cidadãos livres arrogantemente. Não levantou um único fato. Mas o delegado não precisa de fatos. Basta insinuar.”.
Dito isso, me recuso a escolher um lado. Simplesmente estamos (nós os leitores) atolados em um mar de alegações, insinuações, provas e contraprovas que são usadas como base argumentativa para apontar as maldades ou heroísmos de Protógenes. A tal da verdade, aquela que citei lá no primeiro parágrafo, esta se encontra enterrada bem fundo, sob os escombros de nossa política e de nossa mídia.
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Tire suas próprias conclusões. Veja aqui as considerações sobre os jornalistas grampeados por Protógenes e aqui os comentários sobre os grampos da jornalista Andréa Michael.
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