Na mesma semana em que solicitei minha colação de grau em Jornalismo pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB-MS) - fechando um périplo pessoal que teve início em 1988, quando ingressei na antiga Faculdade da Cidade (hoje UniverCidade), na Lagoa (RJ) - o Supremo Tribunal Federal (STF) deve votar a revogação da Lei de Imprensa e, em conseqüência, sepultar a obrigatoriedade do diploma específico em Jornalismo para o exercício da profissão no Brasil.
Conversando ontem com uma amiga querida - e colega de profissão - levantei esta lebre e ela me respondeu dizendo que “eu deveria estar muito chateado” com isso. Respondi-lhe que não, que apesar de ter concluído o curso, mantinha minha opinião sobre a obrigatoriedade do diploma. Sou contra. Mudar minha forma de enxergar este tema agora seria assinar um atestado de hipocrisia, seria compactuar com a visão corporativista (e burra) que sustentou parte dos argumentos de quem crê que diploma é garantia de um Jornalismo ético e tecnicamente qualificado.
Agora, recém-formado, olho para trás e relembro cada momento dos meus 21 anos de profissão, iniciados em 1988, pelas mãos do jornalista Luiz Paulo Coutinho (Jornal do Brasil), precursor do jornalismo comunitário que floresceu na Barra da Tijuca nas décadas de 80 e 90. Nos anos que se seguiram passei por todos os nichos do Jornalismo. Fui repórter de Geral, Polícia e Esportes em veículos de bairro e em diários cariocas, editei meus próprios jornais e revistas, fiz assessoria de imprensa. Mudei-me para Campo Grande (MS) em 2000 e aqui participei das equipes que fundaram dois jornais diários da capital (Diário do Pantanal e O Estado de Mato Grosso do Sul), onde atuei como repórter e editor; passei pelo site de notícias Midiamax e pelo semanário A Crítica, trabalhei na TV Brasil Pantanal (antiga TVE) e em secretarias estaduais, assessorei associações, empresas, políticos, o legislativo e o executivo campo-grandenses.
Posso dizer, portanto, que conheço cada cantinho desta nossa profissão e a conclusão mais latente que tiro destes anos dedicados ao Jornalismo é que minha formação se deu no dia a dia, na lida das redações e, principalmente, se construiu sobre uma curiosidade apaixonada a respeito do mundo e uma eterna vontade de questionar o estabelecido.
Não foram os três anos e meio de curso no Rio de Janeiro – interrompido por problemas que já se perderam no tempo – ou o período que passei na UCDB, quando resolvi retomar os estudos, que me fizeram jornalista. E agora, digo isso de cadeira, sem o incômodo de ter que conter a língua como fiz algumas vezes no passado, quando alguns coleguinhas menos dotados intelectualmente sugeriam que meu posicionamento contra a obrigatoriedade do canudo tinha como base o fato de eu não ser formado.
A estes dedico meu diploma. Ele estará dependurado na parede do escritório lá de casa para que, a cada vez que meus olhos o encontrem, eu me lembre que durante 21 anos me posicionei contra a hipocrisia.
Diante disso, lembro que o STF deve votar hoje (quinta-feira, 30) – salvo qualquer imprevisto - a proposta de extinção da Lei de Imprensa, “parte do chamado ‘entulho autoritário’ herdado da ditadura militar”, como bem disse o jornalista Alberto Dines em artigo fresquinho disponível no Observatório da Imprensa. Como venho dizendo há anos, mantido ou não o diploma – que é apenas um dos pontos bizarros desta Lei – nada mudará em nossa profissão, visto que não é este o ponto a ser debatido se quisermos, de fato, encontrar um caminho novo para esta antiga e nobre profissão.
Repito, então, os últimos parágrafos do artigo “Com ou sem diploma?”, que publiquei aqui em março (e que foi reproduzido no Observatório da Imprensa no dia 14 de abril), com os quais gostaria de convidar para um novo (e mais produtivo) debate todos os jornalistas (diplomados ou não):
O fato é que, mantida ou não a exigência do diploma específico para o exercício do Jornalismo no Brasil, os graves problemas éticos, econômicos e profissionais que permeiam o ofício se manterão inalterados. A manutenção ou queda desta exigência não mudará o fato de que nos encontramos em um momento no qual até mesmo a existência da profissão está em jogo diante das novas tecnologias e – em conseqüência – das novas formas do fazer jornalístico que aproximam o cidadão comum das ferramentas necessárias para tal.
A exigência ou não do canudo nada modificará na relação promíscua que mantemos com os donos do poder, na nossa subserviência que transforma jornalistas em “assessores de imprensa” dos barões da mídia. Não é o diploma que garantirá uma ética de base sólida, que formará cidadãos conscientes de seu papel social, que apontará os caminhos de um Jornalismo transformador ao invés de um jornalismo circense no qual o sensacionalismo, o entretenimento e a superficialidade tomaram o espaço da informação relevante.
Para mudar tudo isso e transformar o Jornalismo em algo mais que um amontoado de apresentadores perfumados e escribas de aluguel será preciso que enxerguemos nesta bela profissão uma ferramenta de avanço social, de combate à corrupção, de transformação. E isso exige uma formação muito mais complexa do que oferecem as centenas de cursos de Jornalismo que se espalham hoje pelo país.
Conversando ontem com uma amiga querida - e colega de profissão - levantei esta lebre e ela me respondeu dizendo que “eu deveria estar muito chateado” com isso. Respondi-lhe que não, que apesar de ter concluído o curso, mantinha minha opinião sobre a obrigatoriedade do diploma. Sou contra. Mudar minha forma de enxergar este tema agora seria assinar um atestado de hipocrisia, seria compactuar com a visão corporativista (e burra) que sustentou parte dos argumentos de quem crê que diploma é garantia de um Jornalismo ético e tecnicamente qualificado.
Agora, recém-formado, olho para trás e relembro cada momento dos meus 21 anos de profissão, iniciados em 1988, pelas mãos do jornalista Luiz Paulo Coutinho (Jornal do Brasil), precursor do jornalismo comunitário que floresceu na Barra da Tijuca nas décadas de 80 e 90. Nos anos que se seguiram passei por todos os nichos do Jornalismo. Fui repórter de Geral, Polícia e Esportes em veículos de bairro e em diários cariocas, editei meus próprios jornais e revistas, fiz assessoria de imprensa. Mudei-me para Campo Grande (MS) em 2000 e aqui participei das equipes que fundaram dois jornais diários da capital (Diário do Pantanal e O Estado de Mato Grosso do Sul), onde atuei como repórter e editor; passei pelo site de notícias Midiamax e pelo semanário A Crítica, trabalhei na TV Brasil Pantanal (antiga TVE) e em secretarias estaduais, assessorei associações, empresas, políticos, o legislativo e o executivo campo-grandenses.
Posso dizer, portanto, que conheço cada cantinho desta nossa profissão e a conclusão mais latente que tiro destes anos dedicados ao Jornalismo é que minha formação se deu no dia a dia, na lida das redações e, principalmente, se construiu sobre uma curiosidade apaixonada a respeito do mundo e uma eterna vontade de questionar o estabelecido.
Não foram os três anos e meio de curso no Rio de Janeiro – interrompido por problemas que já se perderam no tempo – ou o período que passei na UCDB, quando resolvi retomar os estudos, que me fizeram jornalista. E agora, digo isso de cadeira, sem o incômodo de ter que conter a língua como fiz algumas vezes no passado, quando alguns coleguinhas menos dotados intelectualmente sugeriam que meu posicionamento contra a obrigatoriedade do canudo tinha como base o fato de eu não ser formado.
A estes dedico meu diploma. Ele estará dependurado na parede do escritório lá de casa para que, a cada vez que meus olhos o encontrem, eu me lembre que durante 21 anos me posicionei contra a hipocrisia.
Diante disso, lembro que o STF deve votar hoje (quinta-feira, 30) – salvo qualquer imprevisto - a proposta de extinção da Lei de Imprensa, “parte do chamado ‘entulho autoritário’ herdado da ditadura militar”, como bem disse o jornalista Alberto Dines em artigo fresquinho disponível no Observatório da Imprensa. Como venho dizendo há anos, mantido ou não o diploma – que é apenas um dos pontos bizarros desta Lei – nada mudará em nossa profissão, visto que não é este o ponto a ser debatido se quisermos, de fato, encontrar um caminho novo para esta antiga e nobre profissão.
Repito, então, os últimos parágrafos do artigo “Com ou sem diploma?”, que publiquei aqui em março (e que foi reproduzido no Observatório da Imprensa no dia 14 de abril), com os quais gostaria de convidar para um novo (e mais produtivo) debate todos os jornalistas (diplomados ou não):
O fato é que, mantida ou não a exigência do diploma específico para o exercício do Jornalismo no Brasil, os graves problemas éticos, econômicos e profissionais que permeiam o ofício se manterão inalterados. A manutenção ou queda desta exigência não mudará o fato de que nos encontramos em um momento no qual até mesmo a existência da profissão está em jogo diante das novas tecnologias e – em conseqüência – das novas formas do fazer jornalístico que aproximam o cidadão comum das ferramentas necessárias para tal.
A exigência ou não do canudo nada modificará na relação promíscua que mantemos com os donos do poder, na nossa subserviência que transforma jornalistas em “assessores de imprensa” dos barões da mídia. Não é o diploma que garantirá uma ética de base sólida, que formará cidadãos conscientes de seu papel social, que apontará os caminhos de um Jornalismo transformador ao invés de um jornalismo circense no qual o sensacionalismo, o entretenimento e a superficialidade tomaram o espaço da informação relevante.
Para mudar tudo isso e transformar o Jornalismo em algo mais que um amontoado de apresentadores perfumados e escribas de aluguel será preciso que enxerguemos nesta bela profissão uma ferramenta de avanço social, de combate à corrupção, de transformação. E isso exige uma formação muito mais complexa do que oferecem as centenas de cursos de Jornalismo que se espalham hoje pelo país.
3 comentários:
parabéns pelo canudo... porque diabos não fez letras!? aff... to brincando. parabéns.
Parabéns pela 'formação'.
E seu texto está muito bom, principalmente na parte em qeu diz que as pessoas diziam que vc defendia a não-obrigatoriedade só porque não era formado. Tem gente que acha que só há uma forma de pensar, se vc não pensa desse jeito é por mau-caratismo, nada mais.
Abração e dont stop the fight.
Barone, parabéns pela colação e pelo texto. Você me fez refletir. Vou contar uma história, um dia vendo o Caldeirão do Hulk, ouvi um rapaz, acadêmico, dizer que queria ser jornalista para escrever como o Jabor, que eu adoro aliás, daí pontinhos de interrogações fervilharam na minha mente. Droga, será que todos os outros coleguinhas diplomados querem isso? Escrever como o Jabor? Façam letras! Treinem oras... Jornalista é mais que isso. Eu concordo com o que você disse sobre a complexidade da formação. Aliás, desde que li "A Tirania da Comunicação" passei a ser contra a faculdade. O que aprendi lá, além de como escrever bem. Teorias do imediatismo. Como editar uma matéria. Balela. O mercado, esse é crúel e todas aquelas teorias sinceramente não me ajudaram em nada.
Vendo você, percebi que não aprendi uma única coisa. A essencial. Ter jogo de cintura e saber impor suas opiniões. Na faculdade somos formatados para obedecer ordens - funcionamento da redação, pauta, blá, blá, blá...
Resumindo, acho que a legalização do diploma é louvável enquanto regularmentação profissional. Só que não acho que vá contribuir muito com o jornalismo em sí, visto que "faculdade", deixou de ser instituição de ensino para se tornar instituição "financeira". O que nos resta são as discussões, e claro, que mais e mais jornalistas reflitam sobre seu verdadeiro papel. E, tenham amor ao que fazem não ao que ganharão com isso.
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