Em meio à confusão ideológica e argumentativa proposta pelos que defendem a obrigatoriedade do diploma específico de Jornalismo para o exercício da profissão no País – anacronismo dos tempos da ditadura que pode ser definitivamente derrubado ainda neste mês pelo Supremo Tribunal Federal – alguns textos de gente antenada com o tema me chamaram a atenção ontem.
Um deles, o artigo “Por causa do diploma, fui obrigado a cursar Jornalismo”, do jornalista (e professor universitário) Alec Duarte, é um resumo autobiográfico da trajetória profissional do autor. Em poucos parágrafos, Duarte relembra sua paixão precoce pelo Jornalismo, sua iniciação profissional e a obrigatoriedade de ter de procurar um curso específico para legitimar-se como “jornalista profissional”. Singelo, o artigo lança por terra os argumentos de quem apóia a exigência.
“Quando chegou o vestibular, já sabia o que fazer. História teria de esperar. Claro, para se trabalhar em jornalismo (uma atividade intelectual que exige basicamente observação e contato com o noticiário, além de conhecimentos específicos que um curso técnico de curta duração dá a qualquer um) era necessário ter o malfadado diploma.”, diz Alec, concluindo o artigo com um questionamento: “Agora imagine essa história sem uma faculdade de jornalismo no meio. As coisas teriam sido muito diferentes? Mais: fosse hoje, na era da publicação pessoal, seria necessário começar numa redação de jornal diário?”.
Outros dois textos, da jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, responsável pelo programa de treinamento em jornalismo diário da Folha de S.Paulo e pelo blog Novo em Folha, são inspirações para quem acredita que há vida inteligente entre os coleguinhas.
No primeiro artigo, “Cinco argumentos contra a obrigatoriedade do diploma”, postado no dia 1º de abril, Ana – como diz o título – elenca questões lógicas para refutar a obrigatoriedade e, ao mesmo tempo, descartar os preconceitos lançados sobre quem defende a não obrigatoriedade. Macaca velha na formação de profissionais para as selvas das redações, ela aponta três coisas que um jornalista precisa dominar, de fato:
a) entender do assunto que vai cobrir, para não ser usado pelas fontes;
b) saber levantar informações relevantes que os poderes querem esconder;
c) transformar as informações numa história articulada e compreensível.
“Escolas de jornalismo não resolvem o ponto a. Poderiam até ajudar muito no b e no c, mas minha experiência mostra que não fazem isso. Os pontos b e c podem ser aprendidos em cursos de especialização ou até na prática”, afirma Ana. E eu assino embaixo.
No segundo texto, “Arrumando os argumentos”, postado dois dias após o primeiro, Ana responde aos comentários favoráveis a obrigatoriedade, lançando mais um pouco de luz sobre o obscurantismo reinante.
Em poucas linhas ela resume a ópera:
- É fato, não opinião, que a faculdade de jornalismo não é imprescindível para formar bons jornalistas. Isso está comprovado, não há como argumentar contra isso:
. dezenas de países com excelente jornalismo não exigem o diploma nem qualquer outro tipo de exame ou comprovação. Se a faculdade fosse realmente fundamental, isso seria impossível, certo?
. no Brasil houve inúmeros exemplos de bom jornalismo - vou só citar o "Jornal do Brasil" e a "Realidade" - feitos antes da lei da ditadura que tornou o diploma obrigatório. Eram feitos por muita gente sem formação universitária em jornalismo. Se fosse fundamental fazer a faculdade, isso seria impossível, certo?
. ainda hoje, há em atuação centenas de jornalistas que não têm o diploma.
- Não sendo imprescindível a graduação em jornalismo, me parece um absurdo obrigar garotos em uma das fases mais produtivas da vida a cursar essa faculdade. Se eles acharem que é no curso de jornalismo que encontrarão a melhor preparação para a profissão que escolheram, ótimo! Ninguém vai impedir as faculdades de existirem. Em países de bom jornalismo sem diploma obrigatório existem excelentes cursos de jornalismo, e saem dos seus bancos ótimos profissionais. Mas isso deve ser uma escolha, não uma obrigação.
Um deles, o artigo “Por causa do diploma, fui obrigado a cursar Jornalismo”, do jornalista (e professor universitário) Alec Duarte, é um resumo autobiográfico da trajetória profissional do autor. Em poucos parágrafos, Duarte relembra sua paixão precoce pelo Jornalismo, sua iniciação profissional e a obrigatoriedade de ter de procurar um curso específico para legitimar-se como “jornalista profissional”. Singelo, o artigo lança por terra os argumentos de quem apóia a exigência.
“Quando chegou o vestibular, já sabia o que fazer. História teria de esperar. Claro, para se trabalhar em jornalismo (uma atividade intelectual que exige basicamente observação e contato com o noticiário, além de conhecimentos específicos que um curso técnico de curta duração dá a qualquer um) era necessário ter o malfadado diploma.”, diz Alec, concluindo o artigo com um questionamento: “Agora imagine essa história sem uma faculdade de jornalismo no meio. As coisas teriam sido muito diferentes? Mais: fosse hoje, na era da publicação pessoal, seria necessário começar numa redação de jornal diário?”.
Outros dois textos, da jornalista Ana Estela de Sousa Pinto, responsável pelo programa de treinamento em jornalismo diário da Folha de S.Paulo e pelo blog Novo em Folha, são inspirações para quem acredita que há vida inteligente entre os coleguinhas.
No primeiro artigo, “Cinco argumentos contra a obrigatoriedade do diploma”, postado no dia 1º de abril, Ana – como diz o título – elenca questões lógicas para refutar a obrigatoriedade e, ao mesmo tempo, descartar os preconceitos lançados sobre quem defende a não obrigatoriedade. Macaca velha na formação de profissionais para as selvas das redações, ela aponta três coisas que um jornalista precisa dominar, de fato:
a) entender do assunto que vai cobrir, para não ser usado pelas fontes;
b) saber levantar informações relevantes que os poderes querem esconder;
c) transformar as informações numa história articulada e compreensível.
“Escolas de jornalismo não resolvem o ponto a. Poderiam até ajudar muito no b e no c, mas minha experiência mostra que não fazem isso. Os pontos b e c podem ser aprendidos em cursos de especialização ou até na prática”, afirma Ana. E eu assino embaixo.
No segundo texto, “Arrumando os argumentos”, postado dois dias após o primeiro, Ana responde aos comentários favoráveis a obrigatoriedade, lançando mais um pouco de luz sobre o obscurantismo reinante.
Em poucas linhas ela resume a ópera:
- É fato, não opinião, que a faculdade de jornalismo não é imprescindível para formar bons jornalistas. Isso está comprovado, não há como argumentar contra isso:
. dezenas de países com excelente jornalismo não exigem o diploma nem qualquer outro tipo de exame ou comprovação. Se a faculdade fosse realmente fundamental, isso seria impossível, certo?
. no Brasil houve inúmeros exemplos de bom jornalismo - vou só citar o "Jornal do Brasil" e a "Realidade" - feitos antes da lei da ditadura que tornou o diploma obrigatório. Eram feitos por muita gente sem formação universitária em jornalismo. Se fosse fundamental fazer a faculdade, isso seria impossível, certo?
. ainda hoje, há em atuação centenas de jornalistas que não têm o diploma.
- Não sendo imprescindível a graduação em jornalismo, me parece um absurdo obrigar garotos em uma das fases mais produtivas da vida a cursar essa faculdade. Se eles acharem que é no curso de jornalismo que encontrarão a melhor preparação para a profissão que escolheram, ótimo! Ninguém vai impedir as faculdades de existirem. Em países de bom jornalismo sem diploma obrigatório existem excelentes cursos de jornalismo, e saem dos seus bancos ótimos profissionais. Mas isso deve ser uma escolha, não uma obrigação.
2 comentários:
estou ficando bastante constrangida, mas ano absolutamente em cima do muro nessa discussão. quando ainda na universidade, eu defendia a obrigatoriedade, mesmo nunca tendo pensado na questão de maneira mais completa. depois, no mercado e convivendo com outros profissionais (diplomados ou não) passei a achar a obrigação uma castração de sentidos, uma imposição conservadora idiota.
mas acredita que agora começo a me questionar de novo? tenho pensado que a figura do jornalista não-diplomado, do cara com formação intelectual tende a não aparecer mais e não tenho a menor ideia do por quê pensar assim. bem, isso vale umas horas de prosa, pra uma hora dessas.
A questão, Fernanda, é saber se, de fato, há uma condição técnica sine qua non para obrigar alguém cursar Jornalismo para exercer a profissão. O que se defende é que esta condição básica não existe.
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