Avassalador o artigo “A questão humanitária definitiva do nosso tempo”, de Idelber Avelar, onde o acadêmico relata a hipocrisia do “calendário cíclico” que Israel mantém em relação aos territórios palestinos ocupados. Avelar é, no Brasil, a voz de maior intensidade moral a tratar do tema e referência básica para quem quer entender o sofrimento dos palestinos e sua luta por um Estado soberano.
A seguir, os trechos finais do artigo:
“A causa palestina não é somente, por todas as suas ramificações, a questão humanitária definitiva do nosso tempo. Considerando-se a carta branca que Israel tem historicamente recebido dos EUA, a monstruosa influência do lobby sionista mais bélico dentro do meio político americano e a completa incapacidade das Nações Unidas, ela é também a de mais difícil solução. Um exame detalhado do mapa da Cisjordânia, picotado por gigantescos assentamentos colonizadores e por postos policiais de controle, retalhado pelo muro do Apartheid, mostra quão longe estamos do ideal de um estado palestino viável. Sem qualquer força política que obrigue Israel a respeitar as leis internacionais – especialmente a resolução 242, de 1968, que determina o fim da ocupação do território palestino --, a tendência inercial é que a situação se arraste como está. Massacrar palestinos, desde que com a justificativa de combater o ‘terrorismo’, é uma fácil e eficaz plataforma eleitoral no estado sionista, onde uma minoria lúcida ainda protesta, em condições cada vez piores.
A esquerda ocidental não pode se dar ao luxo da omissão. O trabalho deve ser incessante, começando-se pelo questionamento dos termos. Não é possível continuar chamando de ‘conflito israelo-palestino’ uma sucessão de massacres contra uma população que não tem Forças Armadas. Não é possível continuar aceitando o rótulo ‘terrorista’ para qualificar qualquer organização da resistência palestina, enquanto o estado de Israel diariamente perpetra, contra a população civil, crimes qualificáveis como terrorismo de estado no sentido clássico. Não é aceitável consumir boletins de imprensa do exército israelense travestidos de ‘jornalismo’ cada vez que as agências de notícias relatam um massacre como uma ‘operação’ ou ‘incursão’, situando-se sempre, claro, não no lugar onde o massacre acontece, mas onde ele é planejado. Não é decente nem digno continuar repetindo mentiras como a tal ‘oferta generosa’, que Yasser Arafat supostamente teria recusado em Camp David, em 2000, uma miragem de criação da imprensa e dos porta-vozes israelenses, naquilo que Robert Fisk chamou de ‘um dos maiores triunfos de relações públicas de Israel’.
Em meio à atrocidade absoluta, o dicionário também é um campo de batalha.”
A seguir, os trechos finais do artigo:
“A causa palestina não é somente, por todas as suas ramificações, a questão humanitária definitiva do nosso tempo. Considerando-se a carta branca que Israel tem historicamente recebido dos EUA, a monstruosa influência do lobby sionista mais bélico dentro do meio político americano e a completa incapacidade das Nações Unidas, ela é também a de mais difícil solução. Um exame detalhado do mapa da Cisjordânia, picotado por gigantescos assentamentos colonizadores e por postos policiais de controle, retalhado pelo muro do Apartheid, mostra quão longe estamos do ideal de um estado palestino viável. Sem qualquer força política que obrigue Israel a respeitar as leis internacionais – especialmente a resolução 242, de 1968, que determina o fim da ocupação do território palestino --, a tendência inercial é que a situação se arraste como está. Massacrar palestinos, desde que com a justificativa de combater o ‘terrorismo’, é uma fácil e eficaz plataforma eleitoral no estado sionista, onde uma minoria lúcida ainda protesta, em condições cada vez piores.
A esquerda ocidental não pode se dar ao luxo da omissão. O trabalho deve ser incessante, começando-se pelo questionamento dos termos. Não é possível continuar chamando de ‘conflito israelo-palestino’ uma sucessão de massacres contra uma população que não tem Forças Armadas. Não é possível continuar aceitando o rótulo ‘terrorista’ para qualificar qualquer organização da resistência palestina, enquanto o estado de Israel diariamente perpetra, contra a população civil, crimes qualificáveis como terrorismo de estado no sentido clássico. Não é aceitável consumir boletins de imprensa do exército israelense travestidos de ‘jornalismo’ cada vez que as agências de notícias relatam um massacre como uma ‘operação’ ou ‘incursão’, situando-se sempre, claro, não no lugar onde o massacre acontece, mas onde ele é planejado. Não é decente nem digno continuar repetindo mentiras como a tal ‘oferta generosa’, que Yasser Arafat supostamente teria recusado em Camp David, em 2000, uma miragem de criação da imprensa e dos porta-vozes israelenses, naquilo que Robert Fisk chamou de ‘um dos maiores triunfos de relações públicas de Israel’.
Em meio à atrocidade absoluta, o dicionário também é um campo de batalha.”
Sem comentários:
Enviar um comentário